Com o lema “Todos vós
sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28), celebramos o mês da bíblia,
aprofundando a Carta de Paulo aos Gálatas, na qual o Apóstolo Paulo nos
apresenta o Evangelho de Jesus Cristo crucificado.
Trata-se de uma carta
direta e personalizada, para que os membros da comunidade se esforcem por
clarificar as ideias perturbadas pela intervenção do grupo judaizante, voltando
a viver na liberdade, na igualdade e na unidade, à luz da vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo.
A carta aos Gálatas é
mais profundamente marcada pelo tom duro e polêmico do que qualquer outra (é
a única carta sem a costumeira ação de graças nas saudações inicial e final).
Um
possível esquema da Carta:
a)
Introdução – 1,1-10: apresentação do tema “o Evangelho de Cristo”,
baseado na graça de Deus.
b)
Primeira parte – 1,11-2,21: relato autobiográfico e histórico.
c) Segunda
parte – 3,1-5,12: argumento contra os adversários.
d)
Terceira parte – 5,13-6,10: exortação ética – liberdade e caridade.
e)
Conclusão – 6,11-18: advertência contra o grupo judaizante radical.
O Apóstolo convencido do
perigo que representavam para o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, não
poupou críticas fortes contra os grupos formados pelos judaizantes e helenizados
radicais, que estavam desvirtuando o valor salvífico do amor gratuito de Jesus
Cristo crucificado, a manifestação da graça de Deus.
Quanto ao
conteúdo da Carta:
1) Pregar
e praticar o Evangelho de Jesus Cristo crucificado (Gl 1,7):
o verdadeiro Evangelho (Gl 2,5.14) é a própria pessoa de Jesus de Nazaré, que
pregou e praticou a justiça e deu Sua vida na Cruz, por puro amor ao próximo
(Gl 1,3-5).
2) Ser
herdeiro da promessa de Abraão pela fé em Jesus Cristo crucificado (Gl
3,6-18): o fato de Jesus Cristo – que conviveu com os
pecadores e morreu na Cruz por amor ao próximo – ser reconhecido como o Messias
sofredor e o Filho de Deus (Gl 4,4) é a mensagem essencial de que o Deus da
promessa a Abraão (Gn 15,4-8; 18,17-18) reconhece a pessoa não em virtude das
obras da Lei, mas sim de sua prática do amor ao próximo. A fé no Messias
sofredor abre a salvação a todos os povos, sem o pré-requisito do cumprimento
da Lei, como a circuncisão e as leis alimentares (Gl 2,11-14).
3) Ter
liberdade em Jesus Cristo crucificado (Gl 5,1): no
Espírito (o poder do amor gratuito) de Jesus Cristo crucificado, a pessoa
torna-se “nova criatura” (Gl 6,15), fica liberta de qualquer lei e de qualquer
diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros (Gl 3,28).
4) Viver
segundo o Espírito (Gl 5,5): quem caminha na fé e no
amor do Crucificado é acompanhado pela força criadora, profética, sapiencial e
libertadora do Espírito para viver do modo como Jesus viveu: na liberdade, na
justiça e no amor, criando irmandade, paz e esperança.
5) Carregar
o peso uns dos outros (Gl 6,2): a verdadeira liberdade
cristã é fruto do Espírito de Deus, que leva à vida de caridade, justiça e
fraternidade, sobretudo de amor-serviço aos outros (Gl 5,13-6,10).
6) Evangelizar
com base na realidade (Gl 4,12): ao contrário do grupo
judaizante, Paulo considerou e respeitou os anseios por liberdade e igualdade
do povo sofrido e escravizado, formando comunidades de fraternidade sem a
imposição das leis e costumes judaicos.
7) Evangelizar
junto com os pobres (Gl 2,10): Paulo evangelizou as
nações, pondo-se ao lado dos pobres, mergulhando no mundo deles, carregando os
fardos do trabalho (Gl 6,2), organizando comunidades de partilha e de
fraternidade junto com os pobres (1Cor 4,9-13).
8)
Carregar as marcas de Jesus, que significam as
cicatrizes dos maus-tratos sofridos e suportados pelo Nazareno (Gl 6,14.17; cf.
2Cor 4,10): quem assume o Evangelho de Jesus Cristo crucificado, Seu amor
gratuito e o espírito da liberdade, será perseguido e maltratado no mundo do
legalismo judaico e da escravização do império. As pessoas que seguem Jesus,
porém, mesmo perseguidas, devem gloriar-se na Cruz de Jesus Cristo, porque é
dela que nasce “o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1Cor 1,24), para
construir o mundo da partilha e da fraternidade: o Reino antecipado de Deus.
Paulo pregou Jesus
crucificado e ressuscitado e ousou caminhar na contracorrente, com a proposta
do amor gratuito e da justiça do “servo sofredor”, escrevendo a Carta para uma
comunidade que vivia no contexto do imperialismo romano e da religião legalista
e ritualista do judaísmo oficial.
A Carta nos ilumina e
nos leva a enfrentar tudo aquilo que devora pessoas inocentes mediante guerras,
ditaduras brutais, trabalhos em condição de escravidão ou semiescravidão, economia
selvagem, fomes, violências, de modo que é impensável Igrejas com um Cristo
triunfalista, legalista e ritualista.
PS: ano de 2021
Uma
síntese do Artigo “O Evangelho de Jesus Cristo Crucificado – entendendo a Carta
aos Gálatas, publicado na Revista Vida Pastoral n.341 – ano 62 – pp.14-21- de Shigeyuki
Nakanose, svd e Maria Antônia Marques.
Nenhum comentário:
Postar um comentário