domingo, 4 de fevereiro de 2024

Sejamos Sal e luz na planície do quotidiano (VDTCA)

Sejamos Sal e luz na planície do quotidiano

... quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

A Liturgia do 5º Domingo do tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre o compromisso que abraçamos no dia de nosso Batismo, quando nos tornamos cristãos, discípulos missionários do Senhor.

Fazer brilhar a luz de Deus na noite do mundo, e como sal dar gosto e sentido de Deus a todo o existir, é a nossa grande missão.

Na passagem da primeira Leitura, o Profeta Isaías (Is 58,7-10), em tempos difíceis do pós-exílio, mantém viva a chama da esperança de um tempo novo, expressando a reclamação de Deus contra aqueles que praticam um culto vazio e estéril: de nada adianta a prática de leis externas, que não saem do coração, sem a necessária correspondência na vida.

O Profeta faz, portanto, um convite ao Povo para que respeite a santidade da Lei, colocando-a em prática. De modo especial, retrata na passagem o jejum, que no contexto do capítulo aparece sete vezes.

A prática do jejum deve ser feita com humildade diante de Deus, como expressão da dependência, do abandono e amor para com Ele, a renúncia a si próprio, a eliminação do egoísmo e da autossuficiência.

Jejum é voltar-se para o Senhor, manifestando a entrega confiante em Suas mãos, em total disponibilidade de acolher a ação e o dom de Deus, em gestos concretos de amor e solidariedade.

Deste modo, o jejum jamais pode ser compreendido como uma tentativa de colocar Deus do nosso lado, captando Sua benevolência a fim de que realize prontamente nossos interesses e desejos egoístas.

Somente a prática do jejum autêntico é que levará a comunidade a ser e contemplar a luz de Deus no mundo.

Reflitamos:

- Qual é a relação entre os gestos cultuais e gestos reais de nossa vida. Expressam ambos em sintonia a misericórdia e o Amor de Deus?

De que modo o que celebramos tem determinado a nossa vida?
Que matiz o Amor Divino tem dado as nossas ações?

- Somos uma luz acesa na noite do mundo, em solidariedade expressiva?
   - Somos como Isaías, Profetas do amor e servidores da reconciliação para um mundo novo justo e fraterno?

O Apóstolo Paulo, na passagem segunda Leitura (1Cor 2,1-5), nos exorta a identificação com Cristo, interiorizando a “loucura da Cruz”, que é dom e vida. Deus age através de nossa fragilidade e debilidade, como agiu através dele, um homem frágil e pouco brilhante.

Diante da comunidade de Corinto, o Apóstolo se apresentou consciente de sua fraqueza, assustado e cheio de temor.

O que levou os coríntios a abraçar a fé não foi a sedução de sua personalidade, nem suas brilhantes qualidades de pregador (que não possuía), e tão pouco a coerência de sua exposição, que ao contrário foi acolhida com ironia e indiferença.

O que levou os coríntios a aderirem à proposta de Jesus foi a força de Deus que se impõe, muito além dos limites de quem apresenta ou ouve a Sua proposta.

O Espírito de Deus está sempre presente e age no coração daquele que crê, de forma que a sabedoria humana é suplantada e, assim, somos tocados e elevados pela sabedoria divina.

É preciso que nos coloquemos sempre como humildes instrumentos nas mãos de Deus, para que se realize Seu Projeto de Salvação para o mundo todo.

Com isto não quer dizer que Deus dispense nossa entrega, doação, técnicas, meios de comunicação, ao contrário, é o Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.

A mensagem da passagem do Evangelho (Mt 5,13-16) é o desdobramento do Sermão da Montanha que, se verdadeiramente vivido na planície, nos faz sal da terra e luz do mundo.

Seguidores do Senhor não podem se instalar na mediocridade, jamais se acomodar, mas pôr-se sempre a caminho, sem nenhuma possibilidade para comodismo e facilidades.

Ser sal e luz implica em total fidelidade dos discípulos ao programa anunciado por Jesus nas Bem-Aventuranças: ser pobre em espírito, sedento de justiça e paz, misericordioso, puro e capaz de sofrer toda forma de incompreensão, calúnia e perseguição.

Ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente no testemunhar do Reino em ambientes adversos. Não se pode viver um cristianismo “morno” instalado, cômodo, reduzindo a algumas práticas de Oração e de culto (até mesmo de uma Missa apenas aos domingos, como simples expressão de preceito cumprido).

Somente quando o nosso agir revela a ação e o compromisso com o Projeto Divino é que somos sal da terra e luz do mundo, e apresentamos Jesus como a Luz de todos os Povos, de todas as nações.

Somente quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

Discípulos missionários do Senhor devem se preocupar permanentemente em não atrair sobre si o olhar de todos, mas deve, antes e sempre, se preocupar em conduzir o olhar e o coração de todos para Deus e à Proposta de Seu Reino de Amor, Vida e Paz.

Sendo sal, que jamais percamos o gosto, do contrário para nada serviremos. Sendo luz, que jamais permitamos que ela se apague, não obstante as dificuldades próprias da existência.

Que tenhamos a coragem de comunicar a luz de Deus na escuridão do quotidiano, sem jamais perder o gosto do sal de Deus: gosto da partilha, do acolhimento, da misericórdia, da caridade.  Tão somente assim a luz de Deus, que em nós habita pelo Seu Espírito, comunicará luz aos que se encontram ao nosso redor.

Sal e luz, sejamos sempre! Sermão da Montanha ouvido e acolhido, na planície da vida anunciado, testemunhado e corajosamente vivido. Amém!  

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