Multipliquemos
os talentos por Deus concedidos
Sejamos
enriquecidos pelo Sermão escrito por São Gregório Magno, Papa e Doutor da
Igreja (séc. VI) com vistas ao aprofundamento da passagem do Evangelho de
Mateus (Mt 25,14-30).
“Mas
deve-se saber que não existe nenhum ocioso que esteja seguro de não ter
recebido algum talento, porque não existe ninguém que diga com verdade: ‘Eu não recebi nenhum talento, portanto não
estou obrigado a prestar contas’; pois com o nome de talento se deve
entender aquilo que qualquer pobre recebeu, por menor que isso seja.
Um,
pois, recebeu o entendimento da pregação, e este deve o ministério como
talento; outro recebeu bens terrenos e deve distribuir ou administrar o talento
destas coisas; outro ainda não recebeu a compreensão das coisas interiores nem
a abundância de bens, mas aprendeu uma arte, com a qual se sustenta, e essa
arte se considera como o talento que recebeu; o seguinte não alcançou nada
destas coisas, mas talvez mereceu a amizade íntima com algum rico: recebeu,
portanto, o talento da amizade. Portanto, se não fala ao rico em favor dos
miseráveis, é condenado por retenção do talento.
Então,
quem tem entendimento, esforce-se por não estar sempre calado; quem tiver bens
abundantes, vigie para não se descuidar de exercitar a misericórdia; quem
possui uma arte pela qual se sustenta, procure com grande diligência que o
próximo participe de seu uso e utilidade; quem tem oportunidade de falar ao
rico, tema ser castigado por retenção do talento se, podendo, não intercede
junto dele em favor dos pobres, porque o Juiz que virá exige de cada um de nós
o talento, ou seja, aquilo que nos concedeu.
Consequentemente,
para que, quando volte o Senhor, alguém se encontre seguro da conta de seu
talento, pense cada dia com temor no que recebeu. Cuidem que já está próximo o
retorno d’Aquele que foi para longe; porque, mesmo que pareça ter-se
distanciado aquele que foi para longe desta terra em que nasceu, porém volta em
breve para pedir prestação de contas dos talentos; e se formos preguiçosos, nos
julgará com mais rigor sobre os dons concedidos.
Consideremos,
pois, o que é que temos recebido, e estejamos atentos para empregá-lo bem. Que
não exista algum cuidado terreno que nos impeça a vida espiritual, para que não
venha a acontecer que, escondendo o talento na terra, provoque-se a ira do
Senhor do talento.
O
servo preguiçoso, quando o juiz já pede contas das culpas, desenterra o
talento; existe, portanto, muitos que se afastam dos desejos e obras terrenas,
por aviso do juiz, quando já são entregues ao suplício eterno. Vigiemos,
portanto, antes que nos seja solicitada a conta de nosso talento, para que,
quando o juiz já estiver ameaçando com o castigo, sejamos libertos dele pelo
lucro que tivermos alcançado.” (1)
Compreendamos,
portanto, “talento” como aquilo que qualquer pobre recebeu.
De
fato, ninguém pode dizer que não possui “talento” algum, e deste modo, todos devemos nos colocar a serviço do Reino.
Talento
partilhado é talento multiplicado e é o que Deus espera de todos nós.
Na espera do Senhor que virá gloriosamente, a nossa vigilância
deve consistir nesta multiplicação, contando sempre com a Sabedoria e presença
do Santo Espírito.
(1)
Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 -
pág.250-251