À luz de um dos Sermões do Abade São Guerrico (séc. XII), reflitamos sobre Maria, a Mãe de Cristo e Mãe dos cristãos.
“Maria
deu à luz um Filho único. Assim como Ele é Filho único de Seu Pai nos céus, é
também Filho único de sua Mãe na terra. Ora, essa única Virgem Mãe, que possui
a glória de ter dado à luz o Filho único de Deus Pai, abraça este mesmo Filho
em todos os seus membros. Não se envergonha de ser chamada mãe de todos aqueles
nos quais vê a Cristo já formado ou em formação.
A
antiga Eva, que deixou aos filhos a sentença de morte ainda antes de verem a
luz do dia, foi mais madrasta do que mãe. Chamam-na mãe de todos os viventes;
mas verifica-se, com mais verdade, que ela foi a origem da morte para os que
vivem, a mãe dos que morrem, pois o seu ato de gerar não foi outra coisa senão
propagar a morte. E já que Eva não correspondeu fielmente ao significado do seu
nome, Maria realizou este mistério.
Como a Igreja, da qual é figura, Maria é a Mãe de todos os que renascem para a vida. Ela é verdadeiramente a mãe da Vida pela qual todos vivem; ao gerar a Vida, de certo modo ela regenerou todos os que hão de viver por ela.
A
Santa Mãe de Cristo, que se reconhece mãe dos cristãos em virtude desse
mistério, mostra-se também sua mãe pelo cuidado e amor que tem por eles. Não é
insensível para com os filhos, como se não fossem seus; suas entranhas,
fecundadas uma só vez, mas nunca estéreis, jamais se cansam de dar à luz frutos
de piedade.
Se
o Apóstolo, servo de Cristo, uma e outra vez dá à luz filhos pelos seus
cuidados e ardente piedade, até Cristo ser formado neles (cf. Gl 4,19), quanto
mais a própria mãe de Cristo! E Paulo, de fato, os gerou, pregando-lhes a Palavra
da verdade pela qual foram regenerados; Maria, porém, gerou-os de modo muito
mais divino e santo, ao dar à luz a própria Palavra. Louvo realmente em São
Paulo o ministério da pregação; porém admiro e venero muito mais em Maria o
mistério da geração.
Observa,
agora, se os filhos também não parecem reconhecer a sua mãe. Impelidos como que
por um certo natural afeto de piedade, recorrem imediatamente à invocação do
seu nome em todas as necessidades e perigos, como crianças no colo da mãe. Por
isso, julgo, não sem motivo, que é destes filhos que o Profeta fala quando faz
esta promessa: Os teus filhos habitarão em ti (cf. Sl 101,29). Ressalve-se, no
entanto, a interpretação que atribui principalmente à Igreja esta profecia.
Agora
vivemos, na verdade, sob o amparo da mãe do Altíssimo, habitamos sob a sua
proteção e como que à sombra de suas asas. Mais tarde, seremos acalentados no
seu regaço com a participação na sua glória. Então ressoará, numa só voz, a
aclamação dos filhos que se alegram e se congratulam com sua mãe: Todos juntos
a cantar nos alegramos, pois em ti está a nossa morada (cf. Sl 86,7), santa Mãe
de Deus!”.
Assim como Maria é Mãe de Jesus Cristo, também é nossa Mãe e a ela podemos recorrer em todos os momentos: na alegria e tristeza, angústia e esperança.
Como figura da Igreja, está sempre nos acompanhando, passo a passo, como Mãe que é, e jamais nos abandona em nosso bom combate da fé, em fidelidade ao seu Filho Amado, Jesus.
Contemos sempre com a proteção, o carinho e o amparo maternal de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
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