Contemplemos e contemos as estrelas...
Outrora Deus chamou Abrão para uma conversa, numa noite de verão em que as estrelas brilhavam nos céus.
Trata-se evidentemente de um imaginário diálogo entre Deus, Abraão e Paulo...
Deus:
“Abrão ergue os olhos para o céu e conta as estrelas, se as pode contar. Assim será tua posteridade”.
Prontamente Abrão acreditou e assim se fez: memória, fecundidade, a superação da esterilidade de Sara, terra de Canaã e descendência... E o que era impossível se realizou!
Abraão:
“Senhor, sou grato por tudo que me prometestes, mas devo confessar que jamais conseguirei contar as estrelas que me pedistes”.
Deus assim respondeu:
“Assim como não és capaz de contá-las, também não serás capaz de declinar as graças que tenho para ti e para o povo do qual serás pai da fé”.
Ainda hoje Abraão continua contando as estrelas como o Senhor lhe propusera. Missão impossível de ser concluída, pois as graças de Deus da mesma forma são infinitas.
E, também numa imaginária viagem Abraão foi ao encontro de Paulo para que este o ajudasse nesta missão tão difícil.
Paulo:
“Abraão, eu o tenho como modelo exemplar de fé. Várias vezes falei de ti e de tua fé em minhas Cartas às Comunidades. Pelo respeito, consideração e gratidão que tenho por ti, ouso dar algumas primeiras respostas”.
Assim, Paulo convidou Abraão a dar uma volta pela noite. Ainda era verão... Começou a falar das tantas estrelas que Deus faz brilhar em nossas vidas.
Paulo iniciou sua resposta, que a encontramos no primeiro capítulo da Carta aos Efésios:
A primeira estrela são as bênçãos espirituais derramadas sobre nós por meio de Cristo Jesus.
Cristo é com certeza a Estrela Maior, de brilho eterno, sem começo e fim. Com brilho próprio Ele sempre há de brilhar com Ele todos que n’Ele crerem, pois n’Ele somos filhos da luz e devemos brilhar como estrelas nos céus.
Há uma estrela que não podemos perder, a estrela da santidade a que fomos predestinados a viver e ser, como consequência de nossa filiação divina por meio de Jesus Cristo. Que estrela reluzente e transbordante!
Nós a contemplamos na Cruz, na qual Ele foi trespassado pela redenção de toda a humanidade; nela alcançamos a remissão de nossos pecados!
Tem também a estrela da sabedoria, da inteligência que nos permite conhecer o mistério de Sua vontade. Sem falar da herança maior que Deus nos concedeu também por meio de Seu Filho, o Ressuscitado: Herança do Reino de Deus.
A estrela brilhou porque, tanto Abraão como Paulo, são membros do Povo eleito, testemunha da realização da promessa messiânica.
Finalmente, Paulo fala da outra magnânima estrela: o fato de termos sido selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo, garantia de nossa herança. Espírito que vem sempre em socorro de nossas fraquezas.
Depois de algum tempo...
Abraão retomou a palavra e disse:
“Paulo, o que vislumbrei pela fé há séculos, vós podeis testemunhar e anunciar a todos os povos em todos os tempos”.
Paulo assim concluiu:
“Pai da fé, gostaria de enumerar outras tantas estrelas que Deus nos garantiu e há de sempre nos garantir... Mas a hora é avançada... continuemos amanhã nossa conversa...”
Segundo consta, Abraão e Paulo retomaram a conversa na noite seguinte e até hoje continuam contando as estrelas que são as manifestações amorosas de Deus em nossa vida. Quando Deus promete, cumpre.
Também nós somos convidados a contemplar as estrelas, contar as estrelas...
Também nós somos convidados a procurar nossas respostas...
Também nós, sem pressa, sem sermos levados pelas inquietações e emergências de cada dia, olhar contemplativo e atento às graças de Deus em nossa vida...
Ponhamo-nos sempre a contemplar estas maravilhas, ainda que não seja uma noite de verão. Não importa, porque as estrelas de Deus brilham sempre e em toda parte...
Deste modo, faremos nosso o canto do Magnificat,
Cantando-o com a Estrela Mãe, Maria:
“Minha alma glorifica o Senhor, meu espírito
exulta em Deus meu Salvador...”
PS: Propositalmente, cito Abrão e Abraão. E, para melhor compreensão, sugiro ao leitor retomar Gênesis, capítulo 12.
Entretanto, para além dos nomes citados, importa que, em meio aos acontecimentos do dia a dia, possamos perceber a presença de Deus, reanimando nossas forças, revigorando nossas esperanças e nossa fé, inflamando nossa caridade. Isto, verdadeiramente, é o que conta!