sábado, 24 de agosto de 2024

Reconciliados pelo Sangue de Cristo

 


Reconciliados pelo Sangue de Cristo

Sejamos enriquecidos pelo comentário sobre os salmos, escrito pelo bispo Santo Ambrósio (séc. IV), em que nos apresenta Jesus Cristo, que por Seu Sangue reconciliou o mundo com Deus.

“Se Cristo reconciliou o mundo com Deus, então não necessitava Ele de reconciliação. Por qual pecado Seu expiaria, se não conheceu pecado algum? E ainda, ao pedirem os judeus a didracma que, pela lei, se dava pelo pecado, disse a Pedro: Simão, de quem os reis da terra recebem tributos ou impostos, de seus filhos ou dos estranhos? Respondeu Pedro: Dos estranhos, e o Senhor: Logo, os filhos estão livres. Mas para não lhes causarem embaraço, lança o anzol e tira o primeiro peixe que apanhar, abre-lhe a boca e encontrarás um estáter; toma-o e paga-o por mim e por ti (Mt 17,25-27).

Demonstrou, assim, não ser obrigado à expiação de pecados; não era servo do pecado, mas livre de todo erro o Filho de Deus. O Filho liberta, o servo é réu. Logo, livre de tudo, não tem Ele de dar o preço de redenção de Sua alma; o preço de Seu Sangue pode derramar-se pelo universo para redimir o pecado de todos. Com justiça liberta a outros, quem nada deve por Si.

Digo mais. Não apenas Cristo não tem preço a pagar por Sua redenção ou expiação pelo pecado, mas, a respeito de qualquer homem, pode-se entender não deva cada um pagar o próprio resgate. Porque a expiação de todos é Cristo, é a redenção do universo.

De que homem será o sangue capaz de alcançar sua redenção, se pela redenção de todos Cristo já derramou Seu Sangue? Haverá sangue comparável ao Sangue de Cristo? ou que homem tão poderoso que possa dar algo pela própria expiação, de maior valor do que a expiação que Cristo ofereceu em Si mesmo, Ele, o único a reconciliar por Seu Sangue o mundo com Deus? Que maior Hóstia, que sacrifício mais excelente, que melhor advogado do que Aquele que pelo pecado de todos Se fez súplica e entregou a vida como redenção por nós?

Não se cogita da expiação ou redenção de cada um, porque o preço de todos é o Sangue de Cristo, com o qual o Senhor Jesus nos redimiu e só ele nos reconciliou com o Pai, e trabalhou até o fim, pois assumiu nossas tarefas ao dizer: Vinde a mim, todos vós que lutais, e Eu vos aliviarei (Mt 11,28).” 

Glorifiquemos a Deus que, pelo Sangue de Seu Filho, nos alcançou a reconciliação, para que com a presença do Espírito, vivamos a vida nova que alcançamos pela graça do Batismo.

Reconciliados com Deus, podemos estabelecer vínculos de comunhão e fraternidade, superando toda e qualquer forma de violação da vida.

Reconciliados pelo Sangue de Cristo, como novas criaturas, somos chamados, como discípulos missionários, a buscar sempre as coisas do alto (Cl 3,1-3).

Glorifiquemos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Amém.

São Bartolomeu: a sinceridade do Apóstolo(24/08)

                                          


São Bartolomeu: a sinceridade do Apóstolo

No dia 24 de agosto, em que celebramos a Festa do Apóstolo São Bartolomeu, somos enriquecidos pelo “Tratado sobre a prescrição dos hereges”, escrito pelo Presbítero Tertuliano (Séc. III), sobre a pregação apostólica, a qual ambos deram imensa contribuição.

“Cristo Jesus, nosso Senhor, durante a Sua vida terrena, ensinou quem era Ele, quem tinha sido desde sempre, qual era a vontade do Pai que vinha cumprir e qual devia ser o comportamento do homem. Ensinava estas coisas ora em público, diante de todo o povo, ora em particular, aos Seus discípulos.

Dentre estes escolheu doze para estarem ao Seu lado, e que destinou para serem os principais mestres das nações. Quando, depois da Sua Ressurreição, estava prestes a voltar para o Pai, ordenou aos onze – pois um deles se havia perdido – que fossem ensinar a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Imediatamente os Apóstolos (palavra que significa “enviados”) chamaram por sorteio a Matias como duodécimo para ocupar o lugar de Judas, segundo a profecia contida num salmo de Davi.

Depois de receberem a força do Espírito Santo com o dom de falar e de realizar milagres, começaram a dar testemunho da fé em Jesus Cristo na Judeia, onde fundaram Igrejas; partiram em seguida por todo o mundo, proclamando a mesma doutrina e a mesma fé entre os povos.

Em cada cidade por onde passaram fundaram Igrejas, nas quais outras Igrejas que se fundaram e continuam a ser fundadas foram buscar mudas de fé e sementes de doutrina. Por esta razão, são também consideradas apostólicas, porque descendem das Igrejas dos Apóstolos.

Toda família deve ser necessariamente considerada segundo sua origem. Por isso, apesar de serem tão numerosas e tão importantes, estas Igrejas não formam senão uma só Igreja: a primeira, que foi fundada pelos apóstolos e que é origem de todas as outras. Assim, todas elas são primeiras e apostólicas, porque todas formam uma só. A comunhão na paz, a mesma linguagem da fraternidade e os laços de hospitalidade manifestam a sua unidade. Estes direitos só têm uma razão de ser: a unidade da mesma tradição sacramental.

Se quisermos saber o conteúdo da pregação dos Apóstolos, e, portanto, aquilo que Jesus Cristo lhes revelou, é preciso recorrer a estas mesmas Igrejas fundadas pelos próprios Apóstolos e às quais pregaram quer de viva voz, quer por seus escritos.

O Senhor realmente havia dito em certa ocasião: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora; e acrescentou: quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade (Jo 16,12-13).

Com estas palavras revelou aos Apóstolos que nada ficariam ignorando, porque prometeu-lhes o Espírito da Verdade que os levaria ao conhecimento da plena verdade. E, sem dúvida alguma, esta promessa foi cumprida, como provam os Atos dos Apóstolos ao narrarem a descida do Espírito Santo.”

Celebrando a Festa deste Apóstolo, renovemos a alegria de participar da missão que o Senhor nos confiou, como batizados, em nome da Santíssima Trindade, que nos acompanha em todos os momentos.

Ontem, como hoje, são muitos os desafios que se colocam frente à missão de proclamar a Boa-Nova, e não podemos jamais permitir que se esfrie ou se apague a chama do primeiro amor, que viveram os primeiros na fidelidade ao Senhor.

Seja o amor derramado em nossos corações, por meio do Espírito, para que firmemos nossos passos, para que sejamos fiéis a Jesus, O Caminho, a Verdade e a Vida que nos assegura vida plena e definitiva a caminho do Pai.

Seu testemunho foi selado com o martírio – esfolado vivo – como era costume penal dos persas.

São Bartolomeu como demais apóstolos seguiram o Caminho, foram iluminados pelo esplendor da Verdade, e deram a Vida pelo Senhor, e hoje estão na comunhão e amor e vida plena: céu.
Agora é o nosso tempo, é a nossa hora a ser vivida, com amor, zelo e ardor total, a fim de que a Boa-Nova seja anunciada em todos os tempos e em todos os lugares.

Oremos:

Ó Deus, fortalecei em nós aquela fé que levou São Bartolomeu a seguir de coração o Vosso Filho, e fazei que, pelas preces do Apóstolo, a Vossa Igreja se torne Sacramento da salvação para todos os povos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.

A sabedoria dos simples e a força dos pequenos(24/08)

                                                        

A sabedoria dos simples e a força dos pequenos

Na Festa de São Bartolomeu, dia 24 de agosto, somos enriquecidos pela Palavra  proclamada: Ap 21,9b-14 e Jo 1,45-51.

Reflitamos a Homilia do Bispo São João Crisóstomo (séc. IV), sobre a Primeira Carta aos Coríntios, que muito nos enriquece na espiritualidade a ser cultivada, purificada, amadurecida, a fim que trilhemos nos passos de Jesus.

“Por meio de homens ignorantes a Cruz persuadiu, e mais, persuadiu a terra inteira. Não falava de coisas sem importância, mas de Deus, da verdadeira religião, do modo de viver o Evangelho e do futuro juízo. De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria. Vê como a loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte.

De que modo mais forte? Cobriu toda a terra, cativou a todos por Seu poder. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este nome floresceu e cresceu enormemente.

Mas Seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o morto, nada conseguiram. Por isso, quando o grego me chama de morto, mostra-se totalmente insensato, pois eu, que a seus olhos passo por ignorante, me revelo mais sábio que os sábios.

Ele, tratando-me de fraco, dá provas de ser o mais fraco. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar.

Pensando nisto, Paulo dizia: O que é fraqueza de Deus é mais forte que todos os homens (1Cor 1,25). Com isso se prova a pregação divina.

Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro?

Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade. Que diz então a respeito deles? Que, preso o Cristo depois de tantos milagres feitos, uns fugiram, o principal deles O negou.

Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez Ele morto e sepultado – visto que, como dizeis, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro?

Não teriam dito, ao contrário: 'Que é isto? não pôde salvar-Se, vai proteger-nos  agora? Ainda vivo, não socorreu a Si mesmo, e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer Seu nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?'. Por este motivo é evidente que, se não O tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova de Seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura.”

Como vemos, os discípulos, entre eles Natanael, identificado com Bartolomeu, homens simples, incultos, entre outras limitações, conseguiram irradiar a força do Evangelho.

Este  êxito ocorreu e ocorre ainda hoje e continuará a ocorrer é porque existe algo que a razão humana não consegue explicar, que as ciências não conseguem  sistematizar e conceituar. 

Algo que ultrapassa quaisquer lógicas que possamos pensar, pois se trata de  uma verdade que nos remove, impulsiona, seduz, compromete, anima, orienta: a Ressurreição de Jesus. 

Cremos na Ressurreição, na força que dela emana em nossa missão, e assim, cremos que somos e podemos mais do que possamos ser e pensar, na força do Ressuscitado, como falou o apóstolo Paulo – “Tudo posso n'Aquele que me fortalece!” (Fl 4,13).

Cremos e aspiramos as coisas do alto onde Deus está.
Cremos que se com Ele morremos, com Ele ressuscitamos, nos eternizamos.

Cremos que em nós foi, um dia, pelo Batismo, lançada a semente da imortalidade, de modo que somos templos do Espírito. Morte experimentada, não como epílogo, rompimento sem horizonte, mas passagem, nascimento para o que de mais precioso desejamos: a Face Divina contemplar...

Cremos na Vida do Ressuscitado, e seduzidos por Ele, com o coração de amor inflamado, caridade testemunhada, fé e esperança irmanadas numa ciranda provisória que se perpetuará na eternidade.

Cremos que tão somente assim, nenhuma dificuldade será o bastante forte para aniquilar a força e apagar a  chama do fogo do Espírito do Ressuscitado em nosso coração, onde Ele quis habitar, para nos divinizar. 

Creio Senhor, mas aumentai minha fé.


PS: Apropriado para o dia 05 de janeiro, antes da Epifania, em que se proclama a passagem do Evangelho de João (Jo1,43-51).

Discípulos em permanente vigilância e oração (23/08)

                                                        

Discípulos em permanente vigilância e oração

No 20º sábado do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 23,1-12).

Refletimos sobre as atitudes que devem marcar a vida do discípulo missionário de Jesus, vivendo a alegria da missão, para que a Igreja viva a sua essência evangelizadora, e sejamos uma Igreja em saída, como tem insistido o Papa Francisco.

Sendo assim, o discípulo de Jesus, carregando a cruz quotidiana rumo à glória eterna, não pode:

- Se curvar à hipocrisia:
- Ser ambíguo com dupla moral (fala uma coisa e vive outra);
- Ter uma espiritualidade superficial;
- Viver um moralismo empobrecedor;
- Ser incoerente;
- Nutrir um formalismo religioso (religião separada da vida);
- Ser intolerante com os mais fracos;
- Deixar o sentimento de vaidade tomar conta de seu coração;
- Ser desobediente à Lei divina;
- Mergulhar no pecado e na infidelidade.

É próprio do Discípulo de Jesus, a serviço do Reino:

- O Amor em tudo e acima de tudo por Deus e ao próximo;
- Procurar a perfeita coerência;
- Viver a humildade;
- Dar corajoso testemunho da fé;
- Aprofundar a fidelidade à Palavra Divina;
- Simplicidade e prudência;
- Disponibilidade para o serviço; 
- Promoção do bem comum;
- Irradiar alegria;
- Obediência à Igreja e seus ensinamentos.

Iluminadoras são as palavras de Santa Teresa, para o fortalecimento da espiritualidade no seguimento de Jesus: “Amor traz amor”. Quanto mais o Amor de Deus tomar conta da vida do Discípulo, mais amor trará não somente para si, mas para aqueles que consigo vivem. O povo simples diz “quem planta amor, colhe amor...”

Assim, também, sejamos iluminados pelo Conselho de São João da Cruz: “Onde não há amor, põe amor e tirarás amor” .

Alarguemos o horizonte da nossa missão e nos encoraja na missão de discípulos missionários, rumo à glória eterna, e para isto, urge que sejamos vigilantes e orantes no discipulado, revendo nossas atitudes, para que sejamos mais verdadeiramente configurados ao Senhor.

Autenticidade no discipulado (23/08)

                                                          

Autenticidade no discipulado

"Voltemos ao primeiro amor..."

No sábado da 20ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho (Mt 23,1-12), em que refletimos sobre algumas exigências do ser cristão: seriedade, verdade, coerência e o irrenunciável compromisso com o Reino.

É sempre necessário nos questionarmos sobre possíveis posturas farisaicas que possam estar presentes em nossa conduta: domínio e monopólio da verdade, incoerência, exibicionismo e insensibilidade ao amor e à misericórdia.

No confronto de Jesus com o farisaísmo, Ele reconhece que são sérios e bem intencionados, mas são fundamentalistas no cumprimento da Lei, acompanhado do desprezo do próximo.

Esqueciam o essencial, o amor e a misericórdia. Os fariseus detinham em suas mãos a interpretação e a aplicação da Lei, mas pelo viver transparecia a sua incoerência. A escravidão à Lei os desqualifica diante dos pequenos, acrescido do exibicionismo próprio dos fariseus lhes manchava a imagem e a honra.

Afastando-se do essencial, afastam-se da verdadeira fraternidade, não vivem o amor e o serviço que devem consistir todo o existir daquele que a Deus teme, pois passam a tratar o outro com diferenças e esvaziam uma verdade tão bela: somos todos iguais em dignidade diante d’Aquele que nos criou.

Reflitamos:
-   Os fariseus falavam muito bem e nada faziam. Quais são os erros farisaicos presentes em nossas comunidades?
-   Como eliminar o espírito farisaico que pode se fazer presente em nossas relações comunitárias e até mesmo sociais?
-   O que fazer para recuperar a alegria e a serenidade no testemunho de nossa fé cristã?
-   Impomos ou somos uma carga pesada sobre o outro com quem nos relacionamos e convivemos, a exemplo dos fariseus no Evangelho mencionado?

Voltemos ao “Primeiro Amor”, Jesus, numa fecunda prática religiosa: 

“Os profissionais do sagrado estão sempre expostos a uma tentação: ter na Igreja uma competência doutrinal; tratar continuamente das coisas de Deus, mas chegar tarde ao encontro com o próprio Senhor; enfeitar a moldura e não olhar para o Seu rosto...

O obstáculo a superar é uma certa familiaridade com a fé e com os Sacramentos, que não é aquela de quem adora ama e encontra o Senhor no terreno fértil da humildade e do assombro perante o Seu Mistério infinito, mas é a familiaridade alterada pela superficialidade, pelo desinteresse, quando se trata de testemunhar, pela indiferença perante o tesouro escondido num campo e a pérola de grande valor, que não nos surpreendem já como antes (Mt 13,44-46).” (1)

Voltemo-nos ao “Primeiro Amor”!

  
(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum – Vol. II - Giuseppe Casarin - Paulus  

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

“As pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor” (23/08)

 


“As pérolas preciosas conduzem à pérola de grande valor”

Sejamos iluminados pelo Sermão n. 10 sobre a pérola de grande valor, escrito por Orígenes (séc.III), à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 13,44-52).

“O texto que buscava pérolas preciosas podem compará-lo com este: buscai e achareis; e com este outro: quem busca, encontra. Por que se diz buscai e quem busca encontra? Arrisco a ideia de que se trata ‘das’ pérolas e ‘a’ pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo, pérola a propósito da qual diz Paulo: Eu perdi tudo para ganhar a Cristo. Ao dizer ‘tudo’ se refere às pérolas preciosas; e ao referir ‘para ganhar a Cristo’ aponta para a única pérola de grande valor.

Preciosa é a lâmpada para aqueles que vivem nas trevas, e seu uso é necessário até que se levante o sol; preciosa era também a glória que irradiava a face de Moisés e penso que também a dos profetas: espetáculo tão maravilhoso que, graças a ele, nos abrimos à possibilidade de contemplar a glória de Cristo, glória para a qual o Pai presta testemunho, dizendo: Este é o meu Filho amado, meu predileto.

Aquele esplendor já não é esplendor, eclipsado por esta glória incomparável, e nós necessitamos, em um primeiro momento, de uma glória suscetível de desaparecer para dar lugar a uma glória mais excelente, assim como temos necessidade de um conhecimento ‘parcial’, que será extinto quando chegar o perfeito.

Assim, toda alma que adere à primeira infância e caminha para a perfeição necessita, até que o tempo se cumpra, de pedagogo, tutores e curadores, para que ao chegar à idade prefixada por seu pai, aquele que em nada se diferenciava de um escravo, sendo senhor de tudo, receba, uma vez libertado da mão do pedagogo, dos tutores e curadores, seus bens patrimoniais, comparáveis à pérola de grande valor e à futura perfeição que extingue com o que é parcial, no momento em que for capaz de aderir à excelência do conhecimento de Cristo, depois de exercitar-se naqueles conhecimentos que, por assim dizer, estão sob o conhecimento de Cristo.

Porém, a grande massa, que não captou a beleza das numerosas pérolas da lei, nem o conhecimento ainda ‘parcial’ que se encontra em todas as profecias, imaginam-se poder encontrar – sem antes ter esclarecido e compreendido perfeitamente essas riquezas – a única pérola de grande valor e contemplar a excelência do conhecimento de Cristo, em comparação da qual pode-se dizer que tudo o que precedeu a tão elevado e perfeito conhecimento, sem ser por sua própria natureza lixo, aparece como tal, pois se pode compará-la ao esterco que o Senhor da vinha lança ao redor da figueira, para que produza mais fruto.

Assim, tudo tem o seu tempo e ocasião, todas as tarefas debaixo do sol: tempo de recolher pedras, isto é, pérolas preciosas, e depois de tê-las recolhido, tempo de encontrar a única pérola de grande valor, momento em que é preciso vender tudo o que se possui e comprá-la.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, estamos em permanente vigilância e discernimento do que é passageiro ou eterno, do que realmente tem valor ou não.

Com a Sabedoria do Espírito, façamos os necessários discernimentos, sobretudo em nossa ação evangelizadora, nos consumindo tão apenas por aquilo que vale a pena, sem esgotamentos, cansaços inúteis e estéreis.

Oremos:

“Ó Deus, sois o amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!” (2)

 

(1)   Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes – 2013 - pp. 184-185.

(2)   Oração do dia da Missa do 17º Domingo do Tempo Comum

Santa Rosa de Lima, uma mulher inflamada de amor. Também o sejamos! (23/08)

Santa Rosa de Lima, uma mulher inflamada de amor.
Também o sejamos!

Celebramos, no dia 23 de agosto, a Memória de Santa Rosa de Lima, (1586 -1617), Padroeira da América Latina. 

Sejamos enriquecidos por um de seus escritos.

“O Senhor Salvador levantou a voz e com incomparável majestade disse: Saibam todos que depois da tribulação se seguirá a graça; reconheçam que sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça; entendam que a medida dos carismas aumenta em proporção da intensificação dos trabalhos. Acautelem-se os homens contra o erro e o engano; é esta a única verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há caminho que leve ao céu.

Ouvindo estas palavras, penetrou-me um forte ímpeto de me colocar no meio da praça e bradar a todos, de qualquer idade, sexo e condição:

Ouvi, povos; ouvi, gente. A mandado de Cristo, repetindo as Palavras saídas de Seus lábios, quero vos exortar: Não podemos obter a graça, se não sofrermos aflições; cumpre acumular trabalhos sobre trabalhos, para alcançar a íntima participação da natureza divina, a glória dos filhos de Deus e a perfeita felicidade da alma.

O mesmo aguilhão me impelia a publicar a beleza da graça divina; isto me oprimia de angústia e me fazia transpirar e ansiar. Parecia-me não poder mais conter a alma na prisão do corpo, sem que quebradas as cadeias, livre, só e com a maior agilidade fosse pelo mundo, dizendo: 

Quem dera que os mortais conhecessem o valor da graça divina; como é bela, nobre, preciosa; quantas riquezas esconde em si, quantos tesouros, quanto júbilo e delícias! Sem dúvida, então, eles empregariam todo o empenho e cuidado para encontrar penas e aflições! Iriam todos pela terra a procurar, em vez de fortunas, os embaraços, moléstias e tormentos, a fim de possuir o inestimável tesouro da graça. É esta a compra e o lucro final da paciência.

Ninguém se queixaria da cruz nem dos sofrimentos que lhe adviriam talvez, se conhecessem a balança, onde são pesados para serem distribuídos aos homens." 

A História de Santa Rosa de Lima deve ser melhor conhecida para que sejamos enriquecidos na fidelidade ao Senhor Jesus, no testemunho mais audacioso e corajoso de nossa fé e esperança, para que a seu exemplo sejamos mais inflamados de amor.

Sua vida é marcada por extraordinária serenidade no enfrentar das tribulações, provações dolorosas que acompanhou sua breve existência, imitando Cristo, pobre e crucificado. Uma mulher com predicados incontáveis por Deus concedidos.

Sua consagração a Deus como cristã leiga a fez participante da Terceira Ordem Dominicana, com amor imenso pela Eucaristia e devoção a Maria, elevando intensas orações pelo crescimento da igreja, especialmente entre os índios da América.

Retomo algumas de suas afirmações:
“... sem o peso das aflições não se pode chegar ao cimo da graça”

“Acautelem-se os homens contra o erro e o engano; esta é a única verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há caminho que leve ao céu”

“Ninguém se queixaria da cruz nem dos sofrimentos que lhe adviriam talvez, se conhecessem a balança, onde são pesados para serem distribuídos aos homens”.

Num tempo de promessas inconsistentes de felicidade fugaz, a mensagem de Santa Rosa chega ao mais profundo de nosso coração. Muitos querem a felicidade sem a fidelidade no carregar da cruz. Ele jamais nos prometeu facilidades, ao contrário, nos disse:

“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me (Lc 9,23).

Esta escada, a qual ela se refere, é a cruz, exortando-nos à coragem e maturidade para subi-la, degrau por degrau, dia pós dia, e que muitos querem jogar tudo para o alto, fugindo, sumindo ou até mesmo chegando ao suicídio.

Nossos lamentos serão cada vez menos intensos se soubermos nos configurar a Cristo Jesus Crucificado e Ressuscitado, acompanhado de mais fascínio por Ele e Sua Palavra, maior a sedução por Seu amor e proposta.

Nossos tempos precisam de “Rosas de Lima”, possuidoras como ela não apenas de beleza estética, que também possuía, mas possuidoras da beleza mais preciosa, a beleza da alma e do coração.

Como Santa Rosa de Lima, façamos de nossa vida uma oferenda permanente e agradável aos olhos de Deus.

Assim como Santa Rosa de Lima, que encontrou o Tesouro escondido e a Pérola preciosa de grande valor: o Reino de Deus, o Amado – Jesus, e por Ele totalmente se entregou, o mesmo façamos.

Santa Rosa de Lima, tão inflamada de Amor Divino! Também o sejamos!

Oremos:

Ó Deus, que inspirastes Santa Rosa de Lima,
inflamada de amor, a deixar o mundo,
a servir os pobres e a viver em austera penitência,
Concedei-nos, por sua intercessão,
seguir na terra os Vossos caminhos
e gozar no céu as Vossas delícias.
Por N.S.J.C. Amém!”

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