O sinal da Cruz Redentora
Com este Sermão do
Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. IV), reflitamos sobre o
Mistério da Cruz Redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois tudo se
consuma entre nós pela Cruz.
“Portanto, que
ninguém se envergonhe dos sagrados símbolos de nossa Salvação, que em si contém
a origem de todos os bens, e pelos quais temos vida e existimos. Antes, levemos
por toda a parte, como uma coroa, a Cruz de Cristo. Tudo, de fato, se consuma
entre nós pela cruz. Quando temos de regenerar-nos, ali está presente a cruz;
quando nos alimentamos do místico alimento; quando somos consagrados ministros
do altar; se é necessária qualquer outra ação sagrada, ali está sempre presente
este símbolo da vitória. Daí o fervor com que o inscrevemos e desenhamos sobre
as nossas casas e paredes, sobre as janelas, sobre nossa fronte e sobre o
coração.
Porque este é o
sinal de nossa salvação, o sinal da liberdade do gênero humano, o sinal da
mansidão do Senhor para conosco que como ovelha foi levada ao
matadouro.
Portanto, quando te
persignar, considera todo o mistério da cruz e apaga de ti toda ira e todas as
demais paixões. Quando te persignar, ocupa amplamente toda a tua frente
libertando assim a tua alma. Sabeis bem que coisas são as que nos geram a
liberdade. Daí que Paulo, para levar-nos a isso, quero dizer, para a liberdade
que nos convém, nos conduziu pela memória da Cruz e do Sangue do Senhor. Foram
comprados, disse
ele,
por alto preço. Não vos deixeis escravizar pelos homens.
É como se dissesse:
Pensa no preço que foi pago por ti e nunca te farás escravo dos homens; e chama
preço à cruz. É necessário que a formemos não somente com os dedos, mas
primeiramente o façamos com a vontade e uma grande fé.
Se com esta condição
a traças em tua casa, nenhum demônio impuro poderá estar contra ti, pois verá a
espada com que foi ferido com ferida mortal. Se nós, que somente ao ver o lugar
onde executam os réus, sentimos horror, considera o que sofrerão o seu poder e
cortou a cabeça do dragão.
Não te envergonhes,
pois, de tão grande dom, para que Cristo não se envergonhe de ti quando venha
em sua glória e se veja este sinal que desce, mais brilhante que os raios do
sol, diante de Cristo. Porque então verás a cruz clamando somente com sua presença
e defendendo diante de todo o orbe a casa do Senhor e demonstrando que da parte
Dele nada faltou para salvar-nos.
Este sinal no tempo
de nossos antepassados, e também nos atuais, abriu as portas fechadas; este
sinal destruiu os venenos; este sinal desfez a força da cicuta; este sinal
curou as mordidas das feras venenosas. Pois se abriu as portas infernais, abriu
as portas do céu e renovou a entrada ao paraíso; destroçou-se a força dos
demônios, porque seria extraordinário que vencesse os venenos, as feras e as
outras coisas semelhantes a estas?
Grava isto em tua
mente e abraça este sinal, salvação de nossas almas. Porque esta cruz salvou e
converteu ao orbe, afastou o erro, trouxe a verdade, fez da terra céu e dos
homens fez anjos.
Por virtude da cruz já
não são temíveis os demônios; a morte já não é morte, mas sono; pela cruz tudo
o que nos era contrário ficou abatido, por terra pisoteado. De modo que se
alguém te pergunta: Adoras ao Crucificado? Com voz forte, com rosto alegre,
responde-lhe: O adoro e nunca deixarei de adorá-Lo. E se esse tal te
ridiculariza, chora tu por sua loucura. Dá graças ao Senhor por tão imensos
benefícios que se não fosse pela revelação ninguém poderia nem sequer conhecê-los”.
(1)
Somos remetidos às palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: – “Se alguém quer me seguir,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua
vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”
(Mt 16,24).
Vemos quão precioso
é o sinal da cruz que tantas vezes fazemos, e que não pode ser feito de
qualquer maneira, como tão bem expressou São João Crisóstomo.
Bem como não podemos
fazer da cruz uma espécie de amuleto, ou coisa semelhante, menos ainda um
enfeite para nossos corpos e vestes, ou em nossas paredes.
Concluamos com as palavras do Apóstolo Paulo aos Gálatas: “Quanto a mim,
não aconteça gloriar-me senão na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o
mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14).
(1) Lecionário
Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.205-207
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