domingo, 1 de setembro de 2024

Em poucas palavras...

                                                       


Os Mandamentos não se separam

“O Decálogo forma um todo indissociável. Cada «Palavra» remete para cada uma das outras e para todas; elas condicionam-se reciprocamente.

As duas «tábuas» esclarecem-se mutuamente; formam uma unidade orgânica. Transgredir um mandamento é infringir todos os outros (Tg 2,10-11).

Não é possível honrar a outrem sem louvar a Deus seu criador; nem se pode adorar a Deus sem amar todos os homens, suas criaturas. O Decálogo unifica a vida teologal e a vida social do homem.” (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica - parágrafo n. 2069

Em poucas palavras...

                                         

                                " Os Dez Mandamentos..."

“Os Dez Mandamentos enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. Os três primeiros referem-se mais ao amor de Deus: os outros sete, ao amor do próximo:

‘Como a caridade abrange dois preceitos, nos quais o Senhor resume toda a Lei e os Profetas, [...] assim também os Dez Mandamentos estão divididos em duas tábuas. Três foram escritos numa tábua e sete na outra’ (Santo Agostinho).” (1)

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2067

Em poucas palavras...

                                                  


Amor a Deus e ao próximo 

“Esses dois Preceitos devem ser sempre lembrados, meditados, conservados na memória, praticados, cumpridos. O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos Preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução. Pois, quem te deu esse duplo preceito do amor não podia ordenar-te amar primeiro ao próximo e depois a Deus, mas primeiramente a Deus e depois ao próximo”.  (1)

 

(1)Santo Agostinho (séc. V)

“Deuteronômio”: História do amor de Deus por nós



“Deuteronômio”: História do amor de Deus por nós

Setembro com beleza própria, primavera se anuncia;
Os ipês florescem com a exuberância da beleza das cores.
Em meio às cinzas das queimadas no campo e à poluição das cidades.
Encontros de reflexão bíblica tão esperados.

Olhemos o chão que pisaram nossos pais,
O tempo e a distância nos separam,
Mas a fé no mesmo Deus nos aproxima,
E ilumina nossos sombrios e árduos caminhos.

“Deuteronômio”, quinto Livro do Pentateuco,
“Debarim”, “Palavras”, digamos como aprouver.
Importa ouvir e acolher sagradas Palavras,
Que no outro lado do Jordão, por Moisés, ao Povo dirigidas. (Dt 1,1)

Nele encontramos temas fundamentais
Para sadia e fecunda espiritualidade.
Fé em Deus enraizada; esperança, âncora
Em travessias, caridade vivenciada.

Escrito por mãos tantas, em tempos diversos,
Mas sempre a mesma fonte inspiradora.
Pelo sopro do Espírito escrito silenciosamente,
E em nosso coração, indelevelmente inscrito.

Livro Santo, no Novo Testamento tão presente,
Mais de duas centenas, ricamente citados.
Memoráveis nos lábios do Senhor no deserto,
E com Sua Palavra, diabólicas tentações vencidas. (1)

Sete luzes divinas no Livro acesas a iluminar,
Para que a escuridão da noite possamos enfrentar,
Em todo tempo e em todo lugar,
Para horizontes do inédito alcançar.

Brilho da primeira luz: o perfume do amor de Deus,
Exalado e comunicado no Egito, o povo libertando,
Em novo modo de sagrados relacionamentos
Com Deus e com o próximo, nosso irmão e irmã.

Luminosidade da segunda luz: a memória histórica.
Jamais perder a memória da ação divina,
De Suas maravilhas incontáveis em nosso favor.
Ontem, hoje, e sempre a Ele nosso louvor.

Fulgor da terceira luz: revelar o rosto de Deus
“Abre tua mão para teu irmão, teu necessitado, teu pobre em tua terra” (Dt 15,11)
Ser Povo de Deus não é privilégio e ostentação,
Mas amor e serviço, uma sagrada missão.

Resplendor da quarta luz: viver em “saída”
Em saída da terra da escravidão e sofrimento
Para terra onde corra leite e mel, nova terra, novo céu;
“Igreja em saída”, misericordiosa e missionária!

Claridade da quinta luz: não há lugar para a pobreza.
“Com efeito, não haverá pobres no meio de ti” (Dt 15,4).
Se Aliança com Deus vivida, o grito do pobre
Encontrará de todos nós resposta, acolhida e solidariedade.

Fulguração da sexta luz: libertos de toda escravidão.
“Eu sou Yahweh teu Deus, Aquele que te fez sair
Da terra do Egito, da casa da escravidão” (Dt 5,6-8)
Jamais outros deuses, idolatria, tirania, servidão.

Lume da luz final: Aliança de Deus com Seu Povo.
Compromisso mútuo entre Deus e a humanidade para sempre,
Renovado e celebrado quotidianamente,
Nas Sagradas Mesas da Palavra e da Eucaristia. Amém.



(1) (Mt 4,4; Dt 6,16; Mt 4,7); Dt 6,13; Mt 4,10)
Fonte: Revelar o Amor de Deus – uma chave para o Livro do Deuteronômio – Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino -  Vida Pastoral  - setembro/outubro 2020 – ano 61 n. 335 – pp.14-22

Escrito em 2020


Dom Joaquim: um Semeador do Pai entre nós

 Dom Joaquim: um Semeador do Pai entre nós
"Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear...”
(cf. Mt 13, 3-8).
Assim foi e fez Dom Joaquim em nosso meio,
Num tempo tão curto, mas tão intenso e fecundo,
Como incansável semeador, noite e dia, literalmente.
Semeou com ardor e sem cansaço, testemunhamos.

Crendo que a figura deste mundo passa, porque o tempo é breve,
Fez ressoar as palavras do Apóstolo Paulo.
Visitas Pastorais em todas as paróquias e capelas,
Exortando-nos para o essencial e indispensável,
Para que nossa fé seja mais luminosa.

Reuniões, formação, motivação, retiros, pregação,
Bebendo na Sagrada Fonte da Palavra Divina,
Motivando-nos para que também o mesmo façamos,
Para que nossa esperança não se torne uma ilusão,
Da vida, fuga, ausência de compromissos, evasão, mas
Caridade autêntica vivida, do Reino de Deus participando.

Semeou palavras que caíram em nossa mente
E fincaram raízes profundas nas entranhas do coração,
Frases que jamais serão esquecidas, por nós, hoje repetidas:
“Deus nos ama e nos criou por amor,
Para sermos felizes fazendo os outros felizes”
Nisto acreditou, e mais que proclamou, realizou.

Semeou e regou o coração de padres e agentes
Para a realização da tríplice missão que nos é confiada:
Santificar, ensinar e governar a Igreja que somos.
Semeou as sementes do Espírito, os indispensáveis sete dons,
Para não sucumbirmos às armadilhas dos pecados capitais
Que nos escravizam, roubam nossa alegria e dignidade.

Tão pouco tempo entre nós para ficar para sempre!
Fez história muito mais pelo que virá das sementes lançadas,
Do que as flores e frutos visíveis e saboreados.
Dom Joaquim semeou no chão de nosso coração.
Agora cabe torná-lo fértil, e não beira de caminho,
Terreno pedregoso e espinhoso, com a força da Oração.

Se não viu, no chão da Igreja e da cidade, o jardim florescer,
Teve a coragem, como Pastor do rebanho, a ele, pela Igreja confiado,
A melhor semente lançar, para que não dominem as trevas do pecado.
Se não viu, no chão da Igreja e da cidade, os frutos produzir,
Não teve medo de assumir a vocação profética em todos os âmbitos,
Fazendo a Luz Divina reluzir, em atenção à ordem do Senhor.

Não viu quase nada do que aqui plantou,
Mas no céu, cremos, vê e contempla nossa caminhada,
E espera tão apenas que não recuemos.
Coragem, nos dizia, palavra tão simples e forte.
Que a sua memória seja para nós a motivação necessária
Para o bom combate da fé e esperança e caridade viver. Amém!


PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Edição nº 204, repostado hoje quando celebramos nove anos de sua passagem para a eternidade.

Dom Joaquim, que os Anjos e Santos te recebam nos céus

Dom Joaquim, que os Anjos e Santos te recebam nos céus

Dez anos passados, presidi a primeira Celebração Eucarística na Catedral de Guarulhos, de corpo presente, do 3º Bispo Diocesano de Guarulhos – SP, Dom Joaquim Justino Carreira.

Tínhamos uma Assembleia numerosa: Padres, Diáconos, Seminaristas, Religiosos e Religiosas, e o Povo de Deus; todos unidos na mesma Fé para a Celebração do Mistério da Eucaristia.

Foram proclamadas as Leituras deste dia: 1 Ts 4,13-18;  Sl 95/96;  Lc  4,16-30).

Na introdução, falei da graça e responsabilidade a mim confiada na presidência da Santa Missa.

Em seguida, refleti brevemente a Palavra, começando pelo Evangelho, acenando para a Missão de Jesus de evangelizar os pobres, anunciar a Boa Nova do Evangelho, solidarizar-Se com os empobrecidos, e proclamar o Ano da Graça do Senhor. Esta é a missão de Jesus e de todos aqueles que O seguem.

O Salmo, com seu refrão, afirma que o Senhor vem julgar a nossa terra, em perfeito cumprimento do que nos falou o Apóstolo Paulo, na primeira leitura:

“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança.

Se cremos que Jesus morreu e Ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que n’Ele morreram”.

Cremos que aqueles que viverem com fidelidade, ardor e zelo a missão não morrem para sempre, de modo que também cremos que Dom Joaquim está vivo na glória de Deus, pelo zelo com que viveu a missão de Pastor da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Referindo-me propriamente ao Bispo, acentuei sete pontos:

1 – Dom Joaquim afirmava com insistência, em suas pregações e escritos, que Deus nos criou por amor e com amor para sermos felizes fazendo os outros felizes. Nisto crendo, não apenas repetia, mas procurava tornar esta afirmação uma verdade em sua vida. Agora cabe a nós fazermos o mesmo.

2 – O livro de sua autoria: “Trevas ou Luz” – sete pecados capitais e os sete dons do Espírito Santo – temos que ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa...

3 – Insistiu, no pouco tempo à frente da Diocese, sobre o tríplice múnus que não podemos jamais olvidar: santificar, ensinar e governar a Igreja que o Senhor nos confiou.

4 – Era um homem profundamente atento aos desafios da cidade e do tempo em que vivemos: crianças nas ruas, escolas, universidades, presídios, shoppings, juventude, meios de comunicação social. Como a Igreja pode e deve se fazer presente nestes espaços? Esta interrogação o acompanhava e com todos compartilhava, questionando, desinstalando, provocando a busca de caminhos...

5 - O testemunho inesquecível que deu ao suportar a enfermidade nestes últimos meses, a sua  breve passagem na Missa dos Santos Óleos e no Envio dos peregrinos da JMJ. Apesar de enfermo, fragilizado, fez-se presente, por instantes apenas, mas que ficarão marcados para sempre em nossa mente e coração.

6 – Seu Lema Episcopal  – “Pax vobis” – tendo comunicado e se comprometido com a Paz, hoje está na plenitude da paz: céu!

7 – Tinha o nosso Bispo um amor indiscutível à Igreja. E, assim, convidei a todos a rezar o Creio, que tantas vezes ele professou, e pelas verdades que na vida o acompanhou: “Creio em Deus Pai todo Poderoso...”

Dom Joaquim é mais um sol a brilhar no Reino do Pai, como homem piedoso e justo que foi – “Os justos brilharão como o sol no Reino do meu Pai” (Mt 13, 43).

Encerrando a Missa, antes da Bênção final, motivei uma Ave Maria dizendo:
“Dom Joaquim tinha por Maria grande devoção, levava-a em seus lábios e nas entranhas de seu coração. Hoje contempla nos céus a face terna de Maria. Ó admirável e desejável contemplação!”.

Motivei e ouvimos uma calorosa salva de palmas como expressão de carinho e reconhecimento de sua presença amorosa em nosso meio.

Que Dom Joaquim descanse em paz! Quanto a nós, vamos continuar nosso combate, até que um dia tenhamos a graça de nos encontrarmos nos céus.

Que o Senhor lhe conceda a Coroa da Glória reservada para aqueles que combateram o bom combate, completaram a corrida e guardaram a fé (1 Tm 4, 7-8).

Dom Joaquim, tendo passado pela morte, agora participa do Banquete Eterno que Deus lhe preparou, juntamente com todos os Anjos e Santos, e de modo especial com a Mãe de Deus.

Ave Maria, cheia de graça...

Sementes da Primavera do Reino, Dom Joaquim semeou entre nós!

Sementes da Primavera do Reino,
Dom Joaquim semeou entre nós!

Há dez anos dedicaríamos a Edição do Jornal da Paróquia Santo Antônio Gopoúva - Diocese de Guarulhos,  à Sagrada Escritura, pois o mês de setembro é especialmente a ela dedicado, por sua importância, em todos os dias do ano, para iluminar nossa fé, sustentar a nossa caminhada cristã, para que a chama da caridade jamais se apague e a esperança não se reduza a uma espera passiva, sem maiores compromissos com o Reino de Deus, em total fidelidade ao Senhor.

Porém, um fato marcou a história de nossa Diocese: a morte de nosso querido Bispo Dom Joaquim. 

Mudar a temática central do jornal devido a isto? Indubitavelmente não. Pois é impossível falar de Dom Joaquim sem relacionarmos a sua vida com a paixão que tinha pela Palavra de Deus, e ao quanto nos incentivou, em tão pouco tempo de convivência, à prática da Leitura Orante, para uma espiritualidade mais autêntica e comprometida com a vida, com os valores do Evangelho.

Sua presença em nosso meio nos fez entender melhor o que há séculos disse o Bispo Santo Agostinho: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

Em suas visitas pastorais pelas comunidades de nossa Diocese, revelou um senso aguçado para compreensão da realidade, e propunha que voltássemos à essência de nosso Batismo: ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa. Era preciso que rompêssemos uma eventual acomodação e instalação em que pudéssemos nos encontrar, para que fôssemos ao encontro de situações extremamente desafiadoras: o mundo da política, shoppings, escolas, universidades, favelas, cortiços.

Sempre à luz da Palavra Divina, pela qual pautava sua vida e ação de zeloso pastor, nos acenava para o amor de Deus, que nos criou para a felicidade alcançar fazendo feliz o outro.

Não poupou motivação para que nós, padres, não descuidássemos, junto às comunidades, do tríplice múnus de santificar, ensinar e governar as Paróquias que nos foram confiadas, para que o rebanho fosse melhor evangelizado,e todos tivéssemos vida mais digna e plena.

Assim como o Evangelista Lucas, cujo Evangelho aprofundamos neste ano, repetia insistentemente a importância do hoje para a prática do bem, que não pode ser jamais adiado, pois só temos o hoje para o bem fazer.

Como afirmou o Apóstolo Paulo, ele combateu o bom combate, completou a corrida e guardou a fé, na proximidade da primavera, como a bela estação das flores que desabrocham. 

Que a morte de Dom Joaquim seja para nós um momento de revisão, e de fazer brotar e florescer as sementes que ele plantou no chão do coração de todos, quer diocesanos ou não.

Assim como chegará a primavera, cremos que sua presença em nosso meio foi fundamental, verdadeiramente um lançar de sementes do Verbo, para que floresça a primavera do Reino. 

“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto.” (Jn 12, 24). Dom Joaquim foi também um grão de trigo que morreu para não ficar só, desabrochou na eternidade com a promessa da imortalidade do Senhor para todo aquele que n’Ele crê.

Por ora, é preciso renovar compromissos com a primavera do Reino, sempre inspirados e nutridos pela Palavra Divina, e que a memória de nosso querido Bispo nos ajude a viver uma fé mais luminosa, crendo que uma nova Igreja, um mundo novo são possíveis. 

Trevas ou luz, pecados capitais e os dons do Espírito, como ele escreveu em seu livro, a escolha está em nossas mãos. Somente acolhendo e vivendo os dons do Espírito, que a Sagrada Escritura nos apresenta, é que a primavera do Reino de Deus se tornará uma realidade em pequenos sinais já contemplados: um mundo mais justo, solidário e fraterno. 

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