segunda-feira, 30 de junho de 2025

“Somos pó e cinza diante da Rocha”

                                                                   

                 “Somos pó e cinza diante da Rocha”
 
Reflexão à luz da passagem do Livro de Gênesis (Gn 18,20-32),  em que Abraão faz uma oração em favor de Sodoma e Gomorra, porque o clamor contra estas cresceu e chegou até o Senhor, e houve o agravamento de seu pecado.
 
Reflitamos sobre o diálogo de Abraão com o Senhor, conforme comentário do Missal Dominical:
 
“Em Israel, que vive num regime de fé, não está em perigo a veracidade da relação do homem com Deus, a verdadeira oração.
 
Um homem vivo, um homem verdadeiro, encontra o Deus vivo e verdadeiro. Uma liberdade está diante da Liberdade, o pó diante da Rocha. ‘Eis que ouso falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza”.
 
Em Israel, a oração está essencialmente ligada a fé. Uma resposta livre ao Deus que se revela e fala, uma ação de graças pelos grandes acontecimento que Deus realiza para o Seu povo. A oração é, pois, antes resposta do que pedido”. (1)
 
Aprendemos com Abraão a fazer da oração um verdadeiro diálogo com Deus: ele se coloca diante diante d’Ele, com ousadia e confiança, apresentando suas inquietações, dúvidas, anseios, e procurando captar Sua vontade para a humanidade.
 
A passagem é uma catequese sobre o peso que o justo e o pecador têm diante de Deus; revela-nos a misericórdia divina que é maior do que a vontade de castigar. 
 
A vontade que Deus tem de salvar é infinitamente maior do que a vontade de perder: Deus está sempre pronto a nos salvar. É preciso que nos abramos à Sua vontade.
 
Abraão nos ensina que é possível dialogar com Deus numa forma familiar, confiante, insistente e ousada. Revela-nos um Deus que veio ao encontro da humanidade, entrou em sua tenda, sentou-se à sua mesa, criando vínculos de comunhão, e ainda mais, realizando os sonhos daquele que O acolhe.
 
Com o pai da fé, aprendemos que Deus é alguém com quem se pode dialogar, com amor e sem temor; com uma Oração que brota de um coração humilde, reverente, respeitoso, confiante, ousado e cheio de esperança.
 
Abraão não repete palavras vazias e gravadas, sem ressonância na própria vida, mas estabelece com Deus um diálogo espontâneo e sincero.
 
Assim, devemos nos colocar diante de Deus sempre, de modo especial, quando em oração, em diálogo com Ele, para que experimentemos o sabor da autêntica oração, sem arrogância, sem sinais de petulância, na mais bela expressão de humildade e confiança: somos pó e cinza diante da Rocha que é Deus (como tão bem expressam diversas passagens da Sagrada Escritura).
 
Somos plasmados pelo Deus, desde os primeiros dias do Paraíso, por Ele criados à Sua imagem e semelhança, agraciados com o Seu divino sopro de vida, como narram as primeiras páginas do Livro de Gênesis.
 
Somos permanentemente modelados por Deus, como barro na mão do oleiro, para que melhor sejamos, e mais perfeitamente sintonizemos Seus desígnios ao nossos respeito e mais felizes sejamos.
 
Somos criaturas do Divino Criador, sim, criaturas com todas as limitações inerentes à condição humana, passíveis de todas as imperfeições em todos os sentidos, convivendo com a graça que em nós é derramada abundantemente, mas sem jamais esquecermos, que somos santos e pecadores, com sede e desejo de sermos santos como Deus é Santo, pois este é o Seu desejo mais pleno e belo para a humanidade.
 
Somos pó, somos barros carregando o tesouro do Espírito em vasos de argilas que somos, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (2 Cor 4,7).
 
E um dia desfeito nosso corpo mortal, voltaremos a ser pó, porque do pó viemos e ao pó retornaremos. Seremos se cremados, um punhado de cinzas apenas, mas certos de que a alma que em nós habita, para Deus haverá de voltar.
 
Confiamos e esperamos, porque de Deus vivemos, nos movemos e somos e para Deus haveremos de retornar, no dia de nossa Ressurreição, pois como Ele mesmo o disse: “Eu Sou a Ressurreição e a vida, todo aquele que em mim viver e crer, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11, 25-26).
 
Quando oramos assim devemos nos sentir: pó e cinza, limitados, suplicantes diante de Deus, a onipotência da misericórdia que vem sempre em socorro de nossa finitude e miséria.
 
É o Amor Uno e Trino que vem ao nosso encontro, e nós somos sedentos de força, amor, luz e graça. Somos os eternos suplicantes da presença da Santíssima Trindade que vem em socorro de nossa fraqueza; vem ao nosso encontro o Amante(Deus Pai), com o Amante (Deus Filho) e o Amor (o Espírito Santo).
 
Pó e cinza, somos diante da Rocha! Oremos assim, exatamente como Abraão o fez, e nossa oração chegará até Deus, que não desiste de nós porque nos amou e nos criou e quer nos redimir, mas não sem nossa participação.
 
 
 
(1) Missal Dominical - Ed. Paulus - p.1189
PS: Apropriado para a passagem do Livro do Gênesis (Gn 18,16-33) proclamada na segunda-feira da 13ª semana do Tempo Comum

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG