domingo, 1 de setembro de 2024

Dom Joaquim, que os Anjos e Santos te recebam nos céus

Dom Joaquim, que os Anjos e Santos te recebam nos céus

Dez anos passados, presidi a primeira Celebração Eucarística na Catedral de Guarulhos, de corpo presente, do 3º Bispo Diocesano de Guarulhos – SP, Dom Joaquim Justino Carreira.

Tínhamos uma Assembleia numerosa: Padres, Diáconos, Seminaristas, Religiosos e Religiosas, e o Povo de Deus; todos unidos na mesma Fé para a Celebração do Mistério da Eucaristia.

Foram proclamadas as Leituras deste dia: 1 Ts 4,13-18;  Sl 95/96;  Lc  4,16-30).

Na introdução, falei da graça e responsabilidade a mim confiada na presidência da Santa Missa.

Em seguida, refleti brevemente a Palavra, começando pelo Evangelho, acenando para a Missão de Jesus de evangelizar os pobres, anunciar a Boa Nova do Evangelho, solidarizar-Se com os empobrecidos, e proclamar o Ano da Graça do Senhor. Esta é a missão de Jesus e de todos aqueles que O seguem.

O Salmo, com seu refrão, afirma que o Senhor vem julgar a nossa terra, em perfeito cumprimento do que nos falou o Apóstolo Paulo, na primeira leitura:

“Irmãos, não queremos que ignoreis coisa alguma a respeito dos mortos, para que não vos entristeçais, como os outros homens que não têm esperança.

Se cremos que Jesus morreu e Ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que n’Ele morreram”.

Cremos que aqueles que viverem com fidelidade, ardor e zelo a missão não morrem para sempre, de modo que também cremos que Dom Joaquim está vivo na glória de Deus, pelo zelo com que viveu a missão de Pastor da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Referindo-me propriamente ao Bispo, acentuei sete pontos:

1 – Dom Joaquim afirmava com insistência, em suas pregações e escritos, que Deus nos criou por amor e com amor para sermos felizes fazendo os outros felizes. Nisto crendo, não apenas repetia, mas procurava tornar esta afirmação uma verdade em sua vida. Agora cabe a nós fazermos o mesmo.

2 – O livro de sua autoria: “Trevas ou Luz” – sete pecados capitais e os sete dons do Espírito Santo – temos que ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa...

3 – Insistiu, no pouco tempo à frente da Diocese, sobre o tríplice múnus que não podemos jamais olvidar: santificar, ensinar e governar a Igreja que o Senhor nos confiou.

4 – Era um homem profundamente atento aos desafios da cidade e do tempo em que vivemos: crianças nas ruas, escolas, universidades, presídios, shoppings, juventude, meios de comunicação social. Como a Igreja pode e deve se fazer presente nestes espaços? Esta interrogação o acompanhava e com todos compartilhava, questionando, desinstalando, provocando a busca de caminhos...

5 - O testemunho inesquecível que deu ao suportar a enfermidade nestes últimos meses, a sua  breve passagem na Missa dos Santos Óleos e no Envio dos peregrinos da JMJ. Apesar de enfermo, fragilizado, fez-se presente, por instantes apenas, mas que ficarão marcados para sempre em nossa mente e coração.

6 – Seu Lema Episcopal  – “Pax vobis” – tendo comunicado e se comprometido com a Paz, hoje está na plenitude da paz: céu!

7 – Tinha o nosso Bispo um amor indiscutível à Igreja. E, assim, convidei a todos a rezar o Creio, que tantas vezes ele professou, e pelas verdades que na vida o acompanhou: “Creio em Deus Pai todo Poderoso...”

Dom Joaquim é mais um sol a brilhar no Reino do Pai, como homem piedoso e justo que foi – “Os justos brilharão como o sol no Reino do meu Pai” (Mt 13, 43).

Encerrando a Missa, antes da Bênção final, motivei uma Ave Maria dizendo:
“Dom Joaquim tinha por Maria grande devoção, levava-a em seus lábios e nas entranhas de seu coração. Hoje contempla nos céus a face terna de Maria. Ó admirável e desejável contemplação!”.

Motivei e ouvimos uma calorosa salva de palmas como expressão de carinho e reconhecimento de sua presença amorosa em nosso meio.

Que Dom Joaquim descanse em paz! Quanto a nós, vamos continuar nosso combate, até que um dia tenhamos a graça de nos encontrarmos nos céus.

Que o Senhor lhe conceda a Coroa da Glória reservada para aqueles que combateram o bom combate, completaram a corrida e guardaram a fé (1 Tm 4, 7-8).

Dom Joaquim, tendo passado pela morte, agora participa do Banquete Eterno que Deus lhe preparou, juntamente com todos os Anjos e Santos, e de modo especial com a Mãe de Deus.

Ave Maria, cheia de graça...

Sementes da Primavera do Reino, Dom Joaquim semeou entre nós!

Sementes da Primavera do Reino,
Dom Joaquim semeou entre nós!

Há dez anos dedicaríamos a Edição do Jornal da Paróquia Santo Antônio Gopoúva - Diocese de Guarulhos,  à Sagrada Escritura, pois o mês de setembro é especialmente a ela dedicado, por sua importância, em todos os dias do ano, para iluminar nossa fé, sustentar a nossa caminhada cristã, para que a chama da caridade jamais se apague e a esperança não se reduza a uma espera passiva, sem maiores compromissos com o Reino de Deus, em total fidelidade ao Senhor.

Porém, um fato marcou a história de nossa Diocese: a morte de nosso querido Bispo Dom Joaquim. 

Mudar a temática central do jornal devido a isto? Indubitavelmente não. Pois é impossível falar de Dom Joaquim sem relacionarmos a sua vida com a paixão que tinha pela Palavra de Deus, e ao quanto nos incentivou, em tão pouco tempo de convivência, à prática da Leitura Orante, para uma espiritualidade mais autêntica e comprometida com a vida, com os valores do Evangelho.

Sua presença em nosso meio nos fez entender melhor o que há séculos disse o Bispo Santo Agostinho: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

Em suas visitas pastorais pelas comunidades de nossa Diocese, revelou um senso aguçado para compreensão da realidade, e propunha que voltássemos à essência de nosso Batismo: ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa. Era preciso que rompêssemos uma eventual acomodação e instalação em que pudéssemos nos encontrar, para que fôssemos ao encontro de situações extremamente desafiadoras: o mundo da política, shoppings, escolas, universidades, favelas, cortiços.

Sempre à luz da Palavra Divina, pela qual pautava sua vida e ação de zeloso pastor, nos acenava para o amor de Deus, que nos criou para a felicidade alcançar fazendo feliz o outro.

Não poupou motivação para que nós, padres, não descuidássemos, junto às comunidades, do tríplice múnus de santificar, ensinar e governar as Paróquias que nos foram confiadas, para que o rebanho fosse melhor evangelizado,e todos tivéssemos vida mais digna e plena.

Assim como o Evangelista Lucas, cujo Evangelho aprofundamos neste ano, repetia insistentemente a importância do hoje para a prática do bem, que não pode ser jamais adiado, pois só temos o hoje para o bem fazer.

Como afirmou o Apóstolo Paulo, ele combateu o bom combate, completou a corrida e guardou a fé, na proximidade da primavera, como a bela estação das flores que desabrocham. 

Que a morte de Dom Joaquim seja para nós um momento de revisão, e de fazer brotar e florescer as sementes que ele plantou no chão do coração de todos, quer diocesanos ou não.

Assim como chegará a primavera, cremos que sua presença em nosso meio foi fundamental, verdadeiramente um lançar de sementes do Verbo, para que floresça a primavera do Reino. 

“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele fica só. Mas, se morre, produz muito fruto.” (Jn 12, 24). Dom Joaquim foi também um grão de trigo que morreu para não ficar só, desabrochou na eternidade com a promessa da imortalidade do Senhor para todo aquele que n’Ele crê.

Por ora, é preciso renovar compromissos com a primavera do Reino, sempre inspirados e nutridos pela Palavra Divina, e que a memória de nosso querido Bispo nos ajude a viver uma fé mais luminosa, crendo que uma nova Igreja, um mundo novo são possíveis. 

