Pentecostes: o Espírito nos ensina a linguagem do amor
“O amor de Deus foi
derramado em nossos corações.” (Rm 5,5)
A Liturgia das Horas nos apresenta um dos Sermões de um anônimo autor africano (séc. VI), que nos fala da unidade da Igreja que, recebendo o dom do Espírito Santo, fala todas as línguas, de modo que todos se comunicam e se entendem.
“Os Apóstolos começaram a falar em todas as línguas. Aprouve a Deus, naquele momento, significar a presença do Espírito Santo, fazendo com que todo aquele que O tivesse recebido, falasse em todas as línguas.
Devemos compreender, irmãos caríssimos, que se trata do mesmo Espírito Santo pelo qual o Amor de Deus foi derramado em nossos corações.
O amor haveria de reunir na Igreja de Deus todos os povos da terra. E como naquela ocasião um só homem, recebendo o Espírito Santo, podia falar em todas as línguas, também agora, uma só Igreja, reunida pelo Espírito Santo, se exprime em todas as línguas.
Se por acaso alguém nos disser: ‘Recebeste o Espírito Santo; por que não falas em todas as línguas?’ devemos responder:
‘Eu falo em todas as línguas. Porque sou membro do Corpo de Cristo, isto é, da Sua Igreja, que se exprime em todas as línguas. Que outra coisa quis Deus significar pela presença do Espírito Santo, a não ser que Sua Igreja haveria de falar em todas as línguas?’
Deste modo, cumpriu-se o que o Senhor tinha prometido: Ninguém coloca vinho novo em odres velhos. Vinho novo deve ser colocado em odres novos. E assim ambos são preservados (cf. Lc 5,37-38).
Por isso, quando ouviram os Apóstolos falar em todas as línguas, diziam alguns com certa razão: Estão cheios de vinho (At 2,13).
Na verdade, já se haviam transformado em odres novos, renovados pela graça da santidade, a fim de que, repletos do vinho novo, isto é, do Espírito Santo, parecessem ferver ao falar em todas as línguas.
E com este milagre tão evidente prefiguravam a universalidade da futura Igreja, que haveria de abranger as línguas de todos os povos.
Celebrai, pois, este dia como membros do único Corpo de Cristo.
E não o celebrareis em vão, se realmente sois aquilo que celebrais, isto é, se estais perfeitamente incorporados naquela Igreja que o Senhor enche do Espírito Santo e faz crescer progressivamente através do mundo inteiro.
Esta Igreja Ele reconhece como Sua e é por ela reconhecida como seu Senhor. O Esposo não abandonou sua esposa; por isso ninguém pode substituí-la por outra.
É a vós, homens de todas as nações, que sois a Igreja de Cristo, os membros de Cristo, o corpo de Cristo, a esposa de Cristo, é a vós que o Apóstolo dirige estas palavras:
Suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos em guardar a Unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef 4,2-3).
Reparai como, ao lembrar o Preceito de nos suportarmos uns aos outros, falou-nos do amor, e quando Se referiu à esperança da unidade, pôs em evidência o vínculo da paz.
Esta é a casa de Deus, edificada com pedras vivas. Nela o Eterno Pai gosta de morar; nela Seus olhos jamais devem ser ofendidos pelo triste espetáculo da divisão entre Seus filhos.”
Com a celebração do grande acontecimento da Festa de Pentecostes, como Igreja reunida, acolhemos o dom do Espírito Santo, e com Ele, o Amor de Deus, que é derramado em nossos corações,
Somos membros de uma Igreja, edificada com pedras vivas, e todo esforço deve ser feito para que se supere o “triste espetáculo da divisão entre Seus filhos”, como refletimos na conclusão do Sermão.
O autor anônimo sabiamente nos exorta para que celebremos este dia como membros do único Corpo de Cristo. E para que não celebremos em vão, haveremos de ser realmente aquilo que celebramos.
Envolvidos pelo Amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos preenche com coragem e ousadia, sejamos arautos contumazes e intrépidos da “Alegria do Evangelho”, como nos exortou o Papa Francisco, e assim nos tornaremos eternos aprendizes da mais bela linguagem universal: a linguagem do Espírito Santo, a linguagem de Deus, que consiste na linguagem do Amor.
Com o coração renovado, a cada dia, acolhamos o Vinho Novo do amor de Deus e, uma vez transbordante, seja derramado sobre quantos precisarem, porque sedentos de amor, vida, alegria e paz.
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