domingo, 11 de agosto de 2024

Reflexões sobre o cotidiano... O amor de Deus (Dia dos pais)

Reflexões sobre o cotidiano...
O amor de Deus

Em frente ao mar, uma cena comum, e o que poderia despertar no coração de quem a contempla? Certamente poderia passar imperceptível para muitos, mas não o foi para mim naquele exato momento. Talvez em outro somasse a estes, ao coro da insensibilidade que nos rouba a percepção do belo que se esconde na singeleza dos fatos, despido de toda plástica, luzes e “flash”...

A cena: um pai (certamente) jogava para o alto uma pequena criança, recolhendo-a em seus braços, arrancando dela deliciosos sorrisos, que ficaram gravados em minha mente. Do som nada posso dizer, pois a distância me impedia...

Aquela cena trivial o que tem a nos dizer? Por si mesma, é o aconchego paterno e a confiança da criança que ao ser lançada para o alto é suavemente e ternamente recolhida. Apenas o gozo, o deleite do ato, a brincadeira, o afeto, a deliciosa aventura...

Mas, um olhar transcendente deste gesto me propiciou pensar:
O que aquela criança entende de lei da gravidade? Poderia ela ter dúvida que o chão poderia ser seu indesejado encontro? Na verdade, jamais passaria em sua mente o medo, a incerteza, a desconfiança, cálculos matemáticos, as leis naturais da física...

Assim devemos ser para com Deus. Como filhos amados lançados para o alto, para o retorno ao lugar terno já conhecido. Lançados para o alto para que voltemos ao aconchego tão desejado e jamais, por Deus, negado.

A Parábola do filho pródigo me veio a mente (Lc 15, 11-32), a partida e a volta do filho depois de noites escuras de pretensa liberdade. Quanto mais distante do Pai mais distante da liberdade; quanto mais distante do amor paterno, menor sua dignidade, imagem e semelhança. Quanto mais longe do Pai, a miséria lhe consumia... Ah, como é bom saber que a misericórdia divina está sempre pronta a nos acolher, nos purificar, nos renovar. Anel, sandálias, roupa nova e banquete, Deus está sempre pronto a nos dar.

A dignidade, o caminhar, a filiação, a alegria, o Alimento, o Seu imprescindível amor sempre ao nosso alcance. Basta que saibamos, em lugares e tempos oportunos, procurar...

Outra reflexão é a ausência da dúvida no coração daquela criança. Refleti sobre a nossa confiança acompanhada da desconfiança em Deus. Quantas vezes ousamos duvidar da presença e onipotência divina? Quantas sombras de dúvidas teimam em obscurecer nossa existência e de modo mais intenso nosso relacionamento com o Divino?

Pensemos sobre a pureza, a transparência e a leveza daquela brincadeira e reflitamos o nosso relacionamento com Deus, às vezes marcados pela impureza do pecado, do endurecimento no relacionamento quando tornamos pesado nosso coração com ressentimentos e rancores... Quantas vezes nosso relacionamento com Deus e com o outro se tornam autênticos “baile de máscaras”, com disfarces, justificações desmedidas, fermento do farisaísmo que corrói nosso coração.

Por último o calor afetivo daquela relação (ao menos aparente) leva-nos a refletir nosso relacionamento por vezes frio, enfraquecido com Deus.

Ah, se nosso coração se abrasasse num apaixonamento incondicional pelo Senhor, em absoluta entrega e confiança!

Ah, se deixássemos o fogo do Espírito inflamar nosso coração, como seria diferente nossa vida, como seria mais expressiva a ação evangelizadora, que Igreja mais fiel ao Mestre seríamos!

Apenas uma cena do cotidiano! Apenas? Muito mais do que uma cena, uma parábola do cotidiano. As parábolas falam, as cenas do cotidiano muito nos dizem...


PS: Para meditação: Lc 15,11; Mt 18,3; Mt 19,14.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG