O Tempo do Silêncio fecundo
“Que cada um esteja pronto para ouvir, mas
lento para falar e lento para encolerizar-se,
pois a cólera do homem não é capaz de
cumprir a justiça de Deus”. (Tg 2,19).
Reflitamos, à luz do versículo acima citado, sobre o perigo que a língua representa se não controlada pelas rédeas da sabedoria e da serenidade.
O autor do Livro do Eclesiástico já dissera:
“Não joeires a todos os ventos, nem te metas por qualquer trilha (assim faz o pecador de palavra dúplice). Sê firme em teu sentimento e seja uma a tua palavra. Sê pronto para escutar, mas lento para dar a resposta. Se sabes algo, responde a teu próximo; se não, põe a tua mão sobre a boca. Honra e confusão acompanham o loquaz, e a língua do homem é a sua ruína” (Eclo 5,11-15).
No lar, na escola, no trabalho, na Igreja e em quaisquer espaços que circulemos, estabelecemos relacionamentos com o outro. As divergências se manifestam, os ruídos ensurdecedores se avolumam, palavras densas ou vazias se multiplicam indefinidamente. As palavras vão e vêm, ora sem conteúdo, ora sem ressonância, ora pertinentes, ora nem tanto.
É preciso ressuscitar o silêncio eloquente, frutuoso. O silêncio que fala na ausência das palavras.
Não estaria ocorrendo algo temeroso que os autores sagrados haviam percebido: fala-se demais, escuta-se pouco, dá-se vazão à cólera, à ira (o resultado bem conhecemos)?
Estamos no Tempo da Quaresma - Tempo favorável de conversão. Porém, independente de ser o Tempo da Quaresma, para crentes e não crentes, participantes ou não da fé católica, façamos deste o Tempo do Silêncio fecundo.
Façamos um propósito: ouvir mais, falar menos, e esvaziar o coração para que Deus possa plenificá-lo de Sua bondade, amor, graça e ternura.
Silêncio não como voto de mudez, mas propósito de cura da surdez ao outro: aos seus clamores, gritos, sofrimentos e dores.
Controle da língua. Sejamos menos loquazes, falemos menos, ouçamos mais. Rédeas curtas para a língua, e alargamento das veras do coração, para que movidos pelo essencial de nossa fé (Mandamento do Amor) saibamos ser mais fraternos, construindo amizades mais autênticas e eternas.
Menos palavras, mais silêncio. Maior abertura de coração ao outro, menos ira, raivas, rancores, ressentimentos.
Os autores há muito nos falaram, e, teimosamente, nos fazemos surdos às suas palavras.
Calemo-nos!
Controlemo-nos!
Ouçamos mais, amemos muito mais!
Na fidelidade ao Senhor, vivendo a vida nova dos que creem no Ressuscitado, discípulos do Verbo Encarnado, padecido, sofrido, morto e Ressuscitado, vivendo por matizes e horizontes eternais.
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