sábado, 10 de fevereiro de 2024

Capítulo V: PERCURSOS DE JUVENTUDE

Capítulo V
PERCURSOS DE JUVENTUDE

Como se vive a juventude?
Quando nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho? (n.134)

Juventude é dom de Deus, de modo que ser jovem é uma graça, uma ventura que não podemos desperdiçar, mas receber agradecidos e vive-la em plenitude. (n.134).

“Deus é o autor da juventude e age em cada jovem. A juventude é um tempo abençoado para o jovem e uma bênção para a Igreja e o mundo. É uma alegria, uma canção de esperança e uma beatitude... período da vida como um momento precioso, e não como uma fase de passagem onde os jovens se sentem empurrados para a idade adulta”. (n. 135):

- Juventude como tempo de sonhos e opções (nn.136-143);
- A vontade de viver e experimentar (nn. 144-149);
- Na amizade de Cristo (nn. 150-157);
- O crescimento e a maturação (nn.158-162);
- Percursos de fraternidade (nn. 163-167);
- Jovens comprometidos (nn. 168-174);
- Missionários corajosos (nn. 175-178).

Destaco alguns parágrafos:

Como o Papa vê um jovem:
“Vejo um jovem ou uma jovem à procura do seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que assoma ao mundo e fixa o horizonte com olhos cheios de esperança, cheios de futuro e também de ilusões. O jovem caminha com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Sempre a olhar para diante. Falar de jovens significa falar de promessas, significa falar de alegria. Os jovens têm tanta força, são capazes de olhar com tanta esperança! Um jovem é uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade; tem um grau suficiente de insensatez para poder enganar-se a si mesmo e uma capacidade suficiente para curar a decepção que daí pode derivar” (n.139).

A Perseverança no caminho dos sonhos:
“Devemos perseverar no caminho dos sonhos. Para isso, é preciso ter cuidado com uma tentação que muitas vezes nos engana: a ansiedade. Pode tornar-se uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros; devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não vivem porque não querem arriscar, não perseveram nos seus compromissos ou têm medo de errar. Ainda que erres, poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança”. (n.142)

Não renunciar ao melhor do tempo da juventude:
Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis a observar a vida da sacada. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum visor. E tampouco vos reduzais ao triste espetáculo dum veículo abandonado. Não sejais carros estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda que vos enganeis, arriscai. Não sobrevivais com a alma anestesiada, nem olheis o mundo como se fôsseis turistas. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes do tempo”. (n.143)

Preparar o amanhã, mas viver o presente:
“A Palavra de Deus convida-te claramente a viver o presente, e não só a preparar o amanhã: ‘Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema’ (Mt 6, 34). Isto, porém, não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa vazios e sempre insatisfeitos, mas convida-nos a viver plenamente o presente, usando as nossas energias para fazer coisas boas, cultivando a fraternidade, seguindo Jesus e apreciando cada pequena alegria da vida como um presente do amor de Deus”.  (n.147)

É preciso encontrar com o grande Amigo – Jesus:
“Por mais que vivas e experimentes, nunca chegarás às profundezas da juventude, nem conhecerás a verdadeira plenitude de ser jovem, se não te encontrares cada dia com o grande Amigo, se não viveres na amizade de Jesus”. (n. 150)

O que é a amizade, segundo o Papa:
“A amizade é um presente da vida e um dom de Deus. Através dos amigos, o Senhor purifica-nos e faz-nos amadurecer. Ao mesmo tempo, os amigos fiéis, que permanecem ao nosso lado nos momentos difíceis, são um reflexo do carinho do Senhor, da sua consolação e da sua amorosa presença. Ter amigos ensina-nos a abrir-nos, a compreender, a cuidar dos outros, a sair da nossa comodidade e isolamento, a partilhar a vida. Por isso, ‘nada se pode comparar a um amigo fiel, e nada se iguala ao seu valor’ (Sir6, 15)”. (n.151)

“A amizade não é uma relação fugaz e passageira, mas estável, firme, fiel, que amadurece com o passar do tempo. É uma relação de afeto que nos faz sentir unidos e, ao mesmo tempo, é um amor generoso que nos leva a procurar o bem do amigo. Embora os amigos possam ser muito diferentes entre si, há sempre algumas coisas em comum que os leva a sentir-se próximos, e há uma intimidade que se partilha com sinceridade e confiança”.  (n.152)

“A amizade é tão importante que o próprio Jesus Se apresenta como amigo: ‘Já não vos chamo servos (…), a vós chamei-vos amigos’ (Jo 15, 15)... Os discípulos ouviram a chamada de Jesus à amizade com Ele; foi um convite que não os forçou, propondo-se delicadamente à sua liberdade: ‘Vinde e vereis – disse-lhes; e eles foram –, viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia’ (Jo 1, 39). Depois daquele encontro, íntimo e inesperado, deixaram tudo e partiram com Ele” (n.153)

“A amizade com Jesus é indissolúvel. Nunca nos deixa, embora às vezes pareça calado. Quando precisamos d’Ele, deixa-Se encontrar por nós (cf. Jr 29, 14), e está ao nosso lado para onde quer que formos (cf. Js 1, 9). Porque Ele nunca quebra uma aliança. A nós, pede-nos para não O abandonarmos: ‘Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós’ (Jo 15, 4). Mas, se nos afastarmos, ‘Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo’ (2 Tim 2, 13)”. (n.154)

A oração como desafio e aventura:
“Com o amigo, conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus, também conversamos. A oração é um desafio e uma aventura. E que aventura! Permite que O conheçamos cada vez melhor, entremos no seu mistério e cresçamos numa união cada vez mais forte. A oração permite-nos contar-Lhe tudo o que nos acontece e permanecer confiantes nos seus braços e, ao mesmo tempo, proporciona-nos momentos de preciosa intimidade e afeto, onde Jesus derrama a sua própria vida em nós. Rezando, «abrimos o jogo» a Ele, damos-Lhe lugar «para que Ele possa agir, possa entrar e possa vencer». (n. 155)

Juventude unida num único sonho:
“Jesus pode unir todos os jovens da Igreja num único sonho...O sonho, pelo qual Jesus deu a vida na cruz, e o Espírito Santo no dia de Pentecostes foi derramado e gravado a fogo no coração de cada homem e mulher, no coração de cada um. (…) um sonho chamado Jesus, semeado pelo Pai... Um sonho concreto, que é uma Pessoa, que corre nas nossas veias, faz exultar e dançar de alegria o coração”. (n. 157)

Um testemunho do Papa:
“Quando comecei o meu ministério como Papa, o Senhor alargou os meus horizontes e deu-me uma renovada juventude. O mesmo pode acontecer com um casal já com muitos anos de matrimônio, ou com um monge no seu mosteiro. Há coisas que precisam dos anos para se consolidar, mas este amadurecimento pode coexistir com um fogo que se renova, com um coração sempre jovem”. (n.160)

Ninguém será santo nem se realizará copiando os outros:
“A tua vida deve ser um estímulo profético que sirva de inspiração para os outros, que deixe uma marca neste mundo, aquela marca única que só tu poderás deixar. Ao passo que, se copiares, privarás esta terra e também o Céu daquilo que mais ninguém poderá oferecer no teu lugar...” (n.162)

A manifestação do crescimento espiritual:
O crescimento espiritual manifesta-se, sobretudo, no amor fraterno, generoso, misericordioso. Viver o «êxtase» que consiste em sair de si mesmo para busca o bem dos outros, até dar a vida. (n. 163)

Espaço para viver a fé em comunidade:
- A Igreja oferece muitos e variados espaços para viver a fé em comunidade, porque, juntos, tudo é mais fácil. (n. 164)
- “...Cada idade tem a sua beleza, e à juventude não pode faltar a utopia comunitária, a capacidade de sonhar juntos, os grandes horizontes que contemplamos juntos” (n. 166)
- “Deus ama a alegria dos jovens e convida-os sobretudo à alegria que se vive na comunhão fraterna, ao júbilo superior de quem sabe partilhar... Diz um provérbio africano: ‘se queres andar rápido, caminha sozinho. Se queres chegar longe, caminha com os outros’. Não deixemos roubar-nos a fraternidade”. (n. 167)

A tentação dos jovens se fecharem:
“...perante um mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem correr o risco de se fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios da vida em sociedade, dum mundo vasto, estimulante e necessitado. Têm a sensação de viver o amor fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu. Isto agrava-se, se a vocação do leigo for concebida unicamente como um serviço interno da Igreja (leitores, acólitos, catequistas, etc.), esquecendo-se que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade social e caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a construção duma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo”.  (n. 168)

Amizade social e inimizade social:
É preciso ir mais além dos grupos de amigos e construir a amizade social: “buscar o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar (…). Sede capazes de criar a amizade social...” (n.169)

O compromisso social e político da juventude:
“...O compromisso social é um traço caraterístico dos jovens de hoje. Ao lado de alguns indiferentes, há muitos outros disponíveis para se comprometerem em iniciativas de voluntariado, cidadania ativa e solidariedade social, o que é preciso acompanhar e encorajar para fazer surgir os talentos, as competências e a criatividade dos jovens e estimular a assunção de responsabilidades por parte deles. O empenho social e o contato direto com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação.(…) Assinalou-se também a disponibilidade a empenhar-se em campo político para a construção do bem comum’”. (n.170)

Iniciativas de compromisso concreto dos jovens:
“...grupos de jovens nas paróquias, escolas, movimentos ou grupos universitários costumam ir fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres, ou sair juntos para ajudar os mendigos nas chamadas ‘noites da caridade’...”  (n.171)

Participação da juventude em programas sociais:
“Outros jovens participam em programas sociais que visam construir casas para os sem-abrigo, bonificar áreas contaminadas, ou recolher ajudas para os mais necessitados... Os universitários podem unir-se de forma interdisciplinar para aplicar os seus conhecimentos na resolução de problemas sociais e, nesta tarefa, podem trabalhar lado a lado com jovens doutras Igrejas e doutras religiões”. (n.172)

Palavra de encorajamento da juventude na construção de uma civilização mais justa e fraterna:

“Quero encorajar-te a assumir este compromisso, porque sei que «o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram para as ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixeis para outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro! Através de vós, entra o futuro no mundo. Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança. Continuai a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não ‘olheis da sacada’ a vida, entrai nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… Não olheis da sacada a vida, mergulhai nela, como fez Jesus». Mas sobretudo, duma forma ou doutra, lutai pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo consumista e superficial”. (n.174)

Jovens enamorados por Cristo e o testemunho do Evangelho-ser luz:
“Enamorados por Cristo, os jovens são chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com a sua própria vida. Santo Alberto Hurtado dizia que ‘ser apóstolo não significa usar um distintivo na lapela do casaco; não significa falar da verdade, mas vivê-la, encarnar-se nela, transformar-se em Cristo. Ser apóstolo não é levar uma tocha na mão, possuir a luz, mas ser a luz. (...) O Evangelho (...), mais do que uma lição, é um exemplo. A mensagem transformada em vida vivida’” (n.175)

Juventude missionária em todos os lugares para irradiar a luz e esperança:
“... Não tenhais medo de ir e levar Cristo a todos os ambientes, até às periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente... E convida-nos a levar, sem medo, o anúncio missionário aos locais onde nos encontrarmos e às pessoas com quem convivermos: no bairro, no estudo, no desporto, nas saídas com os amigos, no voluntariado ou no emprego, é sempre bom e oportuno partilhar a alegria do Evangelho. É assim que o Senhor Se vai aproximando de todos; e pensou em vós, jovens, como seus instrumentos para irradiar luz e esperança, porque quer contar com a vossa coragem, frescor e entusiasmo”. (n.177)

A missão é um desafio:
“Não se pode esperar que a missão seja fácil e cômoda. Alguns jovens preferiram dar a própria vida a refrear o seu impulso missionário”. (n.178)

A colaboração da juventude que é o “agora de Deus”’:
“...Amigos, não espereis pelo dia de amanhã para colaborar na transformação do mundo com a vossa energia, audácia e criatividade. A vossa vida não é «entretanto»; vós sois o agora de Deus, que vos quer fecundos. Porque «é dando que se recebe», e a melhor maneira de preparar um bom futuro é viver bem o presente, com dedicação e generosidade”. (n.178)

Capítulo VI: JOVENS COM RAÍZES

Capítulo VI
JOVENS COM RAÍZES

Como uma árvore, os jovens precisam de raízes, pois é impossível que cresçam sem raízes fortes que ajudem a ficarem firmes e de pé. (n.179)

É preciso distinguir entre a alegria da juventude e o falso culto da mesma, que seduz jovens e os usam para seus fins. (n.180).

É preciso tomar cuidado, porque muitas ideologias precisam de jovens que desprezem a história, rejeitem a riqueza espiritual e humana, que se foi transmitindo através das gerações, ignorem tudo quanto os precedeu. (n.181)

O contrário também pode acontecer: manipuladores que se servem doutro recurso: “uma adoração da juventude, como se tudo o que não é jovem aparecesse detestável e caduco. O corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto e, consequentemente, tudo o que tenha a ver com este corpo é idolatrado e desejado sem limites, enquanto o que não for jovem é olhado com desprezo. Mas é uma arma que acaba por degradar os jovens, esvaziando-os de valores reais e utilizando-os para obter benefícios individuais, económicos ou políticos”. (n.182)

Não permitir que usem a juventude para promover uma vida superficial, que confunde beleza com aparência. (n.183).

“...Descobrir, mostrar e realçar esta beleza, que lembra a de Cristo na cruz, é colocar as bases da verdadeira solidariedade social e da cultura do encontro”. (n.183)

Há o perigo de uma espiritualidade sem Deus, bem como uma afetividade sem comunidade e compromisso com os que sofrem, com medo dos pobres, vistos como sujeitos perigos... (n. 184)

“Proponho-vos outro caminho, feito de liberdade, entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo tempo as raízes que nutrem e sustentam”. (n.184)

Há um perigo de desenraizamento dos jovens de suas origens culturais e religiosas de onde provêm, com a perda dos traços de sua identidade (n.185)

É preciso assumir as raízes, mas não se limitar a isto:

“Por isso, numa mensagem aos jovens indígenas reunidos no Panamá, exortava-os: ‘Assumi as vossas raízes! Mas não vos limiteis a isto. A partir destas raízes, crescei, florescei, frutificai’” (n.186)

Na relação da juventude com os idosos, é preciso “...Ajudar os jovens a descobrir a riqueza viva do passado, conservando-a na memória e valendo-se dela para as suas decisões e possibilidades, é um verdadeiro ato de amor para com eles visando o seu crescimento e as opções que são chamados a realizar”. (n.187)

 A Palavra de Deus recomenda que não se perca o contato com os idosos, para poder recolher a sua experiência, como se vê em várias passagens bíblicas. (nn. 188.189).

É preciso que a juventude mantenha-se aberta, para recolher uma sabedoria que se comunica de geração em geração; não é proveitosa a ruptura entre gerações. (nn.190.191)

Como diz o ditado: “Se o jovem soubesse e o velho pudesse, não haveria nada que não se fizesse”.  (n.191)

Sonhos e visões à luz da Profecia de Joel: “’Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões’ (Jl 3, 1; cf. At 2, 17). Se os jovens e os idosos se abrirem ao Espírito Santo, juntos produzem uma combinação maravilhosa: os idosos sonham e os jovens têm visões. Como se completam reciprocamente as duas coisas?” (nn.192.193.194.197)

“Por isso, é bom deixar que os idosos contem longas histórias, que às vezes parecem mitológicas, fantasiosas – são sonhos de anciãos –, mas frequentemente estão cheias duma rica experiência, de símbolos eloquentes, de mensagens escondidas...” (n.195)

No livro “A Sabedoria do Tempo”, o Papa menciona alguns desejos sob a forma de pedidos. “Que peço aos idosos, entre os quais me incluo a mim próprio? Peço que sejamos guardiões da memória...” (n.196)


É preciso caminhar juntos:

 “O amor que se dá e age, muitas vezes erra. Aquele que atua, aquele que arrisca, frequentemente comete erros... Quando as pessoas mais velhas olham com atenção a vida, com frequência compreendem instintivamente o que está por trás dos fios emaranhados e reconhecem o que Deus faz criativamente até mesmo com os nossos erros” . (n.198)

“Se caminharmos juntos, jovens e idosos, poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros, acalentar os corações, inspirar as nossas mentes com a luz do Evangelho e dar nova força às nossas mãos”. (n.199)

As raízes são um ponto de arraigamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios. É preciso amar o nosso tempo com as suas possibilidades e riscos, com as suas alegrias e sofrimentos, com as suas riquezas e limites, com os seus sucessos e erros. (n.200)

O Papa citando um jovem, compara a Igreja como uma canoa:
“...a Igreja é uma canoa, na qual os idosos ajudam a manter a rota, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força imaginando o que os espera mais além. Não nos deixemos extraviar nem pelos jovens que pensam que os adultos são um passado que já não conta, que já está superado, nem pelos adultos que julgam saber sempre como se deveriam comportar os jovens. O melhor é subirmos todos para a mesma canoa e, juntos, procurarmos um mundo melhor, sob o impulso sempre novo do Espírito Santo”. (n.201) 

Capítulo VII: A PASTORAL DOS JOVENS

Capítulo VII
A PASTORAL DOS JOVENS

O Papa nos convida a repensar a Pastoral juvenil, que enfrentou os impactos das mudanças sociais e culturais, sem a pretensão de oferecer um guia prático da pastoral ou um manual da pastoral juvenil. (nn.202.203)

“Assiste-se a proliferação e o crescimento de associações e movimentos com caraterísticas predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do Espírito que abre novos caminhos. Mas é necessário um aprofundamento da sua participação na pastoral de conjunto da Igreja, bem como uma maior comunhão entre eles e uma melhor coordenação da atividade”.  (n.202)

Reconhecer os próprios jovens como os agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados, mas livres para encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e ousadia. (n.203)

“É necessário assumir novos estilos e estratégias... A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo”. (n.204)

Recolher ainda mais as boas práticas: metodologias, linguagens, motivações, que se revelaram realmente atraentes para aproximar os jovens de Cristo e da Igreja. (n.205)

É preciso ser uma pastoral juvenil sinodal: “caminhar juntos”, com a  valorização – através dum dinamismo de corresponsabilidade – dos carismas que o Espírito dá a cada um dos membros da Igreja, de acordo com a respetiva vocação e missão, com participação e corresponsabilidade.  (n.206)

A Igreja como um maravilhoso poliedro, atraindo os jovens pela riqueza dos dons derramados pelo Espírito sobre ela, apesar de nossas misérias. (nn.207.208)

O Papa assinala grandes linhas de ação:

- Uma é a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do Senhor; (nn.210.211)
- A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência. (n.209.212-215)

“...qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos pobres. Se o amor fraterno é o «novo mandamento» (Jo 13, 34), «o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 10) e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens”. (n.215)

Favorecer a acolhida dos jovens, pois muitos deles encontram-se numa “situação profunda de orfandade”. (n 216)

Quanto desenraizamento! Se os jovens cresceram num mundo de cinzas, não é fácil para eles sustentar o fogo de grandes ilusões e projetos. Se cresceram num deserto vazio de sentido, como poderão ter vontade de se sacrificar para semear? A experiência de descontinuidade, desenraizamento e queda das certezas basilares, favorecida pela cultura mediática atual, provoca esta sensação de profunda orfandade à qual devemos responder, criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver”. (n.216)

Criar ‘lar’ é, em última análise, «criar família; é aprender a sentir-se unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, unidos de modo a sentir a vida um pouco mais humana. Criar lares, ‘casas de comunhão’, é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, menos indiferentes e anônimos”. (nn.217-220)

A pastoral das instituições educacionais, ressaltando a escola, que é uma plataforma para nos aproximarmos das crianças e dos jovens. Trata-se de um lugar privilegiado de promoção da pessoa e, por isso, a comunidade cristã sempre lhe dedicou grande atenção, quer formando professores e diretores, quer instituindo escolas próprias, de todo o género e grau. (nn.221-223).

Diferentes áreas de desenvolvimento pastoral favorecendo experiências de recolhimento, silêncio e oração; valorização dos momentos mais fortes do Ano Litúrgico, particularmente a Semana Santa, o Pentecostes e o Natal. Prezam muito também outros encontros de festas, que quebram a rotina e ajudam a experimentar a alegria da fé. (n.224).

Promover atividades de solidariedade em favor de crianças de pobres – “Muitos jovens cansam-se dos nossos programas de formação doutrinal, e mesmo espiritual, e às vezes reclamam a possibilidade de ser mais protagonistas em atividades que façam algo pelas pessoas”. (n.225)

Outras atividades: expressões artísticas, como o teatro, a pintura e outras, a música, a prática desportiva, a salvaguarda do meio ambiente... (n.226-228)

Mas não deixar de apresentar o essencial da fé cristã: “Estas e outras distintas possibilidades que se abrem à evangelização dos jovens não devem fazer-nos esquecer que, para além das mudanças na história e da sensibilidade dos jovens, há dons de Deus que são sempre atuais e contêm uma força que transcende todos os tempos e circunstâncias: a Palavra do Senhor sempre viva e eficaz, a presença de Cristo na Eucaristia que nos alimenta e o Sacramento do Perdão que nos liberta e fortalece. Podemos também mencionar a inesgotável riqueza espiritual que a Igreja conserva no testemunho dos seus Santos e no ensinamento dos grandes mestres espirituais. Embora tenhamos de respeitar as várias etapas e precisemos por vezes de esperar com paciência o momento certo, não podemos deixar de convidar os jovens para estas fontes de vida nova; não temos o direito de os privar de tanto bem”. (n.229)

É preciso pensar uma pastoral juvenil popular, “...além da habitual ação pastoral que realizam as paróquias e os movimentos, segundo determinados esquemas, é muito importante dar espaço a uma «pastoral juvenil popular», que tem estilo, tempos, ritmo e metodologia diferentes. É uma pastoral mais ampla e flexível que estimula, nos distintos lugares onde se movem concretamente os jovens, as lideranças naturais e os carismas que o Espírito Santo já semeou entre eles. Trata-se, antes de mais nada, de não colocar tantos obstáculos, normas, controles e enquadramentos obrigatórios aos jovens crentes que são líderes naturais nos bairros e nos diferentes ambientes. Devemos limitar-nos a acompanhá-los e estimulá-los, confiando um pouco mais na fantasia do Espírito Santo que age como quer”.  (n.230)

É preciso construir uma pastoral juvenil “...capaz de criar espaços inclusivos, onde haja lugar para todo o tipo de jovens e onde se manifeste, realmente, que somos uma Igreja com as portas abertas. Não é necessário sequer que uma pessoa aceite completamente todos os ensinamentos da Igreja para poder participar em alguns dos nossos espaços dedicados aos jovens...” (nn.234-238)

Juventude missionária (nn.239-240)

“Mas os jovens são capazes de criar novas formas de missão, nos mais variados setores. Por exemplo, visto que se movem tão bem nas redes sociais, é preciso envolvê-los para que as encham de Deus, de fraternidade, de compromisso’.  (n.241)

O acompanhamento dos jovens pelos adultos implica em respeito à liberdade. (n.242)

Como se dá a integração da Pastoral Juvenil com a Pastoral Familiar, favorecendo o acompanhamento do processo vocacional? (n.242).

Há uma carência de pessoas especializadas e dedicadas ao acompanhamento. Acreditar no valor teológico e pastoral da escuta implica repensar a renovação das formas com que, habitualmente, se expressa o ministério presbiteral e verificar as suas prioridades. (n.244)

Há a necessidade de preparar consagrados e leigos, homens e mulheres, qualificados para o acompanhamento dos jovens. (n.244)

É preciso acompanhar, de modo especial, os jovens que se apresentam como potenciais líderes, para que possam formar-se e preparar-se. (n.245)

É preciso desenvolver programas de liderança juvenil, para a formação e desenvolvimento contínuo de jovens líderes. (n.245)

Falta de figuras femininas de referência dentro da Igreja, para a qual desejam, elas também, contribuir com os seus dons intelectuais e profissionais.  (n.245)

Seminaristas e religiosos, deveriam ser mais capacitados para acompanhar os jovens líderes. (n.245)

Qualidades que devem ter aqueles que acompanham os jovens:

- ser um cristão fiel comprometido na Igreja e no mundo;
- uma tensão contínua para a santidade;
- não julgar, mas cuidar;
- escutar ativamente as necessidades dos jovens;
- responder com gentileza;
- conhecer-se;
- saber reconhecer os seus limites;
- conhecer as alegrias e as tribulações da vida espiritual;
- saber reconhecer-se humano e capaz de cometer erros: não perfeitos, mas pecadores perdoados;
- não levar os jovens a serem seguidores passivos, mas sim a caminhar ao seu lado, deixando-os ser os protagonistas do seu próprio caminho;
- respeitar a liberdade do processo de discernimento de um jovem, fornecendo-lhe os instrumentos para realizar adequadamente este processo;
- confiar sinceramente na capacidade que tem cada jovem de participar na vida da Igreja;
- cultivar as sementes da fé nos jovens, sem pressa de ver os frutos do trabalho que vem do Espírito Santo;
- este papel não deveria ser circunscrito aos presbíteros e aos religiosos, mas também ao laicato;
- devem beneficiar duma boa formação permanente.  (n.246)


CAPÍTULO VIII - A VOCAÇÃO

                                                      

A VOCAÇÃO

Vocação, como chamado de Deus:
- à vida;
- à amizade com Ele, (nn.250-252);
- à santidade (nn.248-249).

A vocação para o serviço missionário: ser para os outros (nn.253-258)

“Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. Por conseguinte, devemos pensar que toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional”. (n,254)

“...Santo Alberto Hurtado dizia aos jovens que se deve tomar muito a sério o rumo: ‘Num barco, o piloto negligente é despedido sem remissão, porque joga com algo demasiado sagrado. E nós, na vida, cuidamos do nosso rumo? Qual é o teu rumo? Haveria necessidade de nos determos ainda mais sobre esta questão; peço a cada um de vós que lhe dê a máxima importância, porque acertar nisto equivale simplesmente a ter êxito; e não o conseguir é simplesmente falhar’”. (n.257)

Este “ser para os outros”, na vida de cada jovem, está relacionado com duas questões fundamentais:

-  a formação duma nova família (nn.259-267);
-  o trabalho. (nn.258-273)
- Vocações para uma consagração especial (nn.274-277): é preciso fazer a proposta.

Em relação ao amor e à família:
- convida a retomar os capítulos IV e V Amoris Laetitia;
- A família continua a ser o principal ponto de referência para os jovens; ( n.262)
- apesar das dificuldades encontradas na família de origem, o Papa afirma vale a pena apostar na família pois nela se encontram os melhores estímulos para o amadurecimento e as mais belas alegrias para partilhar; (n.263)
- não ceder a ilusória cultura do provisório (nada pode ser definitivo) (n.264)
- encorajamento para a opção do matrimônio (n.264)

Há uma necessidade de preparação para o matrimônio:
- educar-se a si mesmo;
- desenvolver as melhores virtudes, sobretudo o amor, a paciência, a capacidade do diálogo e de serviço;
- educar a própria sexualidade para que seja sempre menos um instrumento para usar os outros e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa, de maneira exclusiva e generosa (n.265).

É preciso, antes de tudo, que se viva a vocação batismal, a primeira e a mais importante (n.267).

Em relação ao trabalho:
- Ressalta a importância e a necessidade do trabalho (n. 268)
- “o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal...” (Laudato Si citada no n.269)
- o desemprego juvenil como uma forma de exclusão e marginalização (n.270);
- a questão delicada: a substituição do trabalho por máquinas (n.271).

O trabalho é:
- expressão da dignidade humana;
- caminho de maturação e inserção social;
- um estímulo constante para o crescimento em responsabilidade e criatividade;
- uma proteção contra a tendência para o individualismo e a comodidade;
- serve para dar glória a Deus com o desenvolvimento das próprias capacidades (n.271).

Somos chamados apesar de nossas imperfeições e  erros, com a necessidade de espaços de calma e silêncio, que permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao redor, e com Jesus, reconhecer, com Jesus, qual é a vocação que temos na terra (n.277).


- o silêncio interior;
- o olhar de Jesus para nós;
- o chamado.

Capítulo IX: O DISCERNIMENTO


Capítulo IX
O DISCERNIMENTO

O Papa retoma a questão sobre o discernimento em geral, para a vocação própria no mundo, que foi apresentado na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate. (n. 278)

“Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião” (n.279)

A formação da consciência permite ao discernimento crescer em profundidade e fidelidade a Deus:

- formar a consciência requer o caminho da vida inteira, no qual se aprende a cultivar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, assumindo os critérios das suas opções e as intenções da sua atividade (cf. Fl 2, 5)”  (nn.280-282)

O discernimento da vocação é uma tarefa que requer espaços de solidão e silêncio, porque se trata duma decisão muito pessoal que mais ninguém pode tomar no nosso lugar. (nn.283-286))

No discernir a própria vocação, há várias perguntas que é preciso colocar-se:

“Não se deve começar por questionar onde se poderia ganhar mais dinheiro, onde se poderia obter mais fama e prestígio social, mas também não se deveria começar perguntando quais tarefas nos dariam mais prazer. Para não se enganar, é preciso mudar de perspectiva, perguntando: Conheço-me a mim mesmo, para além das aparências ou das minhas sensações? Sei o que alegra ou entristece o meu coração? Quais são os meus pontos fortes e as minhas fragilidades? E, logo a seguir, vêm outras perguntas: Como posso servir melhor e ser mais útil ao mundo e à Igreja? Qual é o meu lugar nesta terra? Que poderia eu oferecer à sociedade? E surgem imediatamente outras muito realistas: Tenho as capacidades necessárias para prestar este serviço? Em caso negativo, poderei adquiri-las e desenvolvê-las?” (n.285)

No discernimento da vocação, é preciso reconhecer que a mesma é a chamada de um amigo: Jesus. (nn.287-288)

“O dom da vocação será, sem dúvida, um dom exigente. Os dons de Deus são interativos e, para os desfrutar, é preciso pôr-me em campo, arriscar”. (n.289)

“Quando o Senhor suscita uma vocação, não pensa apenas no que és, mas em tudo o que poderás, juntamente com Ele e os outros, chegar a ser”.  (n.289)

“Antes de toda a lei e dever, aquilo que Jesus nos propõe escolher é um seguimento como o de amigos que se frequentam, procuram e encontram por pura amizade. Tudo o mais vem depois; e até os fracassos da vida poderão ser uma experiência inestimável de tal amizade que não se rompe jamais”. (n.290)

Escuta e acompanhamento feitos por sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, profissionais e até jovens qualificados, que podem acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional. (n.291)

Para ajudar o outro a discernir o caminho da sua vida, a primeira coisa a fazer é ouvir. Esta escuta pressupõe três sensibilidades ou atenções diferentes e complementares:

-   A primeira sensibilidade ou atenção é à pessoa. Trata-se de escutar o outro, que se nos dá com as suas palavras. (n.292)
-   A segunda sensibilidade ou atenção é no discernir. (n.293)
- A terceira sensibilidade ou atenção consiste em escutar os impulsos «para diante» que o outro experimenta. É a escuta profunda do ponto «para onde o outro quer verdadeiramente ir». (n,294)

O discernimento torna-se um instrumento de compromisso forte para seguir melhor o Senhor. (n.295).

Quando alguém escuta a outro desta maneira, a dado momento deve desaparecer para deixá-lo seguir o caminho que ele descobriu. Desaparecer como desaparece o Senhor da vista dos Seus discípulos, deixando-os sozinhos, com o ardor do coração, que se transforma num impulso irresistível de se porem a caminho (cf. Lc 24, 31-33). De regresso à comunidade, os discípulos de Emaús receberam a confirmação de que o Senhor verdadeiramente ressuscitou (cf. Lc 24, 34).  (n.296)

Devemos suscitar e acompanhar processos, não impor percursos. Trata-se de processos de pessoas, que sempre são únicas e livres. Por isso, é difícil elaborar receituários, mesmo quando todos os sinais forem positivos. (n.297)

“...para acompanhar os outros neste caminho, primeiro precisas de ter o hábito de o percorreres tu próprio” (n.298)

Maria assim o fez, enfrentando as suas questões e as suas próprias dificuldades, quando era ainda muito jovem. (n.298)

Conclui com um desejo:

“Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi ‘atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre.

O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós’”.  (n.299)

Quanto mais próximos de Deus, mais fraternos

Quanto mais próximos de Deus, mais fraternos

Vejamos o que nos diz Doroteu de Gaza (séc. VI), sobre a verdadeira e fecunda caridade.

“Adquiramos nós também a caridade. Adquiramos a misericórdia para com o próximo a fim de evitar a terrível maledicência, o julgar e desprezar.

Ajudemo-nos uns aos outros como aos nossos próprios membros. Se alguém tem uma ferida na mão, no pé ou em outra parte do corpo, sente acaso nojo de si mesmo? Corta-se o membro enfermo, ainda que esteja apodrecendo? Pelo contrário, não o lavaria, limparia, lhe colocaria emplastos e faixas, o untaria com óleo santo, rogaria e fará os santos rogar por ele, como diz o Abade Zózimo?

Em resumo, não abandona o seu membro, seu mau odor não lhe causa nojo, faz tudo para curá-lo. Assim devemos compadecer-nos uns dos outros, ajudar-nos mutuamente, ou servindo-se de outros mais capazes, fazer tudo com o pensamento e com as obras para socorrer-nos a nós mesmos e uns aos outros. Porque afirma o Apóstolo, somos membros uns dos outros. Portanto, se formamos um só corpo e somos cada um por nossa parte membros uns dos outros, quando ‘um membro sofre, todos os membros sofrem com ele’.

A seu entender, o que são os monastérios? Não são como um só corpo com seus membros? Os que governam são a cabeça, os que cuidam e corrigem são os olhos, os que servem pela palavra são a boca, as orelhas são aqueles que obedecem, as mãos os que trabalham, os pés os que cumprem a incumbência e garantem os serviços.

És cabeça? Governa. És os olhos? Sê atento e observa. És a boca? Fala para proveito. És a orelha? Obedece. A mão? Trabalha. O pé? Cumpre teu serviço.

Que cada um, como possa, trabalhe pelo corpo. Sejam sempre solícitos em ajudarem-se uns aos outros, seja instruindo e semeando a Palavra de Deus no coração do irmão, seja consolando-o em momento de prova ou prestando-lhe assistência e ajudando-o em seu trabalho. Em uma palavra: cuide cada um, como possa, segundo o que lhes foi dito, de que permaneçam unidos uns aos outros, visto que quanto mais unido se está ao próximo, mais unido se está a Deus.

Para que compreendam o sentido desta orientação, vou dar-lhes uma imagem tirada dos Padres: Imaginem um círculo traçado sobre a terra, ou seja, uma circunferência feita com um compasso e um centro.

Chama-se precisamente centro ao centro do círculo. Prestem atenção ao que lhes digo: Imaginem que este círculo é o mundo, o centro é Deus, e seus raios, as diferentes formas ou maneiras dos homens viverem.

Quando os santos desejosos de aproximarem-se de Deus caminham para o centro do círculo, à medida que penetram em seu interior vão se aproximando um do outro ao mesmo tempo em que se aproximam de Deus. Quanto mais se aproximam de Deus, mais se aproximam uns dos outros; e quanto mais se aproximam uns dos outros, mais se aproximam de Deus.

E compreender que o mesmo acontece em sentido inverso, quando dando as costas para Deus nos retiramos para o exterior, é então evidente que, quanto mais nos distanciamos de Deus, mais nos distanciamos uns dos outros, e quanto mais nos distanciamos uns dos outros, mais nos distanciamos também de Deus.

Tal é a natureza da caridade. Quando estamos no exterior e não amamos a Deus, na mesma medida estamos distanciados com relação ao próximo. Mas se amamos a Deus, quanto mais nos aproximamos de Deus pela caridade tanto mais estaremos unidos em caridade ao próximo, e quanto estivermos unidos ao próximo tanto o estaremos de Deus.

Que Deus nos torne dignos de compreender aquilo que nos é de proveito e realizá-lo! Porque quanto mais nos preocupemos por cumprir diligentemente o que entendemos, mais Deus nos concederá a Sua luz e nos ensinará a Sua vontade”. (1)

Ressalto a importância da caridade, que deve crescer a cada dia em nosso coração, para que sejamos mais humanos e fraternos, e isto somente se dará quando Deus tiver a devida centralidade em nossa vida.

A centralidade divina em nossa vida é garantia de laços mais fraternos. Quanto mais próximos de Deus, quanto maior o espaço que Ele ocupar em nossa vida, mais empenhados em viver a caridade o seremos, e isto será expresso no cuidado mútuo, para que todos tenhamos vida plena e feliz.

A caridade vivida cura as feridas do corpo, e aquelas ainda mais desafiadoras: as feridas da alma. Deste modo, a centralidade de Deus em nossa vida nos revigora, para que nos tornemos também mais solidários e sensíveis à dor e à enfermidade do nosso próximo.

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.389-390 

O milagre do amor e da partilha (04/12)

                          

O milagre do amor e da partilha

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 15,29-37), vemos Jesus curando os enfermos e fazendo o sinal da multiplicação dos pães.

Oremos:

Cristo Jesus, contemplamos na multiplicação dos pães a representação e o pré-anúncio do Vosso Banquete Eucarístico, mais tarde celebrados com Seus Apóstolos, e por nós para sempre até que volteis gloriosamente.

Cristo Jesus, neste Vosso Banquete tiveram lugar, principalmente, os pobres, doentes, desamparados, humildes e todos aqueles que ajudam os necessitados, com gestos de amor, partilha e solidariedade.

Cristo Jesus, também queremos dele participar, procurando a Vós com humildade, conscientes de nossa miséria, e acolhidos pela Vossa infinita misericórdia, que nos convida e nos acolhe, não pelos nosso méritos.

Cristo Jesus, por Vós somos curados, de modo especial através dos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia, principalmente, na mais estreita e desejada relação e interação.

Cristo Jesus, com poucos pães e poucos peixes, Vos revelastes como nossa divina fonte de vida e Salvação, no sinal do amor, partilha e comunhão.

Cristo Jesus, que a oferta de nossas ações, sofrimentos e alegrias, e de nosso trabalho, se tornem para nós matéria por Vós assumida e eucaristizada, como parte integrante do Vosso Divino Sacrifício Redentor.

Cristo Jesus, convosco, neste sinal, aprendemos a recolher os fragmentos, cuidando das minúcias, dos pormenores, com atenção às pequenas coisas, as únicas que podemos oferecer para que nada a ninguém venha a faltar.

Cristo Jesus, seja também para nós uma advertência à nossa civilização de abundância e do consumo de poucos e a fome e a miséria de muitos, para um mais generoso desinteresse no uso dos bens, de modo que ninguém fique excluído do essencial para uma vida digna e feliz.

Cristo Jesus, que partícipes do Vosso Banquete, aprendamos com a mais bela lição que nos destes neste sinal, o mesmo a fazer, em alegre e generosa doação de tudo que temos e somos, de modo especial aos que nada possuem. Amém.



Fonte de Inspiração: Comentário do Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.21.

Apropriado para a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 8,1-10)

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