domingo, 9 de fevereiro de 2025

A Oração revigora e ilumina a nossa ação (VDTCB)

                                                            

A Oração revigora e ilumina a nossa ação

A passagem do Evangelho (Mc 1,29-39) proclamada no 5º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos apresenta alguns pontos a serem destacados:

- Jesus, após ter saído da sinagoga, foi com Tiago e João à casa de Simão e André.
- A sogra de Pedro que estava febril foi curada pelo Senhor,  e se pôs a servir a todos.

- Ao cair da tarde, diante da casa de Pedro, a cidade inteira encontrava-se reunida, e Jesus curou muitas pessoas, assim como expulsou muitos demônios.

- Quando ainda era escuro, Jesus levantou-Se e foi rezar num lugar deserto. Procurado pelos discípulos, comunica a Sua missão de pregar em outras aldeias, o que Seus discípulos também deverão fazer.

Na missão evangelizadora, na construção de um mundo com suas alegrias e dores, sorrisos e lágrimas, em constante busca de uma felicidade sem sombras e um amor sem ilusão, Jesus nos revela a força da Oração.

Tanto para Jesus como para os discípulos, a Oração é o cume e a fonte da ação; é força para nos libertar de toda forma de tentação (no deserto, Jesus venceu o diabo pela força da Palavra e da Oração).

Ela é como que um momento de paragem nas atividades para que se  renovem as forças; é o momento em que se toma consciência do que Deus quer de nós, sem o que podemos fazer muitas coisas, mas não necessariamente o que Deus quer e como Ele quer que sejam feitas.

A Oração dá tom e vigor novos ao nosso agir, porque somente na comunhão e no diálogo íntimo com Deus percebemos quais são os Seus Projetos e renovamos as forças para nos empenharmos na transformação do mundo.

A Oração é, na exata medida, uma relação de intimidade com Deus e plena abertura para o que Ele quer nos dizer, caminhos apontar, compromissos maiores nos apresentar.

Como discípulos missionários do Senhor, é necessário que encontremos espaço, tempo para a Oração, para o diálogo com Deus.

Sem a Oração nos fragilizamos e como cegos e surdos e indiferentes ao mundo ficamos, e assim perdemos a força profética, porque nada teremos a comunicar, e tão pouco faremos o que Deus espera de nós.

Curados pelo Senhor de toda febre que nos imobiliza, mantenhamos a alegria e o ardor do serviço, nutridos, de modo especialíssimo, no Banquete da Eucaristia.

Revigorados, saberemos enfrentar os sofrimentos, as adversidades próprias da ação evangelizadora.

Em contínua vigilância e Oração, não naufragaremos no oceano inesgotável de sofrimento e dificuldades que a vida possa nos apresentar:

“É preciso retirar-se regularmente para a solidão para orar, pois só em Deus está a consolação que não defrauda, a recompensa acima de todo o mérito aos que cumprem sua missão” (1)



(1) Missal Quotidiano e dominical e ferial -  Paulus – Lisboa - p.1215

Sagrados compromissos com o Reino (VDTCB)

                                                           

Sagrados compromissos com o Reino

Para aprofundamento da Liturgia do  5º Domingo do Tempo Comum (ano B), acolhamos um trecho da Homilia de Raniero Cantalamessa:

“Se a salvação do homem dependesse de um simples voltar atrás, para a condição paradisíaca, bastaria eliminar do mundo o suor e a dor, com tudo o que estas palavras implicam; em outros termos, bastaria a promoção humana...

Mas para o crente a salvação está ‘à frente’, não atrás. Não consiste em voltar no paraíso perdido, mas em entrar no Reino de Deus anunciado por Cristo; não é um retorno ao antigo e ao natural, mas ‘uma renovação para melhor’.

De pronto, a promoção humana assume para nós um significado totalmente diferente; é em função do Reino; é preparação evangélica, isto é, é um elevar o homem para que se torne apto para entrar no Reino de Deus (cf. Lc 9,62). Ela não pode ficar, por isso, sem a evangelização...

O esforço para a promoção humana deve ‘preparar a matéria para o Reino dos céus (Gaudium et spes n.38). A Redenção coroa assim – não anula – a criação...”

‘A obra redentora de Cristo, que por natureza visa salvar os homens, compreende também a restauração de toda a ordem temporal. Daí que a missão da Igreja consiste não só em levar aos homens a mensagem e a graça de Cristo, mas também em penetrar e atuar com o espírito do Evangelho as realidades temporais’ (Apostalicam Actuositatem n.5)”.  (1)

Algumas considerações:

- Não vivemos um saudosismo do paraíso, como algo perdido e que ficou nos primórdios da existência. Antes, este é desafio e compromisso a ser construído, com práticas mais humanas e fraternas, sobretudo quando vivermos a expressão maior do que o cristianismo nos apresenta: o amor a Deus e ao próximo (o primeiro na ordem dos preceitos, e o segundo na ordem da execução, como tão bem nos falou o Bispo e Doutor Santo Agostinho);

- A evangelização não é apenas uma promoção humana, no entanto, ela não a dispensa, pois o anúncio da Boa-Nova do Reino, pressupõe a promoção humana, o empenho para superar toda forma de dor, sofrimento, miséria, desigualdade, violência, injustiça etc.

- A evangelização engloba a existência humana, portanto, tudo que diz respeito aos homens e mulheres, diz respeito à própria Igreja, assim como suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, como tão bem ressaltou a “Gaudium Et Spes” (Documento do Vaticano II);

- Destaca-se, de modo especial, o protagonismo de cristãos leigos e leigas na construção de uma sociedade justa e fraterna, por seu anúncio e testemunho; animados e fortalecidos pelos que se consagram de modo pleno à vida sacerdotal (clero) e religiosas, que são motivadores, animadores destes neste árduo e desafiador testemunho no vasto e complicado mundo da economia, da política, da cultura, da economia, dos meios de comunicação e em outros âmbitos, como nos falou o Bem-aventurado Paulo VI na “Evangelli Nuntiandi” (n.70):

Os leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização... O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’ e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento.

Recolhidos e revigorados pela oração, continuemos, com alegria e coragem, a missão que o Senhor nos confiou, com a força do Espírito, que nos anima e nos assiste, para que o Reino de Deus se faça presente em nosso meio.


(1) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013  - pp.351-352

Como é bom ser Discípulo do Amado! (VDTCB)

                                                           

Como é bom ser Discípulo do Amado!

A Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum (ano B) propicia a reflexão sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida plena e felicidade infinita para todos.

Com a passagem da primeira Leitura (Jó 7, 1-4.6-7) refletimos sobre o sofrimento do justo, do inocente. Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança. O grito de revolta de Jó é ao mesmo tempo a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entendê-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente” (1).

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?

- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?

Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 9,16-19.22-23), mais uma vez contemplamos a ação evangelizadora de Paulo, feita na liberdade, fidelidade, gratuidade e obediência incondicional.

Quando alguém, como Paulo, encontra Cristo e se torna Seu discípulo não pode ficar parado, mas tem que dar testemunho, incansavelmente. Por amor a Deus e aos irmãos está sempre pronto a tudo sacrificar e até mesmo se sacrificar. 

Paulo por excelência é aquele que a Cristo encontrou, por Ele se apaixonou e daí o imperativo da evangelização que sai de sua boca, porque antes se encontra impresso na alma, nas entranhas de seu coração – “ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16).

Quando o Amor de Deus é absoluto em nossa vida, o tempo é uma figura que passa, as coisas têm o seu exato sentido e tamanho.

Em nossas comunidades eclesiais, na vida da Igreja, muitos problemas deixariam de existir ou tornar-se-iam menores, se nossa paixão por Jesus fosse maior. O amor é bem maior pelo qual se renuncia aos bens menores.

Aprendamos com o Apóstolo a fazer da vida um dom a Cristo, ao Reino, aos irmãos. 

Que nossos projetos pessoais sejam sempre subordinados aos Projetos divinos, e que a nossa vontade seja a de Deus, e jamais imponhamos a Deus a nossa vontade, e tão somente assim poderemos rezar com autenticidade a Oração do Pai Nosso que o Senhor nos ensinou.

Na passagem do Evangelho (Mc 1,29-39), encontramos a verdadeira preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. 

Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a, tomando-a pela mão, e esta, curada, põe-se a servir. 

Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, toca-nos, cura-nos, põe-nos de pé, para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado

Reflitamos:

- Não nos falta uma verdadeira paixão por Jesus?
- Não nos falta uma paixão mais sincera, mais inflamada, mais comprometida com a Igreja e o Reino?

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos que enraizados em Vosso Amor de Pai, 
sejamos  alegres e corajosas testemunhas do Reino. Por N.S.J.C. Amém.



Fonte de pesquisa: (1) www.Dehonianos.org/portal 

Sal e luz (VDTCA)

Sal e luz

Na missão de ser sal da terra e luz do mundo, à luz da passagem do Evangelho proclamado no 5º Domingo do Tempo Comum (ano A) - (Mt 5,13-16), destacam-se quatro características do testemunho cristão:

1 – A publicidade: a luz, por sua natureza, existe para iluminar, para se mostrar visível e pública, e não para ficar escondida. Não se pode ficar no anonimato.

2 – A universalidade: sal da terra e luz do mundo. No entanto, esta universalidade que Jesus anuncia deve começar pelos últimos, a fim de que os primeiros também sejam incluídos: os últimos devem ser os primeiros, e assim não haverá nenhuma possibilidade de exclusão.

3 – A consistência: o testemunho se dá pelas obras e não pelas palavras ou teorias. Não se pode incorrer na tentação das palavras em excesso. É preciso as obras de misericórdia (Mt 25,31), pela partilha realizada, pela Palavra de Deus colocada em prática (Mt 7,21).

4 – Transparência: o discípulo, na prática das boas obras, não concentra a atenção sobre ele próprio, mas leva os outros a dirigirem o olhar para Deus, que é nosso Pai – “Vendo as vossas boas obras, glorifiquem Vosso Pai que está nos Céus” (M 5,16). De fato, Jesus foi a verdadeira transparência do Pai pelas palavras, obras e na Sua própria Pessoa – “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14, 9). (1)

Somente com as obras de misericórdia (corporais e espirituais), seremos, de fato, sal e luz.  Não seremos também pelas obras do poder, da riqueza ou do sucesso, mas do amor vivido concretamente em solidariedade concreta com os empobrecidos.

Este é o caminho que todo o discípulo de Jesus deve fazer, assim como o Apóstolo Paulo e tantos outros, o caminho da fraqueza da Cruz e não o caminho do poder ou da glória.

Supliquemos a Deus que estas características: publicidade, universalidade, consistência e transparência, estejam presentes em nosso agir, assim como em todas as nossas atividades pastorais. E assim, na fidelidade ao Senhor, confiando em Sua Palavra, Pessoa e presença, seremos da terra o sal e do mundo a luz.


(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2010 – pp. 206-207

A suavidade da sincera caridade (VDTCA)

A suavidade da sincera caridade

Ao celebrar o 5º Domingo do Tempo Comum (ano A), que nos oferece a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,13-16), acolhamos o Sermão escrito por São Cesário de Arles (séc. V).

“O bem-aventurado patriarca José, movido pela suavidade de uma sincera caridade, tratou de repelir, com a graça de Deus, de seu coração, o veneno da inveja, da qual sabia estar infeccionado o coração de seus irmãos.

Portanto, ao povo cristão não lhe é lícito estar cioso, não lhe está permitido invejar, apoiando-se na humildade eleva-se ao cume da virtude.

Escuta o bem-aventurado Apóstolo João em sua Carta: Aquele que odeia ao seu irmão é um homicida; e novamente: Quem diz que está na luz e abomina ao seu irmão ainda está nas trevas, caminha nas trevas, e não sabe aonde via, porque as trevas cegaram os seus olhos.

Aquele que abomina, diz, ao seu irmão, caminha nas trevas e não sabe aonde vai; pois sem perceber desce ao inferno e, como cego que é, precipita-se na pena, apartando-se da luz de Cristo que nos admoesta e nos diz: Eu sou a luz do mundo, e aquele que crê em mim não caminha nas trevas, mas terá luz da vida.

De fato, como vai possuir a paz do Senhor ou a caridade o que, dominado pelos ciúmes, é incapaz de permanecer na paz e segurança?

Quanto a nós, irmãos, fujamos, com a graça de Deus, da peçonha dos ciúmes e da inveja, e levemos a suavidade da caridade para nossas relações não só com os bons, mas também com os maus; assim Cristo não nos reprovará pelo pecado da inveja, antes nos felicitará e nos convidará ao prêmio dizendo-nos: Vinde, benditos, herdai o Reino.

Tenhamos nas mãos a Sagrada Escritura, e no espírito o pensamento do Senhor; que jamais cesse a oração contínua, e persevere sempre a operação salvadora, de maneira que, quantas vezes o inimigo se aproxime para tentar-nos, nos encontre sempre ocupados nas boas obras.

Examine, pois, cada qual a sua própria consciência, e se descobrir-se afetado pelo veneno da inveja frente à prosperidade de seu irmão, arranque de seu peito os espinhos e abrolhos, para que nele a semente do Senhor, como em campo fértil, produza um fruto multiplicado e a divina e espiritual colheita se traduza em messe fertilíssima.

Que cada um pense nas delícias do paraíso e anseie o Reino celestial, no qual Cristo somente admite aos que têm um só coração e uma só alma. Pensemos, irmãos, que ‘filhos de Deus’ somente podem ser chamados aos que trabalham pela paz, conforme o que está escrito: 
Nisto conhecerão que sois meus discípulos: em que vos ameis uns aos outros.

Que o piedoso Senhor vos conduza sob a proteção e pelo caminho das boas obras a este amor. A Ele a honra e a glória juntamente com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, devemos aspirar alcançar o cume da virtude, movidos pela sincera caridade, repelindo de nossa mente e coração todo sentimento de inveja ou ciúmes.

Isto é possível quando a vigilância permanente é acompanhada da oração, tendo nas mãos e no coração a Sagrada Escritura, empenhados em realizar as boas obras que somos chamados a multiplicar todos os dias, na realização da vontade de Deus, assim na terra como no céu.

Deste modo, arrancaremos de nosso peito os espinhos e abrolhos, para que, como falou São Cesário, “nele a semente do Senhor, como em campo fértil, produza um fruto multiplicado e a divina e espiritual colheita se traduza em messe fertilíssima”.

Oremos:

Ó Deus que alcancemos o cume da virtude, movidos pela suavidade da sincera caridade, assistidos por Vós e iluminados e libertos por Vossa Santa Palavra, expulsemos de dentro de nós todo sentimento de ciúme e inveja, e deles livres, sejamos sal e luz, instrumentos de boas obras, levando muitos a Vos glorificar pelos séculos dos séculos. Amém.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes – pp.131-132

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano (VDTCA)

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano

... quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

A Liturgia do 5º Domingo do tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre o compromisso que abraçamos no dia de nosso Batismo, quando nos tornamos cristãos, discípulos missionários do Senhor.

Fazer brilhar a luz de Deus na noite do mundo, e como sal dar gosto e sentido de Deus a todo o existir, é a nossa grande missão.

Na passagem da primeira Leitura, o Profeta Isaías (Is 58,7-10), em tempos difíceis do pós-exílio, mantém viva a chama da esperança de um tempo novo, expressando a reclamação de Deus contra aqueles que praticam um culto vazio e estéril: de nada adianta a prática de leis externas, que não saem do coração, sem a necessária correspondência na vida.

O Profeta faz, portanto, um convite ao Povo para que respeite a santidade da Lei, colocando-a em prática. De modo especial, retrata na passagem o jejum, que no contexto do capítulo aparece sete vezes.

A prática do jejum deve ser feita com humildade diante de Deus, como expressão da dependência, do abandono e amor para com Ele, a renúncia a si próprio, a eliminação do egoísmo e da autossuficiência.

Jejum é voltar-se para o Senhor, manifestando a entrega confiante em Suas mãos, em total disponibilidade de acolher a ação e o dom de Deus, em gestos concretos de amor e solidariedade.

Deste modo, o jejum jamais pode ser compreendido como uma tentativa de colocar Deus do nosso lado, captando Sua benevolência a fim de que realize prontamente nossos interesses e desejos egoístas.

Somente a prática do jejum autêntico é que levará a comunidade a ser e contemplar a luz de Deus no mundo.

Reflitamos:

- Qual é a relação entre os gestos cultuais e gestos reais de nossa vida. Expressam ambos em sintonia a misericórdia e o Amor de Deus?

De que modo o que celebramos tem determinado a nossa vida?
Que matiz o Amor Divino tem dado as nossas ações?

- Somos uma luz acesa na noite do mundo, em solidariedade expressiva?
   - Somos como Isaías, Profetas do amor e servidores da reconciliação para um mundo novo justo e fraterno?

O Apóstolo Paulo, na passagem segunda Leitura (1Cor 2,1-5), nos exorta a identificação com Cristo, interiorizando a “loucura da Cruz”, que é dom e vida. Deus age através de nossa fragilidade e debilidade, como agiu através dele, um homem frágil e pouco brilhante.

Diante da comunidade de Corinto, o Apóstolo se apresentou consciente de sua fraqueza, assustado e cheio de temor.

O que levou os coríntios a abraçar a fé não foi a sedução de sua personalidade, nem suas brilhantes qualidades de pregador (que não possuía), e tão pouco a coerência de sua exposição, que ao contrário foi acolhida com ironia e indiferença.

O que levou os coríntios a aderirem à proposta de Jesus foi a força de Deus que se impõe, muito além dos limites de quem apresenta ou ouve a Sua proposta.

O Espírito de Deus está sempre presente e age no coração daquele que crê, de forma que a sabedoria humana é suplantada e, assim, somos tocados e elevados pela sabedoria divina.

É preciso que nos coloquemos sempre como humildes instrumentos nas mãos de Deus, para que se realize Seu Projeto de Salvação para o mundo todo.

Com isto não quer dizer que Deus dispense nossa entrega, doação, técnicas, meios de comunicação, ao contrário, é o Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.

A mensagem da passagem do Evangelho (Mt 5,13-16) é o desdobramento do Sermão da Montanha que, se verdadeiramente vivido na planície, nos faz sal da terra e luz do mundo.

Seguidores do Senhor não podem se instalar na mediocridade, jamais se acomodar, mas pôr-se sempre a caminho, sem nenhuma possibilidade para comodismo e facilidades.

Ser sal e luz implica em total fidelidade dos discípulos ao programa anunciado por Jesus nas Bem-Aventuranças: ser pobre em espírito, sedento de justiça e paz, misericordioso, puro e capaz de sofrer toda forma de incompreensão, calúnia e perseguição.

Ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente no testemunhar do Reino em ambientes adversos. Não se pode viver um cristianismo “morno” instalado, cômodo, reduzindo a algumas práticas de Oração e de culto (até mesmo de uma Missa apenas aos domingos, como simples expressão de preceito cumprido).

Somente quando o nosso agir revela a ação e o compromisso com o Projeto Divino é que somos sal da terra e luz do mundo, e apresentamos Jesus como a Luz de todos os Povos, de todas as nações.

Somente quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

Discípulos missionários do Senhor devem se preocupar permanentemente em não atrair sobre si o olhar de todos, mas deve, antes e sempre, se preocupar em conduzir o olhar e o coração de todos para Deus e à Proposta de Seu Reino de Amor, Vida e Paz.

Sendo sal, que jamais percamos o gosto, do contrário para nada serviremos. Sendo luz, que jamais permitamos que ela se apague, não obstante as dificuldades próprias da existência.

Que tenhamos a coragem de comunicar a luz de Deus na escuridão do cotidiano, sem jamais perder o gosto do sal de Deus: gosto da partilha, do acolhimento, da misericórdia, da caridade.  Tão somente assim a luz de Deus, que em nós habita pelo Seu Espírito, comunicará luz aos que se encontram ao nosso redor.

Sal e luz, sejamos sempre! Sermão da Montanha ouvido e acolhido, na planície da vida anunciado, testemunhado e corajosamente vivido. Amém!  

Sal da terra e luz do mundo (VDTCA)


Sal da terra e luz do mundo

À luz da passagem do Evangelho proclamado na terça-feira da 10ª Semana do Tempo Comum (Mt 5,13-16), refletimos a missão de ser sal da terra e luz do mundo, como graça do batismo e discípulos missionários do Senhor.

Destacam-se quatro características:

1 – A publicidade: a luz, por sua natureza, existe para iluminar, para se mostrar visível e pública, e não para ficar escondida. Não se pode ficar no anonimato.

2 – A universalidade: sal da terra e luz do mundo. No entanto, esta universalidade que Jesus anuncia deve começar pelos últimos, a fim de que os primeiros também sejam incluídos: os últimos devem ser os primeiros, e assim não haverá nenhuma possibilidade de exclusão.

3 – A consistência: o testemunho se dá pelas obras e não pelas palavras ou teorias. Não se pode incorrer na tentação das palavras em excesso. É preciso as obras de misericórdia (Mt 25,31), pela partilha realizada, pela Palavra de Deus colocada em prática (Mt 7,21).

4 – A Transparência: o discípulo, na prática das boas obras, não concentra a atenção sobre ele próprio, mas leva os outros a dirigirem o olhar para Deus, que é nosso Pai – “Vendo as vossas boas obras, glorifiquem Vosso Pai que está nos Céus” (M 5,16). De fato, Jesus foi a verdadeira transparência do Pai pelas palavras, obras e na Sua própria Pessoa – “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14, 9). (1)

Somente com as obras de misericórdia (corporais e espirituais), seremos, de fato, sal e luz.  Não seremos também pelas obras do poder, da riqueza ou do sucesso, mas do amor vivido concretamente em solidariedade concreta com os empobrecidos.

Este é o caminho que todo o discípulo de Jesus deve fazer, assim como o Apóstolo Paulo e tantos outros, o caminho da fraqueza da Cruz e não o caminho do poder ou da glória.

Supliquemos a Deus que estas características: publicidade, universalidade, consistência e transparência, estejam presentes em nosso agir, assim como em todas as nossas atividades pastorais. E assim, na fidelidade ao Senhor, confiando em Sua Palavra, Pessoa e presença, seremos da terra o sal e do mundo a luz.


(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2010 – pp. 206-207

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