Trevas ou luz, pecados capitais e os dons do Espírito, como ele escreveu em seu livro, a escolha está em nossas mãos. Somente acolhendo e vivendo os dons do Espírito, que a Sagrada Escritura nos apresenta, é que a primavera do Reino de Deus se tornará uma realidade em pequenos sinais já contemplados: um mundo mais justo, solidário e fraterno. 

Quando o céu se torna escuridão… (XXIIDTCA)


Quando o céu se torna escuridão…

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A),  retrata as dores e alegrias, angústias e esperanças do Povo de Deus, à luz da Palavra de Deus proclamada.

Como a realidade da cruz, do sofrimento, marca a vida do Povo de Deus! 

Acorre-se a Deus em busca de uma Palavra, uma alento, um reacender da chama da esperança, uma luz, um impulso… Não uma fuga, não uma evasão da realidade, mas abastecimento para poder enfrentá-la, transformá-la, renová-la, a partir do mistério da Fé, celebrado na Mesa da Eucaristia.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), o Profeta Jeremias, seduzido pelo Amor de Deus levou-nos ao mesmo desejo: deixar nosso coração pelo Amor de Deus ser seduzido, como fogo que o queima por dentro. Vocação profética que não é vontade nossa, mas iniciativa de Deus, dom de Deus, resposta nossa…

Na passagem da segunda Leitura (Rm 12,1-2), o Apóstolo Paulo nos exorta, pela misericórdia de Deus, a nos oferecermos como sacrifício vivo, santo e agradável a Ele, no autêntico culto, na transformação e conversão de nossa maneira de pensar e julgar, não nos deixando moldar pela lógica do mundo, mas pela lógica do Evangelho, procurando sempre o que é agradável a Deus…

Na passagem do Evangelho (Mt 16,21-27), Jesus fez Seu primeiro anúncio da Paixão e Morte: o caminho da glória passa inevitavelmente pela Cruz, para além da compreensão de Pedro que recebeu de Jesus seríssima advertência, por não pensar como Deus: Afasta-te de mim Satanás…”. Quem quiser seguir Jesus deverá renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-Lo com coragem, fidelidade, ousadia, confiança, perseverança…

Deste modo, a verdadeira Oração não deve ser nunca para que Deus nos tire a cruz, que a reduza, tão pouco lamento estéril, angustiante. 

A verdadeira Oração é glorificar a Deus por Sua bondade, força, graça e ternura que nos acompanha dando possibilidade de poder carregá-la, transformando a cruz (aparente sinal de fracasso) em sinal de vitória. Cruz: loucura para os gregos, escândalo para os judeus (1 cf. 1 Cor 1,18-25).

De fato, Deus faz renascer a vida das cinzas (o maravilhoso ipê amarelo que neste tempo teimosamente desafia o cenário das cinzas e enfeita os campos com o esplendor de suas flores); faz nascer a imortal obra de arte de Beethoven para Elisa, nascida da experiência fracassada da mesma ao não conseguir tocar sua peça na frente de Beethoven.

Enfim, “quando o céu se torna escuridão pela privação da luz do sol, Deus acende as estrelas”, e o provérbio “no auge da noite se anuncia o nascer de um novo dia”

Sigamos em frente, tomemos livremente nossa cruz, saciados pelo Pão Nosso de cada dia. A cada dia suas preocupações, inquietações, desafios…

Oremos: “Pai nosso...

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz! (XXIIDTCA)

Sejamos fortalecidos no carregar da Cruz!

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano A) traz um convite que a muitos assusta e desaponta: “A loucura da Cruz”. No entanto, se quisermos ser discípulos do Senhor não há outro caminho, senão o caminho da Cruz.

Somos, portanto, convidados a rever o grande sinal que nos identifica, o Sinal da Cruz, que tantas vezes fazemos, e por vezes sem pensar no que o gesto implica: carregar a Cruz com fé, coragem e fidelidade como ponte necessária para a eternidade. Sem Cruz não há como conceber e alcançar a eternidade.

Mais uma vez nos deparamos com a necessária decisão: a lógica do mundo - dominação, poder, sucesso - ou a lógica de Deus - o caminho do amor, doação, fidelidade e Cruz, que é o amor até as últimas consequências.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 20,7-9), temos as “confissões de Jeremias”. A sua vocação vivida enfrentando sofrimentos, solidão, maledicência, perseguição, cárcere, e também acusado de traição. Sofrimentos suportados por que coração seduzido e inflamado pelo Amor divino.  Ao realizar a vocação profética é chamado de “profeta da desgraça”.

