quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Dai-nos, Senhor, prudência e simplicidade de coração

                                                         

Dai-nos, Senhor, prudência e simplicidade de coração 

Sejamos enriquecidos pela Homilia da divina fonte da Tradição da Igreja: a Homilia do Bispo e doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. IV).
 
“Enquanto somos ovelhas, vencemos e ficamos por cima, seja qual for o número dos lobos que nos rodeiam. Se, ao contrário, formos lobos, seremos vencidos; não teremos a ajuda do pastor. Pois este apascenta ovelhas, não lobos; abandonar-te-á e te deixará, porque não lhe dás ocasião de mostrar seu poder. 

O que o Senhor quer dizer é isto: Não fiqueis perturbados quando, ao vos enviar para o meio dos lobos, Eu vos ordeno ser como ovelhas e pombas. Eu vos poderia proporcionar o contrário: enviar-vos sem mal algum em vista, sem vos sujeitar ao lobo qual ovelha, porém, tornar-vos mais terríveis do que leões. 

Convém que seja assim. Isto vos fará mais refulgentes e proclamará meu poder. Dizia o mesmo a Paulo: Basta-te minha graça, pois a força se realiza na fraqueza (2Cor 12,9).
 
Fui Eu mesmo que estabeleci isto para vós. Ao dizer, pois: Eu vos envio como ovelhas (Lc 10,3), subentende: Não desanimeis por este motivo; Eu sei, certamente, Eu sei que assim sereis invencíveis. 

Em seguida, para que não viessem a pensar que poderiam conseguir algo por si mesmos, sem demonstrar que tudo vem da graça, e, assim, não julgassem ser coroados sem méritos, diz: Sede prudentes como serpentes e simples como pombas (Mt 10,16). 

Que vantagem terá nossa prudência entre tantos perigos? dizem eles. Como poderemos ter prudência, sacudidos por tantas ondas? Por maior que seja a prudência que uma ovelha possua, no meio de lobos, e de tão grande número de lobos, que poderá fazer? 

Seja qual for a simplicidade de uma pomba, que lhe adiantará, diante de tantos gaviões ameaçadores? Para aqueles que não entendem, nada certamente. Para vós, porém, será de muito proveito.

Mas vejamos a prudência que aqui se exige: a da serpente. Esta expõe tudo, até mesmo se lhe cortam o corpo, não se defende, contanto que proteja a cabeça. Assim também tu, diz Ele, à exceção da fé, entrega tudo: dinheiro, corpo, até mesmo a vida. 

A fé é a cabeça e a raiz; salva esta, tudo o mais que perderes, recuperarás depois ao dobro. Por isso, não ordenou ser só simples, nem só prudente; mas uniu as duas coisas, a fim de serem verdadeiramente uma força. Ordenou a prudência da serpente para não receberes golpes mortais; e a simplicidade da pomba, para não te vingares dos que te fazem o mal nem afastares por vingança os perseguidores. Sem ela, de nada vale a prudência. 

E não pense alguém ser impossível cumprir este preceito. Mais do que todos, conhece Ele a natureza das coisas; sabe que a ferocidade não se aplaca com a ferocidade, mas com a brandura.” 

Sejamos fortalecidos para maior correspondência na realização do Projeto do Senhor, na construção do Seu Reino, para que de fato Ele reine em nossos corações e em todo o universo. 

Se formos ovelhas do rebanho do Senhor, com Ele, venceremos todas as dificuldades, ameaças, provações, pois experimentaremos e testemunharemos o poder de Deus que age em nossa vida; de outro lado, não basta estar no rebanho, pois a falta de fidelidade e coerência de fé nos fará lobos, e então seremos vencidos. 

Enviados como cordeiros em meio aos lobos, é a ocasião em que o Senhor manifesta a Sua graça em nossa fraqueza. Não há porque desanimar, com Ele, somos invencíveis, como o próprio Paulo afirmou, mais que vencedores (Rm 8, 37). 

Urge que sejamos prudentes como as serpentes (não permitir o golpe mortal) e simples como as pombas (não fomentar a lógica da violência), a fim de que a ferocidade seja vencida com a brandura. 
 
Mantenhamos viva e intacta a fé, contra toda dificuldade e esperança.

Perseveremos no caminho da caridade, do amor, do perdão, que são marcas distintivas dos discípulos missionários do Senhor. 

