segunda-feira, 1 de abril de 2024

A minh’alma tem sede de Deus e de alegria

                                                            

A minh’alma tem sede de Deus e de alegria


“Que eu Te conheça e Te ame,
para encontrar em Ti minha alegria”

Vivendo intensamente o Tempo Pascal, sejamos enriquecidos pelos escritos do bispo Santo Anselmo (séc. XII), em seu “Proslógion, em que manifesta o ardente desejo de conhecer a Deus e amá-Lo, e n’Ele encontrar a sua alegria.

“Encontraste, ó minh’alma, o que procuravas? Procuravas a Deus e viste que Ele está muito acima de tudo, e nada melhor do que Ele se pode pensar; que Ele é a própria vida, a luz, a sabedoria, a bondade, a eterna felicidade e a feliz eternidade; e que Ele é tudo isto sempre e em toda parte.

Senhor meu Deus, meu Criador e Redentor, dize à minh’alma sedenta em que és diferente daquilo que ela viu, para que veja mais claramente o que deseja. Ela se esforça por ver sempre mais; contudo nada vê além do que já viu, senão trevas. Ou melhor, não vê trevas, porque elas não existem em Ti; porém vê que não pode enxergar mais por causa das trevas que possui.

Verdadeiramente, Senhor, esta é a luz inacessível em que habitas; verdadeiramente nada há que penetre nesta luz para ali te ver, tal como és. De fato, eu não vejo essa luz, porque é excessiva para mim; e, no entanto, tudo quanto vejo é através dela: semelhante à nossa vista humana que, pela sua fraqueza, só pode ver por meio da luz do sol e contudo não pode olhar diretamente para o sol.

Minha inteligência é incapaz de ver essa luz, demasiado brilhante para ser compreendida; os olhos de minh’alma não suportam fixar-se nela por muito tempo. Ficam ofuscados pelo seu esplendor, vencidos pela sua imensidade, confundidos pela sua grandeza.

Ó luz suprema e inacessível! Ó verdade plena e bem-aventurada! Como estás longe de mim que de ti estou tão perto! Quão afastada estás de meu olhar, de mim que estou tão presente ao teu olhar!

Estás presente em toda parte, e eu não te vejo. Em Ti me movo, em Ti existo, e de Ti não posso me aproximar. Estás dentro de mim e a meu redor, e eu não Te percebo.

Peço-Te, meu Deus, faze que eu Te conheça e Te ame, para encontrar em Ti minha alegria. E se não o posso alcançar plenamente nesta vida, que ao menos vá me aproximando, dia após dia, dessa plenitude. Cresça agora em mim o conhecimento de Ti, para que chegue um dia ao conhecimento perfeito; cresça agora em mim o amor por Ti até que chegue um dia à plenitude do amor; seja agora a minha alegria grande em esperança, para que um dia seja plena mediante a posse da realidade.

Senhor, por meio de Teu Filho ordenas, ou melhor, aconselhas a pedir, e prometes acolher o pedido para que nossa alegria seja completa. Por isso, peço-Te, Senhor, o que aconselhas por meio do nosso admirável Conselheiro; possa eu receber o que em Tua fidelidade prometes, a fim de que minha alegria seja completa. Deus fiel, eu Te peço: faze que O receba, para que minha alegria seja completa.

Por enquanto, nisto medite meu espírito e fale minha língua. Isto ame meu coração e proclame minha boca. Desta felicidade prometida tenha forme e sede a minha carne. Todo o meu ser a deseja, até que um dia entre na alegria do meu Senhor, que é Deus uno e trino, bendito pelos séculos. Amém”.

Muitas vezes, podemos experimentar esta sede de Deus, como tão bem expressou o bispo; sobretudo quando passamos por noites escuras, enfrentando tempestades que parecem se eternizar, ou ventos contrários que parecem levar com eles nossos sonhos e projetos, exigindo renovadas e redobradas forças.

Esta reflexão nos coloca sequiosamente diante do Mistério de Deus, que tão somente Ele pode saciar a nossa sede de amor, vida, alegria e paz.

Concluo, retomando palavras do bispo, extraídas de outro texto:

“Ensinai-me a Vos procurar e mostrai-Vos quando Vos procuro; não posso procurar-Vos se não me ensinais, nem encontrar-Vos se não Vos mostrais. Que desejando eu Vos procure, procurando Vos deseje, amando Vos encontre,  encontrando Vos ame”.

Ó santos mártires da Igreja! Que fé! Que testemunho! Testemunhas de fé inexpugnáveis!

Ó santos mártires da Igreja! Que fé! Que testemunho!
Testemunhas de fé inexpugnáveis!

O Bispo São Cipriano escreveu uma bela e densa Carta, que retrata a coragem com que os primeiros cristãos testemunharam, com a vida e a morte, a fé e adesão ao Senhor.

“Com que louvores proclamarei, irmãos fortíssimos, o vigor de vosso peito, a perseverança da fé, e com que elogio os exaltarei? Tolerastes duríssima tortura até a consumação na glória. Não cedestes aos suplícios, foram antes os suplícios que cederam diante de vós.

As coroas deram fim às dores que os tormentos não davam. Os maiores dilaceramentos duraram muito tempo, não para lançar abaixo a fé, mas para enviar mais depressa ao Senhor os homens de Deus.

A multidão presente viu, admirada, o celeste combate de Deus e a luta espiritual de Cristo. Viu Seus servos que perseveraram, com a palavra livre, com a mente incorrupta, com a força divina; despidos diante das flechas terrenas, mas armados com as armas da fé.

Os torturados mantinham-se mais fortes do que os torturadores; os membros açoitados e dilacerados venceram os ferrões dos açoitadores e dilaceradores.

Os golpes furiosos, longamente repetidos, não conseguiram superar a fé inexpugnável. Embora suas vísceras estivessem arrebentadas, já não eram os membros destes servos de Deus que eram torturados, mas as chagas.

Corria sangue que iria extinguir o incêndio da perseguição; o glorioso sangue derramado que apagaria a chama e o fogo da geena.

Oh! Que espetáculo foi este para o Senhor, que sublime, quão grande, de quanto apreço aos olhos de Deus, pelo juramento e consagração de Seu soldado!

Tal como está escrito nos Salmos, que nos falam e exortam pelo Espírito Santo: Preciosa aos olhos de Deus a morte de Seus justos (Salmo 115,15).

Preciosa a morte que compra a imortalidade ao preço de seu sangue, que recebe a coroa de Deus pela perfeição da virtude.

Quão alegre ali estava Cristo, com que satisfação lutou e venceu em tais servos Seus, Ele, o protetor da fé, que dá aos crentes tanto quanto quem recebe crê poder comportar.

Esteve presente em seu combate, levantou, fortaleceu, animou os lutadores e as testemunhas de Seu nome. Aquele que uma vez venceu a morte em nosso lugar, sempre vence em nós.

Ó feliz Igreja nossa, iluminada pela honra da divina condescendência, que em nossos tempos o glorioso sangue dos mártires ilustra.

Antes, alva pelas boas obras dos irmãos, fez-se agora purpúrea pelo sangue dos mártires. Entre suas flores não faltam nem os lírios nem as rosas.

Lute cada um agora pela magnífica dignidade de ambas as honras. Ganhem coroas alvas, pelas boas obras ou vermelhas pelo martírio”

O Bispo Santo Agostinho, um pouco mais tarde, diria que os mártires nos anteciparam no jardim do Senhor:

“Tem, irmãos, tem o jardim do Senhor não apenas rosas dos mártires, tem também lírios das virgens, heras dos casados, violetas das viúvas.

Absolutamente ninguém, irmãos, seja quem for, desespere de sua vocação; por todos morreu Cristo...

Compreendamos, portanto, como pode o cristão seguir Cristo além do derramamento de sangue, além do perigo de morte...”

Refletindo sobre os testemunhos mencionados, bem como seu próprio testemunho (também mártir da Igreja), vemos como ainda temos muito a amadurecer na fé, para que tenhamos o mesmo amor, fidelidade, coragem dos que nos antecederam no testemunho na fé.

Somos provocados a aprofundar nosso amor meu amor pela Igreja, fecundada pelo sangue dos incontáveis mártires que tiveram fé inexpugnável. São verdadeiramente testemunhos de fé invencíveis, que nos questionam e nos fortalecem no bom combate da fé.

Urge que também tenhamos uma fé inexpugnável, invencível a todo e qualquer obstáculo, dificuldade, provação, inquietação.

Concluamos fazendo a nossa profissão de fé:
“Creio em Deus Pai todo Poderoso...”
Amém!

Que a graça de Deus nos fortaleça constantemente


Que a graça de Deus nos fortaleça constantemente

Sejamos iluminados pela homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc IV).

Consideremos a sabedoria de Paulo. Que diz ele? Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós (Rm 8,18). Por que, exclama, me falais das feridas, dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das privações, dos grilhões e das algemas?

Ainda que invoqueis todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que esteja à altura daqueles prêmios, daquelas coroas, daquelas recompensas. Pois as provações cessam com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal, permanecendo para sempre.

Também isto insinuava o Apóstolo em outro lugar, quando dizia: O que no presente é insignificante e momentânea tribulação (cf. 2Cor 4,17). Ele diminuía a quantidade pela qualidade, e alivia a dureza pelo breve espaço de tempo.

Como as tribulações que então sofriam eram penosas e duras por natureza, Paulo se serve de sua brevidade para diminuir-lhe a dureza, dizendo: O que no presente é insignificante e momentânea tribulação, acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece, porque voltamos os nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno (cf. 2Cor 4,17- 18).

Vede como é grande a glória que acompanha a tribulação! Vós mesmos sois testemunhas do que dizemos. Antes mesmo que os mártires tenham recebido as recompensas, os prêmios, as coroas, enquanto ainda se vão transformando em pó e cinza, já acorremos com entusiasmo para honrá-los, convocando uma assembleia espiritual, proclamando o seu triunfo, exaltando o sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que sofreram. Assim, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória, mesmo antes da recompensa final.

Tendo refletido sobre estas coisas, irmãos caríssimos, suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são úteis para nós. Não percamos a esperança nem a coragem, prostrados pelo peso dos sofrimentos, mas resistamos com fortaleza e demos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu.

Deste modo, depois de gozarmos dos Seus dons na vida presente, alcançaremos os bens da vida futura, pela graça, misericórdia e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele pertencem a glória e o poder, com o Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos. Amém.”

Retomemos parte da Homilia:

“... suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são úteis para nós. Não percamos a esperança nem a coragem, prostrados pelo peso dos sofrimentos, mas resistamos com fortaleza e demos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu”

Depois de gozarmos dos Seus dons na vida presente, alcançaremos os bens da vida futura, pela graça, misericórdia e bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. A Ele pertencem a glória e o poder, com o Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos”

Muitos são os obstáculos, incompreensões, resultados não esperados, que parecem consumir nossos sonhos e esperanças. Somem-se a isto possíveis noites escuras de falta de esperança e saída, que se repetem parecendo infindáveis.

Quando desejamos levar a sério a fé e o compromisso cristão não somos isentos da cruz, das renúncias necessárias, superações contínuas, martírio silencioso e fecundo...

Não podemos perder a esperança e tão pouco a coragem, ainda que o peso dos sofrimentos pareça insuportável, é preciso resistir com fortaleza, com a força da Palavra e da Eucaristia, e o sopro do Espírito.

Dificuldades existem e devem ser enfrentadas propiciando o verdadeiro amadurecimento na fé. Se dificuldades vierem, peçamos ao Senhor o necessário: a graça para nos fortalecer no bom combate da fé até que mereçamos um dia a glória eterna, o contemplar da Face Divina.

Perseverar com a presença do Espírito Santo

                                                         

Perseverar com a presença do Espírito Santo

“Eles mostravam-se assíduos ao Ensinamento dos Apóstolos,
à Comunhão Fraterna, à Fração do Pão e às Orações” (At 2,42).

Contemplemos a presença e a manifestação do Ressuscitado no meio da comunidade reunida, ainda com as portas fechadas, com medo dos judeus. Mas a presença do Ressuscitado foi a comunicação do “shalom”, plenitude de paz; de todos os bens necessários para que seguissem com coragem a missão.

Acompanhada da saudação, a comunidade recebe do Ressuscitado o sopro do Espírito e é enviada em missão: “Assim como o Pai me enviou, também vos envio...” (Jo 20, 22-23). A partir deste momento, os apóstolos saíram para anunciar a Boa-Nova do Evangelho, e maravilhas o Senhor realizava por meio deles, ainda que homens rudes, simples, mas enriquecidos com a sabedoria e a força do Espírito.

Deste modo, edificava-se uma comunidade perseverante na Doutrina dos ApóstolosComunhão Fraterna, Fração do Pão e na Oração (At 2,42-45).

Ontem, hoje e sempre, Jesus é o mesmo, e precisamos continuar a missão que Ele confiou à Sua Igreja, e não estamos sós, mas com a ação e presença do Espírito Santo, que nos foi comunicado, desde aquele dia.