Jeremias sentiu os apelos irresistíveis da Palavra, impulsionando à ousadia e confiança, num contexto social e político extremamente difícil. Ele, por tudo que viveu e pelo compromisso com Deus assumido, foi o “grito de um coração humano dolorido”, apenas curado pela Caridade Divina.

O profeta não é profeta por livre escolha, mas por desígnios divinos. Cada tempo precisa de profetas, de Jeremias que se apaixonem pela Palavra de Deus e Seu Projeto de vida, justiça e paz para todos; e  encontrem na Palavra Divina um fogo devorador. Somente assim viveremos intensamente nosso Batismo.

O testemunho de Jeremias questiona nossa coragem, fidelidade, ousadia, no trilhar do caminho profético:

- Teremos nós mesma sedução e coragem?
- Nossa “boca” é a boca que proclama sem medo o Projeto Divino?

O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura (Rm 12,1-2), séculos mais tarde, outra grande história de um coração extremamente apaixonado e seduzido por Deus, exorta-nos a assumir atitudes coerentes com a fé que professamos, tornando nossa vida um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não nos conformando ao mundo que vivemos, mas configurando-nos com o Senhor e Seu Evangelho, oferecendo a vida inteiramente a Deus.

O Apóstolo insiste que o culto que Deus espera de nós é uma vida vivida no amor, no serviço, na doação em entrega total a Deus e aos irmãos.

Com a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 16,21-27) somos desafiados a trilhar o caminho da Cruz, o caminho da entrega incondicional a Deus e do dom da vida colocada, por amor, a serviço, à luz das intervenções e inquietações do Apóstolo Pedro dirigidas ao Divino Mestre, Jesus.

O discípulo de Jesus não deve buscar o sofrimento pelo sofrimento, porém se eles vierem, desde que não sejam sofrimentos sem causa, o seguidor de Jesus sabe que este não pode prescindir da Cruz, sabe que está sujeito a perseguições, sofrimentos, incompreensões. Mas jamais será um sofredor sem causa. Sua causa é a paixão pelo Reino, que o faz irremovível.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que se quiser descomplicar seu existir terá que fazer da sua vida uma doação ao outro. Tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Finalizando, Jeremias, Paulo, Pedro e outros tantos, muito nos ensinaram no caminhar da fé.

Reflitamos:

- O que nos ensinam no caminhar da fé?
- O que precisamos rever em nossa vida, pensamentos, palavras e ações para que melhor correspondamos aos desígnios de Deus?

- O que fazer para que nossa vida seja um culto agradável ao Senhor?
- Como estamos carregando nossa Cruz de cada dia?
- Quais as renúncias necessárias?

O discípulo de Jesus tem que renunciar a si mesmo, oferecer sua vida por amor,  colocando-se à serviço do Reino; discernindo, entre as coisas, os bens que passam que devem ser utilizados, e os bens eternos que devem para sempre ser abraçados.

O discípulo sabe que, como disse o Presbítero Santo Tomás de Aquino, “O menor bem da graça é superior a todo bem do Universo”.

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor (XXIIDTCA)

                                                                  

Amor e Cruz na fidelidade ao Senhor

“Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24)

Como discípulos missionários do Senhor, no Seu seguimento, precisamos das renúncias necessárias, e o tomar da cruz quotidiana para segui-Lo, como lemos nas passagens dos Evangelhos (Mt 16,21-27; Lc 9,18-24).

Sejamos enriquecidos por estas afirmações de Santa Teresa de Jesus (séc. XVI), neste bom propósito de todos nós:

“Estou convencida de que a medida da capacidade de levar cruz grande ou pequena é a do amor...

Cumpra-se em mim, Senhor, Vossa vontade de todos os modos e maneiras que vós, Senhor meu, quiserdes.

Se me quiserdes enviar sofrimentos, dai-me forças para suportá-los, e venham!

Se perseguições e enfermidades, desonras e mínguas, aqui estou!

