segunda-feira, 1 de abril de 2024

Submersos nos Mistérios Divinos

Submersos nos Mistérios Divinos

Um livro é como uma garrafa jogada ao mar, que será levada pelo movimento das ondas, com uma mensagem por alguém deixada, há algum tempo, comunicando segredos de felicidade tão desejados.

Um livro é como lançar uma garrafa ao mar, e dentro desta colocar conteúdos que vêm da alma do autor com o desejo de que cheguem ao destinatário de múltiplos nomes, em diversas situações por que possam passar: agradáveis ou não, sombrias ou luminosas, alegres ou angustiantes, confortáveis ou não, momentos de ápice e auge ou declínio e abismo.

A vida não é uma linha reta, sem entornos e contornos. Oscilações são possíveis, mas que não sejam de tal modo que tudo possa ruir. Portanto, é necessário que coloquemos sólidos fundamentos em nossa vida, para que possa resistir aos ventos e tempestades que teimam contra a nossa vida, em todos os âmbitos (família, Igreja, etc.)

De um livro, com diferentes temas, como uma garrafa lançada ao mar, espera-se o encontro de sólidos fundamentos para manter de pé projetos e sonhos, sem a perda da esperança, no revigoramento da fé, para dar cor e conteúdo à virtude maior de todas: a caridade.

Sendo o conteúdo sobre a fé, à luz da Palavra de Deus, o mais sólido fundamento da vida, certo que estas mensagens chegarão a mãos e corações, como nos disse o Senhor - "Portanto, quem ouve estas minhas Palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.”  (Mt 7, 24)

É de se desejar que a mensagem sacie, abundantemente, a sede e a fome de quantos a tenham; sede de alegria, amor e paz. Sede de ver um mundo mais justo e fraterno, como o mais belo rebento a surgir num horizonte não tão distante; famintos de uma palavra que se faça pão, saciando a fome de acolhida, carinho e compreensão, amor, alegria. E tudo isto celebrado na Mesa da Palavra e da Eucaristia, na qual o Senhor Se dá em verdadeira Comida e verdadeira Bebida.

Seja a mensagem desta “garrafa”, isto é, do livro, uma luz acesa no momento mais escuro que se possa passar, crendo que no auge da escuridão se dá o início de um novo dia, cumprindo o que nos disse o Senhor: Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).

Encontrar a garrafa, abrir, saciar a sede, matar a fome, reencontrar o vigor necessário para da luta não sucumbir, se preciso for, do luto à luta, sem fuga, omissão, medo e covardia.

Um livro nas mãos é como uma garrafa naufragada e encontrada; uma âncora para que não naufragues nas dificuldades possíveis ao atravessar o mar da vida, que teima em nos submergir.

Se há uma submersão desejada é a que fazemos nos Mistérios de Deus, e uma boa leitura possibilita esta submersão, e então, teremos a certeza de que chegaremos à outra margem. 

A exata medida da pretensão...

A exata medida da pretensão...

“O homem sofre muito, porque tem pretensões imensas.” Como contestar esta afirmação?

Ouvi uma atriz dizer no meio de uma entrevista, enquanto fazia um “zapping”  na TV, pois quem consegue ficar muito tempo diante de um canal apenas?

Depois de ouvir esta afirmação, ao encerrar a entrevista, nada mais quis ver, pois não era preciso. Quis apenas mergulhar no mais profundo do meu pensamento, contra todos os “ruídos” que teimavam em me impedir. É preciso ter coragem para mergulhar, ao menos de vez em quando, no mais profundo de nós.

Coragem sim, pois lá dentro de nós podemos enxergar e ouvir nossos próprios temores, que nos assaltam consciente ou inconscientemente.

Coragem para deixar velado o que nos esforçamos por vezes tornar oculto, inacessível, intocável.

Coragem para ver as feridas mais doloridas, que não são as que estão na exterioridade da carne, mas aquelas que teimam não sarar porque lá nas entranhas de nossas redes, sentimentos e emoções.

Mas voltemos à afirmação que me inquieta e da qual não consigo me desvencilhar, ainda que o queira. Por que ela incomoda, sobretudo, a nós homens?

Mas há nela verdade incontestável, diante da qual nem o repórter conseguiu arguir com contestações ou relativizações.

Quantos sofrimentos nós homens poderíamos evitar se nossas pretensões não fossem tão imensas?

Como não lembrar aqui de uma belíssima afirmação de Edgar Morin (antropólogo francês): é preciso ver o homem e a mulher como seres inacabados, mais ainda, como em processo de inacabamento final.

Há que se concordar que quão mais imensas forem nossas pretensões, maiores serão nossos sofrimentos, pois nem sempre a correspondência se alcança e a cobrança intermitente cansa, exaure todas as forças, que se canalizadas para outros objetivos nos fariam mais felizes.

É sempre necessário que tracemos objetivos, deixemos gravadas em nossa memória, no recôndito mais secreto de nossa alma, nossas pretensões (homens ou mulheres), nossas metas a serem alcançadas.

Que elas não sejam tão imensas, para que não nos façam sofrer inutilmente, mas que também não sejam tão limitadas, pequenas, que não nos impulsionem, não nos motivem a lutar por nossos sonhos.

Que nossas pretensões sejam na exata medida de quem já é feliz pelo que é e tem, e pelo poder que possui (afastado de toda possibilidade de dominação sobre o outro).

Em diversas passagens do Evangelho, o Senhor nos garante que a felicidade não reside no muito acumulado, no poder e no domínio, no prestígio máximo que se possa alcançar.

Voltemo-nos para aqueles inesquecíveis dias que Ele passou no deserto, enfrentando as ciladas do antigo inimigo e vencendo as tentações fundantes de tantas quantas possam gerar: ter, poder e ser.

Renovemos sempre a santa pretensão, o salutar compromisso de ver o Reino acontecer materializado e visibilizado em relações de amor, verdade, justiça, ternura, bondade, liberdade e paz...

Há pretensões imensas que nos fazem pequenos, há pretensões autênticas, ainda que aparentemente utópicas e intangíveis, que nos alcançam a verdadeira alegria e menos sofrimento. E, se sofrimento houver que não seja por consequência de pretensões mesquinhas, individualistas, inúteis, impostas que não nos dão as melhores respostas.

Tenhamos a pretensão de sermos felizes sem fugir das Bem-Aventuranças que o Senhor nos propõe (Mt 5, 1-12).

Cada um de nós, homens e mulheres, felizes seremos quando nossas pretensões não se contrapuserem, não nos autodestruírem, e tão pouco o planeta comum em que habitamos.

As pretensões imensas não apenas destroem os homens, mas com eles mulheres, crianças, jovens, animais, natureza, planeta... Mas aqui já é o começo de outra reflexão... 

Ética, por onde andas?

Ética, por onde andas?

De tanto ouvir falar da “ética”, um homem saiu pela cidade a procurá-la. Andou por palácios, casas nobres e outras mais simples; vagueou por ruas e becos, praças e avenidas; visitou igrejas, escolas, universidades, inúmeras ONGs, entidades, enfim, em todos os lugares possíveis.

Inquieto, procurava a tal “ética”. Em alguns lugares a viu mais explicitamente, em outros como que jazendo no leito de morte, em cinzas. Teve ainda lugares que lhe disseram que há muito ela não estava mais ali, porque atrapalhava negociações ilícitas, impedindo os conchavos que possibilitariam lucros ainda maiores.

Em sua procura, um dia foi questionado: - “Não sabemos o que é esta tal de ‘ética’, falam tanto dela, mas nunca a vimos por aqui. Ela existe de fato ou é apenas algo entre tantas coisas que dizem existir, mas não fazem parte do enredo da história da humanidade?”

Instigado, revisitou seus escritos e encontrou uma definição preliminar: “ética é o conjunto de princípios que norteiam, orientam o agir das pessoas, tendo em conta a prática da liberdade, da vontade e responsabilidade.”

Num dicionário, encontrou a seguinte definição: “Ética – grego ethike, de ethikós – que diz respeito aos costumes... Diferentemente da moral, a ética está mais preocupada em detectar os princípios de uma vida conforme a sabedoria filosófica, em elaborar uma reflexão sobre as razões de se desejar a justiça e a harmonia e sobre o meio de alcançá-las” (Japiassú – Ed. Zahar).

Continuou a refletir sobre o conceito de ética e sua presença nas relações entre as pessoas, e concluiu que, sem ética, sem princípios convincentes e autênticos, a justiça e a harmonia jamais poderão ser alcançadas, pois ficam comprometidas a liberdade, as vontades e as responsabilidades, e que, portanto, é preciso uma ética corresponsável, depurada de interesses mesquinhos, do contrário teremos o perigo da desvalorizarão e banalização da vida, e, consequentemente, a promoção da cultura da morte.

Concluiu ainda que é preciso repensar a ética, o conjunto de seus princípios, para que se construa uma civilização do amor, promovendo a cultura da vida e da paz, num permanente aprendizado para humanar as relações entre nós.

Mas como ressuscitar a ética? Como tirar da pauta das discussões e  fundar novas e frutuosas relações? Ele encontrou algumas respostas.

Primeiro, é preciso palmilhar por veredas edificantes da vida, as veredas da esperança, do bem e da solidariedade, impondo silêncio às paixões avassaladoras, normalmente norteadas pelos pecados capitais (soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça).

Segundo, é preciso ter coragem de rever quais os valores que orientam nossas decisões, escolhas, caminhos, passos; rever se estes tornam a vida mais bela, humana, se nos tornam mais fraternos, solidários, promotores da defesa da vida, desde a sua concepção até o seu declínio natural.

Terceiro, professando uma fé ou não, que a ética seja a expressão do pensar, sentir e agir de pessoas de boa vontade, que promovem a paz, sem a violação da vida e o sacrifício de inocentes, sem fundamentalismos e radicalismos.

E depois de refletir as conclusões daquele homem, também nós podemos fazer a nossa própria avaliação, percebendo que assim como o sangue nada pelas veias para que a vida aconteça; assim como a linfa vital é imprescindível para o vigor e êxito da planta com suas flores e frutos; também a ética deve se fazer presente em todas as instâncias (espaços de decisões, campos diversos dos saberes e poderes), para que a vida não seja vilipendiada, mas promovida, amada, dignificada e, deste modo, possamos redescobrir e construir o Paraíso perdido, sem fúnebre saudade, mas com renovado compromisso e esperança.

Aquele homem visitou sim lugares sem conta, mas, por fim, viu que antes de tudo era preciso ter coragem de visitar a si mesmo, e ver de que modo a ética se fazia presente em sua vida, em suas decisões (família, trabalho, comunidade...).

E como cristãos, temos que ter a coragem de nos revisitar, e reconhecer, como morada do Espírito que somos, quais são os princípios éticos que norteiam nossa vida.

Como sal da terra e luz do mundo, há um princípio que não podemos jamais olvidar ou negligenciar: o Mandamento do amor a Deus, que se expressa concretamente no amor ao próximo. E tão somente assim, irradiaremos no mundo, por vezes obscuro e sombrio, um pouco mais de vida e luz, que emanam da fé que professamos e testemunhamos.

domingo, 31 de março de 2024

Somente o Senhor nos amou assim...

Somente o Senhor nos amou assim...

Contemplando o Mistério do Amor de Deus por nós, testemunhado pelo Senhor Jesus na morte de Cruz, retomo uma estrofe do “Hino sobre a Ressurreição do Senhor”, escrita pelo Diácono e Doutor da Igreja, Santo Efrém:

“Quem como Tu, Senhor,
Para nós?
Grande que Se fez pequeno,
Vigilante que dormiu,
Puro que foi batizado,
Vivo que degustou a morte,
Rei que carregou com o desprezo,
Para dar a todos glória.
Bendita seja a glória!”

Ressoem em nosso coração as palavras do Apóstolo Paulo aos Filipenses (Fl 2, 5-11): Ele que humilhou-Se a Si mesmo, mas Deus O exaltou, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai.

Tão grande, tão onipotente é Deus: fez-Se frágil, experimentou nossa condição humana, exceto o pecado, para destruí-lo. Experimentou o cansaço, o abandono, a indiferença, a humilhação, a solidão, a incompreensão, e quanto mais possamos mencionar. Que mais Ele poderia sofrer por amor de nós?

“Adormeceu”, descendo à mansão dos mortos, passando pela morte, para destruí-la, e com Sua morte a morte da morte, a Ressurreição alcançar, e nesta a nossa Ressurreição, porque assim Ele o disse, E assim cremos: todo aquele que n’Ele vive e crê, possuirá a vida eterna (Jo 11, 26)

Tão puro, aceitou conviver com os tidos como impuros para purificá-los, reintegrá-los. Conviveu com os pecadores para destruir o pecado, e, na autêntica vivência da misericórdia, renovar, recriar, reintegrar, novo horizonte ao pecador perdoado para uma vida nova viver, sentido novo para a vida encontrar.

Reina gloriosamente tendo como trono a Cruz, na qual todos devemos nos gloriar. Cruz que tem aparência de derrota, mas, para quem crê, tem sabor de vitória, porque carregada com fé, ousadia e coragem, é imprescindível para a genuína e frutuosa felicidade que desabrocha plenamente na eternidade.

Em Sua morte, glorificados somos – eternizados. Com Sua morte, a Ressurreição para conosco caminhar, corações aquecer, no Pão da Eucaristia partilhado, Sua presença reconhecermos.

Não mais cabisbaixos, abatidos, desanimados, derrotados... Mas com vigor renovado, força que emana da fé na Ressurreição, Boa-Nova do Reino anunciar e testemunhar, sem jamais na fé vacilar, a esperança perder e a caridade esfriar.

Neste Tempo Pascal, sejamos envolvidos pelos Amores inseparáveis: do Pai, o Amante que ama o Filho; do Filho que nunca foi abandonado pelo Pai, porque permanentemente amado e assistido pela presença do Santo Espírito, o Amor.

Inseridos nesta Comunhão, como que num mergulho no mar infinito da misericórdia divina, viveremos a mais terna e eterna comunhão de amor, e mais fraternos nos tornaremos. Amém! Aleluia! Aleluia!

Páscoa do Senhor: Muito mais que sete verbos...

                                                                   

Páscoa do Senhor: Muito mais que sete verbos...

Quando o Domingo de Páscoa celebramos,
Sete verbos aprendemos para conjugação,
Nos tempos Pretérito, Presente e Futuro.
Para quem acredita no Mistério da Ressurreição:

Sete Verbos:
Amar, correr,
ver,  acreditar, anunciar,
testemunhar e buscar.

Amar é o primeiro verbo da Palavra Proclamada.
Amar a Deus com toda alma, força e entendimento;
Amar como resposta primeira, por Ele esperada;
Amar sempre, em íntimo e estreito relacionamento.

Amar, critério que se impõe para todo o seguidor Seu.
Amor puro, sincero, fiel, confiante, verdadeiro;
Amor que, do lado trespassado, Sangue e Água verteu;
Água para o renascimento, Sangue que nos Redime e Alimenta.

Correu Maria Madalena para contar aos discípulos
O que ainda não houvera compreendido.
A pedra fora retirada do túmulo:
Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde O colocaram”.

Correram os dois discípulos: Pedro e o discípulo que Jesus amava.
Ainda que chegando primeiro e pelo Senhor amado, não entra.
Quem ama sabe o seu lugar e humildemente sabe esperar;
Contemplando os sinais da Ressurreição, “Ele viu e acreditou”.

Ver é o terceiro verbo a ser conjugado.
Ver com olhos da alma, olhos do coração;
Ver como o pôde fazer o discípulo amado;
Ver nas aparências da ausência, a Ressurreição.

Acreditar na Vitória da Vida sobre a Morte.
Acreditar que a palavra última a Deus pertence,
E ao mundo foi alcançada nova e eterna sorte.
Acreditar que Sem Ele ninguém vence.

Anunciar que Ele Reina, Ele Vive, porque Ele é O Senhor.
Anunciar que n’Ele está nossa Esperança e Salvação.
Anunciar que, da Humanidade, Ele é o único Redentor,
Mas que não dispensa nossos compromissos e participação.

Testemunhar, como Pedro, com a palavra e a vida,
Que a prepotência humana cedeu à divina onipotência.
Testemunhar que a humanidade decaída foi reerguida.
Testemunhar sem medo, recuos, omissão ou displicência.

Buscar as coisas do alto, por Paulo, somos exortados.
Buscar os valores do Reino, as coisas celestiais:
Verdade, Amor, Justiça e Liberdade, entrelaçadas.
Quem busca as coisas divinas não se cansa jamais!

Esperá-Lo na glória futura, que há de se manifestar.
O céu é possível para quem souber amar,
Em espera vigilante e ativa, haveremos de estar,
Em espera alegre, confiante, sem desesperar!

São sete verbos, mas são muito mais que apenas sete verbos,
Porque que nos fazem aprendizes do Amado Eterno Verbo.
Sete verbos: Amar, correr, ver, acreditar, anunciar, testemunhar,
Buscar as coisas do alto, a glória esperar e alcançar.

Conjugá-los, em todos os momentos e circunstâncias,
Refaz nossa vida, acenando o Paraíso possível.
Conjugá-los e vivê-los em todas as instâncias,
Mundo novo é possível, porque por Deus crível.

Na Quaresma, contemplamos o Incrível Amor,
E na Páscoa, dizemos sem hesitações e temores:
Ó Eterno e Incrível Amor! Que maravilha de Amor!
Que nos faz, com Ele e n’Ele, mais do que Vencedores!

São sete verbos... Mas muito mais que sete verbos,
Porque nos fazem aprendizes 
do Amado e Eterno Verbo.
Aleluia! Aleluia! Aleluia!


PS: Liturgia da Palavra - At 10, 34.37-43; Sl 117; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

“Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!“


“Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!“

Estamos iniciando o Tempo Pascal, tempo de sentirmos e contemplarmos o transbordamento da alegria da Vitória do Ressuscitado, que passou pela morte para nos comunicar Vida Plena, para transformar nossas trevas em luz, nos possibilitando vencer todo medo e secando nossas lágrimas.

Esta alegria transbordante e contagiante é fruto de nosso itinerário quaresmal, um período de quarenta dias, marcado pelos exercícios espirituais do jejum, da oração e da esmola, iniciado na Quarta-feira de Cinzas.

Fruto também da intensa Semana Santa vivida, que ainda ressoa em nossa memória e em nosso coração a emoção pelo mergulho profundo na meditação da Paixão do Senhor, que abre uma perspectiva Pascal, em que somos convidados a consolidar a fé, renovar a esperança e crescer na caridade.

Neste Tempo Pascal, inflamados pelo fogo do Espírito, contemplamos a manifestação e ação do Ressuscitado, nos momentos iniciais e fundantes da Igreja continuadora de sua missão, caminhando e nos preparando para a grande festa de Pentecostes.

Vivendo com intensidade a Fé  para não recuarmos na caminhada, para que ela seja fecunda: a leitura das Sagradas Escrituras. Pois, somente lendo e meditando a Palavra de Deus quotidianamente é que lançaremos as redes exatamente onde Ele manda, para que a noite de nossos fracassos se torne uma pesca abundante (Jo 21, 6).

É necessário que ofereçamos a Deus o melhor de nós, os frutos de nosso trabalho, o pouco ou muito que tenhamos, em cada Banquete Eucarístico, para que o milagre do amor e da partilha leve à superação de toda forma de dor, sofrimento, miséria, tornando a vida mais bela e Pascal.

Que nunca sejamos econômicos em multiplicar orações, por todos os Presbíteros, para que sejam por excelência homens da Palavra e de palavra, por ela conduzam o Povo de Deus e também por ela seja conduzidos.

Concluindo, que pequenos e ao mesmo tempo grandiosos sinais da presença e ação do Ressuscitado em nosso meio sejam acolhidos e, com o Salmista, possamos cantar “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” (Sl 125,3).

É Tempo Pascal, sintamos a presença do Senhor caminhando e falando conosco; Sua Palavra, fazendo arder nossos corações, abrindo nossos olhos, para que O reconheçamos no partir do pão, na vivência da comunhão, do amor fraterno, da partilha.

A maturidade da fé

A maturidade da fé

A felicidade pessoal e a participação na construção de um mundo melhor exige que assumamos, como próprio de cada um de nós, o Projeto que nos é proposto pelo próprio Deus.

Neste sentido, sejamos iluminados pela passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5, 17-19), que nos exorta ao verdadeiro cumprimento da Lei, que não significa apenas a obediência a ela, mas exige que todo o nosso pensar, falar e agir estejam envolvidos pela misericórdia.

Jesus, através de sua palavra e ação, nos revela a face de um Deus que não quer de nós a infantilidade da obediência cega, pois não viveríamos a liberdade para a qual Ele nos libertou e nos comunicou, sendo Ele mesmo a Verdade conhecida, e vivida que nos liberta.

Jesus quer de nós a maturidade da corresponsabilidade no Projeto do Reino, inaugurado com Sua Palavra, Vida e Ação, e, ao longo da história, esta missão confiada, com a certeza de que não está só, pois é incessantemente conduzida e assistida pelo Espírito Santo.

Supliquemos insistentemente ao Pai que, na fidelidade plena e incondicional ao Senhor, com o dom maior do Santo Espírito, façamos esta passagem constante em nossa vida: a passagem da infantilidade da obediência cega à corresponsabilidade do Projeto do Reino.

Pai Nosso que estais nos céus...

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