terça-feira, 3 de setembro de 2024

“Sai deste homem”

                                                      

“Sai deste homem”

Sejamos enriquecidos pelo Comentário do Evangelho de São Marcos, escrito por São Jerônimo, Doutor da Igreja (séc. IV).

“E Jesus ameaçou: Cala-te e sai deste homem. A verdade não necessita de testemunho da mentira. Não vim para ser reconhecido pelo teu testemunho, mas para precipitar-te de minha criatura. Não é belo o louvor na boca do pecador.

Não necessito do testemunho daquele ao qual quero atormentar. Cala-te. Teu silêncio seja o meu louvor. Não quero que a tua voz me louve, mas os teus tormentos: tua pena é meu louvor. Não me é agradável que me louves, mas que se retire.

Cala-te e sai deste homem. Como se dissesse: sai de minha casa, o que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: Cala-te e sai deste homem. Deste homem, ou seja, deste animal racional. Sai deste homem: abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja a sua casa: sai deste homem, deste animal racional.

Sai deste homem, disse também em outro lugar a uma legião de demônios, para que saíssem de um homem e entrassem nos porcos. Vede quão preciosa é a alma humana. Isto contradiz àqueles que creem que nós e os animais temos uma mesma alma e trazemos um mesmo espírito.

De um só homem é lançada a legião e enviada a dois mil porcos, o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde. Sai deste homem e vai-te para os porcos, vai-te para os animais, vai-te para onde queiras, vai-te aos abismos.

Abandona ao homem, ou seja, abandona uma propriedade particularmente minha. Sai deste homem: não quero que tua possuas ao homem; para mim é uma injúria que habites no homem, sendo Eu o que habita nele. Eu assumi o corpo humano, Eu habito no homem. Essa carne que possuís é parte da minha carne, portanto, sai deste homem.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Com estes sinais mostrou sua dor, agitando-o violentamente. Aquele demônio, ao sair, como não podia causar dano à alma, o fez ao corpo, e, como não podia fazer-se compreender por outro meio, manifesta com sinais corporais que saiu.

E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Porque ali estava o espírito impuro que foge do espírito puro. E dado um grito, saiu dele. Com o clamor da voz e a agitação do corpo manifestou que saia”. (1)

Vemos quão preciosos somos aos olhos de Deus, de modo especial, considerando estas duas afirmações de São Jerônimo, a partir da ação libertadora de Jesus, com sua Palavra:

- “De um só homem é lançada a legião e enviada a dois mil porcos, o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde”;

- “’Sai deste homem’: não quero que tua possuas ao homem; para mim é uma injúria que habites no homem, sendo Eu o que habita nele. Eu assumi o corpo humano, Eu habito no homem. Essa carne que possuís é parte da minha carne, portanto, ‘sai deste homem’”.

Seja a ação evangelizadora o empenho efetivo em promoção e defesa da dignidade e sacralidade da vida, desde sua concepção até o seu declínio natural.

É tempo de reaprendermos o valor da existência humana como morada de Deus, e, portanto, qualquer sinal que expresse sua violação, mutilação, deve ser superado.
  
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 –pp.377-378 
Apropriado para as passagens: Mc 1,21-28; Lc 4,31-37

Somos libertos pela Palavra e ação de Jesus

 


Somos libertos pela Palavra e ação de Jesus
 
“O que é isso? Um ensinamento novo, dado com autoridade...
Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!”
 
Deus tem um Projeto de liberdade e vida plena para a humanidade, que se contrapõe aos projetos marcados pelo egoísmo, escravidão de toda forma e morte.
 
Na passagem do Evangelho (Mc 1,21-28), vemos a ação de Jesus, o Filho de Deus, que vem cumprir o Projeto de libertação.
 
Depois de apresentar o chamamento dos discípulos, o Evangelista apresenta uma jornada ministerial do Senhor, com Sua autoridade revelada no ensino e diante dos “espíritos impuros”.
 
Com Sua Palavra e ação, Jesus renova aqueles que O acolhem e acreditam em Sua Palavra, tornando-os verdadeiramente livres do egoísmo, do pecado e da própria morte.
 
A ação de Jesus faz suscitar a interrogação daqueles que O viram ensinar e expulsar os demônios: “Que vem a ser isto? Uma nova doutrina e com que autoridade!”. Também nós devemos nos perguntar “quem é Jesus para nós?”
 
Jesus veio nos libertar de tudo o que nos faça “prisioneiros” e nos roube a vida e a alegria de viver. Com Sua Palavra e ação, Jesus nos revela que Deus não desistiu da humanidade, e quer conduzi-la à vida plena e feliz.
 
Seus seguidores não poderão cruzar os braços, continuando a Sua missão na luta contra os “demônios” de tantos nomes, que roubam a vida e a liberdade das pessoas.
 
O discípulo de Jesus, com Sua Palavra e presença, luta na libertação de todos os demônios que desfiguram as pessoas, para que estabeleçamos relações mais fraternas.
 
Ser discípulo consistirá em percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, lutando até o fim, em total doação da vida para que tenhamos um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo e mais fraterno. Sendo assim, é inconcebível que os discípulos cruzem os braços, de olhos voltados para o céu.
 
Há um mundo a ser transformado e, como Igreja em saída (como tem insistido o Papa Francisco), não podemos ficar fechados em nossas sacristias, mas assumir corajosamente, com a força do Espírito, com sabedoria e criatividade, a dimensão missionária, elemento constitutivo da Igreja, presença nas mais diversas realidades, em incansável empenho para a transformação das realidades:  familiar, social, política, econômica, cultural, do trabalho e da comunicação.
 
Nem sempre isto se dá de modo tranquilo, porque pode gerar conflitos, divisões, sofrimentos, incompreensões, perseguições, mas vale a pena, porque é fiel Àquele que prometeu jamais nos desamparar, jamais nos deixar órfãos na missão por Ele confiada, afinal nos comunicou o Seu Espírito, que nos assiste em todos os momentos.
 
O discípulo de Jesus é alguém que embarcou nesta aventura de amor que dá sentido à vida, o que nos torna cúmplices e instrumentos nas mãos de Deus, para que construamos um mundo novo, de homens e mulheres livres e felizes.
 
Com o coração seduzido e inflamado por Jesus, que voltou para nós o Seu olhar de amor e nos chamou pelo nome, não há como voltar atrás; de modo que, quem pelo Senhor sentiu-se amado, já não pode mais viver sem o Seu Amor, a Sua Palavra e presença.
 
 
 
(1) Missal Quotidiano, dominical e ferial – Paulus – Lisboa – p.1177
 
P
S: Oportuno para reflexão sobre a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,31-37).

“Cala-te e sai dele”

                                                       


“Cala-te e sai dele”

Na terça-feira da 22ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,31-37).

Trata-se na ação de Jesus na sinagoga, em dia de sábado, libertando um homem possuído pelo espírito de um demônio impuro.

A vitória de Jesus sobre o demônio revela o plano que Deus tem, e Jesus veio realizar, porque Jesus é o “Santo de Deus”, a intervenção de Deus, autorizado por força de palavra e poder de ação, em nosso mundo sujeito a outro poder, o poder do mal.

Com a passagem, contemplamos Jesus dando início ao Seu Ministério, ensinando e curando, com autoridade.

Esta autoridade consiste em falar de modo que aqueles que O ouvem se encontrem com a pessoa do Mestre, e pondo-se a caminho viverão a fidelidade no amor incondicional, como discípulos missionários Seus.

Muitos que O ouviram puseram a falar d’Ele, e esta é a nossa missão: comunicar a experiência que fazemos com Ele, do mesmo modo que fizeram os Seus apóstolos - “Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (At 4,20).

Que o Espírito do Senhor, que com Ele estava, também nos acompanhe em todos os momentos.

Concluo com as palavras de São Cirilo de Jerusalém (séc. IV) sobre a ação do Espírito Santo em nossa missão evangelizadora:

“Branda e suave é a Sua aproximação; benigna e agradá­vel é a Sua presença; levíssimo é o Seu jugo! A Sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com o amor entranhado de um irmão mais velho: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, ilu­minar a alma de quem o recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros.”

 

 

 

PS: Fonte - Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp.1224-1225

 

Silenciemo-nos para a divina escuta

Silenciemo-nos para a divina escuta

Senhor, como tantos que, na história de fé, sentiram a verdadeira necessidade de “permanecer no deserto” para renovar as reservas de força e serenidade, e não ceder às tentações, assim também nós a mesma necessidade sentimos.

Senhor, por vezes é forte e aparentemente insuportável a pressão do mundo em que vivemos, e sucumbiríamos sem forças, com sonhos desfeitos, utopias rarefeitas, se não pusermos em nosso caminho faixas de silêncio, de absoluto recolhimento para Vos escutar.

Sobretudo quando vemos multiplicar gestos de arrogância e violência, que desprezam os direitos fundamentais do homem e da mulher, maculando a beleza da vida, sua dignidade inviolável, desde a concepção até o seu natural declínio.

