Capítulo V
PERCURSOS DE JUVENTUDE
Como
se vive a juventude?
Quando
nos deixamos iluminar e transformar pelo grande anúncio do Evangelho? (n.134)
Juventude
é dom de Deus, de modo que ser jovem é uma graça, uma ventura que não podemos
desperdiçar, mas receber agradecidos e vive-la em plenitude. (n.134).
“Deus é o autor
da juventude e age em cada jovem. A juventude é um tempo abençoado para o jovem
e uma bênção para a Igreja e o mundo. É uma alegria, uma canção de esperança e
uma beatitude... período da vida como um momento precioso, e não como uma fase
de passagem onde os jovens se sentem empurrados para a idade adulta”. (n. 135):
- Juventude como tempo de
sonhos e opções (nn.136-143);
- A
vontade de viver e experimentar (nn. 144-149);
-
Na amizade de Cristo (nn. 150-157);
- O
crescimento e a maturação (nn.158-162);
-
Percursos de fraternidade (nn. 163-167);
-
Jovens comprometidos (nn. 168-174);
-
Missionários corajosos (nn. 175-178).
Destaco
alguns parágrafos:
Como
o Papa vê um jovem:
“Vejo um jovem ou
uma jovem à procura do seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que
assoma ao mundo e fixa o horizonte com olhos cheios de esperança, cheios de
futuro e também de ilusões. O jovem caminha com dois pés como os adultos, mas,
ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, aquele coloca um atrás do
outro, pronto a arrancar, a partir. Sempre a olhar para diante. Falar de jovens
significa falar de promessas, significa falar de alegria. Os jovens têm tanta
força, são capazes de olhar com tanta esperança! Um jovem é uma promessa de
vida, que traz em si um certo grau de tenacidade; tem um grau suficiente de
insensatez para poder enganar-se a si mesmo e uma capacidade suficiente para
curar a decepção que daí pode derivar” (n.139).
A
Perseverança no caminho dos sonhos:
“Devemos
perseverar no caminho dos sonhos. Para isso, é preciso ter cuidado com uma
tentação que muitas vezes nos engana: a ansiedade. Pode tornar-se uma grande
inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são
imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e
determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar
bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros;
devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida,
sujeitos que não vivem porque não querem arriscar, não perseveram nos seus
compromissos ou têm medo de errar. Ainda que erres, poderás sempre levantar a
cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a
esperança”.
(n.142)
Não
renunciar ao melhor do tempo da juventude:
“Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa
juventude, não fiqueis a observar a vida da sacada. Não confundais a felicidade
com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum visor. E tampouco vos
reduzais ao triste espetáculo dum veículo abandonado. Não sejais carros
estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda que vos
enganeis, arriscai. Não sobrevivais com a alma anestesiada, nem olheis o mundo
como se fôsseis turistas. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos
paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao
melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos
aposenteis antes do tempo”. (n.143)
Preparar
o amanhã, mas viver o presente:
“A Palavra de
Deus convida-te claramente a viver o presente, e não só a preparar o amanhã:
‘Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas
preocupações. Basta a cada dia o seu problema’ (Mt 6, 34). Isto, porém,
não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa
vazios e sempre insatisfeitos, mas convida-nos a viver plenamente o presente,
usando as nossas energias para fazer coisas boas, cultivando a fraternidade,
seguindo Jesus e apreciando cada pequena alegria da vida como um presente do
amor de Deus”. (n.147)
É
preciso encontrar com o grande Amigo – Jesus:
“Por mais que
vivas e experimentes, nunca chegarás às profundezas da juventude, nem
conhecerás a verdadeira plenitude de ser jovem, se não te encontrares cada dia
com o grande Amigo, se não viveres na amizade de Jesus”. (n. 150)
O
que é a amizade, segundo o Papa:
“A amizade é um
presente da vida e um dom de Deus. Através dos amigos, o Senhor purifica-nos e
faz-nos amadurecer. Ao mesmo tempo, os amigos fiéis, que permanecem ao nosso
lado nos momentos difíceis, são um reflexo do carinho do Senhor, da sua
consolação e da sua amorosa presença. Ter amigos ensina-nos a abrir-nos, a
compreender, a cuidar dos outros, a sair da nossa comodidade e isolamento, a
partilhar a vida. Por isso, ‘nada se pode comparar a um amigo fiel, e nada se
iguala ao seu valor’
(Sir6, 15)”. (n.151)
“A amizade não é
uma relação fugaz e passageira, mas estável, firme, fiel, que amadurece com o
passar do tempo. É uma relação de afeto que nos faz sentir unidos e, ao mesmo
tempo, é um amor generoso que nos leva a procurar o bem do amigo. Embora os
amigos possam ser muito diferentes entre si, há sempre algumas coisas em comum
que os leva a sentir-se próximos, e há uma intimidade que se partilha com
sinceridade e confiança”. (n.152)
“A amizade é tão
importante que o próprio Jesus Se apresenta como amigo: ‘Já não vos chamo
servos (…), a vós chamei-vos amigos’ (Jo 15, 15)... Os discípulos ouviram
a chamada de Jesus à amizade com Ele; foi um convite que não os forçou,
propondo-se delicadamente à sua liberdade: ‘Vinde e vereis – disse-lhes; e eles
foram –, viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia’ (Jo 1, 39). Depois
daquele encontro, íntimo e inesperado, deixaram tudo e partiram com Ele”
(n.153)
“A amizade com
Jesus é indissolúvel. Nunca nos deixa, embora às vezes pareça calado. Quando
precisamos d’Ele, deixa-Se encontrar por nós (cf. Jr 29, 14), e está
ao nosso lado para onde quer que formos (cf. Js 1, 9). Porque Ele
nunca quebra uma aliança. A nós, pede-nos para não O abandonarmos: ‘Permanecei
em Mim, que Eu permaneço em vós’ (Jo 15, 4). Mas, se nos afastarmos, ‘Ele
permanecerá fiel, pois não pode negar-Se a Si mesmo’ (2 Tim 2, 13)”. (n.154)
A
oração como desafio e aventura:
“Com o amigo,
conversamos, partilhamos as coisas mais secretas. Com Jesus, também
conversamos. A oração é um desafio e uma aventura. E que aventura! Permite que
O conheçamos cada vez melhor, entremos no seu mistério e cresçamos numa união
cada vez mais forte. A oração permite-nos contar-Lhe tudo o que nos acontece e
permanecer confiantes nos seus braços e, ao mesmo tempo, proporciona-nos
momentos de preciosa intimidade e afeto, onde Jesus derrama a sua própria vida
em nós. Rezando, «abrimos o jogo» a Ele, damos-Lhe lugar «para que Ele possa
agir, possa entrar e possa vencer». (n. 155)
Juventude
unida num único sonho:
“Jesus pode unir
todos os jovens da Igreja num único sonho...O sonho, pelo qual Jesus deu a vida
na cruz, e o Espírito Santo no dia de Pentecostes foi derramado e gravado a
fogo no coração de cada homem e mulher, no coração de cada um. (…) um sonho
chamado Jesus, semeado pelo Pai... Um sonho concreto, que é uma Pessoa, que
corre nas nossas veias, faz exultar e dançar de alegria o coração”. (n. 157)
Um
testemunho do Papa:
“Quando comecei o
meu ministério como Papa, o Senhor alargou os meus horizontes e deu-me uma
renovada juventude. O mesmo pode acontecer com um casal já com muitos anos de
matrimônio, ou com um monge no seu mosteiro. Há coisas que precisam dos anos
para se consolidar, mas este amadurecimento pode coexistir com um fogo que se
renova, com um coração sempre jovem”. (n.160)
Ninguém
será santo nem se realizará copiando os outros:
“A tua vida deve
ser um estímulo profético que sirva de inspiração para os outros, que deixe uma
marca neste mundo, aquela marca única que só tu poderás deixar. Ao passo que,
se copiares, privarás esta terra e também o Céu daquilo que mais ninguém poderá
oferecer no teu lugar...” (n.162)
A
manifestação do crescimento espiritual:
O crescimento
espiritual manifesta-se, sobretudo, no amor fraterno, generoso, misericordioso.
Viver o «êxtase» que consiste em sair de si mesmo para busca o bem dos outros,
até dar a vida. (n. 163)
Espaço
para viver a fé em comunidade:
- A Igreja
oferece muitos e variados espaços para viver a fé em comunidade, porque,
juntos, tudo é mais fácil. (n. 164)
-
“...Cada idade tem a sua beleza, e à
juventude não pode faltar a utopia comunitária, a capacidade de sonhar juntos,
os grandes horizontes que contemplamos juntos” (n. 166)
-
“Deus ama a alegria dos jovens e
convida-os sobretudo à alegria que se vive na comunhão fraterna, ao júbilo
superior de quem sabe partilhar... Diz um provérbio africano: ‘se queres andar
rápido, caminha sozinho. Se queres chegar longe, caminha com os outros’. Não
deixemos roubar-nos a fraternidade”. (n. 167)
A
tentação dos jovens se fecharem:
“...perante um
mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem correr o risco de se
fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios da vida em sociedade,
dum mundo vasto, estimulante e necessitado. Têm a sensação de viver o amor
fraterno, mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do
próprio eu. Isto agrava-se, se a vocação do leigo for concebida unicamente como
um serviço interno da Igreja (leitores, acólitos, catequistas, etc.),
esquecendo-se que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na
família, a caridade social e caridade política: é um compromisso concreto
nascido da fé para a construção duma sociedade nova, é viver no meio do mundo e
da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz,
a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender
o Reino de Deus no mundo”. (n. 168)
Amizade
social e inimizade social:
É
preciso ir mais além dos grupos de amigos e construir a amizade social: “buscar
o bem comum chama-se amizade social. A inimizade social destrói. E uma família
destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo
destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o
mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar
(…). Sede capazes de criar a amizade social...” (n.169)
O
compromisso social e político da juventude:
“...O compromisso
social é um traço caraterístico dos jovens de hoje. Ao lado de alguns
indiferentes, há muitos outros disponíveis para se comprometerem em iniciativas
de voluntariado, cidadania ativa e solidariedade social, o que é preciso
acompanhar e encorajar para fazer surgir os talentos, as competências e a
criatividade dos jovens e estimular a assunção de responsabilidades por parte
deles. O empenho social e o contato direto com os pobres continuam a ser uma
oportunidade fundamental para descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a
própria vocação.(…) Assinalou-se também a disponibilidade a empenhar-se em
campo político para a construção do bem comum’”. (n.170)
Iniciativas
de compromisso concreto dos jovens:
“...grupos de
jovens nas paróquias, escolas, movimentos ou grupos universitários costumam ir
fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres, ou sair juntos
para ajudar os mendigos nas chamadas ‘noites da caridade’...” (n.171)
Participação
da juventude em programas sociais:
“Outros jovens
participam em programas sociais que visam construir casas para os sem-abrigo,
bonificar áreas contaminadas, ou recolher ajudas para os mais necessitados...
Os universitários podem unir-se de forma interdisciplinar para aplicar os seus
conhecimentos na resolução de problemas sociais e, nesta tarefa, podem
trabalhar lado a lado com jovens doutras Igrejas e doutras religiões”. (n.172)
Palavra de
encorajamento da juventude na construção de uma civilização mais justa e
fraterna:
“Quero
encorajar-te a assumir este compromisso, porque sei que «o teu coração, coração
jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo
que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram para as ruas para
expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas
ruas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não
deixeis para outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o
futuro! Através de vós, entra o futuro no mundo. Também a vós, eu peço para
serdes protagonistas desta mudança. Continuai a vencer a apatia, dando uma
resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em
várias partes do mundo. Peço-vos para serdes construtores do futuro, trabalhai
por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não ‘olheis da sacada’ a vida,
entrai nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… Não olheis da sacada a vida,
mergulhai nela, como fez Jesus». Mas sobretudo, duma forma ou doutra, lutai
pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da
caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo
consumista e superficial”. (n.174)
Jovens
enamorados por Cristo e o testemunho do Evangelho-ser luz:
“Enamorados por
Cristo, os jovens são chamados a dar testemunho do Evangelho em toda parte, com
a sua própria vida. Santo Alberto Hurtado dizia que ‘ser apóstolo não significa
usar um distintivo na lapela do casaco; não significa falar da verdade, mas vivê-la,
encarnar-se nela, transformar-se em Cristo. Ser apóstolo não é levar uma tocha
na mão, possuir a luz, mas ser a luz. (...) O Evangelho (...), mais do que uma
lição, é um exemplo. A mensagem transformada em vida vivida’” (n.175)
Juventude
missionária em todos os lugares para irradiar a luz e esperança:
“... Não tenhais
medo de ir e levar Cristo a todos os ambientes, até às periferias existenciais,
incluindo quem parece mais distante, mais indiferente... E convida-nos a levar,
sem medo, o anúncio missionário aos locais onde nos encontrarmos e às pessoas
com quem convivermos: no bairro, no estudo, no desporto, nas saídas com os
amigos, no voluntariado ou no emprego, é sempre bom e oportuno partilhar a
alegria do Evangelho. É assim que o Senhor Se vai aproximando de todos; e
pensou em vós, jovens, como seus instrumentos para irradiar luz e esperança,
porque quer contar com a vossa coragem, frescor e entusiasmo”. (n.177)
A
missão é um desafio:
“Não se pode
esperar que a missão seja fácil e cômoda. Alguns jovens preferiram dar a
própria vida a refrear o seu impulso missionário”. (n.178)
A
colaboração da juventude que é o “agora de Deus”’:
“...Amigos,
não espereis pelo dia de amanhã para colaborar na transformação do mundo com a
vossa energia, audácia e criatividade. A vossa vida não é «entretanto»; vós
sois o agora de Deus, que vos quer fecundos. Porque «é dando que
se recebe», e a melhor maneira de preparar um bom futuro é viver bem o
presente, com dedicação e generosidade”. (n.178)