É preciso que perseveremos na Doutrina dos Apóstolos, sendo uma Igreja discípula e missionária e profética, aprendizes do que o Espírito nos diz. Para tal, é providencial o subsídio “Conversando sobre a Bíblia”, já disponibilizado para as nossas comunidades.

Um passo a mais, daremos ao conhecer e aprofundar a Doutrina Social da Igreja à luz da Misericórdia Divina, que será tema da Semana Diocesana de Formação, em julho próximo, nas Foranias.

Importante também que acolhamos a Exortação Apostólica “Amoris Laetitia” (a “Alegria do Amor”), do Papa Francisco, sobre o amor na família. Do mesmo modo, acolhamos o Documento final sobre a missão dos cristãos leigos e leigas, aprovado na 54ª Assembleia dos Bispos, em Aparecida (2016).

É preciso que perseveremos na Comunhão Fraterna, fazendo de nossas comunidades “ilhas de misericórdia, no mar da indiferença” (mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2015). 

Viver a misericórdia, para que sejamos uma Igreja samaritana, servidora dos que mais sofrem. A acolhida fraterna, o fortalecimento dos vínculos entre os membros da comunidade, e a presença solidária onde a vida é ameaçada, também são marcas expressivas desta comunhão a ser vivida.

É preciso que perseveremos na Fração do Pão, como comunidades Eucarísticas, que se nutrem do Pão da Imortalidade. Lembramos o grande teólogo, Pesbítero e Doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, que nos disse não haver outro Sacramento mais salutar do que este, pois nele, os nossos pecados são destruídos (nos renovamos e reconciliamos com a Trindade Santa); nossas virtudes crescem, bem como nossa alma é plenamente saciada e enriquecida de todos os dons espirituais. Precisamos nos revigorar nas Mesas inseparáveis, da Palavra e da Eucaristia, que nos remetem à mesa do quotidiano, crendo que “a Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia” (Papa São João Paulo II).

É preciso que perseveremos na Oração, de modo especial, através da Leitura Orante, cujas orientações nos são oferecidas no encarte deste jornal. Procuremos valorizar todos os espaços e momentos de oração que a Igreja nos propõe (de âmbito diocesano, paroquial e comunitário), e de modo especial, fortalecendo o Ministério da Visitação, a fim de que novos grupos de reflexão e oração se formem, e os que já existem se solidifiquem.

É preciso que sejamos evangelizadores, anunciadores e testemunhas da Boa-Nova do Ressuscitado, com a presença do Espírito, participando da construção do Reino de Deus, empenhados por um mundo mais justo, fraterno e solidário. Motivações não nos faltam: o amor que recebemos de Jesus, a consciência e alegria de sermos Povo de Deus, a ação misteriosa do Ressuscitado e do Seu Espírito, a força missionária da intercessão e a presença de Maria, a Mãe da Evangelização (cf. “Evangelii Gaudium)”.

A Política é uma expressão exigente do amor


A Política é uma expressão exigente do amor

Estreita é a Porta que nos conduz à Salvação, com a inevitável cruz a ser carregada quotidianamente, com as renúncias necessárias.

E o carregar da cruz implica em compromissos irrevogáveis que brotam da fé, entre eles, a atuação política, o compromisso de fazer dela a promoção do bem comum.

Em 1971, O Papa Paulo VI, na “Octogesima Adveniens”, quando celebrávamos o 80 º Aniversário  da Encíclica “Rerum Novarum”, nos enriqueceu com esta afirmação: 

 “A política é uma maneira exigente - se bem que não seja a única - de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros.” (n.46).

E, no Lecionário Comentado encontramos: “... o compromisso político e social dos cristãos é a forma mais elevada da caridade: a atuação dos cristãos no mundo, sempre marcada pela lógica da Cruz, anuncia e faz amadurecer aqueles germens de paz e justiça que serão totais e perfeitos somente no Reino de Deus.”

O amor cristão é chamado a ser vivido por toda vocação e em todos os âmbitos. É imprescindível que não nos furtemos desta prática, para que nossa fé seja, de fato, irradiação de luz na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Da mesma forma, é impossível cultivar a virtude da esperança, sem a multiplicação de atos solidários que garantem que a vida tenha mais esplendor, beleza e dignidade; sem qualquer sinal de exclusão, fome, miséria, aviltamento da condição humana e do planeta em que habitamos.

Somente assim, vivendo esta maneira exigente e não exclusiva, mas de sublime expressão do compromisso cristão, consolidaremos a caridade, como Mandamento Maior do Senhor, do Amor a Deus que não se separa do segundo que é semelhante a este: o amor ao próximo.

Providencial, e ninguém pode ficar indiferente à preocupação de formar ou fortalecer um grupo de Fé e Política em cada Paróquia, como motivadores, animadores, mas não exclusivos, para que a nossa Fé, Esperança e Caridade assim também o sejam.

Política: uma sublime vocação


Política: uma sublime vocação

Esta súplica do Papa Francisco é sempre iluminadora:

Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum.

Temos de nos convencer que a caridade ‘é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos’.  Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (1).

Acolhendo a súplica, multipliquemos espaços de reflexão, aprofundamento e discernimentos necessários, sobretudo neste momento em que estamos definindo nossas escolhas, vereadores e Prefeito que dirigirão nossas cidades.

É preciso que a política seja de fato uma “sublime vocação”; “uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”, sobretudo quando a realidade nos apresenta uma face maculada pela corrupção em todos os âmbitos, de modo especial na política, pelo descaso com o bem público, absurda indiferença na promoção do bem comum, com a objetivação de interesses pessoais mesquinhos, que fazem multiplicar a dor e o sofrimento de milhões de empobrecidos, privados do pão, da moradia, da educação, da saúde, lazer e muito mais que lhes seria pleno direito como cidadãos.

Urge que sejamos criteriosos em nossas escolhas, não vendendo nosso voto, nem trocando por favores, de modo que nossas escolhas sejam expressão consciente, pois ainda que não pareça nosso voto tem um “preço” altíssimo que incide decididamente em toda a nossa vida, positiva ou negativamente.

Abertos à ação do Espírito, que nos fortalece na vocação profética, dom divino e resposta humana, empenhemo-nos na construção de uma nova realidade de vida plena e feliz para toda a humanidade, tendo a política, precioso e indispensável instrumento.

Ontem e hoje, o mundo precisa de Profetas, pessoas que não cedam à idolatria e injustiças, e se coloquem como vozes de Deus na defesa dos pequenos, dos pobres, dos excluídos, porque gozam de especial amor e predileção por Deus, como nos revela a Sagrada Escritura.


(1) cf. Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” n. 205 - Papa Francisco.

Vivamos segundo o Espírito

                                                                                             
                                     Vivamos segundo o Espírito

A Liturgia da 2ª segunda-feira da Páscoa nos apresenta a passagem do Evangelho que retrata a conversa de Jesus com o fariseu chamado Nicodemos, o príncipe dos judeus (Jo 3,1-8).

Vemos a preocupação do Evangelista em apresentar uma nova oposição entre o velho e o novo, sobre a condição do homem diante de Deus.

O homem velho é o homem do Antigo Testamento, o homem que vive segundo a lei, escravo do pecado e da morte e, portanto, vive segundo a carne.

O homem velho que se deixa guiar pelos sentimentos inferiores, como o egoísmo, individualismo, buscando apenas os seus interesses, com sentimentos de insensibilidade diante do sofrimento do outro, de modo que gestos de solidariedade não são concebíveis.

Com facilidade transforma o outro em objeto para a satisfação de seus instintos e de sua maldade.

O homem novo, entretanto, é o homem que participa da Nova Aliança, tornando-se um cidadão do Reino de Deus, e tem a vida movida segundo o Espírito.

E assim, não é mais movido segundo a lei, mas segundo a luz do Novo Mandamento do Amor.

Deste modo, não é mais escravo do pecado e, como filho de Deus, é livre e vive segundo a graça e não é mais prisioneiro da morte, porque tem a Vida Nova em Cristo, lembrando o que Paulo também afirmará: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).

Tendo a vida marcada pelo amor, estabelece vínculos de comunhão e de fraternidade, firma os passos num caminho de humanização, abrindo o coração e a mente para que Deus possa agir.

Na participação da construção do Reino Deus inaugurado por Jesus é necessário que se renasça do Espírito, fazendo renascer uma nova humanidade.

Nascendo de novo e vivendo segundo o Espírito, nos enriquecemos com os frutos da Ressurreição, e testemunhamos no mundo uma fé verdadeiramente Pascal, onde o medo cede lugar à coragem, a tristeza à alegria, o desânimo à esperança, a imobilidade e letargia ao dinamismo e prontidão da missão, a escuridão à luz, as gélidas relações entre as pessoas em relações mais humanas e fraternas, a  noite escura da alma cede lugar ao esplendor da madrugada da Ressurreição. 

Enfim, 
a morte cede lugar à vida. 
É Páscoa! 
Aleluia!

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG