domingo, 16 de março de 2025

A Transfiguração do Senhor e promoção da cultura da paz (IIDTQC)

A Transfiguração do Senhor e promoção da cultura da paz

“Este é o meu Filho amado.
 Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7) 

No sábado da Sexta Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,2-13), que nos fala sobre a Transfiguração do Senhor.

Ouvimos no Evangelho a voz que saiu da nuvem: “Este é o meu Filho Amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7).

Somos convidados a renovar e fortalecer nossa fidelidade ao Senhor, carregando nossa cruz, cada dia, com renúncias necessárias, como discípulos missionários do Senhor.

Com isto, temos o permanente convite a subirmos à Montanha e escutarmos Jesus, acolhendo Sua proposta sem edificar tendas, pois é ao mesmo tempo um imperativo de descida, para que na planície vivamos compromissos irrenunciáveis com a paz, que há de ser fruto da justiça promovida em todos os níveis de nossa vida.

O Cristo Glorioso Transfigurado na Montanha, é o mesmo que será desfigurado na planície. Somente quem reconhecê-Lo Glorioso terá coragem de se comprometer com os desfigurados da planície.

Quantos rostos desfigurados encontramos todos os dias pelo caminho. Nossa missão é buscar respostas para transfigurar a dura realidade que condena milhões de desfigurados: fome, dependência química, falta de teto, falta de carinho de seus pais, exploração sexual e estupros, pedofilia, exclusão da saúde e do lazer...

Enfim, encontram-se à margem do caminho, de mãos estendidas e olhos arregalados, e lamentavelmente, a lista dos desfigurados é interminável.

Nossa espiritualidade, nutrida pela riqueza da Palavra, nos compromete na participação em iniciativas pela ética na política, empenho pela justa distribuição de renda e justiça social, construção de uma economia solidária e fraterna, com a consequente promoção da cultura de vida e de paz...

Escutemos o que Jesus tem a dizer à Sua Igreja e ao mundo, e assim a Paz tão sonhada possa ser alcançada, que os sinais de morte deem lugar à vida, que situações de menos vida cedam lugar à vida plena e abundante...

É sempre tempo da escuta, de subir e descer a Montanha, pois a fé cristã não foi nem nunca será fuga, mas corajoso compromisso na defesa da vida, no chão nosso de cada dia.

A escuta e a vivência da Palavra de Deus são condições indispensáveis para que a Paz positiva aconteça: alegria, moradia, pão partilhado, saúde para todos, educação, famílias estruturadas, meio ambiente cuidado, saneamento básico assegurado para todos.

Sonhar com a paz é muito bom, melhor ainda é o compromisso com ela e com Ele, Jesus, que é a Fonte da verdadeira paz! 


Transfiguração do Senhor: um Mistério de Luz para o discipulado (IIDTQB)


Transfiguração do Senhor: um Mistério de Luz para o discipulado

“Este é o meu Filho amado.
Escutai o que Ele diz!" (Mc 9,7)

No segundo Domingo da Quaresma (ano B), ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9, 2-10), sobre a Transfiguração do Senhor no Monte Tabor.

Sejamos iluminados pelo Sermão, do Papa Leão Magno (séc. V), subindo com ao Monte para ouvir o que Filho amado tem a nos dizer:

“O Senhor manifesta a Sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o Seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que Seu rosto se tornou brilhante como o sol e Suas vestes brancas como a neve.

A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da Cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo.

(...) aos Apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os Mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento.

Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando com o Senhor, a fim de cumprir-se plenamente na presença daqueles cinco homens (incluindo Pedro, João e Tiago), o que fora dito:

Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16). Que pode haver de mais estável e mais firme que esta Palavra?

Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho.

(...) Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo l, 17).  N’Ele cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da Lei; pois pela Sua presença mostra a verdade das profecias e pela Sua graça, torna-se possível cumprir os Mandamentos.

Sirva, portanto, a proclamação do Santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da Cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido.

Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida.

O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no amor e na proclamação do Seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu.

Assim, quer cumprindo os Mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual pus todo meu agrado. Escutai-O (Mt 17,5)”.

Este acontecimento contemplamos no  quarto Mistério da Luz, um presente que nos foi dado pelo Papa São João Paulo II.

Contemplar a glória de Jesus e descer à planície para testemunhar o que ouvimos. Na Planície, no compromisso com a paz, transfigurar a realidade de tantos rostos marcados e desfigurados pela fome, abandono, droga, desamor, desemprego, falta de sentido para a vida, ilhados pela falta da esperança, enfraquecidos pela fraqueza da fé, sem o ardor que queima da chama da caridade...

Subamos ao alto da montanha com o Senhor, e escutemos atentamente o que Ele tem a nos dizer, encorajando-nos para descer à planície, de cada dia, para testemunhar nosso amor e fidelidade à Sua Palavra, ao Seu Evangelho, esperançosos da glória futura, mas corajosamente carregando a cruz do tempo presente.

A subida na montanha, por mais esplêndida que seja a experiência, é apenas um momento provisório daquilo que será nos céus, antes é preciso enfrentar os desafios na planície.

A Transfiguração, enfim, é o pleno cumprimento de toda Profecia e da Lei. É convite para que vivamos nossa vocação profética na prática incondicional da Lei do Amor: a Caridade, que é a Plenitude da Lei, seu pleno cumprimento.

Não nos custa contemplar o Transfigurado, pelo contrário, difícil é reconhecê-Lo desfigurado na Cruz e reconhecê-Lo nos desfigurados na planície e com eles nos comprometermos com a sua transfiguração, a fim de que tenham vida plena e feliz.

“Transfiguração: Na Montanha escutar o filho amado,
na Planície compromisso com o Reino, vida plena e feliz...”.

Transfiguração do Senhor: A glória é precedida pela Cruz (IIDTQB)

Transfiguração do Senhor: A glória é precedida pela Cruz

O segundo Domingo da Quaresma (ano B), identificado como “O Domingo da Transfiguração do Senhor”, é um convite a escutarmos a voz do Filho Amado, e maior obediência à vontade de Deus, na Força do Espírito.

A passagem da primeira Leitura (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18), fala-nos de Abraão e do sacrifício de seu filho Isaac.

O autor Sagrado nos revela um Deus que ama com Amor intenso e eterno; que revigora nossa serenidade e esperança; um Deus que não quer sacrifícios de vidas humanas, mas que todos tenham vida e vida plena.

Muitas vezes, as provações acontecem em nossa vida; e são elas ocasião para testemunharmos nossa fidelidade e revelarmos o que se passa no mais profundo de nosso coração.

Assim nos fez aprender Abraão, que não pouparia seu filho único, amado e herdeiro. Parecia que Deus iria destruir os próprios sonhos que ajudou a criar, no entanto, não é esta a mensagem, pois se Deus algo nos tira, é para nos dar algo ainda melhor.

A prontidão da resposta de Abraão revela um homem que entrega, confia, obedece... 

Sua obediência foi fonte de Bênção para todas as nações, e da mesma forma, será pelo nosso sim às coisas divinas, fazendo-nos  instrumentos da Bênção Divina para o outro.

Abraão nos ensina a confiar além da incompreensão. Com isto, é possível questionar qual a atitude que temos diante dos Mistérios de Deus em nossa vida.

Além da compreensão de tudo que somos incapazes, é preciso antes confiar e entregar-se, como Abraão, nas mãos da Divina Providência, que tudo sabe e tudo pode.

Tudo isto leva ao questionamento de nossa vida cristã, nossa fidelidade aos desígnios de Deus, de modo que a sua atitude nos convida rever nossas prioridades: fazer de Deus o valor máximo, a prioridade fundamental de nossa vida.

Não podemos servir a “deusinhos” e aos ídolos sedutores de tantos nomes, mas tão somente ao Deus Vivo e Verdadeiro, o Deus bíblico revelado por Jesus.

Deste modo, as qualidades de Abraão nos ajudam no Itinerário Quaresmal, na busca e prática da conversão necessária, para que possamos celebrar uma frutuosa e alegre Páscoa do Senhor. 

Com ele, aprendemos a crer, contra toda falta de humana esperança, e também que a obediência a Deus não é sinônimo de escravidão, mas garantia de vida, prosperidade, felicidade e realização.

Com a passagem da segunda Leitura (Rm 8,31b-34), é fortalecida a nossa espiritualidade cristã, que consiste em percorrer o caminho do amor a Deus e aos irmãos: enfrentar os sofrimentos, fazer as renúncias necessárias, suportar as incompreensões e perseguições e, sobretudo, não perder a esperança no triunfo final.

O discípulo de Jesus sabe que sua esperança não é uma ilusão, pois se relaciona com um Deus que ama a todos com Amor intenso, imenso e eterno, e por isto, mantém a serenidade, a confiança e a esperança, marcando assim, todo o seu existir.

Na aparente orfandade, ouve no mais íntimo de si mesmo: “Não tenhais medo”, pois o Amor de Deus veio ao nosso encontro por meio de Jesus, que por nós viveu um Amor, profundo, radical e total: um Amor vitorioso que passou pela Cruz para ser vencedor.

Com a passagem do Evangelho (Mc 9, 2-10),  refletimos sobre o Projeto Messiânico, que se realizará pela Cruz: com renúncias, o carregar da cruz no seguimento, escuta e obediência.

Poderiam indagar os próprios discípulos: “Vale a pena seguir alguém que nos oferece a morte na Cruz?”

O Evangelista, retratando a Transfiguração, nos assegura que sim, pois ela é um sinal antecipado da vitória, do triunfo glorioso da Ressurreição.

Assim compreendido, a Transfiguração no Monte é uma teofania – uma manifestação da força e onipotência divina que venceu a morte: não ficará morto para sempre o Filho Amado que nos amando, amou-nos até o fim.

Contemplemos algumas imagens que nos oferecem interessantes paralelos entre o Antigo e o Novo Testamento:

- O rosto transfigurado e as vestes brancas de Jesus lembram o resplendor de Moisés ao descer do Sinai, após o encontro com Deus em que receber as Tábuas da Lei;
- A nuvem na Bíblia sempre representa uma forma de falar da presença de Deus;

- Moisés e Elias, a Lei e a Profecia que se realizam;
- O temor mencionado revela a Onipotência Divina;

- As tendas lembram um novo Êxodo – passagem da escravidão à liberdade;
- Jesus é o novo Moisés, com Ele uma Nova e Eterna Aliança;
- A roupa branca também sinaliza a Ressurreição: a Cruz não terá e não será a palavra final.

O discípulo missionário do Senhor jamais poderá deixar se entorpecer por certo tipo de “anestesia espiritual”, que nos torna indiferentes diante dos outros.

No caminho de fidelidade a Jesus, não podemos esmorecer, fracassar, fugir ou abandonar a cruz que Ele nos ofereceu para ser carregada cotidianamente com renúncias necessárias.

Dando mais um passo em nosso itinerário quaresmal, ao ouvir a Palavra proclamada, seja acolhida no alto da montanha e na planície vivida.

Seja purificado o olhar de nossa fé, para que vejamos, além da transitoriedade da dor e do sofrimento, os sinais maravilhosos da Glória Celeste, e assim poderemos no final deste itinerário quaresmal, celebrar o transbordamento da alegria Pascal, a Ressurreição do Senhor.

Transfiguração do Senhor: Do bom combate da fé à vida plena e definitiva (IIDTQA) (28/02)

Transfiguração do Senhor:
Do bom combate da fé à vida plena e definitiva 

O caminho da glória eterna
passa, inevitavelmente, pela Cruz.

Com a Liturgia do segundo Domingo da Quaresma (ano A), celebramos a Transfiguração do Senhor, dando mais um passo em nosso itinerário rumo à Páscoa.

A Transfiguração do Senhor é um convite à escuta atenta à voz de Deus e obediência total e radical ao Seu Plano, que Jesus realizou plenamente, por isto Ele é o Filho Amado que deve ser escutado no Monte Tabor e, com a força do Espírito, a Sua Palavra devemos realizar na planície do cotidiano, na história concreta, com suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças...

Na passagem da primeira Leitura (Gn 12,1-4) é nos apresentado Abraão, que é para todos nós, o modelo de crente, modelo daquele que crê, percebe e segue, de coração confiante, o Projeto de Deus, colocando a vontade de Deus acima da própria vontade.

Abraão possui uma fé radical, confiança total e obediência incondicional às Propostas de Deus. Carrega dentro de si o sonho dos patriarcas: terra fértil e uma família numerosa, e em nenhum momento deixou de acreditar na promessa de Deus.

A mensagem que nos ilumina: Deus não desiste da humanidade e continua a construir com ela uma história de salvação, e Abraão é a pura e máxima expressão desta confiança na promessa divina.

Abraão é o homem que encontra Deus, que está atento aos Seus sinais e os interpreta, procurando responder aos desafios de Deus com total obediência e entrega.

Reflitamos:

- O que Abraão nos ensina em nossa caminhada de fé?
- Vivo um sim incondicional à vontade de Deus?
- Vivo uma fé instalada e acomodada?

- O que significa, como Abraão, pôr-se sempre a caminho e a Deus oferecer-se, e n’Ele confiar totalmente, entregando-lhe o que de melhor se possui?
- Deus vem, sempre por Amor, ao nosso encontro. Como correspondo ao Seu Amor e Projeto de Salvação?

Na passagem da segunda Leitura (2 Tm 1,8b-10), Paulo exorta Timóteo, e toda a comunidade, a manterem-se fiéis no discipulado, deixando de lado todo medo, acomodação, instalação e distração.

Na vida dos discípulos missionários não pode haver lugar para o desânimo e vacilo na fé. É preciso manter o ânimo, com fortaleza, enfrentar e superar as dificuldades, com fidelidade total no testemunho da fé n’Aquele que nos chamou, Jesus.

Tomando consciência da presença amorosa e preocupação de Deus para conosco, continuar no bom combate, no testemunho da fé. É preciso sempre levar a sério a vocação para a qual Deus nos chama, superando toda e qualquer forma de timidez, medo, insegurança...

Na passagem do Evangelho (Mt 17, 1-9), contemplamos a Transfiguração do Senhor, e a manifestação da antecipação de Sua glória, mas que é precedida pelo caminho da doação da vida, do Mistério de Sua Paixão, Morte e Ressurreição. O caminho da glória eterna passa, inevitavelmente, pela Cruz.

A experiência vivida no Monte Tabor é a antecipação da glória eterna, para que, quando da experiência da morte de Cruz de Jesus, os discípulos não desanimem, e continuem firmes na fé, no testemunho.

Virá a inquietante pergunta: “Vale a pena seguir um Mestre que nada mais tem para oferecer do que a morte na Cruz?”.

A Transfiguração é a resposta: o aparente fracasso da Cruz é a nossa vitória. Deus Ressuscitou Seu Filho e não permitiu que a morte tivesse a última palavra.

Lembremo-nos das palavras do Apóstolo Paulo aos Gálatas – “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo.” (Gl 6,14).

A Transfiguração é, portanto, uma teofania, ou seja, uma manifestação de Deus. Os sinais, os dados são relatos teofânicos do Antigo Testamento: monte, voz do céu, aparições, vestes brilhantes, nuvem, o medo e a perturbação dos três discípulos (João, Pedro e Tiago).

Jesus é o novo Moisés, e com Ele uma nova libertação. Com Ele Deus sela uma nova e eterna Aliança.

Moisés recebeu a Palavra, a Lei no Monte Horeb, Jesus é a própria Palavra do Pai a ser ouvida e acolhida.

A Transfiguração é uma mensagem catequética inesquecível na vida dos discípulos: Jesus é o Filho Amado de Deus, que realiza com Sua vida, doação, paixão e morte de Cruz, o Projeto de salvação divina. Ele apresenta um Projeto a quantos queiram ouvi-Lo e segui-Lo.

O caminho que Ele fará e fez é também o caminho daqueles que o seguirem. O aparente e provisório fracasso será uma eterna e verdadeira vitória.

A Transfiguração é uma mensagem de confiança e esperança – a Cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus, e na vida dos discípulos que O seguirem, está a Ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.

Pela Transfiguração do Senhor, testemunha-se que uma existência feita como dom não é fracassada, ainda que culmine na Cruz. A vida plena e definitiva se vislumbra no horizonte, bem no final do caminho, para todos aqueles que, como Jesus, colocarem sua vida a serviço dos irmãos.

Na planície por vezes também podemos ser tentados pelo desânimo, e é nesta hora que a Transfiguração do Senhor não permite que nos entreguemos, recuemos.

Avançar sempre para águas mais profundas. A Transfiguração é como um grito ecoado no alto do Monte Tabor: “Não desanimem, pois Deus não permite que nossa vida seja uma marca de fracasso. Creiamos na Ressurreição, busquemos a vida definitiva, a felicidade sem fim, com coragem, carregando a cruz em total fidelidade ao Senhor.”.

Escutar Sua Palavra no Monte Sagrado não basta, é preciso vivê-la na planície, no autêntico testemunho da fé. Viver a religião não como evasão, fuga, distanciamento de compromissos concretos de amor e solidariedade.

Sendo assim, a religião jamais será um ópio a nos entorpecer, mas um sagrado compromisso com Deus, e, portanto, com Sua imagem e semelhança, com a humanidade, obra de Suas mãos, e com o mundo que nos entregou para cuidar, desde as primeiras páginas da História da Salvação:

“A vida é combate. O primeiro ato do ser humano no seu nascimento é um grito. Ele deverá lutar para viver. Muitos doentes sabem que devem lutar contra o mal, o sofrimento, o desencorajamento, a lassidão.

Desistir de lutar é sintoma de uma doença que se chama depressão. Podemos lutar para nos curarmos fisicamente. Podemos lutar para nos mantermos de pé na provação. A vida espiritual também é um combate.

O Senhor é Alguém que Se deixa procurar. Segui-Lo supõe, por vezes, escolhas radicais.

Nesta semana, aceitemos conduzir um combate. Não para ser os melhores, nem para esmagar os outros, mas para viver e fazer viver.

A vitória neste combate é-nos anunciada neste domingo, em que nos juntamos ao Senhor Transfigurado. Mas Ele diz-nos que, antes de Ressuscitar, deve passar pelo combate da Paixão. A Ressurreição é a vitória do combate pela vida” (1).

A Eucaristia é, portanto, o momento em que sentimos fortemente a presença de Deus, e refazemos nossas forças, porque no Banquete Eucarístico nossa fé é nutrida, nossa esperança é dilatada e nossa caridade é fortalecida.


(1) Citação extraída do site:
http://www.dehonianos.org/portal/default.asp

A posse do 4º Bispo da Diocese de Guarulhos: “Ouvimos e vimos com nossos olhos”




A posse do 4º Bispo da Diocese de Guarulhos: 
“Ouvimos e vimos com nossos olhos”

Assim começa extasiado o autor da Epístola sobre o Verbo encarnado e a comunhão com o Pai e o Filho: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida, porque a Vida manifestou-se: nós a vimos e dela damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava voltada para o Pai e que nos apareceu” (1Jo 1,1-2).

Também nós ouvimos e vimos com nossos olhos um inesquecível momento, quando da realização da Celebração da Missa de posse do quarto Bispo da Diocese de Guarulhos - SP (2014).

Ouvimos e vimos, nos momentos que antecederam a Missa, a expectativa, a acolhida ao Arcebispo Metropolitano de São Paulo Cardeal Dom Odilo Scherer e, ao seu lado, o Bispo Dom Edmilson Amador Caetano, que  tomaria posse; o coral afinando suas vozes e instrumentos; o povo de Deus sentado nas arquibancadas ou nas cadeiras próximas ao altar, ou mesmo em pé; a ausência das flores, em perfeito cumprimento das rubricas quaresmais, como também o roxo dos paramentos litúrgicos da Missa.

Entretanto, não a ausência de beleza, percebida e contemplada nas pedras, nos galhos e folhagens que decoravam o ambiente, assim como o painel com a Cruz e o lema Episcopal de nosso Bispo, “Deus providenciará”, dando um colorido profético ao evento.

Ouvimos e vimos os murmúrios e conversas trocadas na alegre espera do grande acontecimento, que revela a bondade de Deus que não nos deixa desamparados, como ovelhas sem pastor. Deus, em tão curto tempo da Páscoa de nosso terceiro bispo, providenciou alguém para sucedê-lo em seu pastoreio. Vimos mais uma vez ser cumprida a Palavra do Senhor: “Não vos deixareis órfãos.  Eu virei a vós ” (Jo 14, 13).

Ouvimos e vimos a efusiva acolhida da assembleia, com palmas que expressavam o contentamento incontido no coração, tão fortes como o brilho e a emoção de saber que o báculo logo teria mãos firmes e seguras para tanger o rebanho sequioso de um pastor.

Outros ouviram e viram, pela TV e internet (instrumentos preciosos quando bem utilizados), as primeiras imagens da posse, com a mesma alegria e comoção por todos os cantos.

Missa iniciada, vimos e ouvimos os cantos, os primeiros rituais da posse, cumprindo o protocolo previsto, de um Bispo diante do rebanho, pela Igreja a ele confiado, como presença do Cristo Bom Pastor.

Vimos e ouvimos a Liturgia da Palavra de Deus da Missa do Domingo da Transfiguração do Senhor; Palavra que foi ressoada e encarnada em nossos corações com a breve, mas a clara e objetiva, homilia de nosso Bispo.

Com emoção, exortou a todos para viver a vocação para a santidade, colocando nas mãos de Deus as fragilidades e limitações a serviço do Reino, num  autêntico e corajoso testemunho de fé (referindo-se ao exemplo de Abraão – Gn 12,1-4a) , fruto da escuta atenta à voz do Filho Amado (Mt 17,1-9). 

Vimos e ouvimos as preces pelo fortalecimento de nossa missão evangelizadora na cidade de Guarulhos, na pura expressão da confiança na divina providência, com sua força e presença.

Vimos e ouvimos as palavras da Liturgia Eucarística, e com elas a graça do Mistério da Fé celebrado e proclamado, Pão e Vinho consagrados, “eucaristizados”, verdadeiramente, Comida e Bebida para nos fortalecer, sustentar no bom combate da fé, e os compromissos sagrados no cotidiano prolongar.

No encerramento, vimos e ouvimos o Bispo dirigir palavras de ânimo, reavivando a chama batismal no coração de todos, para que, sem recuos, avancemos para as águas mais profundas, com coragem e ousadia, vivendo também a graça da vocação e da profecia.

Logo após, vimos e ouvimos as conversas, os cumprimentos, as saudações, os encontros e reencontros... Por fim, a volta para casa com uma alegria transbordante no coração.

Verdadeiramente, o Senhor veio e o Seu Espírito pairou sobre todos, no acompanhamento da Diocese de Guarulhos, seu Pastor, padres, religiosos e religiosas, seminaristas, o Povo de Deus e todas as pessoas de boa vontade.

Que a ação evangelizadora, assim animada e assistida, leve a todos a contemplar coisas belas para se ouvir e também belas para se viver.

Se atentos ao Sopro do Espírito, e à sua voz, muito mais ouviremos e contemplaremos, pois é nesta comunhão fecunda de amor que somos inseridos; é nesta comunhão que nos tornamos fecundos, para fazer florescer e frutificar as mais belas sementes de alegria, vida e paz.

Transfiguração: o olhar da fé foi purificado (IIDTQA)

Transfiguração: o olhar da fé foi purificado
                                                                           
No 2º Domingo da Quaresma (ano A), ouvimos as seguintes passagens: Gn 12,1-4a; 2 Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9.

Façamos uma breve reflexão à luz da primeira Leitura e do Evangelho, para que vivamos frutuosamente a Quaresma:

“Chamando-nos à conversão, a Igreja nos chama, na realidade, a repetir e tornar nossa a expressão de Abraão e aquela dos apóstolos no Tabor: sair, descer, ir. Sair da rotina da vida – de nossa Ur da Caldeia – na qual estamos confortavelmente instalados, a mente cheia de projetos e de desejos terrenos. Ir ‘para a terra que o Senhor nos indica’, isto é, para o futuro da fé, abrindo-nos às promessas que Deus nos faz e às obras que nos pede” (1).

Voltemo-nos mais uma vez para Abraão, nosso pai da fé:

“Abraão foi chamado a desenraizar-se de um passado sereno e de um presente certo, para ir para um futuro indeterminado, para uma terra que jamais apertará nas suas mãos, para uma inumerável descendência, paradoxal para um velho marido de uma esposa anciã estéril. Daí em diante, só o ponto de partida será certo” ( 2).

Também temos a nossa história marcada por luzes e sombras, certezas e dúvidas, decisões a serem tomadas; estabilidades e instabilidades; seguranças e medos; turbulências pelos ventos contrários e a serenidade pelas brisas suaves que também nos acompanham.

E sejam favoráveis ou adversos, é tempo de nos deixarmos conduzir pelas virtudes divinas que nos acompanham: fé, esperança e caridade.

Concluo apresentando uma súplica para nos ajudar neste santo propósito, que renovamos a cada Quaresma que celebramos e vivenciamos intensamente com toda a Igreja.

Supliquemos:

Senhor Deus, concedei-nos a coragem de “sair, descer e ir” para onde quiserdes nos enviar e a Vossa divina vontade realizar, sem fixar âncoras nas aparentes seguranças que já tenhamos alcançado.

Concedei-nos também a graça de não cairmos na tentação de nos instalarmos num passado sereno, ou presente tão certo e seguro, mas termos a coragem de nos levantarmos, descermos e partirmos para o indeterminado, tão apenas confiando em Vosso Projeto, sem sombras de dúvidas ou de medo, guiados pelo Vosso Espírito, na fidelidade ao Vosso Amado Filho.

“Sair, descer e ir”, não fixando em nossa Caldeira de Ur, tão pouco fixando moradas no Monte Tabor, como desejaram Vossos Apóstolos, mas com os olhos da fé devidamente purificados, descermos à planície ao encontro dos desfigurados, Vossos pobres prediletos, até que mereçamos a visão da Trindade Santa e Eterna, plenitude de amor e luz: céu.

Senhor Deus, ainda que o Mistério da Cruz se faça presente em nossa vida, a experiência do Tabor pelos Apóstolos vivida, conosco compartilhada e nela acreditada, seja a força que nos impulsione a caminhar adiante, colocando nossa vida inteiramente ao Vosso dispor, para que renovemos sagrados compromissos com Vosso Reino.

Oremos:

“Ó Deus, que nos mandastes ouvir o Vosso Filho amado, alimentai nosso espírito com a Vossa Palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de Vossa glória. Por N.S.J.C. Amém."

  
(1) O Verbo Se faz Carne - Raniero Cantalamessa - Editora AVe Maria - 2013 p.55
(2) Lecionário Comentado - Editora Paulus -Lisboa - p.91

Transfiguração do Senhor: Lei e Profecia se cumprem (IIDTQB)

Transfiguração do Senhor: Lei e Profecia se cumprem

“Este é o meu Filho amado.
Escutai o que Ele diz! (Mc 9,7)

No sábado da sexta Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,2-13), sobre a Transfiguração do Senhor no Monte Tabor, como meditamos no  quarto Mistério da Luz, um presente que nos foi dado pelo Papa São João Paulo II.

Sejamos iluminados pelo Sermão, do Papa Leão Magno (séc. V), subindo com ao Monte para ouvir o que Filho amado tem a nos dizer:

“O Senhor manifesta a Sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o Seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que Seu rosto se tornou brilhante como o sol e Suas vestes brancas como a neve.

A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da Cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo.

(...) aos Apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os Mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento.

Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando com o Senhor, a fim de cumprir-se plenamente na presença daqueles cinco homens (incluindo Pedro, João e Tiago), o que fora dito:

Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16). Que pode haver de mais estável e mais firme que esta Palavra?

Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho.

(...) Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo l, 17).  N’Ele cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da Lei; pois pela Sua presença mostra a verdade das profecias e pela Sua graça, torna-se possível cumprir os Mandamentos.

Sirva, portanto, a proclamação do Santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da Cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido.

Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida.

O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no amor e na proclamação do Seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu.

Assim, quer cumprindo os Mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual pus todo meu agrado. Escutai-O (Mt 17,5)”.  (1)

Contemplar a glória de Jesus e descer à planície para testemunhar o que ouvimos. Na Planície, no compromisso com a paz, transfigurar a realidade de tantos rostos marcados e desfigurados pela fome, abandono, droga, desamor, desemprego, falta de sentido para a vida, ilhados pela falta da esperança, enfraquecidos pela fraqueza da fé, sem o ardor que queima da chama da caridade...

Subamos ao alto da montanha com o Senhor, e escutemos atentamente o que Ele tem a nos dizer, encorajando-nos para descer à planície, de cada dia, para testemunhar nosso amor e fidelidade à Sua Palavra, ao Seu Evangelho, esperançosos da glória futura, mas corajosamente carregando a cruz do tempo presente.

A subida na montanha, por mais esplêndida que seja a experiência, é apenas um momento provisório daquilo que será nos céus, antes é preciso enfrentar os desafios na planície.

A Transfiguração, enfim, é o pleno cumprimento de toda Profecia e da Lei. É convite para que vivamos nossa vocação profética na prática incondicional da Lei do Amor: a Caridade, que é a Plenitude da Lei, seu pleno cumprimento (cf. Rm 13,10).

Não nos custa contemplar o Transfigurado, pelo contrário, difícil é reconhecê-Lo desfigurado na Cruz e reconhecê-Lo nos desfigurados na planície e com eles nos comprometermos com a sua transfiguração, a fim de que tenham vida plena e feliz.

Transfiguração: Na Montanha escutar o filho amado,
na Planície compromisso com o Reino, vida plena e feliz...


(1) Liturgia das Horas, Vol II, pp.130/2

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