sábado, 2 de novembro de 2024

O luto na perspectiva cristã, como lidar?

                                                          

O luto na perspectiva cristã, como lidar?

Vivemos e convivemos com a dor e o seu ponto final, a própria morte. Quando esta irrompe em nossa vida, parece tudo desmoronar. A alguns ela provoca o desalento, o desânimo, a fuga, a compensação indesejável na droga, ou até outros meios (que não são poucos) para sua superação e explicação da mesma, na procura de  algo que possa preencher o vazio deixado.

Há muitos estudos especializados sobre o luto ou possíveis perdas (emprego, amizade, algo alcançado etc.), porém um que pertence a Elisabeth Kübler-Ross (1969) nos apresenta os vários passos de sua vivência e superação, e que se tornaram conhecidos como “Os cinco Estágios do Luto” (ou da Dor da Morte, ou da Perspectiva da Morte).

Podem ser assim esquematicamente apresentados os “Estágios do Luto”:

1.  Negação, recusa e Isolamento: "Isso não pode estar acontecendo”, "não pode ser"; " é mentira". Diante do fato paralisante, a pessoa naturalmente poderá chorar desconsoladamente, e nenhuma palavra lhe faz sentido.

2.  Cólera (Raiva): "Por que eu? Não é justo."; “por que exatamente comigo? Não é justo o que ocorreu". É o momento em que a pessoa percebe os limites incontroláveis da vida e ocorre uma reluta dramática em reconhecê-los. Normalmente se culpa pela perda, por não ter feito o que devia ou por ter deixado de fazer o que poderia para que não acontecesse tal fato.

3.  Negociação: "Me deixe viver apenas até meus filhos crescerem." Há o autofortalecimento mediante uma espécie de negociação com a dor da perda: "não posso sucumbir nem afundar totalmente; preciso aguentar esta dilaceração, garantir meu trabalho e cuidar de minha família". Já aparece um ponto de luz nesta longa noite escura.

4.  Depressão: "Estou tão triste. Por que se preocupar com qualquer coisa?" Há o vazio assumido a ser preenchido quando se der a aceitação que consiste no estágio seguinte.
           
5.  Aceitação resignada e serena do fato incontornável: "Tudo vai acabar bem." – Há um processo dolorido de amadurecimento. Ninguém sai do luto como entrou.

Evidentemente, na vida de cada um estes estágios não acontecem assim tão claramente como apresentados, mas com certeza o leitor deve ter refletido sobre a experiência do luto já vivido.

- Mas como a fé pode intervir e ajudar nesse processo de recusa, cólera, negociação, depressão e aceitação?
Em que nos diferenciamos?
Qual é o elemento que nos leva a dar um passo e a ter um olhar transcendente?

A fé na Ressurreição, o olhar que transcende à própria morte, que para quem crê em Jesus Cristo Ressuscitado, não tem a palavra última.

Quando tomei conhecimento destes “estágios do luto e da perda”, foi a primeira interrogação que me descortinou no horizonte do Ministério de Pastor, e ao mesmo tempo frente à própria experiência da morte de entes queridos.

Primeiramente me dei conta de que há um tempo para que o luto aconteça, que não se dá tão logo façamos o enterro. Ficamos num processo prolongado, variando de pessoa para pessoa. Aqui entra o elemento indispensável da fé e a riqueza de citações bíblicas que poderiam ser mencionadas para refazermos nossas forças.

A primeira delas que vemos em tantas salas de velórios: “Eu sou a Ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (Jo 11,25-26). O próprio Senhor nos garantiu que foi para a casa do Pai para nos preparar uma morada e nos exortou a não nos perturbamos diante do inevitável fato da morte (Jo 14,2-3).

O Apóstolo Paulo na Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 15, 12-20), nos diz literalmente que se Cristo não Ressuscitou vazia é a nossa fé, a nossa pregação.

Salmos, Evangelhos, Epístolas, entre outros Livros da Sagrada Escritura, são nestes momentos o Pão da Palavra que nos reanima, fortalece, e porque fundados na fé. Vemos, à luz da Palavra, o horizonte último da eternidade se abrir para aqueles que nos antecederam, e com os quais nos encontraremos se enraizados e solidificados na caridade, pois o céu será o epílogo do presente, o amor que vivemos, prolongado e plenificado sem medida, pois estaremos na plena comunhão com Deus e Seu Amor Trino, imensurável que já experimentamos, antegozamos.

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