Supliquemos ao Senhor para que Ele nos dê, por Seu Espírito, a prudência e a simplicidade necessárias, para que continuemos a missão a nós confiada. 

Oremos:
 
Senhor nosso Deus,
Que sois o refúgio na tribulação,
Força na fraqueza e conforto no sofrimento,
Concedei-nos a prudência e sabedoria necessárias,
Para que, como membros do Vosso rebanho,
Com coragem, combatendo o bom combate da fé,
Um dia, a glória da eternidade mereçamos receber,
E a Vossa glória celestial para sempre contemplar.
Amém. 

O tempo é breve: Sabedoria em nossas escolhas

                                                       


O tempo é breve: Sabedoria em nossas escolhas 

A passagem do Evangelho da quinta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum (Lc 21, 20-28) nos fala do fim dos tempos, e Jesus alerta: “Jerusalém será pisada pelos infiéis, até que o tempo dos pagãos se complete.”. 

No Comentário do Missal Cotidiano lemos:

“Salvação ou condenação, ruína ou libertação, felicidade ou desespero – a escolha faz-se agora, no tempo, com toda a nossa vida”

Lucas nos apresenta um discurso escatológico de Jesus, ou seja, sobre o fim dos tempos e a Sua volta para o julgamento final de todos.

Há implícita uma verdade que nos ilumina: se O procuramos como nosso amigo e Senhor, de fato o encontraremos com alegria e confiança.

De outro lado, se O ignoramos, descuramos, desprezamos em Sua Pessoa ou presença nos irmãos, nosso encontro com Ele será de medo e de dor.

Em cada instante estamos fazendo escolhas, tomando decisões, dando um matiz Pascal ou não a nossa vida. E, dependendo destas, encaminhamos nossa existência para o desabrochar na plenitude do Amor de Deus ou para o mergulho na escuridão eterna, onde haverá “choro e ranger de dentes”, como já nos alertara O Senhor.

Que Deus ilumine nossos pensamentos, palavras e ações, e nos conceda a sabedoria para fazermos escolhas corretas, determinando todo o nosso existir.

Oportunas são as palavras do Apóstolo Paulo (Rm 4,18): Temos que aprender como Abraão, o Pai da fé: “Ele, esperando contra toda a esperança, creu e tornou-se assim pai de muitos povos, conforme lhe fora dito: ‘Tal será tua descendência”.

Ainda peregrinos que somos, esperemos o Senhor que vem gloriosamente, e que já conosco caminha, sem vacilar na fé, firmando nossos passos. 

Esperamos Sua vinda, solidificando nossa esperança, com a eterna chama viva da caridade que se plenifica na eternidade, confiantes de que um dia O encontraremos e O contemplaremos face a face.


(1) Missal Cotidiano - pág. 1547.       

Em poucas palavras...

                                               


Prudente como a serpente

“Mas vejamos a prudência que aqui se exige: a da serpente. Esta expõe tudo, até mesmo se lhe cortam o corpo, não se defende, contanto que proteja a cabeça.

Assim também tu, diz Ele, à exceção da fé, entrega tudo: dinheiro, corpo, até mesmo a vida. 

A fé é a cabeça e a raiz; salva esta, tudo o mais que perderes, recuperarás depois ao dobro.”(1)

 

(1)São João Crisóstomo – Bispo e Doutor da Igreja  (séc IV)

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Em Vossas mãos, Senhor, nos colocamos

                                                        

Em Vossas mãos, Senhor, nos colocamos

Uma breve passagem da Sagrada Escritura, para refletirmos sobre os relacionamentos, dentro e fora da comunidade, para que nossa fé seja luminosa e fecunda (1 Pd 5,5b-7):

“Revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a Sua graça aos humildes. Rebaixai-vos, pois, humildemente, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, Ele vos exalte. Lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, pois é Ele quem cuida de vós”.

Observemos os três verbos no imperativo que o texto bíblico nos apresenta: “revesti-vos”, “rebaixai-vos” e “lançai”.

Oremos:

Senhor, revisti-nos com a humildade necessária no relacionamento mútuo, colocando nosso coração em Vossas mãos para ser transformado e inflamado de amor.

Senhor, concedei-nos a graça de nos rebaixarmos diante de Vós, colocando-nos sob Vosso poderoso amparo, em salutar e revigorante refúgio para o bom combate da fé.

Senhor, que saibamos em Vós confiar, colocando em Vossas mãos nossas inquietações, confiantes, com súplicas e ação de graças, pois jamais nos desamparais.

Experimentemos, nós, a força de Vossa Palavra, como nos falaram os Profetas:

“Mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão” (Is 40,31). Amém.

Tempo de vigilância e perseverança na fé

                                                          

Tempo de vigilância e perseverança na fé

                         “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19)

Na proximidade do final do Ano Litúrgico, a Liturgia da Quarta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, convida-nos a refletir sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva, no entanto, precedida do testemunho da fé, enfrentando as provações que se fizerem presentes.

É preciso renascer em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus, como vemos na passagem do Evangelho proclamada (Lc 21,12-19).

Assim foi com a História do Povo de Deus como vemos na passagem do Livro do Profeta Malaquias (Ml 4,1-2).

Trata-se do período pós-exílio, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. O Profeta Malaquias (“o meu mensageiro”) convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade. 

Seu anúncio sobre o Dia do Senhor é uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.

Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.

Retomando a passagem do Evangelho, que retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém.

É no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.

Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.

Podemos falar em três tempos:

 O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;

 O tempo da missão da Igreja; 

– O tempo da vinda do Filho do Homem.

Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (21,12).

Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.

“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (21,16-17). (1)

Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (21,19).

Urge a coragem e resistência para fidelidade no seguimento de Jesus Cristo no carregar da cruz quotidiana, a fim de que Ele reine verdadeiramente em nossa vida.

Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (3), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.

Reflitamos:

 Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?
 Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?

 Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, qual confiança tenho em Deus para enfrentá-las?
 Qual esperança cultivo no coração?

 Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?
 Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico como expressão de uma vigilância ativa?

 Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?

Oremos renovando nosso compromisso diante de Deus para que permaneçamos firmes na fé, e um dia alcancemos a vida eterna: 

“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.”  (4)

    
(1) (2) – Lecionário Comentado - p. 807. 
(3) – Missal Dominical - p. 1296.
(4) – Lecionário Comentado - p. 809.

“Deus vive na cidade”

                                                          

“Deus vive na cidade”

“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles;
eles serão o Seu povo, e Ele, Deus-com-eles, será o seu Deus”.
(Ap 21, 3)

Reflitamos sobre a vocação do discípulo missionário do Senhor, à luz do que nos disseram os Bispos na Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe, em Aparecida (2007):

“A fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio às suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio às suas dores e sofrimentos. As sombras que marcam o cotidiano das cidades, como exemplo violência, pobreza, individualismo e exclusão, não nos podem impedir que busquemos e contemplemos o Deus da vida também nos ambientes urbanos.

As cidades são lugares de liberdade e oportunidade. Nelas, as pessoas têm a possibilidade de conhecer mais pessoas, interagir e conviver com elas. Nas cidades é possível experimentar vínculos de fraternidade, solidariedade e universalidade. Nelas, o ser humano é constantemente chamado a caminhar sempre mais ao encontro do outro, conviver com o diferente, aceitá-lo e ser aceito por ele.” (DAP - n.514).

Deste modo, as sombras, a obscuridade do cotidiano (violência, pobreza, individualismo, exclusão...), não são suficientes para ocultar a presença divina, através daqueles que, impulsionados pela fé, esperança e caridade, comprometem-se com um mundo novo, com um novo céu e uma nova terra, a nova Jerusalém. O autor do Livro do Apocalipse nos diz:

“Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão o Seu povo, e Ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,3-4).

Urge que vivamos nossa vocação batismal, na fidelidade a Deus, que vive na cidade, com suas marcas, contrastantes (elites econômicas, sociais e políticas, a classe média em seus diferentes níveis, e a grande multidão dos pobres), que fazem multiplicar os clamores que sobem aos céus, incessantemente, e Ele espera de nós sagrados compromissos de superação para uma nova realidade.

Entretanto, nossa vocação somente será fecunda e sinal do Reino, se, com a luz do Espírito Santo, que nos dá sabedoria para vivermos coerentemente a Palavra e os Preceitos Divinos, colocando em prática o Projeto das Bem-Aventuranças, que Jesus nos comunicou, no monte Tabor, anunciando e testemunhando Sua presença entre nós.

E ainda que por si não resolva todos os problemas, a proximidade das eleições nos oferece o desafio de viver a vocação política na cidade, empenhados em que esta seja mais humana e fraterna, pois, afinal, Deus vive nela e conta conosco para transformá-la.

Se desafios não nos faltam, muitos também são os instrumentos que podem nos ajudar no revigoramento da nossa vocação, como resposta a Deus que nos ama, chama, acompanha e fortalece. Dentre eles, a vivência das obras de misericórdia corporais e espirituais.

Sigamos em frente, em estado permanente de missão, evangelizando a nossa cidade com amor, zelo e alegria, nutridos pela força que encontramos nas Mesas Sagradas da Palavra e da Eucaristia.

“Ai da alma em que não habita Cristo!”

                                                 

“Ai da alma em que não habita Cristo!”

Com a Homilia do Bispo São Macário (séc. IV) refletimos sobre que tipo de  “Habitação de Cristo” somos, e de que modo nos colocamos a serviço em Sua vinha, como discípulos missionários Seus.

“Deus outrora, irritado contra os judeus entregou Jerusalém como espetáculo aos gentios; e foram dominados por aqueles que os odiavam; não havia mais festas nem oblações. De igual modo, irado contra a alma por ser transgredido o Mandamento, entregou-a aos inimigos que a seduziram e a deformaram. Se uma casa não for habitada pelo dono, ficará sepultada na escuridão, desonrada, desprezada, repleta de toda espécie de imundícia.

Também a alma, sem a presença de Deus, que nela jubilava com Seus anjos, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa infâmia. Ai da estrada por onde ninguém passa nem se ouve voz de homem! Será morada de animais.

Ai da alma, se nela não passeia Deus, afugentando com Sua voz as feras espirituais da maldade. Ai da casa não habitada por seu dono! Ai da terra sem o lavrador que a cultiva! Ai do navio, se lhe falta o piloto; sacudido pelas ondas e tempestades do mar, soçobrará! Ai da alma que não tiver em si o verdadeiro piloto, o Cristo! Porque lançada na escuridão de mar impiedoso e sacudida pelas ondas das paixões, jogada pelos maus espíritos como em tempestade de inverno, encontrará afinal a morte.

Ai da alma se lhe faltar Cristo, cultivando-a com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos terminará por se encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios. O agricultor, indo lavrar a terra, deve pegar os instrumentos e vestir a roupa apropriada para o trabalho; assim também Cristo, o Rei Celeste e verdadeiro agricultor, ao vir à humanidade, deserta pelo vício, assumiu um corpo e carregou como instrumento, a Cruz.

Lavrou a alma desamparada, arrancou-lhe os espinhos e abrolhos dos maus espíritos, extirpou a cizânia do pecado e lançou ao fogo toda erva e suas culpas. Tendo-a assim lavrado com o lenho da Cruz, nela plantou maravilhoso jardim do Espírito, que produz toda espécie de frutos deliciosos e agradáveis a Deus e ao Senhor”. (1)

Os “ais” acima nos interpelam:

Ai de mim se não assumir com alegria a Missão como servo e administrador da vinha do Senhor!

Ai de mim se deixar o coração tomado pelos abrolhos, ervas indesejáveis, que nos sufocam a alegria que Ele sempre quer nos oferecer...

Ai de mim se não me predispuser, permitindo no coração o Arado Divino, lavrando-o para que as Sementes Divinas possam nele serem lançadas, e os frutos por Deus esperados, abundantemente produzidos...

Ai de mim se não me deixar conduzir por Cristo, pela Sua Divina Palavra!

Ai de mim se não tiver d’Ele, mesmos pensamentos e sentimentos... Minha vida reduzir-se-á a tristezas, prantos, dores, choros, lamentos...

Mas, não!

Feliz a alma em que Cristo habita!

Oremos:

Peço-Vos, Senhor: Vem!Fazei em mim Vossa morada.
Que seja eu, embora indigno, hospedeiro do mais Belo Hóspede!

Peço-Vos, Senhor: Vem! Fazei em nós Vossa amável presença.
Que sejamos nós, embora pecadores, receptáculos de Vossa graça!
Amém!

(1) - cf. Liturgia das Horas - Volume IV - p.521.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG