“Não sabeis o que pedir”, respondeu o Senhor ao pedido de João e Tiago de se sentarem à Sua direita e à Sua esquerda. E assim afirmou o Bispo São João Crisóstomo (séc V), acerca destas palavras do Senhor, que nos ilumina e nos dá coragem para continuarmos a travessia pelo deserto da vida:
“Não é tempo de coroas e de prêmios, mas de combates, lutas, suores, de provas e de pelejas... Todavia, não provastes os cárceres, ainda não saístes ao campo para combater...
Nesta passagem Ele chama Cálice e Batismo a Sua Cruz e a Sua morte: Cálice, pela avidez com que o consome; Batismo, porque mediante a Sua morte estava para purificar o orbe da terra; e não só o redimia deste modo, mas mediante a ressurreição, se bem que esta não lhe era penosa...
Vós, certamente, morrereis, vos matarão, alcançareis a coroa do martírio; porém, quanto a que sejais os primeiros, não cabe a mim concedê-lo; o receberão aqueles que lutam com baste em seu maior esforço, em atenção à sua maior prontidão de espírito” (1)
Uma vida cristã autêntica nos faz peregrinos longe do Senhor, embora esteja tão perto, mais presente dentro do coração de quem o procura de coração sincero, do que a própria pessoa, como expressou o Bispo São Agostinho em suas Confissões.
Enquanto peregrinos, anunciar e testemunhar Aquele que encontramos; viver cada instante com ardor e fidelidade ao Senhor, com renúncias necessárias, e assim, carregando a cruz, viver a graça do Batismo, pondo-se a caminho e bebendo do Cálice do Senhor: Morte e Cruz, até que mereçamos alcançar a glória da imortalidade.
Mas por ora, é tempo do combate, do bom combate da fé, das lutas inadiáveis, dos suores que verterão, até mesmo de sangue, se preciso for, como agonia de quem acredita e espera o melhor de Deus, como o Senhor naquela noite memorável.
Tempo de suores pelo peso da cruz sobre os ombros, às vezes secados por mãos solidárias, que também nos ajudam a carregá-la, e que assim também o façamos em relação ao nosso próximo, sendo “Cirineus” uns para os outros, em mútua solidariedade no longo caminho.
Tempo de provas e pelejas, vencendo os medos paralisantes e não nos deixando contaminar pelo fermento farisaico do não compromisso, da não fidelidade ao Projeto divino. Tão apenas levedado pelo “fermento divino do amor”, que nos concede abundantemente, o Senhor.
Provas e pelejas na família, na comunidade e em todo lugar, sem escolhas, renúncias, omissões, covardia e deserção, iluminados pela luz resplandecente do Sol Nascente, até que mereçamos contemplar a face de Deus, com todos os Anjos e Santos, alcançando a gloriosa Ressurreição.
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - p.489
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