Esperança, a virtude divina que tanto precisamos
"A esperança é o sonho acordado”, afirmou há mais de dois milênios o filósofo Aristóteles. Uma grande intérprete da MPB cantou: “quero ver a esperança de óculos”. Esperança, palavra que ocupou o pensamento dos filósofos, dos Profetas, dos Apóstolos, dos grandes pais espirituais da História da Igreja e luminares de todos os tempos. Esperança, a segunda virtude teologal, nos move, nos impele sempre ao encontro do melhor que Deus tem para nós. Esperança é como uma âncora que atravessou o véu do Santuário e firmou-se no horizonte da eternidade: céu (cf. Hb 6,19) Sem ela não sabemos aonde vamos, tampouco onde nos encontramos, no desenvolver dos emaranhados dos fatos, da teia da vida com seus entrelaçamentos e imbricamentos; por vezes em sobreposição de fatos, noutras com relações tão próximas que se confundem e nos inquietam ao descortinamento, à compreensão. Como cristãos, cremos que a esperança está ao lado de Deus, acompanhada pelo Seu olhar, para que possamos ver as coisas, o futuro, sobretudo, exatamente como Ele vê, sem inquietações fúteis e autodestrutivas, que em nada colaboram, enriquecem, para relações mais humanas, mais belas e fraternas. Ela é a expectativa de algo positivo para um futuro não tão longínquo, por isto deve dar sustentação ao nosso presente, ainda que tenhamos que enfrentar os dissabores e os insucessos aparentes e provisórias perdas irreparáveis, derrotas irreversíveis... Esperança é, como disse o autor do Apocalipse, ver um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1-5a), pois as coisas antigas passaram, passarão o céu e a terra, mas a Palavra do Senhor jamais passará. Esperança é, portanto, contar com o futuro no horizonte da fé, movidos no presente pela caridade, que nos faz imagem e semelhança de Deus. A capacidade de amar e ser amado nos faz verdadeiramente imagens do Deus Trindade Santíssima de Amor e Comunhão.
Esperança é possuir a inquebrantável confiança de que o amanhã será melhor, ainda que hoje as lágrimas insistam em correr, mortes e lutos permaneçam invadindo e aniquilando nosso existir, deixando sombrio nosso cotidiano. Não Se encontra no sepulcro Aquele que pela morte passou, porque o Pai O Glorificou, e o Espírito nos enviou para nos acompanhar nos passos firmes da história. A Ressurreição do Senhor não foi o desmentido do Calvário, ao contrário o confirmou: a Inevitabilidade do calvário e da Cruz, para que a glória seja alcançada.
Encorajando os discípulos, eles os exortavam a permanecer firmes na fé, dizendo-lhes: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14, 22). A esperança exige audácia, tenacidade, resistência positiva e corajosa diante das dificuldades; superando toda tentação de individualismo, indiferença, niilismo, ceticismo, relativismo etc. Esperança jamais pode ser a espera confiante e passiva, sem nada fazermos, sem em nada nos comprometermos com o mundo novo que há de vir. É preciso uma colaboração operosa e responsável, com gestos expressivos de solicitude e doação, organização, participação em todos os âmbitos e espaços em que vivemos. Renovemos nossa esperança, inspirados nas palavras do Apóstolo Paulo, que nos exorta a imitar o comportamento exemplar de Abraão, o qual “foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência” (Rm 4,18). A Esperança, Virtude Divina que tanto precisamos para dar sentido a nossa vida. É preciso dar razão de nossa esperança. Amém.
A esperança exige audácia, tenacidade, resistência positiva e corajosa diante das dificuldades; superando toda tentação de individualismo, indiferença, niilismo, ceticismo, relativismo etc.
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