Religião pura e agradável a Deus
Na quarta-feira da 5ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 7,14-23), e somos convidados a refletir sobre a verdadeira religião agradável a Deus.
Esta pressupõe o contínuo esforço de conversão para que tenhamos pureza de coração, pois como o próprio Senhor disse “somente os puros de coração verão a Deus” (Mt 5,8).
Na passagem do Livro do Deuteronômio (Dt 4,1-2.6-8), Moisés já acentuara o compromisso do Povo com a Palavra de Deus e Sua Aliança, numa sincera acolhida e vivência de Sua Lei.
A Lei Divina deve ser vivida como expressão de gratidão a Deus; ainda mais porque ela é garantia de felicidade e liberdade, para concretizar os sonhos e esperanças do Povo Eleito e amado por Deus.
Não se pode adulterar a Palavra de Deus ao sabor dos interesses pessoais, bem como, não se pode adaptar, amenizar, suprimir e nada acrescentar à Palavra de Deus.
Alguns perigos que nos acompanham:
- o esvaziamento da radicalidade da Palavra;
- cortar (omitir) seus aspectos mais questionadores;
- fazermos ou dizermos coisas que não procedem de Deus;
- de cair num ativismo em que sacrificamos o tempo do silêncio orante diante de Deus, na acolhida de Sua Palavra;
- esvaziamento de seu conteúdo por causa do cansaço, da perda do sentido e consequente falta de espiritualidade e intimidade com a Palavra de Deus.
Encontramos na Carta de São Tiago uma passagem (Tg 1,17-18.21-22.27), que fortalece esta inseparável relação entre fé e obras.
A fidelidade aos ensinamentos de Cristo nos compromete com o próximo (representado na figura do órfão e da viúva). E nisto consiste a verdadeira religião, pura e sem mancha: solidariedade vivida e vigilância, para não se contaminar com os contravalores que o mundo apresenta.
É necessária a superação da frieza, do legalismo e do ritualismo religioso, procurando viver uma Religião comprometida com o Reino por Jesus inaugurado.
O autor da Carta nos exorta a não sermos meros ouvintes da Palavra, mas praticantes da mesma, não nos enganando a nós mesmos.
A Palavra de Deus quer encontrar no coração humano a frutuosa acolhida, portanto, há um itinerário da Palavra: acolher, acreditar, anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, que nos garante vida e felicidade plena.
Voltando à passagem do Evangelho que nos convida à pureza de coração, vemos que discípulo de Jesus não pode tão apenas “parecer” é preciso “ser” sinal vivo da presença de Deus.
Não basta parecer justo, tem que ser justo; não basta parecer piedoso, tem que ser piedoso; não basta parecer verdadeiro, tem que ser verdadeiro...
Mais que uma “carapaça exterior” é preciso de uma “coluna vertebral interior”.
A verdadeira religião não vive de aparências, e exige de cada crente uma sólida e forte estrutura para suportar o peso da cruz, a coragem do testemunho, a coerência de vida, o esforço contínuo de conversão, a solidariedade constante, caminho que não tem volta e tem apenas um destino: o céu.
Os mestres da Lei e os fariseus tinham aproximadamente 613 preceitos a cumprir (365 proibições e 248 prescrições). O povo simples, por não os conhecer, nem os praticar, era considerado impuro, e este será um tema de grande polêmica entre Jesus e os fariseus em vários momentos.
Para Jesus importa a pureza interior, a pureza do coração que é a sede de todos os sentimentos, desejos, pensamentos, projetos e decisões.
Jesus afirma: o que torna o homem impuro é o que sai de seu coração (apresenta uma longa lista) e não o que entra pela sua boca.
É do coração humano puro que nasce uma autêntica religião, a religião do coração, da intimidade profunda com Deus.
As Leis da Igreja não têm fins em si mesmas, mas garantem a nossa comunhão com Deus e com o próximo, na concretização do Reino.
Dando os primeiros passos do ano Litúrgico, cultivemos maior intimidade e compromisso com a Palavra de Deus para que produzamos os frutos por Deus esperados.
É preciso dar mais tempo à Palavra de Deus, em frutuosa Oração e reflexão, que fará brotar novas atitudes e compromissos com Deus e o Seu Projeto para a Humanidade.