segunda-feira, 18 de novembro de 2024

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”

                                                  

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”

Concluindo mais um Ano Litúrgico, é sempre tempo de rever quais foram as verdadeiras motivações do nosso trabalho Pastoral, à luz da passagem do Livro do profeta Isaías (Is 40, 25 – 31).

Haverá de ser sempre o amor de Deus, que nos impulsiona a fazer o máximo que pudermos por amor e com amor.

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”. Se não fosse o Amor de Deus há muito já não faríamos, pois força e motivação não teríamos, porque este amor é a incrível força que nos acompanha, inflama e renova nossa alegria de nos colocarmos sempre a serviço do Reino de Deus.

O amor que nos move, motiva, impulsiona, nos leva a superar rotinas, fazendo a mesma coisa como se fosse a primeira.

Podemos afirmar sem dúvidas que “quem ama deveras nunca se cansa”. Assim é o Amor de Deus para conosco. 

Trabalhos, atividades que se multiplicam, aparente impotência diante de tanto por fazer...

Às vezes nos sentimos limitados pelo tempo que parece diminuto e o muito a fazer.

A dois grandes Santos, como que num hipotético diálogo, perguntaríamos qual o caminho, considerando que o tempo nos separa, mas não a preocupação em bem realizar todas as coisas.

O primeiro viveu no século V, a segunda no século XV. O que nos responderiam se perguntássemos a ambos sobre a importância do amor no trabalho pastoral, ou mesmo em qualquer outra atividade edificante e nobre, da menor à maior; em micro ou macro relação?

Santo Agostinho:
“Tenho de amar o Redentor e sei o que disse a Pedro: Pedro, tu Me amas? Apascenta minhas ovelhas (Jo 21,17). E isto uma vez, duas vezes, três vezes. Questionava-se o amor e impunha-se o trabalho, porque onde é maior o amor, menor o trabalho”.

Santa Teresa de Jesus:
“Procuremos sempre ir considerando estas verdades se estimulando-nos a amar. Porque, uma vez que nos conceda o Senhor a graça de que este amor nos seja impresso no coração, tudo nos será mais fácil: Fazemos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho”.

De fato, experimentamos esta verdade:
Onde o amor é maior, menor é o trabalho e quantas coisas fazemos com alegria, bem depressa e com pouco trabalho.

O amor é a grande força que nos motiva a pequenos gestos que se tornam grandes, para gestos ainda maiores.

Eis aqui o caminho para o louvor de Deus, concretizado no amor e serviço ao próximo.

O amor é imprescindível em tudo que fazemos, pois sem ele tudo se torna difícil.

É admirável pessoas que por amor fazem coisas que jamais o fariam por dinheiro algum, pois por amor a Jesus, tudo vale a pena.

Por amor a Jesus, tudo que fizermos ainda é nada diante do Seu amor sem limites:

“Deus amou tanto o mundo que entregou o
Seu Filho único, para que todo o que
n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3,16).

E por isto assim falou o Evangelista:

“Tendo amado os Seus que estavam
no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1).

Tudo fazer por amor, apenas Amor.
Amor que transcende todo desejo,
Amor que ultrapassa todos os limites,
Amor que alcança o inatingível,
Amor cantado por Paulo aos Coríntios e a nós!
Verdadeiramente o Amor jamais passará por que
Deus que é Amor, é eterno...
Aquele que era, é e será!

Maria, sempre Maria!

                                                                     

Maria, sempre Maria!

Quanto mais dela falo, nada ainda disse...
Quão forte sua voz! Quão doce seu canto!

Maria, sempre Maria!

Ela é por excelência a Cantora Divina:
Canta com alegria, confiança e esperança.
Basta de cantos tristes, nefastos lamentos!
Cantar com Maria com alma de criança...

Que canta na fidelidade incondicional ao Pai,
Na acolhida e amor irrenunciável pelo Filho Jesus,
Confiante na docilidade da ação e presença do Espírito.
Canto que revigora, ilumina, facho imensurável de luz!

Ainda que algumas vezes nos encontremos desanimados
Sob as cinzas de possível incredulidade, fragilizados,
Na indiferença, omissão, indignação ou apatia política;
Magnificat mantém acesa a menor centelha de luz! 

Com Maria sonhamos e cantamos o Mundo Novo a cada dia,
E com ela aprendemos que a mais ousada profecia.
É o compromisso com o Deus da vida e dos empobrecidos,
Reavivando a chama de quem em nada mais acredita.

Quem melhor que ela multiplicou alegrias?
Quem, a seu exemplo, o mesmo incansavelmente faz?
Atenua desesperos e refaz sonhos, reaponta novos caminhos.
Com ela, Mãe das Dores, suportemos as dores dos espinhos.

Maria não só cantou a esperança dos pobres,
Desta realização com intensidade participou.
Dedico estas palavras a quem também assim o faz,
Quem com o Mundo Novo sonha, Mundo Novo de paz!

Maria, sempre Maria!

Que este singelo poema seja uma centelha de luz;
Que para ti seja uma nota ao menos de alegre canto;
Que teus pés sejam fortalecidos, rumos reorientados, animado, acalmado,
Seque eventuais lágrimas, não se eternize o pranto!

Quanto mais dela falo, mais a venero e amo.
Quão forte sua voz! Quão doce seu canto!
Quem melhor, sob a ação do Espírito Santo,
Poderia nos dizer: “Fazei tudo o que Ele vos disser”?(Jo 2,5)

Maria, sempre Maria!
Quanto mais dela falo, nada ainda disse...

domingo, 17 de novembro de 2024

Vigilância ativa na espera do Senhor que vem (XXXIIIDTCB)

                                      

Vigilância ativa na espera do Senhor que vem

A Liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum (Ano B) nos convida a olhar o passado e o futuro para viver melhor o hoje de Deus.

É um grande convite à esperança: Deus vai intervir na noite do mundo e mudar a história numa alegre aurora de vida, amor e luz.

Esperar vigilante o Senhor que vem, reconhecendo no presente Sua ação constante, revendo nossa participação na construção do Reino.

A passagem da primeira Leitura (Dn 12,1-3) retrata um difícil momento da História do Povo de Deus (séc. IVa.C), vivido sob a dominação do reinado do selêucida Antíoco IV.

Este rei queria impor a cultura helênica em todo o seu império e praticou uma política de intolerância para a cultura e a religião judaica.

O autor sagrado exorta à constância e a fidelidade, certo que isto assegurará a recompensa divina em sua maior expressão: a vida eterna.

É preciso manter firme a fé sem ceder à imposição de culturas que violem a tradição e a fé judaica.

A preocupação do autor é restaurar a esperança num tempo marcado pela perseguição. A fidelidade a Javé deve ser vivida apesar de toda dificuldade, incompreensão, intolerância e perseguição. Javé recompensará quem se mantiver fiel à Lei e aos Seus Mandamentos.

Esboçam-se os primeiros fundamentos teológicos da Ressurreição: não somos condenados ao fracasso; a fidelidade vivida garante a Ressurreição, a recompensa da vida eterna para o justo.

A mensagem, portanto, é de esperança: a vitória será daqueles que se mantiverem fiéis às propostas de Deus; que não sucumbirem aos valores efêmeros, mas pautarem a existência pelos valores eternos.

Em meio às dificuldades, o cristão não é um “profeta da desgraça”. A certeza da presença de Deus no seu caminhar traz em si a convicção de que a vitória final será de Deus e de todos os que permanecerem fiéis.

Não faz sentido que o cristão seja um profeta da desgraça, com um olhar derrotado para a história e o mundo, curtindo dentro de si o azedume e o pessimismo. Ao contrário, deve ser uma pessoa alegre e confiante, pois olha para o mundo com serenidade e esperança, sabendo que Deus guia a história da humanidade e cuida de cada um com intenso Amor.

Como será diferente o mundo se cultivarmos este olhar!

- Como vemos o mundo e os desafios que nos cercam?
- Por vezes também não podemos ser “profetas da desgraça”, pessimistas, sem esperança de que o mundo possa ser mudado, que a violência seja banida, que a exclusão seja superada?

A passagem da segunda Leitura (Hb 10,11-14.18) é dirigida a uma comunidade em que há a perda do entusiasmo; um povo cansado, fragilizado e sem esperança.

É uma exortação para que se viva uma fé mais coerente e mais empenhada tendo Jesus Cristo como o Sumo e Eterno Sacerdote, que fez de Sua vida uma oferenda, sacrifício uma vez por todas, para que o mesmo façamos, dando a nossa vida em contínuo sacrifício de louvor, entrega e amor.

O autor tem um objetivo explícito: despertar no coração dos crentes uma resposta mais decidida e forte ao Amor de Deus revelado por Jesus que nos amou com Amor sem limites.

Ele é o Servo fiel, vida doada, sacrificada com amor e por amor a nós. Assim, o cristão está inserido na dinâmica do amor que Jesus testemunhou, fazendo da vida um dom de amor, não desanimar, lutando sempre.

O caminho percorrido por Jesus é o caminho do cristão, certos de que a última palavra é sempre a Palavra de Deus, que nos quer salvar e nunca nos abandona, pois é próprio do Amor de Deus nunca desistir de nós para que sejamos melhores. Ele venceu a morte, e com Ele também podemos vencer.

A passagem do Evangelho (Mc 13,24-32) nos apresenta um discurso escatológico, profético/apocalíptico sobre o fim dos tempos: a espera da vinda gloriosa do Senhor.

Exorta à fidelidade, coragem e vigilância. Apesar das vicissitudes do tempo presente, o cristão deve viver na vigilância ativa e com lucidez, na espera da vinda gloriosa do Filho do Homem.

A passagem é um claro anúncio do Triunfo de Cristo sobre toda e qualquer forma de dominação que se possa viver. É um texto não para incutir desespero na mente e no coração dos discípulos, mas para despertar a confiança e a esperança de um mundo novo que está sempre por vir.

As Palavras de Jesus não são uma bela teoria ou um piedoso desejo, ao contrário garantem que o mundo novo, a vida plena e de felicidade sem fim, irá surgir, e não dispensa nossa vigilância e compromisso, nosso testemunho de fé.

A Palavra de Deus abre a porta à esperança. Deus não abandona a humanidade e quer transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos.

A humanidade não caminha tragicamente para o holocausto, para a destruição, para o sem sentido, para o nada.

Com Jesus, ela caminha ao encontro da vida plena, com o desenvolvimento das potencialidades que o Senhor cumulou a todos. Não podemos ser omissos.

A religião assim vivida não será ópio. O cristão não pode deixar-se dominar pelo medo, pessimismo, desespero, discursos negativos, angústias. Cristão não é alguém deprimido, assustado, derrotado, mas alguém que tem fé frutuosa, visão otimista da vida e da história, caminhando alegre e confiante ao encontro do mundo que Deus prometeu:

“Uma interpretação unilateral e injusta das realidades humanas (favorecida, aliás, por certa pregação também unilateral e míope) fez com que muitos homens de nosso tempo encarassem com desconfiança a religião cristã, como se fosse inimiga do mundo, da vida, do progresso, do esforço humano; uma religião de evasão, de descomprometimento, de renúncia passiva e covarde; o ópio que entorpece o homem e dele retira todo interesse pela cidade terrestre, seduzindo-o com a promessa de um além feliz e ilusório” (Missal Dominical - p.1076).

Vigilantes, não podemos cruzar nossos braços na espera que um mundo novo caia do céu, mas, com palavras e gestos, é preciso pôr-se a caminho, cada um dando o melhor de si para a construção do Projeto de vida que Deus tem para nós.

Não há possibilidade que o cristão se feche em seu canto ou mesmo ignore a intervenção e ação divina, com seus apelos e Projetos.

O cristão precisa ficar atento às necessidades, e procurar a resposta com sabedoria, exatamente como Deus assim espera de cada um de nós e de todos nós. 

Enquanto Ele não vem, intensificamos nosso empenho, renovamos a alegria e o entusiasmo da fé com engajamento mais frutuoso.

Ser no mundo o que a alma é para o corpo, como nos dizem os primeiros ensinamentos da Igreja: testemunhar com confiança, esperança vivendo a solidariedade, fidelidade, pois não há melhor modo de ficar vigilante esperando a vinda gloriosa do Senhor.

Somente colaboraremos para humanizar o mundo e as relações entre as pessoas, vivendo a partilha, serviço, perdão, amor, fraternidade, solidariedade e paz.

Fortalecendo os vínculos fraternos como Profetas da esperança de um novo dia, mas sem nos alienarmos do compromisso no tempo presente, de modo que a religião não se traduza numa fuga dos desafios, mas enfrentamento e superação dos mesmos. A fé exige combate, inevitavelmente.

O cristão é um peregrino longe do Senhor, e vivendo na penumbra da fé, vai discernindo os valores que são válidos e os não válidos; o que é atual ou apenas um modismo; o que é eterno e o que é efêmero, transitório.

Caminha acreditando que, de fato, romperá na escuridão do mundo a aurora de um mundo novo, vive a transitoriedade do tempo rumo à eternidade.

Vive também o limite do transitório para abraçar a eternidade, pois a transitoriedade e a eternidade são elementos constitutivos de nossa existência.

Da Mesa da Palavra vem a Palavra do próprio Deus, que é para nós, luz e força nas perseguições, dificuldades; segurança para que não nos entreguemos ao desespero e nem mergulhemos nos mares das dúvidas que a história oferece.

Da Mesa da Eucaristia nos vem o Alimento salutar, para que revigorados sejamos testemunhas d’Aquele que veio, vem e virá.

Agora é o nosso tempo da vigilância ativa,
com lucidez, coragem e sabedoria,
renovada e revigorada nas Sagradas Mesas
da Palavra e da Santa Eucaristia.

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor... (XXXIIIDTCB)

                                                   

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor...

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Misericórdia a ser vivida acompanhada de louvor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Humildade assumida faz crescer verdadeiro temor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Paz a ser promovida superando todo ódio e rancor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Caridade, pequenos gestos tornam-se grandes pelo amor!

Em poucas palavras... (XXXIIIDTCB)

                                                            


A vinda do Senhor será como um relâmpago 

“Não podemos pretender conhecer o pensamento de Deus, os Seus desígnios: a vinda do Senhor será como um relâmpago, imprevisível e inesperada. A nós é pedida, desde já, a santidade da vida, a oferenda de uma vida livre em Cristo, a vigilância no louvor a Deus” (1). 

 

(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – Vol. IV – p. 777

 

O Senhor virá nos julgar com equidade e verdade (XXXIIIDTCB)

                                            

O Senhor virá nos julgar com equidade e verdade

A Liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum nos convida à vigilância na espera do Senhor que vem, permanecendo firmes na fé, e com sabedoria multiplicar os dons que foram confiados por Deus.

A Igreja nos oferece um dos comentários sobre os Salmos do Bispo Santo Agostinho (Séc. V), em que ele nos exorta a não oferecermos resistência à Sua primeira vinda para não termos de recear a segunda vinda gloriosa.

“Então todas as árvores das florestas exultarão diante da face do Senhor porque veio, veio julgar a terra (Sl 95,12-13). Veio primeiro e virá depois.

Esta Sua palavra ressoou pela primeira vez no Evangelho: Vereis sem demora o Filho do homem vir sobre as nuvens (Mt 26,64).

Que quer dizer: Sem demora? O Senhor não virá depois, quando os povos da terra se lamentarão? Veio primeiro em Seus pregadores e encheu o mundo inteiro. Não ofereçamos resistência à primeira vinda, para não termos de recear a segunda.

Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto?

Possuindo, como quem não possui. O Apóstolo diz: De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que têm esposa sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam do mundo, como se não usassem; pois passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem inquietações (1Cor 7,29-32).

Quem não tem inquietações, aguarda com serenidade a vinda de Seu Senhor. Pois, que amor ao Cristo é esse que teme Sua chegada? Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de Sua vinda. Será que amamos? Ou amamos muito mais nossos pecados?

Odiemos, portanto, estes mesmos pecados e amemos Aquele que virá castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não haverá importância não saberes.

E exultarão todas as árvores das florestas. Veio primeiro; depois virá para julgar a terra; encontrará exultantes aqueles que creram em sua primeira vinda, porque veio.

Julgará com equidade o orbe da terra, e os povos em Sua verdade (Sl 95,13). Que significam equidade e verdade?

Reunirá junto a si Seus eleitos para o julgamento; aos outros separa-los-á dos primeiros; porá uns à direita, outros à esquerda.

Que de mais justo, de mais verdadeiro do que não esperarem misericórdia da parte do juiz, aqueles que não quiseram usar de misericórdia antes da vinda do juiz? Quem teve misericórdia, será julgado com misericórdia.

Os colocados à direita escutarão: Vinde, benditos de meu Pai, recebei o Reino que vos foi preparado desde a origem do mundo (Mt 25,34). E aponta-lhes as obras de misericórdia: Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber etc. (Mt 25,34-46).

Por sua vez, que se aponta aos da esquerda? Sua falta de misericórdia. Para onde irão? Ide para o fogo eterno (Mt 25,41). Esta Palavra suscita grande gemido.

Que diz outro salmo? Será eterna a lembrança do justo; não temerá escutar palavra má (Sl 111,6-7).

Que quer dizer: escutar palavra má? Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25,4). Quem se alegra com a palavra boa, não temerá escutar a má. É esta a equidade, a verdade.

Porque és injusto, não será justo o juiz? Ou porque és mentiroso, não será veraz a verdade? Se queres, porém, encontrar o Misericordioso, sê tu misericordioso antes de Sua chegada: perdoa, se algo foi feito contra ti, dá daquilo de que tens em abundância. Donde vem aquilo que dás, não é d’Ele? Se desses do que é teu, seria liberalidade; quando dás do que é d’Ele, é devolução.

Que tens que não recebeste? (1Cor 4,7). São estes os sacrifícios mais aceitos por Deus: misericórdia, humildade, louvor, paz, caridade.

Ofereçamo-los e com confiança esperaremos a vinda do Juiz que julgará o orbe da terra com equidade, e os povos em Sua verdade (Sl 95,13).”

Assim, aguardemos a vinda gloriosa do Senhor. Enquanto Ele não vem, é tempo de multiplicarmos os talentos que nos foram confiados, a cada um conforme a capacidade, como o Senhor nos falou na Parábola dos talentos.

Não importa tanto a quantidade, porque nada nos falta. Antes, importa todo esforço para que eles sejam multiplicados, sem preguiça, medo, lentidão...

Um dia seremos julgados e haveremos de prestar contas dos bens que o Senhor nos confiou. Que possamos ouvir o que os dois primeiros ouviram da boca do patrão, que serão as próprias Palavras do Senhor aos que forem justos no tempo presente:

“Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração do tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria” (Mt 25, 21 e Mt 25, 23).

Agindo assim, seremos verdadeiramente filhos da luz, filhos do dia, na vigilante espera do Senhor que vem, e não sabemos nem o dia nem a hora, mas importa que estejamos vigilantes, atentos e os dons multiplicando até que mereçamos entrar na alegria celestial.

Oremos:

“Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em Vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa, servindo a Vós, o Criador de todas as coisas. Por N. S. J. C. Amém”.

A vigilância cristã (XXXIIIDTCB)

                                                


A vigilância cristã

Na quinta-feira da 21ª semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 24,42-51), e refletimos o tema da vigilância necessária, como discípulos missionários do Senhor.

Assim lemos no Comentário do Missal Cotidiano:

“O tempo do cristão é o tempo da espera: espera de Deus e de Seu evento, vivido na disponibilidade interior da confiança e da esperança.

Faltando vigilância, falta uma importante dimensão da fé: a capacidade constante de passar de um estado de transitoriedade a outro.

Ainda hoje Jesus vem a nós, como o ladrão da noite. Sabemos quanto é difícil discernir seu apelo e sua presença nos acontecimentos do ‘hoje’ de Deus.

Dificilmente reconhecemos Jesus e O recebemos, se não nos preparamos de contínuo e não estamos prontos a cada instante.

Uma coisa sabemos pela fé: Deus está de tal modo ligado ao homem que onde quer que estivermos, lá está Ele, presente, ainda que não o saibamos.

É preciso romper as barreiras, saltar os muros, ser infatigáveis na busca da comunhão com todos. Então a espera será premiada”. (1)

A atitude de vigilância na espera do Senhor que vem, é elemento constitutivo de nossa fé, na esperança de um novo céu e uma nova terra, na prática concreta da caridade, pois tão somente a caridade nos impele para sagrados compromissos com o Reino (2 Cor 5,14) – “Pois a caridade de Cristo nos compele, quando consideramos que um só morreu por todos e que, por conseguinte, todos morreram”.

Vigilância em todo o tempo, lugar e âmbitos, que nos interpela para o testemunho da fé, ainda que situações adversas.

Vigilância nas palavras, pensamentos, ações bem como nas indesejáveis omissões na prática da caridade, que deve ser expressa pelo “...esforço interior de nos mantermos sempre na presença de Deus, a fim de que os nossos pensamentos, afetos, intenções e obras possam ser purificados por Aquele que é Santo por excelência, e que é capaz de tornar os Seus filhos fiéis ao bem recebido, em condições de trabalhar e de amar na espera d’Aquele que é o único que merece ser esperado”. (2)

Portanto, estarmos vigilantes e acordados não é uma atitude opcional para os cristãos, pois somos chamados a rezar, a trabalhar, a fazer o bem, mantendo viva a tensão para o Senhor que vem – “Se, todavia, esperar alguém na nossa experiência, em geral provoca sempre agitação e frustração, a vigilância cristã é estável e frutuosa. O cristão sabe que a sua identidade de filho amado não depende só de si próprio, mas está em relação direta com a atuação de Deus que age sempre em nosso favor.” (3)

Deste modo, é preciso que vivamos a vigilância:

- no cultivo da espiritualidade, com a assiduidade na participação da Santa Missa, bem como nos momentos de oração pessoal ou comunitária;

- na vivência dos demais Sacramentos;

- no cuidado da família: pais, filhos, irmãos...;

- na atividade pastoral e/ou ministério;

- na prática dos Mandamentos divinos, sem jamais separar o amor a Deus do amor ao próximo;

- no cuidado de nossa Casa Comum.

 

(1)         Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.1207

(2)        Lecionário Comentado – Volume Tempo Comum I – p. 218

(3)        Idem – p.217


PS: Oportuno para o XXXIIIDTCB

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