Nada façamos sem Deus...
“Porque, sem o Criador, a criatura se reduz a nada”
A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, sobre a Igreja no mundo de hoje, é um dos mais belos Documentos do Concílio Vaticano II. É sempre oportuno retomá-lo.
Fiquemos com esta preciosa concepção da atividade humana nas construções de um mundo mais humano, solidário e fraterno.
“A atividade humana origina-se no homem e para o homem se ordena. De fato, ao trabalhar, o homem não apenas modifica os seres e a sociedade, mas aperfeiçoa-se a si também. Aprende muitas coisas, desenvolve suas faculdades, sai de si mesmo e se supera.
Este crescimento, se bem entendido, vale muito mais que toda a riqueza que possa ajuntar. O homem vale mais pelo que é do que pelo que tem.
Igualmente, tudo quanto os homens fazem para obter maior justiça, fraternidade mais larga e uma ordem mais humana nas relações sociais, tem maior valor do que os progressos técnicos. Estes podem proporcionar base material para a promoção humana, mas, por si sós, não conseguem realizá-la.
Esta é, pois, a norma da atividade humana: que corresponda ao genuíno bem da humanidade, de acordo com o desígnio de Deus, e permita ao homem, como indivíduo ou como membro da sociedade, a plena realização de sua vocação.
Contudo, muitos contemporâneos parecem temer um vínculo muito estreito entre a atividade humana e a religião. Veem nisso um perigo para a autonomia das pessoas, das sociedades e das ciências.
Se por autonomia das realidades terrenas entendemos que toda criatura e as sociedades gozam de leis e de valores próprios, que o homem deve gradualmente reconhecer, utilizar e organizar, tal exigência de autonomia é plenamente legítima.
Não só é exigida pelos homens de hoje, mas concorda com a vontade do Criador. Em virtude mesmo da criação todas as coisas possuem consistência própria, verdade, bondade, leis e ordens específicas. Deve o homem respeitá-las reconhecendo os métodos próprios de cada ciência e técnica.
Seja-nos, portanto, permitido deplorar certas atitudes existentes mesmo entre cristãos, insuficientemente advertidos da legítima autonomia da ciência, que levaram, pelas tensões e controvérsias suscitadas, muitos espíritos a julgar que a fé e a ciência se opõem.
Se, porém, por ‘autonomia das realidades temporais’ se entende que as criaturas não dependem de Deus e que o homem pode usar delas sem qualquer referência ao Criador, quem reconhece a Deus não pode deixar de perceber a que ponto é falsa esta afirmação. Porque, sem o Criador, a criatura se reduz a nada.”
Para aprofundar, retomo a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 5,1-11) em que Jesus faz de Pedro e toda Igreja “pescadores de homens”, naquele dia da pesca milagrosa, depois de uma enfadonha e decepcionante noite sem nada pescar, e que somente no amanhecer, em atenção a Palavra do Divino Mestre, o êxito é alcançado – “assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam” (v. 6).
Oportunas são também estas palavras do Missal Cotidiano sobre esta passagem do Evangelho:
“Quando a humanidade se encontra à beira de um abismo, basta pouco para nele precipitar-se, tal é o seu egoísmo e seu gosto de poder.
Hoje, ser pescador de homens significa participar de todos os empreendimentos que querem livrar o homem dessa perdição e que concorrem para arrancar a humanidade do perigo que a ameaça, através de maior igualdade, paz mais estável, mais ampla possibilidade de promoção para os pequenos...
A Igreja só pode revelar o Amor de Deus partilhando este Amor com os homens”.
Nisto consiste a missão da Igreja, avançar para águas mais profundas e lançar as redes, testemunhando que a Onipotência Divina não dispensa a ação humana.
A Igreja nos ensina que toda atividade/trabalho humano é uma forma do homem participar da obra da criação.
Embora Deus não prescinda da atividade humana, para que ao nada não sejamos reduzidos, é imprescindível que a mesma corresponda aos desígnios divinos.
Portanto, como criaturas, unamo-nos ao Criador de todas as coisas, para com Seu Filho Redentor, confiando na ação e presença do Santo Espírito, desenvolver tudo quanto possamos para que a vida humana brilhe em esplendor e dignidade.