A passagem do Livro de
Daniel (Dn 7,2.14-27) é uma linguagem mística da visão que não nos deve
espantar, ao contrário, deve renovar nossa confiança no Senhor Jesus Cristo,
Rei e Senhor do Universo.
Assim como no tempo de
Daniel, em nosso tempo conhecemos outras imagens (e realidades) igualmente
concretas e terrificantes, como lemos no comentário do Missal Cotidiano:
“a bomba atômica, o
extermínio da guerra bacteriológica, a poluição das águas e da atmosfera, etc.
São realidades que deterioram incessantemente o homem dos nossos dias, penetram
no subconsciente, corroendo-o e tornando o pânico um componente habitual de
nossa existência.” (1).
Cremos que Jesus o
Senhor, centro de toda a História, e veio para estabelecer um Reino eterno e
Universal como rezamos no Prefácio da Solenidade de Cristo Rei:
“Com óleo de exultação,
consagrastes Sacerdote Eterno e Rei do universo Vosso Filho único, Jesus
Cristo, Senhor nosso. Ele, oferecendo-Se na Cruz, vítima pura e pacífica,
realizou a redenção da humanidade. Submetendo ao Seu poder toda criatura,
entregará à Vossa infinita majestade um Reino eterno e universal: Reino da
verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do
amor e da paz...”.
Reino Eterno:
Quantos reinos passaram, quantos impérios
sucumbiram, pois nenhum poder terreno é eterno.
A história tem suas escritas, suas lembranças, ora
belas, ora amargas da dominação de verdadeiros impérios, domínios, reinos...
Humanos que pretenderam ser como deuses,
infalíveis, eternos... Mas, ficaram apenas lembranças, às vezes edificantes,
outras vezes nem tanto...
O Reino de Jesus é eterno porque implantado no amor
e pelo amor. Carrega em sua origem, o princípio vital da eternidade porque
procede e volta para o Eterno: Deus. Como Deus é Amor, e o Amor jamais passará, Seu
Reino jamais passará.
Reino Universal:
O Reino de Deus não conhece limites do tempo, nem
do espaço e abrange todo o tempo, toda existência, todos os povos, todo o
universo.
É a recapitulação e reconciliação da História, de
toda criação e de toda criatura. Sua universalidade faz de todos os povos um só povo, expressão da mais
perfeita comunhão, fraternidade e paz.
Reino da Verdade:
Ele mesmo Se apresentou a nós como a Verdade que
liberta – “conhecereis a Verdade e
vos tornareis verdadeiramente livres”.
Toda Sua vida foi uma verdade absoluta e
irrevogável do amor de Deus por nós.
Seu agir foi todo pautado pela verdade, denunciando
mentiras e hipocrisias, enfrentando o pai da mentira (Satanás).
Desamarrou as correntes da mentira que aprisionavam
as pessoas, rompeu tudo aquilo que impedia emergir no coração e na mente humana
a verdade que traz alegria, serenidade, noites bem dormidas, amanhecer pleno de
luz.
Reino da Vida:
Também Se apresentou a toda humanidade e em todo o
tempo, como a Vida, e disse literalmente: “Vim
para que todos tenham vida e tenham vida plenamente”.
Não veio trazer vida apenas para o presente, para
nós trouxe a vida livre da temporalidade inexorável, e abriu-nos as portas da vida na eternidade.
Rompeu os muros que nos separavam da vida eterna,
construída pelo pecado, pela desobediência. O esplendor da vida que perdêramos com o pecado de nossos pais, Ele nos
recuperou plenamente. Assegurou-nos a beleza
da vida desde sua concepção até seu declínio natural, para que possa
desabrochar na presença de Deus: céu.
Reino da Santidade:
Fomos predestinados a uma vocação única: A
santidade. Santidade, não como uma
vida para além das nuvens. Pés fincados no chão,
coração para Deus voltado, olhos por Ele iluminados com o indispensável colírio
da fé.
Santidade como compromisso com aqueles que nos
rodeiam, como desejo de construir pontes indestrutíveis que nos fazem mais
humanos, mais fraternos, mais verdadeiramente imagem e semelhança de
Deus.
Santidade não como angelismo desencarnado,
irresponsável e estéril, que nos faria infantilizados. Santidade rima na palavra e no conteúdo com
responsabilidade, fraternidade, maturidade, dignidade, sobriedade...
Reino da Graça:
Deus Se relaciona conosco no puro amor, na perfeita
doação, ação restauradora; cumula-nos com todos os benefícios; Sua ternura por
nós é transbordante; gera e edifica cada pessoa que o coração a Ele abre.
Reino da graça é o Reino em que não há espaço para
a violação da vida, como a fome, o frio, o abandono, a solidão, o
encarceramento, a enfermidade sem presença amorosa e confortadora.
Acolher a graça de Deus torn a vida mais bela, pois
esta é o Seu cuidado para conosco.
Reino da Justiça:
Um Reino em que as relações se dão na perfeita
harmonia, na justa medida, chegando à expressão da misericórdia.
A justiça humana não dispensa o aprendizado da
misericórdia divina. A justiça extingue toda
possibilidade de roubo, exclusão, oportunismo, mentira, hipocrisia,
indiferença, omissão...
Reino do Amor:
Esta é a marca de
Seu Reino.
Retomemos a passagem do Evangelho de São João (c. 13; 15), em que nos exorta a amar como Ele nos amou, eis o
novo Mandamento.
Ou ainda o capitulo 13 de São Paulo aos Coríntios:
O hino da caridade. Se ainda algo fosse
preciso dizer, se ainda não se sinta saciado é imprescindível e deleitoso ler a
1.ª Carta de São João...
Reino da Paz: Shalon!
Plenitude de bens, abundância de tudo aquilo que
nos faz pessoas verdadeiramente felizes, porque quem participa do Reinado de
Jesus, Rei Bom Pastor, Rei Soberano e Juiz, só pode gozar da plenitude da
alegria, da vida e da paz.
Deste modo quem
aceita e crê na mensagem evangélica vê com outros olhos a história do mundo e
do homem:
“ A grande fera que
devorará a terra é um monstro que será abatido. O Filho do homem nos libertou
de toda escravidão, venceu o sentimento de angústia, transformou o pânico em
esperança segura. São grandes, por certo, os perigos que nos ameaçam, a provação
aflige concretamente, mas em plena escuridão da noite é belo acreditar na luz.
A segurança do reino de Deus, que caminha entre tantas provações e transpõe
tantos obstáculos, vem exatamente da mediação do “Filho do homem”, que sentimos
próximo de nós.” (2)
Oremos:
“Pai Nosso que estais
nos céus...”
(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 1554
(2)Idem
PS: Oportuno para reflexão da passagem da Primeira
Carta de Paulo aos Tessalonicenses (1 T2 3,12-4,2).
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