Senhor, bem sabemos que não fostes assim, e nem se alegraria se vivêssemos uma fé acompanhada da indiferença ou expressa em total apatia e impotência, escondendo-nos  sob as cortinas da covardia, dizendo que não é problema nosso e que o mundo foi sempre assim.

Senhor, concedei-nos a sabedoria, para que tomemos consciência da parte de responsabilidade que temos no combate à violência e à injustiça, bem como do esforço para tornar o mundo mais humano, a exemplo de Matatias, como nos revelam as Sagradas Escrituras.

Senhor, que a Vosso corajoso exemplo, recusemos queimar incenso ante os ídolos, pela conveniência ou pelas paixões individuais ou de grupo, tão pouco nos sacrificarmos aos “modernos ídolos” do bem- estar, da carreira, da posição, da fama, do prestígio a qualquer preço.

Senhor, permanecendo no deserto, e com coragem de seguir o caminho, concedei-nos pequenos oásis em que possamos recuperar nossas forças, e continuarmos, intrépidos, nossa caminhada, no bom combate da fé, até que consigamos fazer a grande travessia por Vós desejada. Amém.

Fonte inspiradora: 1 Mc 2, 15-29 - Missal Cotidiano - p.1515

Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade


Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade

Como Igreja, dedicamos o mês de setembro à Sagrada Escritura, dada sua importância em todo o tempo.

A Bíblia é a Palavra que irradia luz; é Pão que alimenta; Água cristalina para a sede de vida nova e amor saciar; Boa-Nova para o mundo reencantar e reinventar, e horizonte inédito poder encontrar.

O Papa São João Paulo II, no início do seu pontificado, disse: “Cristo Se faz presente pela Sua Palavra proclamada na assembleia e que é comentada na homilia: Tal Palavra deve ser ouvida com fé e assimilada na oração. Tudo isto há de resultar da dignidade do Livro e do lugar escolhido para a proclamação da mesma Palavra de Deus, da apresentação do leitor e da consciência que ele demonstra de sentir porta-voz de Deus diante de seus irmãos”.

O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho, explicitou todo o esplendor e sua importância da mesma em nossa vida: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

A Sagrada Escritura ajuda-nos a decifrar o mundo, com seus segredos, mistérios e desafios; buscar respostas para as questões humanas; alento nas questões que nos pedem esperança; certeza nas coisas que nos pedem unidade; instrumento precioso e indispensável no alimentar da caridade.

A Palavra de Deus lida, meditada e vivida, aponta novos caminhos, alarga horizontes mesquinhos; rompe o barulho da pós-modernidade, levando-nos ao mergulho no amor da Trindade.

Ouvida no silêncio, para melhor Deus escutar, é a Palavra útil, oportuna e necessária, para instruir, corrigir, animar e exortar.

A Sagrada Escritura nos devolve o olhar da fé e da contemplação: quando muitos em mais nada acreditam, ela emerge renovando a esperança, contra toda esperança humana.

Lida na perspectiva da fé, podemos transpor montanhas, inaugurar novos tempos e novos espaços; criar e fortalecer elos de comunhão, solidariedade, perdão, refazendo nossos sonhos.

Com ela deslumbramos o inédito no mundo, sem olhares pessimistas e derrotistas; e assim firmamo-nos na âncora da esperança – Jesus Cristo, que refaz nossas forças para o bom combate da fé.

Seja a Sagrada Escritura acolhida no mais profundo de nosso coração, para contemplarmos os mistérios de Deus, na busca constante e incansável de um novo olhar.

A Sagrada Escritura no coração enraizada, acompanhada de gestos concretos, transforma a realidade numa grande revelação de Deus: a Palavra que tem germe de transformação, força de mudança, acompanhada do apelo constante de conversão do pensamento e atitude, rompendo com toda e qualquer mesquinha omissão; e assim continuamos a participar da transformação da realidade e do mundo, conferindo ao nosso olhar o brilho de uma grande revelação.

Haverá de surgir um mundo mais justo e fraterno, em que “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, de modo que não serão apenas as palavras e sonhos do salmista (Sl 85), mas a expressão mais pura e verdadeira presente em todo coração.

Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho

Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho

“Tua Palavra é lâmpada para os meus pés
e  luz para o meu caminho” (Sl 119,105)

Como bem expressou o Salmista acima, é imensurável valor da Sagrada Escritura, que ilumina nossa vida, nosso caminho, em todo tempo e lugar.

Entretanto, tão doce e tão amarga é a Palavra, porque nos conforta, alimenta, sacia a nossa sede, nos orienta, mas também exige de nós compromissos irrenunciáveis na transformação da realidade, por vezes, difícil e sombria em que vivemos, como sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.

Por isso é necessário que nos empenhemos em conhecer cada vez mais a Sagrada Escritura, não o conhecimento pelo conhecimento, não apenas como assíduos ouvintes, mas colocando em prática seus ensinamentos, como afirmou São Tiago (cf. Tg 1,22)

E indispensável para conhecer e praticar os ensinamentos bíblicos, é a Leitura Orante, tesouro da Tradição de nossa Igreja, com seus passos: leitura, meditação, contemplação, oração e ação.

Deste modo, nutridos pela Palavra, viveremos o que afirmou o Bispo Santo Agostinho (séc. V):

A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

De fato, a Palavra de Deus sendo acolhida como luz, tudo faremos para que surja um mundo mais justo e fraterno, onde “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, tornando realidade, a mais pura verdade, porque as palavras e sonhos do salmista estarão presentes também em nosso coração.

Iluminados e alimentados pela Palavra de Deus, num contínuo processo de conversão, vivamos de tal modo que a nossa chama profética possa reluzir cada vez mais forte; e a chama do primeiro amor do encontro pessoal com Jesus, que deu novo sentido à nossa vida e alargou nossos horizontes fique para sempre acesa, até que possamos contemplar o esplendor da luz eterna.

Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

                                              


Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!

A Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. VI), sobre a vocação do Profeta Ezequiel é oportuna para refletirmos sobre o Ministério Presbiteral e toda vocação da Igreja; para nos iluminar em nossas atividades, para que não nos cansemos ou nos esvaziemos neste indesejável ativismo, com complicadas consequências.

“Por amor de Cristo, me consagro totalmente a Sua palavra Filho do homem, Eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). É de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar.

A sentinela, de fato, está sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser útil por sua providência.

Como é duro para mim isto que digo!
Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha língua não mantém, como seria justo, a pregação e, mesmo que consiga mantê-la, a vida não concorda com a língua.

Eu não nego ser culpado, conheço minha inércia e negligência. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdão no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia não só reter a língua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o espírito atento à oração.

Mas depois que pus aos ombros do coração o cargo pastoral, meu espírito não consegue recolher-se sempre, porque está dividido entre muitas coisas.

Sou obrigado a decidir ora questões das Igrejas, ora dos mosteiros; com frequência ponderar a vida e as ações de outrem; ora auxiliar em certos negócios dos cidadãos, ora gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda.

Por vezes, devo encarregar-me da administração, para que não venha a faltar o necessário aos submetidos à disciplina da regra. Às vezes devo tolerar com igualdade de ânimo certos ladrões, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade.

Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltará a recolher-se toda na pregação, e não se afastar do Ministério da Proclamação da Palavra?

Por obrigação do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da língua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo.

Por esta razão, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questões ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.

Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o Criador e Redentor do gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia da palavra. Por Seu amor, me consagro totalmente a Sua Palavra.”

A cada dia, as atividades se multiplicam, a realidade do rebanho nos consome, e nos debatemos com a necessidade de muito para fazer e com tão pouco tempo; com atividades múltiplas a serem feitas, mergulhando-nos num perigoso ativismo...

Oportuno retomarmos a indagação apresentada no final da Homilia:

“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?” 

No “monte da ação”, devemos estar de pé. Mas sem vigilância e oração, fortalecimento da fé, revigoramento com o Pão da Eucaristia, jamais êxito teremos.

Sem contemplarmos o Senhor, e Sua Palavra não ouvirmos em belas e santas Liturgias, sem nos nutrirmos do Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, deitar-nos-emos no vale da fraqueza, sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos!

O “monte da ação” nos desafia todo dia com múltiplos apelos e compromissos. Jamais sucumbir às dificuldades, provações, inquietações, incertezas, jamais ficar deitados no vale de nossa fraqueza!

Não podemos perder o horizonte por Deus para nós querido; pondo-nos sempre de pé, como sentinelas, no monte da ação e com coragem o subamos.

E ainda que o vale da fraqueza tivermos que enfrentar, e se no monte da ação de lutar nos cansarmos, lembremo-nos que Deus sempre tem a última palavra e não nos deixará sucumbir no vale de nossa fraqueza.

Nutrindo uma espiritualidade essencialmente eucarística,
pelo vale da fraqueza passaremos, 
e “no monte da ação” momentaneamente de pé estaremos,
até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus se encontra: Céu! 
Hosana no mais alto dos céus!

Do vale da fraqueza livrai-nos, Senhor! Amém.

PS: Oportuna para o 16º Domingo do Tempo Comum -  ano B

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG