domingo, 3 de março de 2024

O sinal da Cruz Redentora (IIIDTQB)


O sinal da Cruz Redentora

Com este Sermão do Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. IV), reflitamos sobre o Mistério da Cruz Redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois tudo se consuma entre nós pela Cruz.

“Portanto, que ninguém se envergonhe dos sagrados símbolos de nossa Salvação, que em si contém a origem de todos os bens, e pelos quais temos vida e existimos. Antes, levemos por toda a parte, como uma coroa, a Cruz de Cristo. Tudo, de fato, se consuma entre nós pela cruz. Quando temos de regenerar-nos, ali está presente a cruz; quando nos alimentamos do místico alimento; quando somos consagrados ministros do altar; se é necessária qualquer outra ação sagrada, ali está sempre presente este símbolo da vitória. Daí o fervor com que o inscrevemos e desenhamos sobre as nossas casas e paredes, sobre as janelas, sobre nossa fronte e sobre o coração.

Porque este é o sinal de nossa salvação, o sinal da liberdade do gênero humano, o sinal da mansidão do Senhor para conosco que como ovelha foi levada ao matadouro.

Portanto, quando te persignar, considera todo o mistério da cruz e apaga de ti toda ira e todas as demais paixões. Quando te persignar, ocupa amplamente toda a tua frente libertando assim a tua alma. Sabeis bem que coisas são as que nos geram a liberdade. Daí que Paulo, para levar-nos a isso, quero dizer, para a liberdade que nos convém, nos conduziu pela memória da Cruz e do Sangue do Senhor. Foram comprados, disse ele, por alto preço. Não vos deixeis escravizar pelos homens.

É como se dissesse: Pensa no preço que foi pago por ti e nunca te farás escravo dos homens; e chama preço à cruz. É necessário que a formemos não somente com os dedos, mas primeiramente o façamos com a vontade e uma grande fé.

Se com esta condição a traças em tua casa, nenhum demônio impuro poderá estar contra ti, pois verá a espada com que foi ferido com ferida mortal. Se nós, que somente ao ver o lugar onde executam os réus, sentimos horror, considera o que sofrerão o seu poder e cortou a cabeça do dragão.

Não te envergonhes, pois, de tão grande dom, para que Cristo não se envergonhe de ti quando venha em sua glória e se veja este sinal que desce, mais brilhante que os raios do sol, diante de Cristo. Porque então verás a cruz clamando somente com sua presença e defendendo diante de todo o orbe a casa do Senhor e demonstrando que da parte Dele nada faltou para salvar-nos.

Este sinal no tempo de nossos antepassados, e também nos atuais, abriu as portas fechadas; este sinal destruiu os venenos; este sinal desfez a força da cicuta; este sinal curou as mordidas das feras venenosas. Pois se abriu as portas infernais, abriu as portas do céu e renovou a entrada ao paraíso; destroçou-se a força dos demônios, porque seria extraordinário que vencesse os venenos, as feras e as outras coisas semelhantes a estas?

Grava isto em tua mente e abraça este sinal, salvação de nossas almas. Porque esta cruz salvou e converteu ao orbe, afastou o erro, trouxe a verdade, fez da terra céu e dos homens fez anjos.

Por virtude da cruz já não são temíveis os demônios; a morte já não é morte, mas sono; pela cruz tudo o que nos era contrário ficou abatido, por terra pisoteado. De modo que se alguém te pergunta: Adoras ao Crucificado? Com voz forte, com rosto alegre, responde-lhe: O adoro e nunca deixarei de adorá-Lo. E se esse tal te ridiculariza, chora tu por sua loucura. Dá graças ao Senhor por tão imensos benefícios que se não fosse pela revelação ninguém poderia nem sequer conhecê-los”. (1)

Somos remetidos às palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: – “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24).

Vemos quão precioso é o sinal da cruz que tantas vezes fazemos, e que não pode ser feito de qualquer maneira, como tão bem expressou São João Crisóstomo.

Bem como não podemos fazer da cruz uma espécie de amuleto, ou coisa semelhante, menos ainda um enfeite para nossos corpos e vestes, ou em nossas paredes.

Concluamos com as palavras do Apóstolo Paulo aos Gálatas:  “Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6,14).


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.205-207

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG