terça-feira, 4 de março de 2025

Capítulo VI: JOVENS COM RAÍZES

Capítulo VI
JOVENS COM RAÍZES

Como uma árvore, os jovens precisam de raízes, pois é impossível que cresçam sem raízes fortes que ajudem a ficarem firmes e de pé. (n.179)

É preciso distinguir entre a alegria da juventude e o falso culto da mesma, que seduz jovens e os usam para seus fins. (n.180).

É preciso tomar cuidado, porque muitas ideologias precisam de jovens que desprezem a história, rejeitem a riqueza espiritual e humana, que se foi transmitindo através das gerações, ignorem tudo quanto os precedeu. (n.181)

O contrário também pode acontecer: manipuladores que se servem doutro recurso: “uma adoração da juventude, como se tudo o que não é jovem aparecesse detestável e caduco. O corpo jovem torna-se o símbolo deste novo culto e, consequentemente, tudo o que tenha a ver com este corpo é idolatrado e desejado sem limites, enquanto o que não for jovem é olhado com desprezo. Mas é uma arma que acaba por degradar os jovens, esvaziando-os de valores reais e utilizando-os para obter benefícios individuais, económicos ou políticos”. (n.182)

Não permitir que usem a juventude para promover uma vida superficial, que confunde beleza com aparência. (n.183).

“...Descobrir, mostrar e realçar esta beleza, que lembra a de Cristo na cruz, é colocar as bases da verdadeira solidariedade social e da cultura do encontro”. (n.183)

Há o perigo de uma espiritualidade sem Deus, bem como uma afetividade sem comunidade e compromisso com os que sofrem, com medo dos pobres, vistos como sujeitos perigos... (n. 184)

“Proponho-vos outro caminho, feito de liberdade, entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo tempo as raízes que nutrem e sustentam”. (n.184)

Há um perigo de desenraizamento dos jovens de suas origens culturais e religiosas de onde provêm, com a perda dos traços de sua identidade (n.185)

É preciso assumir as raízes, mas não se limitar a isto:

“Por isso, numa mensagem aos jovens indígenas reunidos no Panamá, exortava-os: ‘Assumi as vossas raízes! Mas não vos limiteis a isto. A partir destas raízes, crescei, florescei, frutificai’” (n.186)

Na relação da juventude com os idosos, é preciso “...Ajudar os jovens a descobrir a riqueza viva do passado, conservando-a na memória e valendo-se dela para as suas decisões e possibilidades, é um verdadeiro ato de amor para com eles visando o seu crescimento e as opções que são chamados a realizar”. (n.187)

 A Palavra de Deus recomenda que não se perca o contato com os idosos, para poder recolher a sua experiência, como se vê em várias passagens bíblicas. (nn. 188.189).

É preciso que a juventude mantenha-se aberta, para recolher uma sabedoria que se comunica de geração em geração; não é proveitosa a ruptura entre gerações. (nn.190.191)

Como diz o ditado: “Se o jovem soubesse e o velho pudesse, não haveria nada que não se fizesse”.  (n.191)

Sonhos e visões à luz da Profecia de Joel: “’Depois disto, derramarei o meu espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões’ (Jl 3, 1; cf. At 2, 17). Se os jovens e os idosos se abrirem ao Espírito Santo, juntos produzem uma combinação maravilhosa: os idosos sonham e os jovens têm visões. Como se completam reciprocamente as duas coisas?” (nn.192.193.194.197)

“Por isso, é bom deixar que os idosos contem longas histórias, que às vezes parecem mitológicas, fantasiosas – são sonhos de anciãos –, mas frequentemente estão cheias duma rica experiência, de símbolos eloquentes, de mensagens escondidas...” (n.195)

No livro “A Sabedoria do Tempo”, o Papa menciona alguns desejos sob a forma de pedidos. “Que peço aos idosos, entre os quais me incluo a mim próprio? Peço que sejamos guardiões da memória...” (n.196)


É preciso caminhar juntos:

 “O amor que se dá e age, muitas vezes erra. Aquele que atua, aquele que arrisca, frequentemente comete erros... Quando as pessoas mais velhas olham com atenção a vida, com frequência compreendem instintivamente o que está por trás dos fios emaranhados e reconhecem o que Deus faz criativamente até mesmo com os nossos erros” . (n.198)

“Se caminharmos juntos, jovens e idosos, poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros, acalentar os corações, inspirar as nossas mentes com a luz do Evangelho e dar nova força às nossas mãos”. (n.199)

As raízes são um ponto de arraigamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios. É preciso amar o nosso tempo com as suas possibilidades e riscos, com as suas alegrias e sofrimentos, com as suas riquezas e limites, com os seus sucessos e erros. (n.200)

O Papa citando um jovem, compara a Igreja como uma canoa:
“...a Igreja é uma canoa, na qual os idosos ajudam a manter a rota, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força imaginando o que os espera mais além. Não nos deixemos extraviar nem pelos jovens que pensam que os adultos são um passado que já não conta, que já está superado, nem pelos adultos que julgam saber sempre como se deveriam comportar os jovens. O melhor é subirmos todos para a mesma canoa e, juntos, procurarmos um mundo melhor, sob o impulso sempre novo do Espírito Santo”. (n.201) 

Capítulo VII: A PASTORAL DOS JOVENS

Capítulo VII
A PASTORAL DOS JOVENS

O Papa nos convida a repensar a Pastoral juvenil, que enfrentou os impactos das mudanças sociais e culturais, sem a pretensão de oferecer um guia prático da pastoral ou um manual da pastoral juvenil. (nn.202.203)

“Assiste-se a proliferação e o crescimento de associações e movimentos com caraterísticas predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do Espírito que abre novos caminhos. Mas é necessário um aprofundamento da sua participação na pastoral de conjunto da Igreja, bem como uma maior comunhão entre eles e uma melhor coordenação da atividade”.  (n.202)

Reconhecer os próprios jovens como os agentes da pastoral juvenil, acompanhados e orientados, mas livres para encontrar caminhos sempre novos, com criatividade e ousadia. (n.203)

“É necessário assumir novos estilos e estratégias... A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo”. (n.204)

Recolher ainda mais as boas práticas: metodologias, linguagens, motivações, que se revelaram realmente atraentes para aproximar os jovens de Cristo e da Igreja. (n.205)

É preciso ser uma pastoral juvenil sinodal: “caminhar juntos”, com a  valorização – através dum dinamismo de corresponsabilidade – dos carismas que o Espírito dá a cada um dos membros da Igreja, de acordo com a respetiva vocação e missão, com participação e corresponsabilidade.  (n.206)

A Igreja como um maravilhoso poliedro, atraindo os jovens pela riqueza dos dons derramados pelo Espírito sobre ela, apesar de nossas misérias. (nn.207.208)

O Papa assinala grandes linhas de ação:

- Uma é a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do Senhor; (nn.210.211)
- A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência. (n.209.212-215)

“...qualquer plano de pastoral juvenil deve conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade, servir os outros, aproximar-se dos pobres. Se o amor fraterno é o «novo mandamento» (Jo 13, 34), «o pleno cumprimento da lei» (Rm 13, 10) e o que melhor demonstra o nosso amor a Deus, então deve ocupar um lugar relevante em todo o plano de formação e crescimento dos jovens”. (n.215)

Favorecer a acolhida dos jovens, pois muitos deles encontram-se numa “situação profunda de orfandade”. (n 216)

Quanto desenraizamento! Se os jovens cresceram num mundo de cinzas, não é fácil para eles sustentar o fogo de grandes ilusões e projetos. Se cresceram num deserto vazio de sentido, como poderão ter vontade de se sacrificar para semear? A experiência de descontinuidade, desenraizamento e queda das certezas basilares, favorecida pela cultura mediática atual, provoca esta sensação de profunda orfandade à qual devemos responder, criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver”. (n.216)

Criar ‘lar’ é, em última análise, «criar família; é aprender a sentir-se unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, unidos de modo a sentir a vida um pouco mais humana. Criar lares, ‘casas de comunhão’, é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, menos indiferentes e anônimos”. (nn.217-220)

A pastoral das instituições educacionais, ressaltando a escola, que é uma plataforma para nos aproximarmos das crianças e dos jovens. Trata-se de um lugar privilegiado de promoção da pessoa e, por isso, a comunidade cristã sempre lhe dedicou grande atenção, quer formando professores e diretores, quer instituindo escolas próprias, de todo o género e grau. (nn.221-223).

Diferentes áreas de desenvolvimento pastoral favorecendo experiências de recolhimento, silêncio e oração; valorização dos momentos mais fortes do Ano Litúrgico, particularmente a Semana Santa, o Pentecostes e o Natal. Prezam muito também outros encontros de festas, que quebram a rotina e ajudam a experimentar a alegria da fé. (n.224).

Promover atividades de solidariedade em favor de crianças de pobres – “Muitos jovens cansam-se dos nossos programas de formação doutrinal, e mesmo espiritual, e às vezes reclamam a possibilidade de ser mais protagonistas em atividades que façam algo pelas pessoas”. (n.225)

Outras atividades: expressões artísticas, como o teatro, a pintura e outras, a música, a prática desportiva, a salvaguarda do meio ambiente... (n.226-228)

Mas não deixar de apresentar o essencial da fé cristã: “Estas e outras distintas possibilidades que se abrem à evangelização dos jovens não devem fazer-nos esquecer que, para além das mudanças na história e da sensibilidade dos jovens, há dons de Deus que são sempre atuais e contêm uma força que transcende todos os tempos e circunstâncias: a Palavra do Senhor sempre viva e eficaz, a presença de Cristo na Eucaristia que nos alimenta e o Sacramento do Perdão que nos liberta e fortalece. Podemos também mencionar a inesgotável riqueza espiritual que a Igreja conserva no testemunho dos seus Santos e no ensinamento dos grandes mestres espirituais. Embora tenhamos de respeitar as várias etapas e precisemos por vezes de esperar com paciência o momento certo, não podemos deixar de convidar os jovens para estas fontes de vida nova; não temos o direito de os privar de tanto bem”. (n.229)

É preciso pensar uma pastoral juvenil popular, “...além da habitual ação pastoral que realizam as paróquias e os movimentos, segundo determinados esquemas, é muito importante dar espaço a uma «pastoral juvenil popular», que tem estilo, tempos, ritmo e metodologia diferentes. É uma pastoral mais ampla e flexível que estimula, nos distintos lugares onde se movem concretamente os jovens, as lideranças naturais e os carismas que o Espírito Santo já semeou entre eles. Trata-se, antes de mais nada, de não colocar tantos obstáculos, normas, controles e enquadramentos obrigatórios aos jovens crentes que são líderes naturais nos bairros e nos diferentes ambientes. Devemos limitar-nos a acompanhá-los e estimulá-los, confiando um pouco mais na fantasia do Espírito Santo que age como quer”.  (n.230)

É preciso construir uma pastoral juvenil “...capaz de criar espaços inclusivos, onde haja lugar para todo o tipo de jovens e onde se manifeste, realmente, que somos uma Igreja com as portas abertas. Não é necessário sequer que uma pessoa aceite completamente todos os ensinamentos da Igreja para poder participar em alguns dos nossos espaços dedicados aos jovens...” (nn.234-238)

Juventude missionária (nn.239-240)

“Mas os jovens são capazes de criar novas formas de missão, nos mais variados setores. Por exemplo, visto que se movem tão bem nas redes sociais, é preciso envolvê-los para que as encham de Deus, de fraternidade, de compromisso’.  (n.241)

O acompanhamento dos jovens pelos adultos implica em respeito à liberdade. (n.242)

Como se dá a integração da Pastoral Juvenil com a Pastoral Familiar, favorecendo o acompanhamento do processo vocacional? (n.242).

Há uma carência de pessoas especializadas e dedicadas ao acompanhamento. Acreditar no valor teológico e pastoral da escuta implica repensar a renovação das formas com que, habitualmente, se expressa o ministério presbiteral e verificar as suas prioridades. (n.244)

Há a necessidade de preparar consagrados e leigos, homens e mulheres, qualificados para o acompanhamento dos jovens. (n.244)

É preciso acompanhar, de modo especial, os jovens que se apresentam como potenciais líderes, para que possam formar-se e preparar-se. (n.245)

É preciso desenvolver programas de liderança juvenil, para a formação e desenvolvimento contínuo de jovens líderes. (n.245)

Falta de figuras femininas de referência dentro da Igreja, para a qual desejam, elas também, contribuir com os seus dons intelectuais e profissionais.  (n.245)

Seminaristas e religiosos, deveriam ser mais capacitados para acompanhar os jovens líderes. (n.245)

Qualidades que devem ter aqueles que acompanham os jovens:

- ser um cristão fiel comprometido na Igreja e no mundo;
- uma tensão contínua para a santidade;
- não julgar, mas cuidar;
- escutar ativamente as necessidades dos jovens;
- responder com gentileza;
- conhecer-se;
- saber reconhecer os seus limites;
- conhecer as alegrias e as tribulações da vida espiritual;
- saber reconhecer-se humano e capaz de cometer erros: não perfeitos, mas pecadores perdoados;
- não levar os jovens a serem seguidores passivos, mas sim a caminhar ao seu lado, deixando-os ser os protagonistas do seu próprio caminho;
- respeitar a liberdade do processo de discernimento de um jovem, fornecendo-lhe os instrumentos para realizar adequadamente este processo;
- confiar sinceramente na capacidade que tem cada jovem de participar na vida da Igreja;
- cultivar as sementes da fé nos jovens, sem pressa de ver os frutos do trabalho que vem do Espírito Santo;
- este papel não deveria ser circunscrito aos presbíteros e aos religiosos, mas também ao laicato;
- devem beneficiar duma boa formação permanente.  (n.246)


CAPÍTULO VIII - A VOCAÇÃO

                                                      

A VOCAÇÃO

Vocação, como chamado de Deus:
- à vida;
- à amizade com Ele, (nn.250-252);
- à santidade (nn.248-249).

A vocação para o serviço missionário: ser para os outros (nn.253-258)

“Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. Por conseguinte, devemos pensar que toda a pastoral é vocacional, toda a formação é vocacional e toda a espiritualidade é vocacional”. (n,254)

“...Santo Alberto Hurtado dizia aos jovens que se deve tomar muito a sério o rumo: ‘Num barco, o piloto negligente é despedido sem remissão, porque joga com algo demasiado sagrado. E nós, na vida, cuidamos do nosso rumo? Qual é o teu rumo? Haveria necessidade de nos determos ainda mais sobre esta questão; peço a cada um de vós que lhe dê a máxima importância, porque acertar nisto equivale simplesmente a ter êxito; e não o conseguir é simplesmente falhar’”. (n.257)

Este “ser para os outros”, na vida de cada jovem, está relacionado com duas questões fundamentais:

-  a formação duma nova família (nn.259-267);
-  o trabalho. (nn.258-273)
- Vocações para uma consagração especial (nn.274-277): é preciso fazer a proposta.

Em relação ao amor e à família:
- convida a retomar os capítulos IV e V Amoris Laetitia;
- A família continua a ser o principal ponto de referência para os jovens; ( n.262)
- apesar das dificuldades encontradas na família de origem, o Papa afirma vale a pena apostar na família pois nela se encontram os melhores estímulos para o amadurecimento e as mais belas alegrias para partilhar; (n.263)
- não ceder a ilusória cultura do provisório (nada pode ser definitivo) (n.264)
- encorajamento para a opção do matrimônio (n.264)

Há uma necessidade de preparação para o matrimônio:
- educar-se a si mesmo;
- desenvolver as melhores virtudes, sobretudo o amor, a paciência, a capacidade do diálogo e de serviço;
- educar a própria sexualidade para que seja sempre menos um instrumento para usar os outros e cada vez mais uma capacidade de se doar plenamente a uma pessoa, de maneira exclusiva e generosa (n.265).

É preciso, antes de tudo, que se viva a vocação batismal, a primeira e a mais importante (n.267).

Em relação ao trabalho:
- Ressalta a importância e a necessidade do trabalho (n. 268)
- “o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal...” (Laudato Si citada no n.269)
- o desemprego juvenil como uma forma de exclusão e marginalização (n.270);
- a questão delicada: a substituição do trabalho por máquinas (n.271).

O trabalho é:
- expressão da dignidade humana;
- caminho de maturação e inserção social;
- um estímulo constante para o crescimento em responsabilidade e criatividade;
- uma proteção contra a tendência para o individualismo e a comodidade;
- serve para dar glória a Deus com o desenvolvimento das próprias capacidades (n.271).

Somos chamados apesar de nossas imperfeições e  erros, com a necessidade de espaços de calma e silêncio, que permitam refletir, rezar, ver melhor o mundo ao redor, e com Jesus, reconhecer, com Jesus, qual é a vocação que temos na terra (n.277).


- o silêncio interior;
- o olhar de Jesus para nós;
- o chamado.

Capítulo IX: O DISCERNIMENTO


Capítulo IX
O DISCERNIMENTO

O Papa retoma a questão sobre o discernimento em geral, para a vocação própria no mundo, que foi apresentado na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate. (n. 278)

“Sem a sapiência do discernimento, podemos facilmente transformar-nos em marionetes à mercê das tendências da ocasião” (n.279)

A formação da consciência permite ao discernimento crescer em profundidade e fidelidade a Deus:

- formar a consciência requer o caminho da vida inteira, no qual se aprende a cultivar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo, assumindo os critérios das suas opções e as intenções da sua atividade (cf. Fl 2, 5)”  (nn.280-282)

O discernimento da vocação é uma tarefa que requer espaços de solidão e silêncio, porque se trata duma decisão muito pessoal que mais ninguém pode tomar no nosso lugar. (nn.283-286))

No discernir a própria vocação, há várias perguntas que é preciso colocar-se:

“Não se deve começar por questionar onde se poderia ganhar mais dinheiro, onde se poderia obter mais fama e prestígio social, mas também não se deveria começar perguntando quais tarefas nos dariam mais prazer. Para não se enganar, é preciso mudar de perspectiva, perguntando: Conheço-me a mim mesmo, para além das aparências ou das minhas sensações? Sei o que alegra ou entristece o meu coração? Quais são os meus pontos fortes e as minhas fragilidades? E, logo a seguir, vêm outras perguntas: Como posso servir melhor e ser mais útil ao mundo e à Igreja? Qual é o meu lugar nesta terra? Que poderia eu oferecer à sociedade? E surgem imediatamente outras muito realistas: Tenho as capacidades necessárias para prestar este serviço? Em caso negativo, poderei adquiri-las e desenvolvê-las?” (n.285)

No discernimento da vocação, é preciso reconhecer que a mesma é a chamada de um amigo: Jesus. (nn.287-288)

“O dom da vocação será, sem dúvida, um dom exigente. Os dons de Deus são interativos e, para os desfrutar, é preciso pôr-me em campo, arriscar”. (n.289)

“Quando o Senhor suscita uma vocação, não pensa apenas no que és, mas em tudo o que poderás, juntamente com Ele e os outros, chegar a ser”.  (n.289)

“Antes de toda a lei e dever, aquilo que Jesus nos propõe escolher é um seguimento como o de amigos que se frequentam, procuram e encontram por pura amizade. Tudo o mais vem depois; e até os fracassos da vida poderão ser uma experiência inestimável de tal amizade que não se rompe jamais”. (n.290)

Escuta e acompanhamento feitos por sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos, profissionais e até jovens qualificados, que podem acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional. (n.291)

Para ajudar o outro a discernir o caminho da sua vida, a primeira coisa a fazer é ouvir. Esta escuta pressupõe três sensibilidades ou atenções diferentes e complementares:

-   A primeira sensibilidade ou atenção é à pessoa. Trata-se de escutar o outro, que se nos dá com as suas palavras. (n.292)
-   A segunda sensibilidade ou atenção é no discernir. (n.293)
- A terceira sensibilidade ou atenção consiste em escutar os impulsos «para diante» que o outro experimenta. É a escuta profunda do ponto «para onde o outro quer verdadeiramente ir». (n,294)

O discernimento torna-se um instrumento de compromisso forte para seguir melhor o Senhor. (n.295).

Quando alguém escuta a outro desta maneira, a dado momento deve desaparecer para deixá-lo seguir o caminho que ele descobriu. Desaparecer como desaparece o Senhor da vista dos Seus discípulos, deixando-os sozinhos, com o ardor do coração, que se transforma num impulso irresistível de se porem a caminho (cf. Lc 24, 31-33). De regresso à comunidade, os discípulos de Emaús receberam a confirmação de que o Senhor verdadeiramente ressuscitou (cf. Lc 24, 34).  (n.296)

Devemos suscitar e acompanhar processos, não impor percursos. Trata-se de processos de pessoas, que sempre são únicas e livres. Por isso, é difícil elaborar receituários, mesmo quando todos os sinais forem positivos. (n.297)

“...para acompanhar os outros neste caminho, primeiro precisas de ter o hábito de o percorreres tu próprio” (n.298)

Maria assim o fez, enfrentando as suas questões e as suas próprias dificuldades, quando era ainda muito jovem. (n.298)

Conclui com um desejo:

“Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi ‘atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre.

O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós’”.  (n.299)

Rezar a partir da matemática é possível!

                                                 

Rezar a partir da matemática é possível!

Há algum tempo escrevi esta afirmação: “Com belíssima comparação o Profeta Isaías nos fala de Deus tomando a imagem do amor maternal: amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito e incondicional, mas elevado ao grau infinito. Elevado à enésima potência infinita, se matematicamente pudéssemos dizer.”

Com conhecimento elementar da linguagem matemática, na primeira redação disse: “Elevado à enésima potência infinita...”, porém, na perfeita “matematiquês”, diz-se: “Elevado à enésima potência tendendo ao infinito...”. Cometeria um erro, sem dúvida, e fiquei enriquecido com o aprendizado... E mais que isto: essa abertura levou-me a refletir sobre um erro do qual não somos imunes: não amar na mesma medida do Amor Divino.

Criados a imagem e semelhança de Deus este é nosso horizonte e destino, amar na exata medida... Amor “elevado à enésima potência tendendo ao infinito”, pois assim é o amor d’Ele por nós.

Esta medida é condição indispensável para que as portas da eternidade se abram, e que o céu seja o prolongamento do que aqui vivemos: a plenitude do Amor Divino.

Continuando a rezar a partir da matemática...

Continuando a rezar a partir da matemática...
 
Matemática! Para alguns um sofrimento, para outros um deleite...
 
Quantos rezaram, rezam e continuarão rezando para fazer uma prova de matemática... 
 
Lembro-me das noções elementares aprendidas há muitos anos... Das primeiras lições de tabuada, para muitos, que tormento a memorização.
 
Lembro-me do “lapiz” que não apontava (confesso que tive mais dificuldade de escrever lápis com s e não com z, sem esquecer-me do acento...), pois trazia a tabuada (se era para usar, por que vinha neles). Mas tinha o memorável lápis preto sem nada escrito que consumíamos interminavelmente com os apontadores. Depois vieram as lapiseiras...
 
Mas antes que continue, tive professoras que apaixonadas pela matemática, vocacionadas para tal me levaram ao mesmo sentimento...
 
Lembro-me das operações que nos acompanhariam por toda a vida (adição, subtração, multiplicação e divisão); daquelas enormes expressões algébricas com chave, colchetes, parênteses e o imperativo da ordem a ser obedecida, sem a qual jamais chegaríamos ao pretendido resultado; da raiz quadrada; das equações de primeiro grau e segundo graus, a procura do valor de “x”. Ah, também das equações biquadradas (será isto mesmo? já nem me lembro)...
 
As aulas sobre Conjuntos, que talvez não lembremos tanto quanto deveríamos, mas que estão mais que presentes em nosso cotidiano.
 
Recordar tudo isto, nos possibilita rezar a partir da matemática:

“Conjunto: Coleção de elementos bem definidos...”
 
Lembramos a criação: a Ação Divina que fez tudo e viu que era muito bom! A perfeita harmonia da criação. A beleza da criação, a biodiversidade, o equilíbrio do sistema; a mais que atualíssima questão da sustentabilidade em que um elemento (ser/organismo) depende do outro... A procura do equilíbrio, do respeito às diferenças.
 
A beleza divina manifesta-se na diversidade, multiplicidade, na possibilidade de nos surpreender com elementos novos, traduzidos como conteúdos e enredos novos.
 
Somos os elementos por Deus bem definidos, antes pensados, criados, reconciliados porque, por Ele, sempre amados.
 
“O Conjunto dos números Naturais”, que tem por natureza o infinito, leva-me a refletir sobre a infinitude do Amor de Deus, que tende a nos lançar para o futuro, plantando em nós a semente da eternidade quando de nosso Batismo.
 
Infinitude e imensurabilidade do Amor Divino... 

Há amores finitos são como as ervas da manhã que murcham ao entardecer e orvalhos que secam com os primeiros raios do sol como muito bem expressou o salmista sobre a finitude.
 
“Pertinência: Característica associada a um elemento que faz parte de um Conjunto. Um elemento pode ‘pertencer’ ou ‘não pertencer’ a um determinado Conjunto.”
 
Com a “pertinência” reconhecer que a Deus pertencemos, e por isto diante d'Ele devemos nos submeter: diante do Senhor todo joelho se dobre e toda língua proclame Jesus é o Senhor (Fl 2,1-11).
 
A Deus, que não Se deixa apropriar por mãos humanas, sintamo-nos pertencentes.
 
Quanto maior for este sentimento, maior nossa relação filial de confiança e amor, disponibilidade e serviço.
 
“Relação entre Conjuntos - Contém, não contém, está contido, não está contido...”
 
Como é bom saber que o coração trespassado de Jesus contém a nossa existência.
 
Dilatado foi para que nele coubéssemos. Estamos contidos no coração de Jesus, e quanto mais o amarmos, mais sentiremos Sua presença em nós, e mais em Seu coração desejaremos estar contidos.
 
Contém” - A Sagrada Escritura contém a história da Salvação, e com isto, nela está contida a história do Amor de Deus e todos aqueles que escreveram esta história.
 
Importa vivermos também sentindo-nos nesta história envolvidos, contidos. Quanto mais assumir a Sagrada Escritura como nossa história de salvação, mais nela nos sentiremos contidos.
 
“Operações entre dois Conjuntos - união, intersecção...”
Reflito sobre a União Matrimonial – “O que Deus uniu o homem não separe...” Unidade e indissolubilidade matrimonial a serem vividas cotidianamente como Mistério Pascal.
 
A unidade desejada e rezada por Jesus (Jo 17); exortada por Paulo  em Efésios ( Ef 4); a unidade vivida pelas primeiras comunidades (At 2,42-45).
 
A unidade: a relação dos povos e suas diferenças étnicas, culturais; a unidade no respeito à diversidade tão frágil e tão bela...
 
A matemática muito mais do que nos livros, como martírio ou encanto, como sofrimento ou prazeroso aprendizado está mais do que presente em nossa vida.
 
Urge a  religação dos saberes... O saber da matemática também pode ser e é indispensável para descobrirmos caminhos novos para uma nova humanidade. Rezar a partir da matemática é possível, mais que isto: necessário!
 

Quando se planta a justiça, colhe-se a paz!

Quando se planta a justiça, colhe-se a paz!

A paz tão sonhada, tão necessária, é anseio permanente de toda a humanidade.

Há alguns anos, na Diocese de Guarulhos, no Fest-Jovem, foram apresentadas letras de músicas que traziam o desejo de Paz que brota do coração de toda juventude, fecundado e alimentado pela espiritualidade que tem como fonte a Sagrada Escritura.

As letras retratavam situações difíceis por que passam o mundo: violência, corrupção, drogas, crise de valores, fome, desemprego, doenças, vazios de sentido, depressão etc.

Com o coração ardendo pelo fogo do Espírito, rezamos como o Salmista:

“Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam; da terra germinará a Verdade e a Justiça se inclinará do céu. O próprio Iahweh dará a felicidade, e nossa terra dará seu fruto. A Justiça caminhará a sua frente, e com seus passos traçará um caminho” (Sl 85,11-14).

Apresento alguns trechos das letras para nossa reflexão:

“A paz não se faz de palavras, de cartazes ou dizeres. Paz se faz de atitudes, dignidade e ação. Não apenas quando as armas cessarem, mas do direito à educação, sem pessoas que choram por fome. Paz, quem quer a paz respeita a vida. Não importa o seu interesse, maior é o viver. Paz, quem quer a paz, respeita irmão, a paz é uma escolha, é o direito de expressão…”.

“Paz não nasce do nada, paz só brota se for semeada; Paz não é canto que cala. Paz é música de todos, é canto de multidão em diferentes línguas. Paz é ação.”

Que o nosso compromisso com a paz seja renovado, que alimentados pela Palavra de Deus, envolvidos pela leve e suave brisa divina, passemos das palavras aos passos a serem dados; das palavras à travessia do mar, acolhendo a Palavra do Verbo: “Coragem, sou Eu, não tenham medo!” (Mt 15,27). Ele está conosco na travessia do mar, presente em nossa barca Igreja, em nossas pastorais... Os ventos contrários, que agitam a barca não têm mais força que Sua Palavra e presença!

Vibrando com a presença do Senhor, façamos valer as palavras do Profeta Isaías: “O fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre. Meu povo morará em mansões seguras e em lugares tranquilos. Embora a floresta venha abaixo, embora a cidade humilhada, sereis felizes, semeando junto de águas abundantes, deixando andar livres os bois e os jumentos” (Is 32,17-18).

Continuemos sempre plantando a justiça para colher a paz!

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG