sexta-feira, 5 de julho de 2024

Em poucas palavras...

                                          


“Negócio de poucos”

“Desprezar a comida, a bebida e a cama macia, pode não custar um grande trabalho a muitos... Mas suportar uma injúria, sofrer um prejuízo ou não ripostar a uma palavra implicante... não é negócio de muitos, mas de poucos”(1)

 

(1) São João Crisóstomo, Sobre o sacerdócio, 3, 13

Deus ouve o clamor dos empobrecidos


Deus ouve o clamor dos empobrecidos
 
O Profeta Amós bradou profeticamente contra a exploração dos pobres na defesa da justiça de Deus, que se concretiza na construção de relações justas e fraternas (Am 8,4-12).
 
Denunciou com coragem e ousadia as práticas para o aumento do lucro à custa dos empobrecidos.
 
Embora nosso contexto de exploração, enriquecimento e empobrecimento seja muito diferente do citado no tempo de Amós, constatamos que esta relação, lamentavelmente, persiste com novas expressões, às vezes mais sutis, mas não menos insanas (preços exorbitantes de medicamentos indispensáveis, a publicidade que gera falsas necessidades, produtos adulterados e impróprios para o consumo, produtos que deveriam ser evitados, pois absolutamente antiecológicos etc.).
 
São Basílio Magno (séc. IV) já nos acenava que toda concentração ou desperdício gera situações de miséria e indigência. São duras e inesquecíveis suas palavras, mas muito mais do que isto são extremamente questionadoras para todos nós:
 
“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste? ... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar.”
 
Reflitamos:
 
- Como lido com os bens que tenho?
- Possuo os bens ou são eles que me possuem e me escravizam?
- Os bens que tenho me impedem de partilhar com alegria e desprendimento? 


- Alguns têm pouco e são escravos deste pouco, outros têm muito e nunca estão felizes, outros ainda se alegram e são felizes com o que possuem. E eu, com qual deles me identifico?


- Como sermos hábeis e não desonestos na busca do essencial, visto que não podemos servir a dois senhores?


Na “Primavera Divina”, seremos julgados pela administração dos bens que o Senhor nos confiou. Ele espera colher muitas flores e frutos do amor e da justiça, da verdade e da paz!

  

Em poucas palavras...

 


Fidelidade e justiça são inseparáveis

“Deus odeia esse egoísmo coletivo, tanto quanto o individual. Ele faz causa comum com os pobres e oprimidos.

A oração destes vai direto a Ele. Não é por acaso que se dão certos desabamentos humanamente imprevisíveis, insuspeitáveis.

Mas atenção! Isso não atinge somente os ‘poderosos’, os ‘grandes’, porém a todos. Ninguém pode explorar impunemente um irmão e acreditar ser fiel a Deus” (1)

 

(1) Comentário da passagem do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro de Amós (Am 8,4-6;9-12)- pág. 981

Jesus cura as ovelhas enfermas

 


Jesus cura as ovelhas enfermas

Sejamos enriquecidos pelo Sermão n.26 de São Basílio de Selêucia (séc. V), que nos apresenta Jesus, Aquele que cura as ovelhas enfermas:

“Com razão Cristo, sendo Pastor, exclamava: Eu sou o Bom Pastor. Eu sou Aquele que curo as ovelhas enfermas, saro as frágeis, enfaixo as feridas, faço voltar as desgarradas, busco as perdidas. Eu vi o rebanho de Israel presa da enfermidade, vi o redil transformar-se em morada dos demônios, vi a grei acossada pelos demônios como se fossem lobos. E o que Eu vi, não o desamparei.

Pois Eu sou o Bom Pastor: não como os fariseus que invejavam as ovelhas; não como aqueles que, em benefício próprio, foram para a grei causa de tormentos; não como aqueles que deploram a libertação dos males e se lamentam das enfermidades curadas. Ressuscita um morto, chora o fariseu; é curado um paralítico, e se lamentam os letrados; devolve-se a vista para um cego e o conselho se indigna; um leproso fica limpo e disputam os sacerdotes. Ó altivos pastores da infeliz grei, que têm como prazeres próprios as calamidades do rebanho!

Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por suas ovelhas, o pastor deixa-se conduzir ao matadouro como um cordeiro: não recusa a morte, não julga, não ameaça com a morte aos carrascos. Como a Paixão não era fruto da necessidade, assim voluntariamente aceitou a morte pelas ovelhas: Tenho poder para tirar a vida e tenho poder para recuperá-la.

Expia a desgraça com a desgraça, remedia a morte com a morte, aniquila o sepulcro com o sepulcro, arranca os cravos e mina os fundamentos do inferno. A morte manteve seu império, até que Cristo aceitou a morte; os sepulcros eram um pesadelo e intransponíveis os cárceres, até que o Pastor, descendo, levou a feliz notícia se sua libertação às ovelhinhas que estavam prisioneiras. Os infernos O viram dar a ordem de partida; O viram repetindo a chamada da morte para a vida.

O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. Por este meio procura ganhar a amizade das ovelhas. Ama a Cristo aquele que escuta solícito a Sua voz. O pastor sabe separar os cabritos das ovelhas: Vinde, benditos de meu Pai: herdai o reino preparado para vós desde a criação do mundo. Em recompensa de quê? Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, fui forasteiro e me hospedastes... Pois aquilo que concedes aos meus, de mim colherás. Eu, por sua causa, estou nu, sou hóspede, peregrino e pobre: seu é o dom, porém minha é a graça. Suas súplicas me dilaceram a alma.

Cristo sabe deixar-Se vencer pelas orações e pelas dádivas dos pobres, sabe perdoar grandes tormentos baseado em pequenos dons. Extingamos o fogo com a misericórdia, afugentemos as ameaças contra nós mediante a observância da mútua amizade, abramos uns para os outros as entranhas de misericórdia, tendo nós mesmos recebido a graça de Deus em Cristo, a quem corresponde a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Sejamos envolvidos pela ternura do Bom Pastor, Jesus, que jamais nos desampara, pois sabe de nossas fraquezas, limitações e cansaços.

Acolhidos e envolvidos pelo Seu olhar de ternura, nosso olhar é iluminado para trilharmos os caminhos obscuros do cotidiano.

Com o Salmista, concluímos: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23,1).

 

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 431-432

Covardes e desertores, jamais!

Covardes e desertores, jamais!

Para que Discípulos Missionários do Senhor o sejamos, recorramos a um invejável Sermão do Presbítero Santo Antônio Maria Zacaria a seus confrades (Séc. XVI), à luz do Apóstolo Paulo em suas Cartas.

O que se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

Compaixão, paciência e mansidão para com os que nos entristecem e nos decepcionam; para com os que não nos compreendem. Um desejo profundo de que se inflamem no Amor de Deus e não na gelidez de nossas indiferenças, rancores, julgamentos, sentenças condenatórias:

“Nós somos os tolos por causa de Cristo (1Cor 4,10), dizia de si, dos demais Apóstolos e de todos os que professam a Doutrina cristã e apostólica, o nosso santo guia e santíssimo patrono. Mas isto não é para admirar ou temer, irmãos caríssimos, pois o discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor (Mt 10,24).

Quanto aos que se opõem a nós, devemos ter compaixão e amá-los, ao invés de detestá-los e odiá-los; pois fazem mal a si mesmos e atraem o bem sobre nós; contribuem para alcançarmos a coroa da glória eterna, ao passo que, sobre si, provocam a ira de Deus.

E mais ainda: devemos rezar por eles, e não nos deixarmos vencer pelo mal, mas vencer o mal pelo bem, amontoando atos de piedade como brasas acesas de caridade em cima de suas cabeças (cf. Rm 12,20-21), como ensina nosso apóstolo. Desta maneira, vendo a nossa paciência e mansidão, convertam-se a melhores sentimentos e se inflamem no Amor de Deus.”

O que mais se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

Perseverar no serviço evangelizador, produzir abundantes frutos de caridade, alegria nas tribulações; para sermos merecedores da glória futura reservada para quem persevera até o fim.

Compaixão, paciência e mansidão para com os que nos entristecem e nos decepcionam; para com os que não nos compreendem, acompanhado de um desejo profundo de que se inflamem no Amor de Deus e não na gelidez de nossas indiferenças, rancores, julgamentos, sentenças condenatórias:

Apesar da nossa indignidade, Deus nos escolheu do mundo por sua misericórdia a fim de que, entregues ao seu serviço, vamos progredindo cada vez mais na virtude; e pela nossa paciência, possamos produzir abundantes frutos de caridade. Assim, alegremo-nos não apenas na esperança da glória dos filhos de Deus, mas também nas tribulações.”

Como comparar os Discípulos de Jesus?

São soldados de Cristo, comparativamente falando, empenhados no bom combate da fé para bem viver a vocação:

“Considerai a vossa vocação (cf. 1Cor 1,26), caríssimos irmãos.
Se quisermos examiná-la com atenção, veremos facilmente o que ela exige de nós: já que começamos a seguir, embora de longe, os passos dos Apóstolos e dos outros soldados de Cristo, não recusemos também participar dos seus sofrimentos.

Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé (Hb 12,1-2)".

O que jamais se pode esperar dos Discípulos de Jesus?

A covardia e a deserção; o abandono ou o recuo nos santos propósitos, no caminho de santidade na construção do Reino, de modo que não apenas estejamos na Igreja, mas Igreja o sejamos, de fato:

“Nós que escolhemos um tão grande Apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre Pai.”

É sempre tempo de revermos nossa vida batismal, nossa fidelidade no carregar da cruz, para que testemunhas credíveis do Ressuscitado sejamos.

Reflitamos:

- O Senhor conta conosco, embora não precise, e qual é a nossa resposta?

Se dificuldades houver, se provações se multiplicarem, apenas supliquemos:

Da covardia, da deserção, da fuga e da omissão, livrai-nos, Senhor, a cada dia, para que seduzidos, apaixonados e enraizados em Vosso Amor, tornemos Seu nome conhecido, Seu Evangelho acolhido e vivenciado; uma Igreja mais Santa e um mundo fraterno e renovado. Amém!

Pai Nosso que estais nos céus... 

Se você quiser ser feliz...

                                                          


Se você quiser ser feliz...

Se você quiser ser feliz,
Abra-se à ação da graça divina e reconheça a presença de Jesus, que jamais se afasta de você, porque o carrega em Seu Dulcíssimo Coração, e nos ombros do Bom Pastor. Ele que disse:

"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11, 28-30)

Se você quiser ser feliz,
Aceita de bom coração a presença de Jesus, e O acolha, sobretudo no Tempo do Advento, em que preparamos Seu Nascimento, e caminhe com Ele, vivendo intensamente cada dia de sua vida, em mais um ano que se anuncia.

Abra à ação do Espírito Santo de modo que, conduzido por Ele, renuncie à sabedoria do mundo como um fim em si, e aberto a Verdadeira Sabedoria do Espírito, conduza cada pensamento, palavra e ação sem o pecado indesejável de omissão.

Se você quiser ser feliz,
Aceita o Mistério que nos abre para as realidades eternas e imutáveis, acolhendo o invisível que Se fez visível no Menino Deus, tocável por nossas mãos, e perpetuado para sempre na Palavra e na Eucaristia, que contemplamos com o novo olhar da fé.

Se você quiser ser feliz,
Sinta-se amado por Deus que, a partir da Revelação que nos veio por meio de Jesus, nos permitiu viver conscientemente aqui na terra as realidades do céu, crendo n’Ele, que reina gloriosamente, e nos convida a buscar, incansavelmente, as coisas do alto, onde habita.

Se você quiser ser feliz,
Caminhemos juntos, ajudemo-nos mutuamente no carregar da cruz, e não esmoreçamos no testemunho da fé, para que guardemos a necessária esperança, acompanhada de pequenos e grandes gestos de caridade, até que mereçamos a eternidade.

PS: Passagem bíblica inspiradora desta reflexão: Lc 10, 21-24; Mc 6,30-34

“Vim chamar os pecadores”

                                                         

“Vim chamar os pecadores”

Reflexão à luz da passagem proclamada na sexta-feira da 13ª semana do Tempo Comum (Mt 9,9-13), e vemos quão misericordioso é o nosso Deus, através da prática de Jesus que nos diz não ter vindo chamar os justos, mas os pecadores para a conversão.

Assim Se expressa o Senhor:

– “Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores” (v. 13).

O Missal Cotidiano nos enriquece com este comentário:

Deus foi sempre o grande incompreendido por parte dos homens. Incompreendido em Seu agir, em Suas intervenções, incompreendido em Seu silêncio, incompreendido em Suas exigências e em Sua lei.

Mas a incompreensão maior e mais estranha refere-se à Sua misericórdia. É a incompreensão de quem não crê na misericórdia de Deus, de quem tem medo d’Ele, de quem treme ao pensar em comparecer à Sua presença, e foge do mal unicamente para evitar os Seus castigos...”.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem souber:

- viver a misericórdia para com o próximo, na sincera e frutuosa prática da acolhida, do perdão, da superação;

- saborear a mais bela e pura alegria que nasce do perdão dado e recebido;

- não crer que o ódio, o rancor, o ressentimento fossilizarão nas entranhas mais profundas do coração;

- transformar o coração de pedra num coração de carne, terno e manso, para que nele Deus possa frutuosa e ricamente fazer Sua morada;

- não crer que a obscuridade ao outro deva ser para sempre imposta pelo seu erro, tropeço, falha;

- compreender na exata medida o erro cometido, sem nada acrescentar, e ter também a maturidade de se colocar no lugar do outro, porque todos passíveis de erros o somos.

Somente poderá compreender o Coração de Deus quem do Senhor Jesus mesmos sentimentos e ações tiver. Quem souber gerar e formar Cristo em Si e no outro, no amor que renova, recria, reencanta, refaz, reconduz...

Quem poderá compreender o Coração de Deus?

Ó incompreendido Amor de Deus que questiona o amor humano, tão pequeno, quantificável, porque limitado, medido, calculado, com parcimônia por vezes comunicado.

Ó incompreendido Amor de Deus, que o nosso assim também o seja. Amor não é para ser compreendido, amor é para amar, simplesmente; sem teorias, explicações, racionalizações. Amor de Cruz, que ama, acolhe, perdoa, renova, faz renascer e rompe a barreira do aparentemente impossível.

O Amor vivido no extremo da Cruz, foi, é e será para sempre o verdadeiro Amor. Tão incompreendido, mas tão necessário e desafiador para a humanidade em todo tempo.

Amor que, se vivido, nos credencia para a eternidade de Deus, que é a vivência e mergulho na plenitude de Seu amor, luz, alegria e paz. Amém. 


PS: Proclamado no Sábado depois das cinzas a passagem paralela -  Evangelho de Lucas (Lc 5,27-32).


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