quinta-feira, 2 de maio de 2024

Renasça a esperança

                                                        


Renasça a esperança

Em todo tempo, e, sobretudo na realidade sociopolítica nacional que vivemos, somos desafiados a dar razão de nossa esperança.

Iluminados sejamos pela passagem do Profeta Ezequiel (Ez 37, 21-28), na qual o Profeta anuncia o regresso do exílio em que se encontrava Israel, anunciando um futuro novo a ser vivido com a intervenção de Deus para o Seu Povo.

Será um tempo de reconstrução, de renovação interior em que o povo será purificado, santificado, e Deus com ele selará uma aliança eterna de paz, vindo morar em seu meio para sempre, o que se dará com a vinda de Jesus Cristo:

“É o Mistério Pascal de Cristo que nos purifica e santifica e que é penhor de uma nova e eterna Aliança entre Deus e toda a humanidade.” (1)

O tema da confiança e da esperança em Deus é recorrente nos textos proféticos, como também vemos na passagem do Profeta Jeremias (Jr 31, 10-13).

E aprofundando o tema da esperança, voltemo-nos para a “Octogésima Adveniens”, escrita pelo Papa São Paulo VI (1971) em comemoração aos oitenta anos da “Rerum novarum” (1891), retomando um preciso parágrafo (n.37):

“Nos nossos dias, aliás, as fraquezas das ideologias são melhor conhecidas através dos sistemas concretos, nos quais elas procuram passar à realização prática.

Socialismo burocrático, capitalismo tecnocrático e democracia autoritária, manifestam a dificuldade para resolver o grande problema humano de viver juntamente com os outros, na justiça e na igualdade.

Como poderiam eles, na verdade, evitar o materialismo, o egoísmo ou a violência que, fatalmente, os acompanham? Donde, uma contestação que começa a aparecer, mais ou menos por toda a parte, indício de um mal-estar profundo, ao mesmo tempo em que se assiste ao renascer daquilo que se convencionou chamar as utopias.

Estas pretendem resolver melhor do que as ideologias o problema político das sociedades modernas.

Seria perigoso deixar de reconhecer que o apelo à utopia não passa muitas vezes de pretexto cômodo para quem quer esquivar as tarefas concretas e refugiar-se num mundo imaginário.

Viver num futuro hipotético é um álibi fácil para poder alijar as responsabilidades imediatas.

Entretanto, é necessário reconhecê-lo, esta forma de crítica da sociedade existente provoca muitas vezes a imaginação prospectiva para, ao mesmo tempo, perceber no presente o possível ignorado, que aí se acha inscrito, e para orientar no sentido de um futuro novo; ela apoia, deste modo, a dinâmica social pela confiança ela dá às forças inventivas do espírito e do coração humano; e, se não rejeita nenhuma abertura, ela pode encontrar também o apelo cristão.

Na verdade, o Espírito do Senhor, que anima o homem renovado em Cristo, altera sem cessar os horizontes onde a sua inteligência gostaria de encontrar segurança e onde de bom grado a sua ação se confinaria: uma força habita no mesmo homem que o convida a superar todos os sistemas e todas as ideologias. 

No coração do mundo permanece o mistério do próprio homem, o qual se descobre filho de Deus, no decurso de um processo histórico e psicológico em que lutam e se alternam violências e liberdade, peso do pecado e sopro do Espírito.

O dinamismo da fé cristã triunfa então dos cálculos mesquinhos do egoísmo. Animado pela virtude do Espírito de Jesus Cristo, Salvador dos homens, apoiado pela esperança, o cristão compromete-se na construção de uma cidade humana, pacífica, justa e fraterna, que possa ser uma oferenda agradável a Deus. 

Efetivamente, "a expectativa de uma terra nova não deve enfraquecer, mas antes estimular em nós a solicitude em cultivar essa terra, onde cresce o corpo da nova família humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do século vindouro (cf. “Gaudium et spes” n.11)."

O Missal Cotidiano, à luz da passagem bíblica e da palavra do Papa nos interroga: “Em que transformaria o mundo, se não possuísse homens capazes de acolher esta mensagem e de crer seriamente que este no mundo é chamado a uma transfiguração? O verdadeiro nome da utopia cristã é ‘esperança’” (2)

Urge renascer em nosso coração de quem professa a fé na Trindade Santo, a utopia, e o verdadeiro nome da utopia é a esperança cristã, acompanhada da fé, que vale agindo pela caridade, como tão bem expressa o Apóstolo Paulo (Gl 5, 6).

Renasça a esperança no canteiro de nossa mente e coração, nos quais são plantadas a semente da fé, para produzir frutos Pascais de caridade.



(1) Lecionário Comentado - Volume I - Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa -  pág. 254
(2) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 312

A Fé cristã

                                                       


A Fé cristã

 “A fé é uma profunda comunhão entre nós e Deus,
na qual o próprio Deus Se comunica a nós, e
Se torna presente em nós.  
A Oração é expressão
desta comunhão: ela não tende para um Deus
longínquo, mas exprime a própria vida do
Senhor Uno e Trino, que nos é comunicada” (1)

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé abrasadora
Fé amadurecida
Fé acrisolada
Fé ardente
Fé autêntica

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé comprovada
Fé consolidada
Fé fortificada
Fé frutuosa
Fé geradora

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé iluminadora
Fé irredutível
Fé provada
Fé pura
Fé robusta

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé singela
Fé sólida
Fé professada
Fé testemunhada
Fé convicta.

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e compromisso
Fé e solidariedade
Fé e comunhão
Fé e luta
Fé e conquistas

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e partilha
Fé e libertação
Fé e sonhos
Fé e buscas
Fé e combate

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e busca
Fé e encontro
Fé e incertezas
Fé e constância
Fé e coerência

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e ternura
Fé e perdão
Fé e acolhida
Fé e Oração
Fé e superação

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e resistência
Fé e horizonte do inédito
Fé e travessia
Fé e recriação
Fé e conversão

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e a força da Palavra
Fé e a vitalidade da Eucaristia
Fé e a doutrina da Igreja
Fé e a renovação de sagrados compromissos
Fé e os divinos Sacramentos.

A Fé cristã agirá pela caridade quando for:
Fé e o Amor do Pai
Fé e a Salvação do Filho
Fé e a ação do Espírito
Fé e a Força da Ressurreição...
Fé e a maravilha da divina presença...

(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pag.622
PS: Fonte de inspiração: Gl 5,6

Virtudes a serem cultivadas

                                                     


Virtudes a serem cultivadas

Retomo o comentário do Missal Cotidiano sobre as virtudes cardeais da realidade cristã:

“Neste terreno favorável devem florescer e desenvolver-se as virtudes cardeais da realidade cristã: a plenitude da fé (Hb 10,22), uma esperança indefectível que tem seu fundamento na fidelidade de Deus (Hb 10,23) e uma caridade ativa (Hb 10,24)”

É no chão do coração purificado de toda má consciência que a fé lança suas sementes fincando suas raízes, para que se elimine toda erva daninha do desânimo, de modo que a fina e pura flor da esperança exale todo seu odor, que se torna visível pela caridade e boas obras.

Todos nós nas travessias de mares assustadores, de desertos extenuantes com seus temores, de caminhos difíceis porque as pedras são inevitáveis, bem como das flores seus espinhos, precisamos da plenitude da fé.

Uma pessoa que tem fé com certeza não será submergida na travessia dos mares nem terá sua garganta ressequida, ou a alma falecida pela secura e aridez do deserto da existência humana.

Da mesma forma, jamais desistirá de trilhar seu caminho, porque sabe que com Ele, Jesus, o Caminho, é bem sabido o nosso mais desejado destino, não deixando a vida à deriva sem horizonte, sem rumo... (cf. Jo 14,6).

Com esperança indefectível, sem erros, vacilos, defeitos, fará de cada amanhecer uma nova possibilidade; de cada recuo, se necessário for, ponto de um novo avanço (assim são as ondas); se quedas houver, é para que se tome consciência das limitações, para cair toda pseudo-onipotência, para que se aprenda a curvar diante da Divina Onipotência, Deus.

Caridade, também no coração terá; uma caridade com um tom diferencial, que seja ativa. O amor será a mais bela chama que a todos contagia, porque é próprio do Amor de Deus assim fazer. O amor divino é como língua de fogo que aquece as realidades mais frias e sombrias, ilumina outras mais que escuras, desoladoras. O amor é fogo que não se consome, chama ardente de caridade que o coração invade, e luz que jamais se apaga (cf. 1 Cor 13,1-13).

Amar é revelar a presença de Deus e Seu esplendor, e glórias infinitas aos céus elevar... 

Bem disse Jesus ao nos conferir a identidade e a missão de sermos sal e luz do mundo: “Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16)

Plenitude de fé, esperança indefectível, caridade ativa,
Virtudes cardeais de Deus tão preciosas,
Que haveremos, com todo zelo, cuidar,
Cultivo tão belo e precioso jamais omitido.
Certeza de que o amanhã melhor há de ser,
Pois é próprio do amor de Deus fazer florescer
O que para nós for preciso e a vida mais bela ser...

É preciso ter fé. Feliz Páscoa. Aleluia! Aleluia!

                                                      

É preciso ter fé. Aleluia! Aleluia!

O tempo é breve, “a figura deste mundo passa” (1 Cor 7,31).
É preciso preenchê-lo com opções sábias e com gestos de conversão.
É preciso ter fé para viver intensamente a brevidade do tempo.

É preciso ter fé:
Para viver com densidade e paixão cada momento.
Para acolher a mensagem do Divino Mestre de Nazaré, que não fala no tom turvo da ameaça de Jonas. E, que também não fala sequer com o rigor sombrio da pregação de João Batista.

É preciso ter fé:
Para acolher a Palavra que Se fez Carne, que soa como um festivo toque de trombeta.
Para contemplar e se deixar envolver pela luminosidade do Reino.
Para contemplá-lo já presente e ainda plenamente em nosso meio, até que Ele venha.

É preciso ter fé:
Para temer o Senhor e Seu juízo, conscientes de que somos responsáveis pelo amor vivido e correspondido, ou não.
Para viver no temor, confiantes na espera do grande dia do juízo final, quando prestaremos contas de nossas obras de misericórdia.
Para crer que o sinal de um novo céu e de uma nova terra não é uma quimera, uma ilusão de ótica, mas uma alegre possibilidade, ainda que não merecida, por Deus concedida.

É preciso ter fé:
Para que nossos olhos fiquem límpidos e, assim, saibamos olhar as coisas, e para além delas, sem nos deixarmos encantar pela lógica míope do mundo.
Para que nossos olhos alcancem o horizonte do inédito que Deus sempre nos prepara.
Para que nossa necessária confiança seja dócil e se contagie pela alegria da presença do Senhor que bate à porta de nossos corações para comunicar Sua misericórdia, ternura e paz.

É preciso ter fé:
Para romper todo cinismo e desespero que teimam em bloquear e impedir qualquer ímpeto de esperança, matando precocemente, sementes de transformação.
Aliada com a sabedoria que vem do alto, como tiveram os pescadores do lago chamados por Jesus.
Para que nos ponhamos a caminho, sem dúvida alguma como os primeiros fizeram, deixando tudo para segui-Lo.

É preciso ter fé:
Para que o olhar de Jesus tenha um olhar de correspondência de amor.
Para que Sua voz não tenha sido ressoada em vão.
Para que o Verbo não tenha em vão assumido nossa humana condição.

É preciso ter fé:
Para não recuar nas mais árduas e desafiadoras travessias.
Para não afundarmos nos lamaçais das inquietações e dificuldades.
Para não deixarmos de sorrir angelicalmente, como o sorriso puro de criança.
Para não esmorecermos na vivência de nosso Batismo.

É preciso ter fé:
Ainda que do tamanho do grão de mostarda,
Para as montanhas remover, barreiras vencer,
Maravilhas haveremos de ver acontecer,
Glórias e louvores serão elevados em todo momento.

É preciso ter fé:
Sem a busca de falsos caminhos,
Sem sucumbir às pretensas verdades,
Sem perder o encanto e a paixão pelo dom da vida.

É preciso ter fé:
Apenas n’Ele, Caminho, Verdade e Vida,
Vida plena, eterna e feliz! 

É preciso ter fé:
Feliz Páscoa. Aleluia! Aleluia!

A caridade esforçada de nossas comunidades

A caridade esforçada de nossas comunidades 

“Recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 1,3) 

Deste modo, uma comunidade que professa a fé no Senhor deve expressar o amor que se concretize na caridade e na solidariedade, através de seus trabalhos pastorais e ações sociais, empenhando-se em fazer sempre o melhor para Deus e para o próximo. 

Como discípulos missionários do Senhor, esperar e se comprometer com a Boa-Nova do Reino, tornando o mundo mais justo e fraterno, sem dores e lágrimas,
 estabelecendo novas relações de acolhida, serviço, generosidade, partilha.
 

E é este firme propósito que contemplamos em muitos agentes de pastoral e colaboradores presentes e atuantes em nossas comunidades.

Glorifiquemos a Deus pelos inúmeros trabalhos realizados como a mais bela expressão da caridade fecunda, que brota da fé e dá solidez à nossa esperança. 

Contemos com a presença e proteção do Arcanjo São Miguel no bom combate da fé, e com a Virgem Santíssima, sob o título de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, para que nos abençoe, anime e conduza na inadiável e desafiadora missão de evangelizar.

Caminhemos movidos pela fé

                                                    

Caminhemos movidos pela fé

Na terceira sexta-feira do Tempo Comum (ano ímpar), ouvimos a passagem em que o autor nos fala das longas e dolorosas lutas suportadas pela comunidade, e a exortação para não abandonar a coragem do testemunho dado (Hb 10, 32-39).

Vejamos o que nos diz o Missal Cotidiano:

“Crer é sempre sair dos projetos próprios e aceitar deixar-se conduzir por Deus, aonde nos queira levar. É uma aventura que se aceita livremente, associando-se à caravana do povo de Deus.

Frequentes vezes isto implica em corte violento de hábitos, amizades, atividades antigas; muitas vezes comporta perseguição, latente ou explícita, ou insulto e ridículo.

A todos se dirige a advertência sobre a fidelidade e a perseverança: quão admirável é a coragem de romper com certas coisas que ficaram para trás! Mas também é indispensável não voltar atrás.

Podemos estar entre aqueles que retrocedem, não com uma apostasia explícita, mas perdendo terreno dia após dia, desvirtuando com pequenas manifestações de egoísmo as grandes opções, fazendo calar a consciência por meio de argumentos sutis, tornando-nos medíocres pela rotina, aviltando-nos por uma resignação cética e conformista.

Reforcemos nossa fé e esperança com as palavras do Profeta (v.37) e de Jesus: 'Um pouco de tempo e já não me vereis, mas um pouco de tempo e me vereis... Chorareis e vós lamentareis, mas o mundo se alegrará... Também vós agora estais tristes; mas Eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria' (Jo 16, 16.20.22)”. (1)

Oremos:

Dai-nos, Senhor, a coragem necessária para não nos tornarmos desertores para a perdição, negando ou abandonando a fé que professamos desde o dia de nosso Batismo.

Concedei-nos que ela seja fortalecida, para que nos empenhemos na busca de nossa salvação, com sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino.

Ajudai-nos para que saibamos sair de nossos projetos próprios, abertos ao Vosso desígnio e Projeto, que tendes para cada um de nós, como membros do Povo de Deus que somos.

Dai-nos a coragem de caminhar para frente, sem recuos com sagrados compromissos, com liberdade, deixando para trás as coisas que ficaram, em plena expressão de liberdade.

Senhor, não permitais que caiamos no mero fazer, numa rotina em que tudo que façamos fique sem graça e sabor, ou também cairmos num ativismo empobrecedor de fecunda espiritualidade.

Senhor, concedei-nos a graça de sentir Vossa divina presença, em todos os momentos, perseverantes na oração e vigilantes, numa fé ativa e fecunda, dando razão da esperança, com um coração inflamado pela chama da caridade. Amém.

(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus - p.695

Fé autêntica: voos mais altos, travessias mais serenas


Fé autêntica: voos mais altos, travessias mais serenas

Com a Liturgia deste 27º Domingo do Tempo Comum (ano C), sobretudo à luz do Evangelho de São Lucas (Lc 17,5-10), veremos que não há autêntico cristianismo sem a fé.

Os patriarcas (AT) são protagonistas das primeiras páginas bíblicas da fé como confiança absoluta em Deus e em Suas promessas, na superação de aparentes contradições, em entrega incondicional a Ele e à Sua Palavra.

Os Profetas, por sua vez, arautos da fé ao convidar a superar as seguranças e confianças em alianças humanas, no apego e confiança à Palavra dada por Deus: Antiga Aliança.

Crer é dar-se a Deus, ainda que Ele pareça ausente, como nos diz o 
Profeta Habacuc (Hab 1,2-3; 2-2-4). 

A fé torna-se, portanto, o único caminho para compreensão do mistério da história. Vivê-la é permanecer firmemente ancorado somente em Deus, ainda que aos nossos olhos pareça ausente.

Assim afirma o Missal Dominical: 

No Novo Testamento, o objeto da fé atinge a plenitude: O Filho de Deus Se manifesta e Seu Reino é constituído. 

Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos, para entregar-se a Deus com toda fidelidade. 

A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus que nos propõe Seu amor em Cristo morto e Ressuscitado. 

A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com Ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã”.(1)

Diante de Deus, absolutamente soberano, nossa postura deve ser de permanente humildade, abertura e fé. Adesão de fé implica necessariamente em lealdade e fidelidade.

Jamais podemos nos envergonhar ou nos intimidar no testemunho de nosso Senhor, como tão bem nos admoesta Paulo na Carta a Timóteo (2Tm 1,6-8.13-14). 

A concretização da fé jamais se dará sem a Oração, a escuta da Palavra Divina, a comunhão com Deus e a celebração ativa, piedosa e consciente dos Sacramentos.

A fé verdadeira é vista quando percebem em nós o entusiasmo para viver o que somos, fazer o que nos propomos, amar para que façamos e vivamos melhor do que vivemos e somos, e assim na fidelidade ao Pai, em voos mais altos nas Asas do Espírito ou atravessando serenamente o mar da vida com nosso pequeno barco, tendo ao nosso lado a imprescindível presença do Senhor.

Não podemos fazer pelo outro o que lhe é próprio, mas não podemos nos tornar indiferentes diante da fé de nosso irmão. O cultivo da própria fé nos faz responsáveis pela fé de nosso próximo.

Trabalhar pelo Reino na concretização de nossa fé é a maior graça que de Deus recebemos, de modo que Ele nada nos deve. Nós é que precisamos viver maior gratuidade no trabalho. 

Deus nada nos deve, pelo contrário. De que modo poderíamos quitar nossa dívida para com Ele? 

A realização de Seu amor supera qualquer recompensa que ousássemos pensar ou cobrar! 

Na Oração do Dia, rezamos que Deus nos dá mais do que ousamos pedir! Dá-nos gratuitamente e incomparavelmente muito mais do mereçamos ou possamos conceber!

Diante de Deus, devemos nos colocar como simples servos: com alegria, gratuidade, serviço, prontidão, confiança, testemunhando a fé, que é dom, d’Ele recebida.

Nossa fé é necessária para nós mesmos, para ficarmos firmes na adesão a Deus, em Jesus Cristo, na força do Espírito. 

Quem vive a fé no espírito de comunhão jamais achará que está fazendo demais para os outros, ao contrário, quanto mais serve por amor, mais desejará fazê-lo, com alegria e sem cansaço que extenue, esvazie. 

A fé é o novo conhecimento, o modo pelo qual lemos a realidade com o olhar de Cristo.

A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo, com espontaneidade e vigor, diz a Igreja sempre.

Voltando ao Missal Dominical:

“Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança. 

A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo".

O Bispo e mártir São Policarpo (séc. II) já nos dizia com intensa profundidade em sua Carta aos Filipenses: 

“... se a lerdes com atenção, sereis edificados na fé que vos foi dada. Ela é a mãe de todos nós (Gl 4,26), seguida pela esperança, precedida pela caridade em Deus, em Cristo e no próximo...”

Vivendo a fé na comunhão com Deus e com o outro, a vida tem outra cor, as páginas outro teor, e em tudo invejável vigor!


“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé.”


(1) (2) Missal Dominical - Editora Paulus - página 1258

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