domingo, 4 de agosto de 2024

Partilha e solidariedade (XVIIIDTCC)


Partilha e solidariedade

Para aprofundamento da Liturgia do 18º domingo do Tempo Comum (ano C), em que é proclamada a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 12,13-21), oportuna esta reflexão escrita por São Cipriano (séc. III).

“Por que louvas semelhantes conselhos insensatos e néscios e te afasta das obras e preocupação e solicitude sobre o futuro? Por que te enredas em obscuridades e fantasias de desculpas vãs? Confessa a verdade; a nós que te conhecemos e não nos pode enganar. Abre os segredos de teu pensamento.

As trevas da esterilidade cercaram a tua alma e, afastando-te da luz da verdade, uma funda e profunda nuvem de avareza obscureceu um peito de carne.

És um cativo e um escravo de teu dinheiro. Estás amarrado com as cadeiras de tua avareza, e aquele a quem Cristo desatou voltou-se a atar. Guardas um dinheiro que, guardado, não guardará a ti. Acumulas um patrimônio cujo peso te oprime, e não te percebes do que contradisse ao que se vangloriava com alegria estúpida da abundância exuberante de seus frutos: ‘Insensato! Esta noite será pedida a tua alma, e tudo o que acumulou, de quem será?’.

Divide teus rendimentos com o Senhor, teu Deus. Reparte teus frutos com Cristo; faz-Lhe participante de tuas posses terrenas para que Ele te faça participante do Reino dos Céus. Erras e te enganas se acreditas ser rico neste mundo.

Ouve a voz de Teu Senhor no Apocalipse, e como repreende com justa reprovação a este tipo de homens: ‘Pois dizes: sou rico, faço bons negócios, não necessito de nada, e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Eu te aconselho que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas brancas para te vestires, a fim de que tua nudez não apareça; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claramente’.

Portanto, se és abastado por esta imensa luz, sejas ouro puro purificado pelo fogo, para que, abrasado por esta imensa luz, sejas ouro puro acrisolado pelas esmolas e obras de misericórdia. Compra para ti uma veste alva, para que, se foste desnudo segundo Adão, envergonhado de tua feiura, te vistas com o vestuário cândido de Cristo.

E tu, que és senhora abastada e rica na Igreja de Cristo, adorna teus olhos não com os enfeites do diabo, mas com o colírio de Cristo, para que possas chegar a ver Deus, merecendo esta graça d’Ele por tuas obras e bons costumes. Mas por hora, enquanto tu és assim, não podes atuar na Igreja, porque teus olhos, cheios da negrura das trevas e preocupados pela noite, não enxergam ao pobre e ao necessitado.

És abastado e rico, e acreditas que podes celebrar o Sacrifício do Senhor, tu que não olhas o sofrimento dos pobres; tu que vens ao divino Sacrifício sem sacrificar-te a ti mesmo; tu que participas de um sacrifício que o pobre oferece. Veja o exemplo da viúva que deu duas moedas de esmola no gazofilácio. Aquele que se compadece do pobre, empresta a Deus.”

Reflitamos sobre quais são as nossas riquezas, e como vivemos as obras de misericórdia, em alegre partilha e solidariedade, sobretudo com os que mais precisam.

Roguemos a Deus para que nos conceda sabedoria para o discernimento necessário, a fim de que saibamos usar as coisas que passam e abraçar as que não passam.

Jamais nos falte o “colírio de Cristo”, para enxergarmos os “Cristos” necessitados bem próximos a nós, clamando por amor, acolhida, solidariedade.


Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pp.691-692

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