domingo, 14 de julho de 2024

O Senhor tem apenas um plano para nós (06/02)

                                                    

O Senhor tem apenas um plano para nós
Na quinta-feira da quarta semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem de Marcos (Mc 6,7-13), em que Jesus chamou os doze e os enviou em missão.

Oportuno retomar esta singela mensagem fictícia:

“Conta-se que Jesus, no dia da sua Ascensão aos céus, se encontrou com S. Gabriel Arcanjo que vinha, caminho contrário, cumprir alguma missão aqui na terra.

Gabriel, ao ver o Senhor subindo aos céus e que a terra ficaria sem Ele, olhou também para o planeta e observou um cenário curioso: a terra estava coberta por uma nuvem negra e o contraste negro-azul não resultava muito agradável a não ser por uns poucos, pouquíssimos, pontos de luz.

Chamou a atenção do Arcanjo o ambiente desolador, mas chamou-lhe mais imperiosamente a atenção a existência desses poucos pontos de luz.

O Arcanjo perguntou então ao Senhor: “e aqueles pontos de luz? O que são? Jesus respondeu: “são a minha mãe e os meus outros discípulos. Eles vão iluminar toda a terra”.

Gabriel, conhecendo a debilidade humana, depois de pensar um pouco, disse: “Senhor, excetuando a tua mãe, e se eles falharem?”. Ao que Jesus respondeu: “Eu não tenho outros planos”. Dito isso, Jesus continuou ascendendo rumo ao Pai.”

Como Igreja, continuamos a missão do Senhor, em todo tempo e lugar, e neste sentido, é necessário que reflitamos:

- Como realizar com êxito esta missão?
- Como não temer ao assumi-la?

- Como não sucumbir diante da hesitação da fé, no enfraquecimento da esperança que inevitavelmente congela o fogo da caridade que deve arder em nossos corações, sobretudo quando acolhemos a Palavra Divina e nos nutrimos do Pão do Amor, o Pão da Eucaristia?

A missão somente será possível e acompanhada de êxito, porque a promessa do Senhor se cumpriu, o Espírito Santo, o Paráclito nos foi enviado.

Não tendo Ele outros planos, apenas confiando em nossa participação, sabia muito bem que precisaríamos de “Alguém” que nos acompanhasse, nos assistisse. Por isto, voltando para o Pai, nos enviou o Seu Espírito.
A presença do Espírito Santo nos enriquece com Seus dons, e assim, fortalecidos, levemos adiante a missão evangelizadora, como ardorosos, corajosos e apaixonados Discípulos Missionários do Senhor.

Concluímos com as palavras de São Cirilo de Jerusalém (séc. IV), sobre a ação do Espírito Santo na vida da Igreja:

“Branda e suave é a Sua aproximação; benigna e agradá­vel é a Sua presença; levíssimo é o Seu jugo! A Sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com o amor entranhado de um irmão mais velho: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, ilu­minar a alma de quem O recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros”. 

Um pouco sobre a virtude da esperança... (XVDTCA)

Um pouco sobre a virtude da esperança...

Assim afirma o Missal Quotidiano sobre a esperança para que ela se renove e seja incentivada, pois se nos faltar a esperança, o que será o nosso existir?

Antes um convite a ler a passagem do Profeta Isaías (Is 55,10-11). 

“A vida cristã é vida de esperança. Os pagãos são aqueles ‘que não tem esperança’. A esperança não é resignação, aceitação passiva da vontade de um Deus que não é conhecido como Pai; não é tampouco simples otimismo, visão rósea das coisas, própria de um caráter feliz e quiçá superficial. Esperança é certeza de que nossa vida e a vida do mundo estão em boas mãos.

Certeza de que Deus tem a respeito de cada um de nós as melhores intenções e que Sua palavra realiza sempre o que promete. A esperança do feliz êxito do mundo não tem, portanto, melhor apoio que a fé em Deus. Quem, ao invés, é resignado e sem confiança, definitivamente não crê em Deus, no Seu poder, na Sua bondade.

A confiança demonstrada por Isaías no Amor de Deus torna-se segurança inabalável no cristão, que pode ter em Jesus Cristo o fundamento de sua esperança. A encarnação do Filho de Deus assegura-lhe, com efeito, que Deus levou a sério a história do homem, a ponto dEle próprio se fazer participante dela. A Ressurreição de Jesus garante-lhe que se realizará plenamente a definitiva libertação do homem e do mundo.” 

No Catecismo encontramos uma definição da virtude teologal da esperança: 

“A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo... A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade”  (n.1817).

Ambas as citações nos apresentam a esperança não como sinônimo de imobilismo e isenção de responsabilidade, ao contrário, é virtude motivadora para a concretização da caridade daquele que crê. Por isto as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) são inseparáveis.

Num mundo em que muitas pessoas perdem a esperança (fala-se até em “hopelessness”) como Profetas que somos pelo Batismo, temos que cultivar a esperança divina contra toda falta de esperança humana. Renová-la no mais profundo de nós é preciso! Não podemos perdê-la. Assim como a fé pede que se alarguem os horizontes, acrescentaria ainda: que se alargue o horizonte da esperança impulsionado por um amor que nos move, nos renova, nos faz lançar as redes em águas mais profundas.

Como Pedro, não podemos jamais deixar de esperar e construir um novo céu e uma nova terra (2Pd 3,13), pois nisto consiste a essência de nossa missão.

Oremos:

“Ó Deus, que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão vivo e verdadeiro, e viver de toda a Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

O Semeador, Sua Palavra, nosso coração... (continuação)

O Semeador, Sua Palavra, nosso coração...

Como acolhemos a semente da Palavra Divina?
Ao cair sobre o chão do nosso coração,
que tipo de terra a Palavra encontra?

As três citações que ora apresento são preciosas para que continuemos nossa reflexão.

O Bispo e São João Crisóstomo (séc. V), que nos adverte para algo que é terrível e que pode acontecer com mais frequência que possamos pensar: o homem pode fechar-se à Palavra de Deus, recusá-la e, consequentemente, torná-la ineficaz, não produzindo, assim, os frutos maravilhosos que Deus espera e que poderiam ter sido multiplicados:

“É possível que a rocha se transforme em boa terra; que o caminho deixe de ser pisado e se converta também em terra fértil, e que os espinhos desapareçam e deixem crescer exuberantemente as sementes.

E se não se opera em todos essa transformação, não é, certamente, por culpa do semeador, mas daqueles que não querem mudar”.

No mistério de acolhida da Palavra e no empenho de fazê-la brotar, multiplicar, quem na alma não deixa habitar o verme da preguiça e acomodação, por mais que tenha feito dirá que nada ainda fez, é o que nos leva a refletir São João da Cruz:

“A alma que ama a Deus de verdade não deixa, por preguiça, de fazer o que pode para encontrar o Filho de Deus,
o Seu Amado. E depois de ter feito tudo o que pode,
não fica satisfeita e pensa que não fez nada”.

E Padre Antônio Vieira sobre este Evangelho afirmava que a Palavra pode não dar fruto, mas dará sempre efeito: efeito de salvação ou efeito de condenação!

É a mais pura e incontestável verdade, ninguém ficará neutro diante da Palavra do Senhor que escutou, ou a acolhe, dá fruto nela e acolhe a salvação, ou a rejeita, para ela se fecha e por causa dela se perde, lamentavelmente, miseravelmente, complemento!

Concluo dizendo que ser filho de Deus, discípulo missionário não é fugir dos confrontos, conflitos, sofrimentos e perseguição. Que Deus nos conceda a maturidade para suportar as dores do parto, pois nisto consiste a vida no Espírito.

Ressoa o que o padre Antonio Maria Zacaria nos disse (séc. XVI): jamais, do Senhor, covardes e desertores o sejamos.

Imitemos o Apóstolo Paulo... “Nós que escolhemos um tão grande Apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre pai.”

Assim é o ser cristão: viver em tensão para o futuro da humanidade e do universo em Deus. A natureza e a humanidade estão envolvidas neste processo de dar à luz o mundo novo. Podemos deste processo, audazes, corajosos protagonistas sermos, ou não.

Estamos no tempo da acolhida e fecundação da Palavra. Que frutos produzamos, que outros comam, ainda que não vejamos os frutos e que deles não possamos saborear. 

O Senhor carregou sobre Si nossa humanidade ferida (XVDTCC)


O Senhor carregou sobre Si nossa humanidade ferida

Uma reflexão sobre a “A Doutrina Social da Igreja à luz da misericórdia divina”, e da passagem do Evangelho sobre o Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). 

Vejamos o que nos dizem os Padres da Igreja, e também o Papa Francisco, para melhor vivermos as obras de misericórdia corporais e espirituais:

Orígenes (séc. III):

“Para que entendas que este samaritano descia por disposição de Deus para cuidar do que foi atacado pelos ladrões, deves observar que já trazia consigo as faixas, o vinho e o azeite, isto me parece que ocorreu não somente em atenção a este homem meio-morto, mas por todos aqueles que, feridos, necessitam de Suas faixas, de Seu vinho e Seu azeite.

Carregou o ferido sobre o jumento, sobre Seu próprio corpo, o que somente significa que Se dignou assumir a nossa humanidade. Este samaritano lavou os nossos pecados, sofreu por nós, carregou o homem meio-morto, levou-o para a pousada, isto é, a Igreja, que recebe a todos e que não nega o seu auxílio a ninguém, e à qual nos convoca Jesus, dizendo: Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, que Eu vos aliviarei.

Tendo-o levado à pousada, não foi embora imediatamente, mas ficou com ele um dia inteiro, cuidando-o dia e noite... Quando chegou a manhã seguinte quer partir, dá de Seu bom dinheiro dois denários e encarrega ao posseiro, aos Anjos de Sua Igreja, que cuidem e levem ao céu aquele que ele tinha cuidado nas angústias deste tempo” (1)

Clemente Alexandrino (séc. III):

“Quem poderia ser este próximo senão o próprio Salvador? Quem mais do que Ele teve piedade de nós que estávamos para ser mortos pelos dominadores deste mundo de trevas com as muitas feridas, os medos, as paixões, as iras, as dores, os enganos, os prazeres?

De todas estas feridas o único médico é Jesus. É Ele que derrama sobre nossas almas feridas o vinho que é sangue da videira de Davi, é Ele que doa copiosamente o óleo que é a piedade do Pai” (2)

O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Ambrósio (séc. IV):

“Enquanto descia, pois, este samaritano – quem é este que desceu do céu, senão o que sobe ao céu, o Filho de Deus que está no céu –, tendo visto a um homem semimorto, ao qual ninguém quis curar – o mesmo que aquela que padecia do fluxo de sangue e que tinha gastado em médicos toda a sua renda-, aproximou-Se dele, ou seja, compadecido de nossa miséria, tornou-Se nosso íntimo e nosso próximo para exercitar Sua misericórdia conosco.

E enfaixou suas feridas untando-as com óleo e vinho. Este médico tem uma infinidade de remédios, mediante os quais alcança, ordinariamente, suas curas. Medicamento é a Sua Palavra; esta, algumas vezes, enfaixa as feridas, outras, serve de óleo, e outras atua como vinho; enfaixa as feridas quando expressa uma ordem de dificuldade mais exigente; suaviza perdoando os pecados, e atua como o vinho anunciando o juízo” (3)

São Severo de Antioquia (séc. VI):

“Sobre as nossas chagas derramou vinho, o vinho da Palavra, e, como a gravidade dos ferimentos não suportava toda a Sua força, misturou-o com o óleo da Sua ternura e do Seu amor pelos homens. Em seguida, conduziu o homem à estalagem.

Chama estalagem à Igreja, que se tornou o lugar de morada e de refúgio de todos os povos. Chegados à estalagem, o Bom Samaritano teve para com aquele que tinha salvo uma solicitude ainda maior; o próprio Cristo ficou na Igreja, concedendo-lhe todas as graças... E, ao partir, isto é, ao subir ao céu, deixou ao dono da estalagem – símbolo dos apóstolos, dos pastores e dos doutores que lhe sucederam – duas moedas de prata, para que ele cuidasse do enfermo.

Estas duas moedas são os dois Testamentos, o Antigo e o Novo, o da Lei e dos Profetas, e aquele que nos foi dado pelos Evangelhos e pelos escritos dos Apóstolos... No último dia, os pastores das Igrejas santas dirão ao Senhor que há de vir: Senhor, confiastes-me dois talentos, aqui estão outros dois que ganhei, através dos quais fiz aumentar o rebanho. E o Senhor irá responder-lhes: Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, muito te confiarei. Entra no gozo do teu Senhor”. (4)

Retomemos as reflexões acima, e sejamos fortalecidos em nossa fidelidade ao Senhor, para que edifiquemos uma Igreja mais samaritana, que se aproxime dos que mais precisam, porque são sinais visíveis e tangíveis da presença de Deus em nosso meio.

Finalizo com o parágrafo n.15 da Bula “Misericordiae Vultus”, escrita pelo Papa Francisco para o Ano Santo extraordinário da Misericórdia (8/12/2015 à 26/11/2016):

“Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo cria de forma dramática.

Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos.

Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas.

Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói.

Abramos os nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade.

Que o seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”.

(1) Lecionário Patrístico Dominical - p.678-679
(2) O Verbo Se faz Carne – p. 676
(3) Lecionário Patrístico Dominical - pp.675-676
(4) Lecionário Patrístico Dominical - 677  

Da empatia à compaixão e solidariedade (XVDTCC)

 


Da empatia à compaixão e solidariedade 

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34)

Compreendamos empatia como a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias; também, como a aptidão para identificação com o outro, de modo que se pode sentir o que ele sente. 

Como discípulos missionários do Senhor, somos chamados a viver esta empatia, que nos levará a sentimentos e compromissos mais elevados, como vemos na passagem da parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37). 

Três verbos, destacamos na parábola: “ver”, Sentir compaixão” e “cuidar”. Deste modo, todos somos chamados à compaixão e solidariedade, no genuíno testemunho cristão, como nos lembrou a Campanha da Fraternidade deste ano. 

Não nos é permitido, em situação alguma, a omissão da solidariedade, porque amamos e seguimos Jesus Cristo, o Bom Samaritano, que veio ao nosso encontro, em expressão de amor e compaixão para conosco, a fim de que todos tenhamos vida plena e feliz, como Ele mesmo nos falou na passagem do Evangelho de São João (Jo 10,10). 

Em tempos de pandemia que vivemos ou em qualquer outro tempo, na vivência do Mandamento do amor a Deus, o expressemos concretamente no amor ao próximo, fazendo este caminho: da empatia à compaixão e solidariedade permanente.

Que o nosso coração seja fecundo (XVDTCA)

Que o nosso coração seja fecundo

“Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem.
O campo é o mundo. A boa semente são
os que pertencem ao Reino.”

A Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre a importância e a centralidade da Palavra de Deus na vida daqueles que creem.

A passagem da primeira Leitura (Is 55,10-11) é um pequeno trecho do “Livro da Consolação”, e retrata a fase final do exílio (anos 550-540 a.C.).

O Povo de Deus encontra-se farto de belas palavras e promessas de libertação, que tardam em se realizar, e com isto a impaciência, a dúvida e o ceticismo enfraquecem a resistência dos exilados.

O Profeta, para evidenciar a eficácia da Palavra de Deus, utiliza o exemplo da chuva e da neve que, vindas do céu, tornam fecunda a terra, multiplicando a vida nos campos.

Uma imagem muito sugestiva, considerando que os judeus exilados na Babilônia devem se lembrar da chuva que cai no norte de Israel e da neve no monte Hermon. A água alimenta o rio Jordão, correndo por todo Israel, e por onde passa gera vida e fecundidade.

A mensagem que se comunica é de que a Palavra de Deus não falha, pois indica sempre caminhos de vida plena, verdadeira, expressa na liberdade e paz sem fim, não necessariamente segundo a lógica do tempo dos homens, dos seus desejos, projetos, interesses e critérios.

É necessário que se aprenda e respeite o ritmo e o tempo de Deus. E também, a eficácia da Palavra divina não dispensa compromissos e indica os caminhos que devem ser percorridos, renovando o ânimo para a intervenção no mundo. A Palavra divina não adormece a ação humana, mas impele para a transformação e renovação do mundo.

Com a passagem da segunda Leitura (Rm 8,18-23), continuamos a refletir sobre a vida segundo o Espírito, que consiste em deixar-se conduzir pela Palavra de Deus, e isto só é possível quando se acolhe a salvação como dom de Deus, que nos é alcançada por meio de Jesus Cristo, na ação do Espírito, que é derramado sobre todos os que aderem ao Seu Projeto e fazem parte de Sua comunidade.

A vida segundo o espírito consiste também em viver atentamente na escuta da Palavra de Deus, em plena obediência ao Projeto que Ele tem para nós, com renúncia ao egoísmo, aos interesses mesquinhos, ao comodismo, ao orgulho. É um caminho de doação da própria vida a Deus e aos outros.

A vida segundo o Espírito implica em maturidade para viver os sofrimentos, as renúncias, as dificuldades, que nada representam se comparadas com a felicidade sem fim que aqueles que creem encontrarão no fim do caminho.

A vida segundo a carne é, por sua vez, marcada por uma vida onde impera o egoísmo, o orgulho e a autossuficiência, que conduz ao pecado, à morte, à infelicidade total.

Viver consiste em saber fazer escolhas: viver segundo a carne, ou viver segundo o Espírito. Sendo pelo Espírito, pautar a vida pela Palavra divina e por ela ser conduzido.

Na proclamação do Evangelho (Mt 13,1-23), em que nos apresenta a Parábola do semeador, somos convidados a refletir sobre o modo como acolhemos a Palavra de Deus, e como comunicamos a Boa-Nova do Reino, que jamais pode ser interrompida, e que aos poucos vai revelando seu esplendor e fecundidade, a vida que Deus quer para a humanidade.

Neste capítulo, encontramos sete Parábolas de Jesus: do semeador; do grão de mostarda; do fermento; do trigo e do joio; do tesouro escondido; da pérola valiosa e da rede.

A linguagem em forma de Parábolas mexe com os ouvintes, arma controvérsia, e é um método pedagógico de reflexão em busca da verdade.

O Evangelista Mateus tem como sua preocupação a vida da comunidade, de modo que nas sete Parábolas, e na interpretação das mesmas, apresenta Jesus como o Pastor que exorta, anima, ensina e fortalece a fé dos que creem.

Sejamos fortalecidos em nosso itinerário de fé, trilhando caminhos, ainda que difíceis e desafiadores, mas sempre iluminados pela Palavra Divina proclamada, acolhida, meditada, partilhada, celebrada e testemunhada.

Empenhemo-nos para que a Palavra caia num chão fértil, que deve ser nosso coração, para que produza os frutos por Deus esperados: justiça, paz, amor, alegria, felicidade...

A Palavra de Deus é eficaz; é preciso que tornemos nosso coração mais fecundo, em séria e atenta escuta e vivência desta Palavra.

Nutridos pela força da Eucaristia, inebriados pelo Vinho Novo, a nós oferecidos no Cálice da Salvação, sejamos cada vez mais comprometidos com a mesa de nossos irmãos no quotidiano, até que sejamos merecedores de ser partícipes do Banquete Eterno, na glória da eternidade. Amém. 

Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

A Igreja do Bom Samaritano (XVDTCC)

A Igreja do Bom Samaritano

“Mestre, que devo fazer para
receber em herança a vida eterna?”

Com a Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano C), aprofundamos o caminho para o encontro da Vida Eterna, o caminho da felicidade presente e eterna; tendo como mensagem central: somente o amor a Deus e ao próximo é que nos dará vida em plenitude.

A passagem da primeira Leitura (Dt 30,10-14) é uma Catequese sobre o Amor a Deus, escutando a Sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos Seus Mandamentos, em adesão total e incondicional.

A Lei de Deus não é posta fora de nosso alcance; é inscrita em nosso coração e em nossa mente, proclamada pela nossa boca, mas principalmente com a nossa vida.

Vivendo o contexto do final do exílio da Babilônia, o autor remete a parte final do terceiro discurso de Moisés, quando conduzia o Povo de Deus.

Ressoa como forte alerta para que o Povo de Deus tome consciência da sua infidelidade, e volte à fidelidade original para ter vida.

Reflitamos:

- Qual a qualidade de nossa escuta, adesão e fidelidade a Deus e aos Seus Mandamentos?
- O que nos impede de ouvir a voz de Deus, que nos fala e nos propõe vida em plenitude?
- Quais são as vozes que tentam calar a voz de Deus, hoje?

Na passagem da segunda Leitura (Cl 1,15-20), o Apóstolo Paulo nos fala da centralidade de Jesus em nossa vida: Ele é o centro a partir do qual tudo se constrói.

É preciso escutá-Lo atentamente, e viver Seu Mandamento, exigência fundamental para quem quiser segui-Lo.

Nada pode nos salvar a não ser Cristo Jesus e a Sua Palavra de Salvação. Ele é a “imagem de Deus invisível”; “o primogênito de toda criatura”, e “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”.

Deus é visível em Jesus, que tem por sua vez a supremacia e autoridade do Pai, e deve ocupar a centralidade em nossa vida. Ele não pode ser reduzido a um visionário, idealista, e humanista por excelência, pois tem a soberania no Mistério da redenção: Ele é “cabeça”, “princípio” e “n’Ele habita toda plenitude”.

Reflitamos:

- Jesus Cristo é verdadeiramente o centro de nossa vida?
- Quem é Cristo para nós?

A passagem do Evangelho (Lc 10,25-37) nos apresenta a Parábola do bom samaritano. Refere-se a um herege, um infiel, segundo os critérios judaicos (por longos séculos assim foi se caracterizando), mas foi aquele que tudo deixou para ser solidário ao irmão caído à beira da estrada, e o Senhor no-lo apresenta como exemplo a ser imitado: Fazer-se próximo de quem mais precisa – “Vai e faz o mesmo”.

Na Parábola são citados os levitas e sacerdotes que passam ao lado, sem nada fazer; talvez por medo de ficarem impuros, por pressa, indiferença, ou por viverem uma religião sem misericórdia.

Ao contrário, o samaritano, herege, excomungado, tem o coração cheio de amor, e nos dá o verdadeiro sentido da religião: ter um coração pleno de amor a Deus, que se concretiza no amor ao próximo, em gestos de partilha e solidariedade.

Conclui-se que a vida eterna somente se alcança quando não se separa o amor a Deus do amor ao próximo.

Este próximo é qualquer um que necessite de nós, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido; e todo aquele que se encontra à beira do caminho e precisa de nosso amor e de nossas mãos para se levantar e se por a caminho.

Nisto consistirá a missão da Igreja do Bom Samaritano, em todos os tempos, na fidelidade ao Senhor Jesus: viver um amor sem limites, sem fronteiras, sem rotulações.

Reflitamos:

- Qual a missão que O Senhor confia a nossas comunidades à luz desta parábola?
- Somos sensíveis e solidários aos clamores dos pobres?

- Como nossas comunidades podem ser mais parecidas com o bom samaritano?
- Quem se encontra à beira do caminho e precisa de nossas mãos e ação solidária?

- Como estamos vivendo a verdadeira religião, que nos permite experimentar a proximidade divina, para uma maior proximidade humana, em gestos de comunhão fraterna?
- Qual é a diretriz de minha vida: leis, ritos ou o amor concreto?

Concluindo, quando Cristo é o centro de nossa vida e de nossa comunidade, abrimo-nos ao outro, fazemo-nos próximos daqueles que estão à beira do caminho, no amor, misericórdia, compaixão e solidariedade.

Lembremos as palavras do Papa Bento XVI, na Encíclica – Deus Caritas Est” – 2005 – n. 15.16:

O Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo:
no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e,
em Jesus, encontramos Deus... o amor ao próximo
é uma estrada para encontrar também a Deus, e que
o fechar os olhos diante do próximo torna cegos
também diante de Deus.”

PS: apropriado para refletimos sobre a passagem do Evangelho proclamada na segunda-feira da 27ª semana do Tempo Comum.

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