sexta-feira, 1 de setembro de 2023

“Todos vós sois um só em Cristo Jesus”

 


                   “Todos vós sois um só em Cristo Jesus”

Com o lema “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28), celebramos o mês da bíblia, aprofundando a Carta de Paulo aos Gálatas, na qual o Apóstolo Paulo nos apresenta o Evangelho de Jesus Cristo crucificado.

Trata-se de uma carta direta e personalizada, para que os membros da comunidade se esforcem por clarificar as ideias perturbadas pela intervenção do grupo judaizante, voltando a viver na liberdade, na igualdade e na unidade, à luz da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

A carta aos Gálatas é mais profundamente marcada pelo tom duro e polêmico do que qualquer outra (é a única carta sem a costumeira ação de graças nas saudações inicial e final).

Um possível esquema da Carta:

a) Introdução – 1,1-10: apresentação do tema “o Evangelho de Cristo”, baseado na graça de Deus.

b) Primeira parte – 1,11-2,21: relato autobiográfico e histórico.

c) Segunda parte – 3,1-5,12: argumento contra os adversários.

d) Terceira parte – 5,13-6,10: exortação ética – liberdade e caridade.

e) Conclusão – 6,11-18: advertência contra o grupo judaizante radical.

O Apóstolo convencido do perigo que representavam para o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, não poupou críticas fortes contra os grupos formados pelos judaizantes e helenizados radicais, que estavam desvirtuando o valor salvífico do amor gratuito de Jesus Cristo crucificado, a manifestação da graça de Deus.

Quanto ao conteúdo da Carta:

1) Pregar e praticar o Evangelho de Jesus Cristo crucificado (Gl 1,7): o verdadeiro Evangelho (Gl 2,5.14) é a própria pessoa de Jesus de Nazaré, que pregou e praticou a justiça e deu Sua vida na Cruz, por puro amor ao próximo (Gl 1,3-5).

2) Ser herdeiro da promessa de Abraão pela fé em Jesus Cristo crucificado (Gl 3,6-18): o fato de Jesus Cristo – que conviveu com os pecadores e morreu na Cruz por amor ao próximo – ser reconhecido como o Messias sofredor e o Filho de Deus (Gl 4,4) é a mensagem essencial de que o Deus da promessa a Abraão (Gn 15,4-8; 18,17-18) reconhece a pessoa não em virtude das obras da Lei, mas sim de sua prática do amor ao próximo. A fé no Messias sofredor abre a salvação a todos os povos, sem o pré-requisito do cumprimento da Lei, como a circuncisão e as leis alimentares (Gl 2,11-14).

3) Ter liberdade em Jesus Cristo crucificado (Gl 5,1): no Espírito (o poder do amor gratuito) de Jesus Cristo crucificado, a pessoa torna-se “nova criatura” (Gl 6,15), fica liberta de qualquer lei e de qualquer diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros (Gl 3,28).

4) Viver segundo o Espírito (Gl 5,5): quem caminha na fé e no amor do Crucificado é acompanhado pela força criadora, profética, sapiencial e libertadora do Espírito para viver do modo como Jesus viveu: na liberdade, na justiça e no amor, criando irmandade, paz e esperança.

5) Carregar o peso uns dos outros (Gl 6,2): a verdadeira liberdade cristã é fruto do Espírito de Deus, que leva à vida de caridade, justiça e fraternidade, sobretudo de amor-serviço aos outros (Gl 5,13-6,10).

6) Evangelizar com base na realidade (Gl 4,12): ao contrário do grupo judaizante, Paulo considerou e respeitou os anseios por liberdade e igualdade do povo sofrido e escravizado, formando comunidades de fraternidade sem a imposição das leis e costumes judaicos.

7) Evangelizar junto com os pobres (Gl 2,10): Paulo evangelizou as nações, pondo-se ao lado dos pobres, mergulhando no mundo deles, carregando os fardos do trabalho (Gl 6,2), organizando comunidades de partilha e de fraternidade junto com os pobres (1Cor 4,9-13).

8) Carregar as marcas de Jesus, que significam as cicatrizes dos maus-tratos sofridos e suportados pelo Nazareno (Gl 6,14.17; cf. 2Cor 4,10): quem assume o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, Seu amor gratuito e o espírito da liberdade, será perseguido e maltratado no mundo do legalismo judaico e da escravização do império. As pessoas que seguem Jesus, porém, mesmo perseguidas, devem gloriar-se na Cruz de Jesus Cristo, porque é dela que nasce “o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1Cor 1,24), para construir o mundo da partilha e da fraternidade: o Reino antecipado de Deus.

Paulo pregou Jesus crucificado e ressuscitado e ousou caminhar na contracorrente, com a proposta do amor gratuito e da justiça do “servo sofredor”, escrevendo a Carta para uma comunidade que vivia no contexto do imperialismo romano e da religião legalista e ritualista do judaísmo oficial.

A Carta nos ilumina e nos leva a enfrentar tudo aquilo que devora pessoas inocentes mediante guerras, ditaduras brutais, trabalhos em condição de escravidão ou semiescravidão, economia selvagem, fomes, violências, de modo que é impensável Igrejas com um Cristo triunfalista, legalista e ritualista.

 

PS: ano de 2021


Uma síntese do Artigo “O Evangelho de Jesus Cristo Crucificado – entendendo a Carta aos Gálatas, publicado na Revista Vida Pastoral n.341 – ano 62 – pp.14-21- de Shigeyuki Nakanose, svd e Maria Antônia Marques.

https://www.vidapastoral.com.br/edicao/o-evangelho-de-jesus-cristo-crucificado-entendendo-a-carta-aos-galatas/




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