domingo, 3 de dezembro de 2023

Será Natal para quem viver o Perdão! (02/12)


Será Natal para quem viver o Perdão! 

“Eu confessar?” “Pra que se vou pecar de novo”; “Confessar com padre? Eu não! Confesso diretamente com Deus”; “Eu não tenho pecado, vou confessar o quê?”...

Estas expressões e outras semelhantes ouvimos muitas vezes, portanto, urge que aprofundemos sobre este assunto tão vital para uma vida cristã mais ativa, piedosa, consciente e frutuosa, conhecendo a Doutrina e a fundamentação bíblica do Sacramento da Penitência, que o Papa Francisco tanto insistiu em  sua Carta Apostólica “Misericordia et misera”.

A Igreja recorda-nos precisamente neste período a necessidade irrevogável da Confissão Sacramental, para que possamos viver a Ressurreição de Cristo não só na Liturgia, mas também transcorrer de nossos dias.

O tempo do Advento é um Tempo oportuno para procurarmos um Sacerdote, a fim de receber um dos sete Sacramentos da Igreja, o Sacramento da Penitência. Bem entendido e vivido, este Sacramento nos introduz no Mistério do Amor de Deus, renova-nos, para que melhor imagem d’Ele sejamos: “sede santos como Deus é santo”.

Retomo as palavras de São Josemaria Escrivá, que aconselhava com critério simples e prático que as nossas confissões fossem concisas, concretas, claras e completas. Mais uma vez volto a elas, a fim de ajudar a quantos possa, e que desejem chegar melhor preparados para o Sacramento da Misericórdia Divina.

Confissão concisa, sem muitas palavras: apenas as necessárias para dizermos com humildade o que fizemos ou omitimos, sem nos estendermos desnecessariamente, sem adornos. A abundância de palavras denota às vezes o desejo, inconsciente ou não, de fugir da sinceridade direta e plena; para evitá-lo, temos que fazer bem o exame de consciência.

Confissão concreta, sem divagações, sem generalidades. O penitente “indicará oportunamente a sua situação e o tempo que decorreu desde a sua última confissão, bem como as dificuldades que teve para levar uma vida cristã”, declarando os seus pecados e o conjunto de circunstâncias que tenham caracterizado as suas faltas a fim de que o confessor possa julgar, absolver e curar.

Confissão clara, para sermos bem entendidos, declarando a natureza precisa das faltas e manifestando a nossa própria miséria com a necessária modéstia e delicadeza.

Confissão completa, íntegra, sem deixar de dizer nada por falsa vergonha, para “não ficar mal” diante do confessor.”

É sempre tempo favorável de nossa salvação, de não desperdiçarmos a graça de Deus, como bem falou o Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios. “Sendo assim exercemos a função de embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de nós que o próprio Deus vos exorta. Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).

Advento - Preparemos a vinda do Verbo! (continuação) (01/12)


Advento - Preparemos a vinda do Verbo!

Advento, Tempo favorável de preparação da vinda do Senhor, de esperar Sua chegada, reacendendo e mantendo acesa a chama da caridade, e assim o Natal, de fato, aconteça.

Sejamos enriquecidos pela Comentário do Missal Dominical, intensificando nossa preparação para a vinda do Verbo.

O ritmo da vida atual, cada vez mais agitado, as engrenagens de um sistema que pretende planejar todos os momentos do homem, mesmo o que há de mais privado, reduzem cada vez mais os limites do imprevisto. Tudo deve ser passado pelo computador, classificado, neutralizado, assegurado. Mas para o cristão, Cristo continua a ser um acontecimento revolucionador: quando irrompe em sua vida, impõe uma mudança radical que quebra e transforma a rotina cotidiana. Cristo não pode ser programado; deve ser esperado. Devemos deixar em nossa vida um espaço para Sua presença. A vigilância cristã permite ler em profundidade os fatos para neles descobrir a vinda do Senhor. Exige coração suficientemente missionário para ver essa vinda nos encontros com os outros”.

A atitude de Vigilância, com dimensões pascais (Morte e Ressurreição) nos prepara para o verdadeiro Natal com passagens múltiplas, em renovado compromisso com o Reino:

- Passagem das trevas para a luz;
- do pecado à graça;
- da distância dos relacionamentos à comunhão;
- do ódio ao amor;
- do egoísmo à partilha;
- das práticas injustas para práticas com equidade;
- da mentira à verdade...

Ao cristão jamais será permitido instalações em atitudes que não condizem com a fé cristã, como o comodismo, passividade, desleixo, rotina, desunião, desânimo, esfriamento no caminho da fé, perda da esperança (“hoppelesness” que alguns dizem hoje crescer entre nós), ausência de empenho no enfrentar dos desafios, insensatez, imprevidência, comer e beber sem medida; divertir-se tão apenas, arrivismo (ambições), desejos da concupiscência da carne (desejos em excesso)...

Ao Senhor supliquemos:
Acendei e reacendei sempre em nossos corações Vossa maviosa Chama; a chama da caridade, que nos impulsiona a viver como amados filhos de Deus, no amor ao nosso próximo. Amém.

A beleza do Tempo do Advento (ano A)01/12)

                                                 



A beleza do Tempo do Advento (ano A)

Antes de apresentarmos a mensagem que a Liturgia da Palavra nos oferece, podemos assim entender o Tempo do Advento:

“Hoje nós não esperamos a vinda do Messias – que já apareceu em Belém há mais de dois mil anos – mas a Sua manifestação ao mundo. É nesta perspectiva que adquire sentido o Tempo que dedicamos à preparação do Natal, Tempo que mais do que ‘Advento’, deveria ser chamado ‘Preparação para o Advento’” (1).

Agora vejamos o que nos propõe a Liturgia:

- No primeiro Domingo (ano A) retrata a vinda escatológica de Jesus (a Sua segunda vinda gloriosa, que professamos e aguardamos na vigilância). Somos chamados a “atitude da vigilância”. Todos os textos proclamados evocam a manifestação do Senhor no fim dos tempos e a urgência da preparação para este final da história da humanidade na terra.

- No segundo Domingo (e também no terceiro) retrata a Sua vinda na História. A atitude que se ressalta é a “conversão”, a partir da voz de João Batista, que exorta a preparar os caminhos do Messias esperado.

- No terceiro Domingo, temos a identificação de Jesus testemunhado pelas Suas obras. De fato era Ele que haveria de vir. A marca deste Domingo é a “alegria”, pela Sua primeira vinda e a espera paciente e confiante de Sua segunda vinda.

- No quarto Domingo nos fala do “anúncio“ a José, sobre o nascimento do Filho de Maria como Salvador e Deus conosco.

Em relação à Palavra proclamada nestes Domingos:

- Na primeira leitura, percorremos um itinerário de consciência progressiva do caráter salvífico da vinda d’Aquele que foi prometido e que será reconhecido, no quarto Domingo, na Pessoa de Jesus de Nazaré.

- Na segunda Leitura, temos um convite a nos deixar conduzir pela vigilância, paciência e fidelidade às Escrituras, reconhecendo em Jesus, o Filho de Deus, e vivendo a obediência da fé.

Neste sentido, somos convidados à vigilância e à conversão, esperando com alegria e perseverança a chegada de Deus, na encarnação do Verbo, com a destruição da injustiça e da impiedade, trazendo a salvação para todos os que n’Ele crerem.

Concluindo, podemos afirmar que o Tempo do Advento é uma frutuosa introdução no Mistério do Ano Litúrgico e a celebração da tríplice vinda de Jesus: “As poucas semanas que precedem a Festa do Natal constituem uma importante iniciação ao Mistério insondável da Encarnação, que desde então é o âmbito em que vivemos na fé e na esperança” (2).

Sobre esta tríplice vinda, fiquemos com as palavras de São Bernardo (séc. XIII), em sua Homilia para o Advento:

“Na primeira vinda, o Senhor veio em carne e debilidade, nesta segunda, em espírito e poder; e na última, em glória e majestade. Esta vinda intermediária é como que uma senda por que se passa da primeira para a última: na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa vida; nesta, é o nosso descanso e o nosso consolo” (3).


(1) Lecionário Comentado - p.35
(2) Missal Quotidiano Dominical e Ferial – Editora Paulus – Lisboa – 2011 pp. 27-28
(3) idem p.28

Advento: Preparemos a vinda do Verbo! (IDTAA) (01/12)

Advento: Preparemos a vinda do Verbo!

Na Liturgia do primeiro Domingo o Tempo do Advento (ano A), encontramos um forte apelo para que nos coloquemos em atitude de vigilância na preparação de um verdadeiro Natal.

Assim diz o Missal Dominical:

“A assembleia eucarística é a Igreja em estado de vigilância, que aprende a ler a vinda do Senhor nos acontecimentos e que encontra o Senhor da Glória na História da Salvação e na dos homens”.

Na passagem da primeira Leitura (Is 2,1-5), temos no oráculo, um poema da paz universal e da convergência de todos os povos na volta para Deus em perfeita concórdia, harmonia, uma paz sem fim. Muito oportuna quando estamos assistindo o multiplicar da violência e a banalização da vida com diversos conflitos entre povos e nações.

O Profeta com coração de poeta sonha um novo tempo, logo precisamos recuperar a dimensão da profecia e a vitalidade da poesia, que não nos distancia do tempo, mas nos insere corajosamente nele. Poesia e profecia devem caminhar sempre juntas!

Em Jesus este sonho se realizará: Ele veio, vem e virá para derrubar os muros que nos separam, a fim de que construamos o Seu Reino, como vimos recentemente na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo:  Reino eterno e universal, da santidade e da graça, da verdade e da vida, do amor, da alegria, da paz...

A problemática das divisões é tão real em todo o tempo que Paulo a abordou mais do que uma vez, e na segunda leitura (Rm 13,11-14) retomará esta questão: a comunidade é congregada a viver no amor, e deve estar em permanente vigilância no amor mútuo, abandonando as obras das trevas – “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”.

Com Paulo somos sempre provocados à conversão, ao despertar para uma fé mais sólida, esperança enraizada e caridade vivenciada em todos os níveis, enquanto o Senhor não vem – “A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz”. Na aurora de Sua chegada a noite será iluminada!

Na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 24, 37-44) encontramos o crente ideal: vigilante e atento, sempre preparado para a chegada do Senhor. Na espera do Senhor que vem a responsabilidade ocupa o lugar do ócio, do trabalho que esgota, da não vigilância que leva à perda do sentido...

Vigiar é, sobretudo, fortalecer-se, paradoxalmente, com a força desarmada do amor. Paradoxal, pois se é força desarmada, não tem arma alguma, e não a tendo, como ser fortalecido?

Eis a beleza da fé cristã: a força do amor é a força de todas as forças. Sem ela não haverá Natal!

Vigiar é avaliar o quanto nos empenhamos no essencial da fé cristã, no suprassumo da pregação do Senhor: o amor a Deus e ao próximo, pois nisto consiste toda Lei.

Com o Tempo do Advento, prepararemo-nos para o Natal do Verbo, que iluminará nossas trevas, reacendendo em nós a mais bela de todas as chamas, a chama da caridade.

Esta inflamada em nossos corações, fará resplandecer a verdadeira luz do Natal, concretizando e renovando esperanças, porque sempre movidos pela fé que descortina novos horizontes...

Advento: Tempo de vigilância e Oração (IDTAC) (30/11)


Advento: Tempo de vigilância e Oração

Reflexão sobre o primeiro Domingo do Tempo do Advento (ano C).

À luz das palavras do Profeta Jeremias e do Apóstolo Paulo em sua Carta aos Tessalonicenses na qual temos concentrado a sua catequese e teologia, somos introduzidos na riqueza tão grande do Tempo do Advento.

A Palavra de Deus, na Liturgia proclamada, é uma exortação à vigilância ativa:

 “... é necessário que os cristãos estejam vigilantes, isto é, saibam entender os sinais dos tempos, a mensagem que Deus envia aos homens mediante os acontecimentos terrenos.

Daqui o convite final à Oração (v. 36): a Oração será o único instrumento através do qual os crentes poderão permanecer numa união de verdade e de misericórdia com esse Filho do Homem diante do qual, nesse dia, deverão comparecer.” (1)

Advento, Tempo de fecundar a semente da Palavra de Deus em nosso coração, que deve ser devidamente preparado, em sincera atitude de conversão, para que possamos acolher e celebrar Deus que Se fez criança e virá mais uma vez conosco caminhar.

Celebrar o Advento intensamente, sempre com matizes Pascais, vivendo o Mistério da Morte e Ressurreição, que pede nos pede renúncias, mudanças, desapegos, renovação do ânimo, do entusiasmo, da entrega nas mãos do Senhor, livre e decididamente.

É o Tempo sagrado, em que o tempo cronológico que temos deve ser bem vivido, com todas as suas provações, mas fazendo crescer e abundar a caridade de uns para com os outros (1Ts 3,12), isto é, tornar os nossos corações consagrados ao Amor.

Advento é Tempo de viver para o Amor, com o Amor, Jesus, e para os outros, para o verdadeiro encontro d’Ele, que habita dentro de cada um de nós, no mais íntimo de nós que possamos conceber; que Ele muito mais conhece do que possamos conhecer.

“Aclamemos no Mistério Aquele que vem. Ele veio um dia e virá de novo, fiel à Sua Palavra. Conscientes de que toda justiça e santidade nossas são dons d’Ele, digamos-lhe o Amém da fidelidade e do empenho em colaborar para o Seu Reino que cresce no mundo até à plenitude, e do qual a Mesa Eucarística é anúncio e realização sacramental.” (2)

Vigiemos, oremos, esperemos o Senhor, crescendo e transbordando no amor mútuo, fazendo progressos espirituais mais do que desejáveis, necessários!

Preparemos nosso coração, para que fecundem as sementes de paz que ricamente serão plantadas em cada Eucaristia que celebrarmos. Somente assim teremos verdadeiramente um Santo Natal.


(1) Leccionário Comentado - Volume Advento Natal - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - pág. 52
(2) Missal Dominical - Editora Paulus - 1995 - pág. 58.

Vigilância na espera do Senhor que vem (IDTAA) (01/12)

Vigilância na espera do Senhor que vem

 “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar.
Com efeito, agora a Salvação está mais perto de nós
do que quando abraçamos a fé.” ( Rm 13,11)

No 1º Domingo do Advento do Ano Litúrgico (ano A), somos exortados para uma frutuosa preparação para o Natal:

“O apelo à vigilância, atentos ao Senhor que veio, vem e virá: “Nas Leituras deste primeiro domingo do Ano Litúrgico predominam dois temas: a vinda do Senhor e o tema da Vigilância.

Mais do que dois temas, trata-se antes, de dois ‘movimentos’: O Senhor vem – vamos a Seu encontro; Deus vem ao homem, mas só O encontra quem se coloca ao encontro d’Ele, quem está pronto” .(1)

Numa atitude de vigilância, como cristãos, precisamos superar todo comodismo, passividade, desleixo, sem nos acomodarmos numa rotina sem brilho e sem luz.

A passagem da primeira Leitura (Is 2,1-5) é um dos oráculos mais profundos e mais belos do Antigo Testamento: trata-se de uma visão em que os povos se encontram no Monte Sião (Jerusalém), em harmonia e paz sem fim.

Somente o encontro com Deus e com Sua Palavra possibilita a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, traduzido em vida em abundância e paz universal.

Monte Sião é o contrário de Babel, pois esta segunda se caracteriza pelo confronto dos homens com Deus, o orgulho, a autossuficiência, o conflito, a confusão, a falta de entendimento, a dispersão e tudo que destrói a paz e relação de amizade com Deus.

Urge que nos ponhamos a caminho, ao encontro de Deus e Sua proposta de vida, amor e paz, e este sonho se realizará perfeitamente e plenamente em Jesus.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 13,11-14), o Apóstolo Paulo nos exorta para que despertemos de nosso sono, ou seja, passemos das trevas para a luz. Deixemos de lado todo egoísmo, injustiça, mentira e pecado, e nos empenhemos numa vida marcada pela partilha, justiça, verdade e graça.

Na acolhida e espera do Senhor que vem, contra toda possibilidade de divisão, é preciso, congregados pelo Evangelho, viver na vigilância e no amor mútuo.

Como batizados, esperar o Senhor que vem é o abandono das obras das trevas, para que, como pessoa, família, Igreja e sociedade, vivamos na luz.

Para isto, é preciso que sejamos sempre despertados de nosso sono: na aurora da chegada do Senhor a noite de nossa existência será totalmente iluminada.

Importante lembrar que “Santo Agostinho compara seu estado na vigília da conversão a um sono semidesperto, em que metade de sua vontade, acordada e ao lado de Deus, mandava que a outra metade despertasse e se decidisse.

Sono profundo ou sono semidesperto, não somente o estado de quem está em pecado ou vive esquecido de Deus, mas também a tibieza, a incoerência, a indecisão: um cristianismo ‘implícito’ que seria melhor chamar de cristianismo apagado...

Foram precisamente as últimas palavras de Paulo que acabamos de ouvir que levaram Agostinho a dar o último passo para a conversão. Encontrava-se num jardim em Milão, no ápice daquela luta entre ‘as duas vontades’, quando ouviu uma voz misteriosa que cantava: ‘Pega e lê’.

Pegou a Bíblia e abriu-a, leu as palavras de Paulo que diziam para que se despertasse do sono, e dessa forma encontrou luz e paz no coração, Havia, enfim, tomado sua decisão diante de Deus” (2).

A passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 24,37-44), reforça a atitude de vigilância na fé que o cristão deve ter, em compromisso irrenunciável e inadiável com o Reino. 

A vinda do Senhor é certa, é preciso estar vigilante, preparado e ativo, e isto implica em abertura e disponibilidade para o Reino de Deus, eterno e universal, marcado por relações de verdade, vida, graça, justiça, santidade e paz, como tão bem expressa o Prefácio da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Para isto, o Evangelista nos apresenta três quadros: o ócio, o trabalho e a não vigilância, ou seja, a despreocupação com a vida e a existência; ou o contrário, os compromissos e trabalhos para a subsistência; e por fim a ausência da vigilância, que leva à perda do encontro com o Senhor que vem. (v.37-39; 40-41; 43-44, respectivamente).

Somente a atitude de vigilância nos prepara para o verdadeiro Natal: a passagem das trevas para a luz, do pecado para a graça, do distanciamento para a comunhão e intimidade com Deus, do ódio para o amor.

Recuperemos a dimensão Pascal do Natal para celebrar o Nascimento de Jesus, o Sol Nascente, a Luz sem ocaso, que nos veio visitar e sempre vem nos visitar.

Nossa espera é memória e presença. Memória porque Aquele que esperamos, Jesus, já veio (por isto a preparação necessária para o Natal), e presença, porque cremos e sentimos que Jesus está desde agora conosco; presente de modo salutar e real na Santíssima Eucaristia, que não apenas celebramos, mas comungamos, porque é o  Deus Conosco, o Deus que Se faz Pão, Comida e Bebida para nos Alimentar e nos Salvar.

Que o Tempo do Advento seja a nossa ida com alegria ao encontro de Alguém que caminha conosco, e mais do que caminhar ao nosso lado, Se faz morada em nós pelo Espírito Santo.


(1) O Verbo se fez carne –  (Pe. Raniero Cantalamessa) - Editora Ave Maria - 2013 - p. 17.
(2) Idem pp. 18-19.

Advento: Tempo de fecundação (IDTAC) (30/11)

Advento: Tempo de fecundação

Tempo de vigiar e orar, tempo de a fé viver,
para solidificar a esperança na vivência de uma
autêntica caridade para com o próximo.

A Liturgia do 1º Domingo do Advento (Ano C) é um convite à preparação da vinda do Senhor, para mais uma luminosa e alegre Festa do Seu Natal.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 33,14-16) contemplamos a promessa do Messias. É um período muito difícil da história do Povo de Deus (séc. VI A.C.), parece o princípio do fim, a derrocada de todas as esperanças e seguranças do Povo. 

Neste contexto, o Profeta Jeremias, em nome de Javé, proclama a chegada de um novo tempo, em que Deus vai “pensar as feridas” do seu povo oferecendo a cura e favorecendo a abundância da paz e da segurança. 

O Profeta anuncia a fidelidade a Javé e as promessas que foram feitas, há alguns séculos, a Davi (cf. 2Sm 7). A mensagem é uma recordação das promessas divinas, de modo que é preciso ser eliminada toda nostalgia de um passado nem tão distante; é preciso eliminar toda sombra de medo no presente, para que possa num futuro bem próximo acontecer a instauração de um novo tempo de alegria, esperança, vida e paz, que será a realização da promessa messiânica cultivada na mente e no coração, realizada pelo Messias, que será o próprio Jesus.

A mensagem é atual: é preciso superar o medo, a frustração, o negativismo, a insegurança, o pessimismo. Crer no Senhor, em Sua força, presença e ação, correspondendo sempre à Sua iniciativa, numa resposta autêntica de conversão, fidelidade e compromisso. 

A passagem da segunda Leitura (1Ts 3,12-4,2) é um convite a ficarmos atentos, não nos instalando na mediocridade e comodismo. A vigilância é uma atitude ativa na espera do Senhor, pois Ele é o centro de nosso testemunho pessoal, comunitário e eclesial. 

Trata-se do primeiro Livro escrito do Novo Testamento dirigido a uma comunidade que vive o contexto de perseguição e provação. Tendo recebido notícias animadoras da comunidade, o Apóstolo Paulo envia uma Carta para que não se acomodem na espera do Senhor que vem, mas vivam a espera do Senhor, aprofundando as relações de amor entre seus membros. 

Ser cristão não é possuir a perfeição consumada, pois é preciso recomeçar em cada dia um novo instante da vida; saber que há um caminho novo a ser feito e não se conformar ao que já foi feito. 

Nisto consiste esperar, saber amar, avançar em águas mais profundas da fidelidade e compromisso com o Reino do Senhor.

Deste modo, o cristão não se acomoda, mas vigilante, se incomoda e se compromete com alegria e coragem na participação da construção do Reino.

A passagem do Evangelho (Lc 21,25-28.34-36) é uma mensagem de alegria, confiança, esperança e compromisso na acolhida do Filho do Homem, Jesus, que faz acontecer o Projeto de um mundo novo.

Retrata os últimos dias da vida terrena de Jesus e a iminente destruição de Jerusalém (anos 70 D.C.), como de fato aconteceu.

Jesus anuncia uma Palavra de ânimo, “é preciso levantar a cabeça porque a libertação está próxima” (Lc 21,28). A comunidade não pode se amedrontar, mas deve abrir o coração à esperança, em atitude de vigilância e confiança.

A salvação não pode ser esperada de braços cruzados. A salvação é oferecida a nós como dom: Jesus vem, mas é preciso reconhecê-Lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e buscam a libertação.

É preciso deixar que Ele nos transforme a mente e o coração para que Ele apareça em nossos gestos e palavras, em toda a nossa vida.

Celebrar o Tempo do Advento é celebrar a preparação para o Natal do Senhor. Celebrar a esperança de um mundo novo que há de vir e que depende de nosso testemunho. 

O Reino vem e acontece como realidade escatológica, ou seja, não será uma realidade plena neste tempo em que vivemos, será plenitude somente depois que Cristo destruir definitivamente o mal que nos rouba a liberdade e ainda nos faz escravos.

Trabalhamos e nos empenhamos pelo Reino que é já e ainda não, pois ainda que muitas coisas tenhamos feito e o mundo tornado melhor, ainda não será o “tudo melhor” que Deus tem reservado para nós. O Reino de Deus é uma realidade inesgotável, imensurável e indescritível, e o vemos em sinais.

Por ora, é preciso vigiar e orar, numa esperança que nos leve a viver uma caridade ativa tornando fecunda a nossa fé. 

Advento é tempo propício para ajudar o outro a se erguer de novo, é tempo de voltar a dar gosto à vida que germina silenciosamente.

Comecemos bem este Tempo maravilhoso e frutuoso que a Igreja nos oferece, preparando nosso coração para que nele Cristo possa nascer e renascer sempre. 

Que em nós, em nossas famílias e no mundo, o Deus Menino encontre uma digna moradia.

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