quarta-feira, 1 de novembro de 2023

“Misericordia et misera” (síntese n.2)

 
“Misericordia et misera” (síntese n.2)

Em novembro de 2016, ao encerrar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Misericordia et misera”, com vistas a continuar os propósitos e iniciativas surgidas ao longo de sua realização: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta de par em par” (n.16)

Inicia a referida Carta “Misericordia et misera”, referindo-se às duas palavras que Santo Agostinho utilizou para descrever o encontro de Jesus com a adúltera (cf. Jo 8, 1-11), em alusão ao amor de Deus que vem ao encontro do pecador.

Ressalta que a misericórdia não pode ser reduzida a um parêntese na vida da Igreja, mas deve se constituir na sua própria existência, por se tratar da verdade profunda e visível do próprio Evangelho.

Fundamenta-se na passagem do Evangelho, em que uma pecadora, num banquete na casa de um fariseu (cf. Lc 7, 36-50), ungiu com perfume os pés de Jesus, banhando-os com as suas lágrimas e os enxugando com os seus cabelos, e muito foi perdoada, porque muito amou.

Outra referência do Evangelho é o perdão dado por Jesus no alto da Cruz: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), de modo que, nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão.

Sendo assim, a misericórdia é a ação concreta do amor, que transforma e muda a vida de cada um de nós através do perdão, e não é um parêntese na vida da Igreja.

O perdão experimentado pelas duas mulheres (a adúltera e a pecadora) faz brotar alegria no coração.

O vento impetuoso e salutar do Ano Santo nos desafia a não ficarmos na indiferença e, uma vez acolhido o sopro vital do Espírito, continuarmos o que foi iniciado, e apresento de forma esquemática algumas ações concretas na Carta mencionadas.

1 - Viver a necessária “conversão pastoral”, a fim de não entristecermos o Espírito, com a força renovadora da Misericórdia levando a todos a Boa- Nova da Salvação. (n.5)

2 - Celebrar a misericórdia, que se encontra presente na oração da Igreja: no Ato Penitencial; no tempo quaresmal; na Oração Eucarística; depois do Pai Nosso; na oração antes do abraço da paz. De fato, cada momento da Celebração Eucarística faz referência à misericórdia de Deus (n.5).

3 - Valorizar, de modo especial, os Sacramentos de Cura: Penitência e Unção dos Enfermos, favorecendo a experiência da misericórdia de Deus.

4 - Continuar a iniciativa das 24 horas para o Senhor, nas proximidades do IV Domingo da Quaresma, como forte apelo pastoral para vivermos intensamente o Sacramento da Confissão (n.11).

5 - Todos os Sacerdotes se empenhem para oferecer oportunidade de confissão a quantos precisarem, acolhendo assim os pecadores na misericórdia de Deus.

6 - Valorizar a Palavra de Deus na Catequese e Homilias, sendo esta última a expressão da verdade que anda de mãos dadas com a beleza e o bem, fazendo vibrar o coração dos crentes. Por isto a necessária preparação pelo Sacerdote (Evangelii Gaudium n.142).

7 - Acentuar cada vez mais a importância da Bíblia, que narra as maravilhas da misericórdia de Deus: «Toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça» (2 Tm 3, 16)

8 - Valorizar o Dia da Bíblia, num domingo do Ano Litúrgico, ressaltando a importância da Palavra de Deus, pois ela é a revelação da misericórdia de Deus.

9 - Incentivar a Leitura Orante como fonte de espiritualidade, e de modo especial sobre as Obras de Misericórdia à luz da Palavra de Deus e da Tradição espiritual da Igreja, levando a gestos e obras concretas de caridade (n.7).

10 - Todos os sacerdotes podem dar o perdão de Deus para quem pedir perdão para o pecado do aborto (um grave pecado, reitera o Papa), até que se diga algo em contrário:“Em virtude desta exigência, para que nenhum obstáculo exista entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus, concedo a partir de agora a todos os sacerdotes, em virtude do seu ministério, a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário...” pois todo pecado, pressupondo o arrependimento pode ser destruído pela misericórdia divina.

11 - Conceder a recepção válida e lícita da absolvição sacramental dos pecados dos que frequentam as Igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X (n.12).

12 - Favorecer para que a alegria do amor que se vive nas famílias se intensifique, pois esta alegria é também o júbilo da Igreja, como mencionada em sua Exortação (Amoris Laetitiae n.17), em meio às dificuldades, provações, pelas quais passa, mas a família constitui num lugar privilegiado para se viver a misericórdia (Amoris Laetitiae n.291-300). A necessidade de acompanhá-las, solidificá-las na experiência viva da misericórdia.

13 - A importância da presença do sacerdote no momento difícil que passa a família, a hora da morte de um de seus membros, sobretudo numa cultura em que se banaliza a morte, até mesmo a reduzindo a ficção ou a ocultando, de modo que a oração das exéquias seja um momento forte de esperança para a alma da pessoa falecida e para dar consolação à família que sofre a separação da pessoa amada.

14 - Construir da cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos (n.20). Deste modo é preciso intensificar a oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres (n.20) na construção da cultura da misericórdia

15 - Exorta para que seja celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres, fazendo deste momento um modo mais digno para a preparação e vivência da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os pequeninos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46):

Concluindo, o Papa exorta que, a continuidade da experiência do Jubileu, faça chegar a todos a carícia de Deus, através do testemunho dos crentes (n.21), confiando-nos à ajuda materna de Maria, a Mãe da Misericórdia, que nos acompanha no testemunho do amor, pois ela nos indica o perene olhar para Jesus, “o rosto radiante da misericórdia de Deus” (n. 22).




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