Festa da Apresentação do Senhor:
Jesus Cristo é a nossa Luz e Salvação
“Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”
(Lc 2,35)
No dia 2 de fevereiro, celebramos a Festa da apresentação do Senhor no Templo de Jerusalém: aquela criança é o Menino Deus, é o Messias Libertador tão esperado pelo Povo de Deus, no pleno cumprimento da Lei de Moisés.
Ele veio trazer a Salvação e a luz para todos os povos, na entrega de Sua vida, por amor, totalmente nas mãos do Pai, culminando no Mistério de Sua Paixão, Morte e Ressurreição.
De fato, Jesus Cristo viveu em entrega total, desde os primeiros momentos de Sua existência terrena, e nos convida, como discípulos missionários, também assim fazer: uma total entrega de nossa vida nas mãos do Pai, fazendo de nossa existência um dom de amor, um testemunho de compromisso e participação na construção do Reino de Deus.
Na primeira Leitura, a Liturgia nos apresenta a passagem do Livro do Profeta Malaquias (Ml 3,1-4), que nos fala do dia do Senhor, o dia de Sua vinda, em que Deus vai descer ao encontro do Seu Povo para a criação de uma nova realidade.
Malaquias, que significa “o meu mensageiro”, tem um anúncio sobre o Dia do Senhor, uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.
Trata-se do período pós-exílio da Babilônia, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. O Profeta Malaquias convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade.
Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.
De fato, não há nada pior do que situações como esta: o perigo da perda do sentido da vida e o sentimento de que Deus tenha nos abandonado.
O Profeta Malaquias, porém, traz uma mensagem de confiança e esperança: Deus vem sempre ao encontro da humanidade. O Senhor que veio, vem e virá sempre ao nosso encontro, como expressão de seu Amor que não nos abandona, que nos reconcilia e quer criar em nós o bem, porque criaturas amadas Suas somos, desde sempre, obra de Suas mãos.
Também nós somos chamados a viver a dimensão profética de nossa fé, denunciando tudo o que impeça a vida verdadeira, através de uma mensagem de confiança e esperança em Deus que jamais nos abandona.
Na fidelidade ao Senhor, urge testemunhar um Deus cheio de amor e sem limites por nós, atento aos dramas que marcam a caminhada humana, e que não permite que mergulhemos na apatia, imobilismo ou comodismo, mas que sejamos compromissados com o novo céu e a nova terra, onde habitam a verdade, a justiça e a paz.
Como profetas, é preciso intensificar nosso diálogo permanente com Deus, meditando Sua Palavra, na oração e, de modo especialíssimo, na Eucaristia.
Na passagem da segunda Leitura, ouvimos a passagem da Carta aos Hebreus (Hb 2,14-18), escrita por um autor anônimo, que nos apresenta Jesus Cristo, o Sacerdote por excelência, que oferece ao Pai o sacrifício de Sua vida, no serviço do plano Salvador de Deus, através do qual nasce o Homem Novo, livre de toda e qualquer forma de escravidão.
Trata-se, portanto, de uma Carta escrita a destinatários que vivem em situação difícil, expostos a perseguições, e que vivem em ambiente hostil à fé.
Uma situação de desalento e desesperança tomava conta da comunidade a que pertenciam. Daí o eminente perigo da perda do fervor inicial e o ceder às seduções de doutrinas que não são coerentes com a fé transmitida pelos apóstolos.
A Mensagem Catequética: os discípulos devem olhar para a Cruz de Jesus Cristo, interiorizar o seu significado, e a Ele seguir no dom total da própria vida, numa entrega radical e serviço simples aos mais humildes, assim como Ele o fez.
O autor estimula a vivência do compromisso cristão, levando os crentes a crescerem na fé, reavivando o fervor inicial.
Sendo o Cristo o Sumo Sacerdote que nasceu no meio de nós, vestiu a carne mortal, solidarizou-Se com a nossa humanidade, conheceu nossas limitações e fragilidades e Se oferece por nós, todos os que n’Ele creem, assim deve o Seu discípulo o mesmo fazer: entregar sua vida num contínuo sacrifício de louvor, de ação de graças e de amor.
O discípulo missionário do Senhor é testemunha do amor de Deus, um amor total, ilimitado e incondicional.
Deste modo, carrega sua cruz cotidiana na mesma atitude de Jesus na solidariedade com os crucificados deste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são privados de sua dignidade:
“Olhar a Cruz de Jesus e o seu exemplo significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a sua vida por amor...”. (1)
Crer no Senhor e testemunhar o amor, pois somente o amor vivido gera a vida nova e nos introduz no dinamismo da vida nova dos Ressuscitados, na comunhão solidária, na alegria e na esperança.
Na passagem do Evangelho (Lc 2,22-40), contemplamos Maria e José que levam o Menino Jesus, depois de quarenta dias do Seu nascimento, para apresentá-Lo no templo, e o testemunho dado por Simeão e Ana.
Normalmente, contemplamos este acontecimento quando rezamos os Mistérios gozosos que na verdade, já trazem em si o germe dos mistérios luminosos, dolorosos e gloriosos.
Simeão, homem justo e piedoso, lá no templo, anuncia a Maria que uma espada lhe transpassaria a alma. Referindo-se a missão d’Aquela Criança, luz das nações, Salvador de todos os povos, causa de queda e reerguimento de muitos.
Simeão e Ana são figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e acolher o Messias de Deus: reconhecem n’Aquela criança o Messias Libertador que todos esperavam e O apresentam formalmente ao mundo.
Os Santos Padres da Igreja dizem que, nesta apresentação, Maria oferecia seu Filho para a obra da redenção, com a qual Ele estava comprometido desde o princípio.
Iluminadoras as palavras de São Bernardo (séc. XII):
“Oferece teu Filho, Santa Virgem, e apresenta ao Senhor o fruto bendito de teu ventre. Oferece, para reconciliação de todos nós, A Santa Vítima que é agradável a Deus”.
Nos braços de Simeão, o Menino Jesus não é só oferecido ao Pai, mas também ao mundo. E Maria é a Mãe da humanidade. O dom da vida vem através de Maria.
Aquele que foi apresentado no templo é a luz do mundo e a Salvação tão esperada, agora por Ele há de ser realizada, porque veio habitar no meio da humanidade a Luz de Deus enviada ao mundo, redenção da humanidade.
Urge que façamos de nossa vida uma agradável oferenda ao Senhor, lembrando que oferta há de ser um agradável sacrifício, celebrado no altar do Sacrifício do Senhor.
Ofertar nossa vida cotidianamente implica em sacrifícios, constantes renúncias, tomando nossa cruz, e, com serenidade e fidelidade, segui-Lo, até que um dia, possamos fazer da cruz instrumento de travessia para a eternidade, para o céu.
Hoje, ao acolher Jesus como nossa Luz e Salvação, renovamos a alegria e o compromisso de anunciá-Lo e testemunhá-Lo ao mundo.
Concluindo, é tempo de viver a graça do Batismo e testemunhar Jesus Cristo, a nossa Luz e Salvação. É tempo de sermos sal, fermento e luz no coração do mundo.
Deus jamais nos deixará sozinhos na escuridão da noite.
Não há noite eterna para a Fonte de Luz eterna!
(1) idem