Não afastarei o rosto, ó meu Pai, nem há motivo para virar as costas. Não quero que haja falha da minha parte depois que vosso Filho, em meu nome, deu esta minha vontade, oferecendo a vontade de todos os homens.” (1)

Jesus jamais prometeu facilidades para segui-Lo, e o Mistério da Cruz estava sempre presente no horizonte de Sua pregação e ação.

O discípulo de Jesus sabe que “Quem busca um Cristo sem Cruz, acabará encontrando uma Cruz sem Cristo”; assim também, sabe que precisa fazer da sua vida uma doação ao outro.

Deste modo, tudo se torna menos difícil quando nos colocamos no caminho do amor, da fidelidade, doação e serviço ao outro.

Nossa cruz torna-se suportável, seu peso mais leve, porque Ele mesmo já dissera – “Vós que estais cansados, vinde a mim porque meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt 11,28-30).

Da mesma forma, também nos assegura, em todos os momentos, a Sua presença enquanto estava com eles, e depois a presença do Paráclito que haveria de ser enviado, e assim se fez, para que não sucumbissem diante das dificuldades, provações e perseguições, como mencionara na conclusão das Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Portanto, aprendamos com esta Santa e Doutora da Igreja, a pedir sempre a Deus “coragem” para enfrentar os sofrimentos, e muito “amor” para carregar a cruz, seja ela pequena ou grande, pois como Santa Teresa afirmou, este é a medida da capacidade para suportarmos o seu peso e levá-la no anúncio e testemunho de nossa fé e esperança, como discípulos missionários do Senhor.


(1) Santa Teresa de Jesus – O Caminho da perfeição – Editora Paulus -  pp.189.191

Seduzidos pelo Senhor (XXIIDTCA)

Seduzidos pelo Senhor

 “Tu me seduziste, Senhor,
e eu deixei-me seduzir” (Jr 20,7)

No 22º Domingo do Tempo Comum (ano A), ouvimos a passagem do Livro do Profeta Jeremias (Jr 20,7-9).

Trata-se de um trecho das “confissões” amarguradas e dolorosas do Profeta Jeremias, decorrente do exercício do seu ministério, paradigma do Profeta perseguido.

A narração é a continuação dos acontecimentos da saída do cárcere do Profeta, preso devido a um oráculo que dirigiu contra o reino de Judá (Jr 19,14 - 20,6).

Jeremias, chocado com a experiência da prisão, queria fugir da missão por Deus confiada, mas não teve forças e sentiu-se incapaz para esta fuga.

O Profeta se sente enganado por Deus que, através de sua missão, o colocou à margem da sociedade (v. 7); quanto à Palavra de Deus, se tornou para ele motivo de opróbrio, vergonha e desonra.

O Profeta desejaria rebelar-se contra Deus, mas tem consciência da inutilidade de sua impotência diante do Mistério de Deus: a Sua voz é como fogo e não há como abafá-la, extingui-la, apagá-la (v.9).

No texto, com matizes de Oração, sobressai a sequência facilmente perceptível: sedução, dominação, violência (v. 7-8).

O profeta Jeremias só vê um caminho: responder a este chamado de Deus. O Senhor é mais forte do que ele e sua rebelião (Jr 20,14-18).

Assim diz o Comentário do Missal Dominical:

O ministério profético, sobretudo, não é uma vocação à tranquilidade: é incômodo para quem fala e para quem ouve.

Jeremias desejaria subtrair-se à ingrata tarefa, mas a Palavra de Deus queima-o por dentro com tal veemência, que não pode contê-la.

Sua alma é terreno de batalha, onde batem forças dificilmente conciliáveis entre si: Deus, o mundo, a busca de si mesmo. Só resta ao Profeta uma possibilidade: deixar-se seduzir por seu Senhor.” (1)

Jeremias é definitivamente vencido por Deus, e assim é um exemplo para todo cristão que é chamado a reconhecer em si mesmo o sinal da vocação ao amor e ao testemunho:

Quem se deixa seduzir pelo Senhor, porque descobre que é objeto do Seu amor, encontra em si mesmo a força e não se furta à oferta contínua de todas as provas que lhe vêm do seu testemunho.

Olhemos para Jeremias, mas, sobretudo para Cristo que cumpre a figura d’Ele.

Ele é o verdadeiro Servo, que sofre e oferece a vida em sacrifício. A Sua obediência nos conforte e coloque entusiasmo no nosso testemunho...

Entreguemos a nossa vida ao Senhor, para que iluminada por Ele, saiba crescer e cumprir constantemente a Sua vontade.” (2)

Jeremias, um Profeta provado até o extremo, mas definitivamente vencido por Deus. Ele oferece a sua vida como sacrifício espiritual agradável a Deus. E isto é o que Deus espera de cada um de nós, paradoxalmente, no carregar da cruz quotidiana, sem esmorecimentos, com a certeza de que a vida perdendo, por Ele consumindo, na fidelidade a Jesus, com a força do Espírito Santo, alcançaremos a plena felicidade e eternidade.

Concluindo:

Seduz somente quem ama, e somente o amado se deixa seduzir. De igual modo é apenas na experiência vital do Amor de Deus que amadurece a coragem de poder partilhar perspectivas tão duras, como as da livre aceitação da prova ou de suportar com fé o sofrimento e a dor.

Isto significa estarmos apaixonados por Cristo, no verdadeiro sentido da palavra: isto é, no significado etimológico de poder ‘sofrer’, de poder passar através do Gólgota, oferecendo a nossa vida ao Pai, juntamente com Cristo e na força de Oração mais verdadeira que se possa pensar...

Toda a nossa vida, em todas as suas manifestações, inclusive a amargura e a tristeza, está orientada para Cristo e deve ser envolvida na caminhada em direção ao grande dia do Senhor que esperamos.” (3)

Que nossa vida cristã seja uma resposta ao Amor de Deus que nos seduz, como seduziu a Jeremias, a tantos Profetas, homens e mulheres de todos os tempos.

O autêntico relacionamento com Deus somente ocorre numa intensa e contínua relação de amor e sedução. Não procuremos um Cristo sem Cruz, porque certamente encontraremos uma Cruz sem Cristo.

E renovando a graça da vocação profética, recebida no dia de nosso Batismo, elevemos a Deus esta Oração:

“Espírito Santo, iluminai o nosso coração, para que possamos colocar todos os sofrimentos, nossos e alheios, à luz esplêndida da Cruz do Senhor Jesus.

Fazei que não desprezemos as cruzes da vida, tornando-nos próprios obstáculos para a propagação do Reino de Deus e ‘escândalo’ para nossos irmãos.

Reavivai em nós a consciência de sermos filhos, filhos amados e socorridos sempre pela ternura e pelo amor do Pai. Amém.” (4)



(1) Missal Dominical - p. 787.
(2) Lecionário Comentado – pp. 229-231
(3) (4) Idem p. 233

Exigências para a participação do Banquete do Reino (XXIIDTCC)



Exigências para a participação do Banquete do Reino

“Porque quem se eleva será humilhado e
quem se humilha será elevado” (Lc 14, 11)

A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre o Banquete do Reino e a necessária revisão: se estamos, verdadeiramente, credenciados para dele participar, com as exigências que o Senhor nos ensina e vive.

Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 3,19-21.30-31), que nos convida a refletir sobre a humildade, como caminho para sermos agradáveis a Deus e, ao mesmo tempo, para termos êxito e sermos felizes, colocando-nos, por amor e alegremente, a serviço do outro, sobretudo quando este outro é o que mais precisa.

O aprofundamento sobre a Sabedoria Divina e a sua vivência é certeza do viver bem e feliz. A Sabedoria Divina somente pode ser saboreada por quem viver a humildade, ou seja, quem assumir com simplicidade o próprio lugar, pondo a render os talentos, sem jamais humilhar o outro com uma eventual superioridade, mas colocando os próprios dons a serviço de todos, com simplicidade e amor.

Bem diferente é o soberbo, que permite crescer nas entranhas de seu coração a árvore da maldade, com suas raízes tão profundas.

A vida cristã será sempre o desafio de não sermos soberbos, mas humildes servidores, não pelo nosso mérito, mas pela graça de Deus, porque tudo é dom de Deus.

Na passagem da segunda Leitura, o autor da Carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24) nos exorta a viver maior proximidade e intimidade com o Senhor, fortalecendo a humildade, a gratuidade e o amor desinteressado, como Ele por excelência viveu.

Trata-se de um convite à superação de uma fé cômoda e sem grandes resistências, redescobrindo a novidade e a exigência do cristianismo: comunhão, proximidade e intimidade maior com Deus. Um amor autêntico que se faz dom, doação, entrega, serviço.

É preciso que a comunidade volte à fidelidade de sua vocação, desinstalando-se, rompendo a preguiça e enfrentando com coragem a perseguição, com uma conduta consequente daquele que abraçou a fé: amor e serviço.

Com isto, supera-se a morna conduta cristã, sem jamais recuar, revelando ao mundo um rosto do Deus vivo e verdadeiro que nos consome e inflama nosso coração de amor.

O Senhor nos precedeu, agora é a hora da comunidade. É preciso revisitar a História do Povo de Deus e reencontrar o entusiasmo.

Ontem, como hoje, quantas coisas nos acontecem e, se não mantivermos a fé, poderemos perder o entusiasmo, a chama acesa do primeiro amor!

É preciso que trilhemos, como discípulos missionários do Senhor, o caminho da humildade, que é diferente do caminho da humilhação.

Na passagem do Evangelho (Lc  14,1.7-14), vemos que bem diferentes são os critérios para participar do Banquete do Reino em relação ao banquete farisaico.

A lógica divina contrapõe a humildade à superioridade, a simplicidade ao orgulho, o serviço à ambição, o ocupar o último lugar ao invés dos primeiros, a solidariedade para com os últimos e não se servir do próximo.

São dois banquetes totalmente diferentes: o primeiro é o Banquete do Amor, serviço e inclusão; o segundo, do egoísmo, indiferença, mera exclusão.

O banquete farisaico é marcado pelo complexo de superioridade, orgulho, ambição. Há a procura dos primeiros lugares.

De outro lado, as credenciais para participação do Banquete do Reino são: humildade, simplicidade, serviço por amor desinteressado, colocando-se no lugar dos últimos para serviço dos últimos.

De fato, a competição é necessária, desde que não leve à destruição do outro, mas à busca de maior qualificação para melhor servir. Esta deve ser a marca daqueles que se põem a caminho com o Divino Mestre Jesus: amor vivido com autenticidade edifica e fortalece a comunidade.

Iluminadora a citação do Missal Dominical (p.1223): “Para todos, em qualquer plano da hierarquia social que se encontrem, escolher o último lugar significa usar o próprio lugar para o serviço dos últimos e não para o domínio sobre eles”.

Deste modo, a conversão é um apelo constante em nossa caminhada cristã. Cremos e professamos a fé em Jesus Cristo que, com Sua morte, assumida livremente na Cruz, nos apresentou um Deus cuja Sabedoria é imprevisível e impensável; tão distante da sabedoria humana que ninguém poderia encontrá-la.

Assim afirma o Missal Dominical (pp.1222-1223): “Jesus seria um entre os muitos mestres de virtude, se não tivesse vivido até o fim Sua Palavra, e se Sua Pessoa, Sua Palavra, Sua vida não fossem a revelação definitiva de Deus.

A Cruz é Sua Sabedoria, Seu Livro, Sua Palavra reveladora. A morte de Jesus não é o fim de uma tentativa de instaurar um novo Reino; é o Seu ato de nascimento;... Converter-se à Sabedoria de Deus é ver na Cruz que a verdade do Amor tem na morte o seu teste. Quem entra no Reino começa uma nova sabedoria.”

Reflitamos:

- Quais são os convidados de nossos banquetes?
- Participamos com todo o zelo do Banquete do Reino que o Senhor nos convida ou nos sentimos familiarizados no banquete farisaico?

- Quanto há de humildade, gratuidade e amor autêntico em nossa prática pastoral?

- Qual é o entusiasmo que temos na fidelidade ao Senhor, como Seus discípulos missionários?

Oremos:

Senhor, livrai-nos do banquete farisaico, e ensinai-nos a viver a lógica do Banquete do Reino de Deus, vivendo com humildade, gratuidade, amor e solicitude com os últimos, os Vossos preferidos.

Senhor, dai-nos a sabedoria para nos colocarmos como últimos, a serviço de todos. Amém.



PS: Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

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