sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Em poucas palavras... (Uma súplica pelo Papa Francisco)

 


Uma súplica pelo Papa Francisco

“Vós, que confiastes ao nosso Papa Francisco, a solicitude por todas as Igrejas,


– concedei-lhe uma fé inquebrantável, uma esperança viva e uma caridade generosa.


R. Senhor, nosso refúgio, escutai-nos!”


(1) Oração das Vésperas – Liturgia das Horas.



Oração de São João Crisóstomo (antes de ler a Sagrada Escritura)

                                             



Oração de São João Crisóstomo (antes de ler a Sagrada Escritura)

Ó Senhor Jesus Cristo, abre os olhos do meu coração para que eu possa ouvir a Tua Palavra, que eu entenda e faça a Tua vontade, pois sou um peregrino na Terra.

Não escondas de mim os Teus Mandamentos, mas abre os meus olhos, para que eu possa perceber as maravilhas da Tua Lei.

Fala para mim as coisas ocultas e secretas da Tua sabedoria. 

Em Ti coloco minha esperança, ó meu Deus, de iluminar minha mente e meu entendimento com a luz do Teu conhecimento; não apenas para valorizar as coisas que estão escritas, mas para realizá-las, pois Tu és a luz para aqueles que jazem nas trevas, e de Ti vem toda boa ação e toda graça. Amém”.

“Maria, discípula e missionária do Senhor”

                                                        

"Maria, discípula missionária do Senhor"

 
Maria é a discípula mais perfeita do Senhor, porque é a máxima realização da existência cristã, em plena relação de amor com a Santíssima Trindade.
 
Maria nos ensina, portanto, a viver como “filhos no Filho”, pela sua fé e obediência à vontade de Deus, e por sua constante meditação da Palavra e das ações de Jesus, na abertura ao sopro do Espírito Santo.
 
Maria é a interlocutora do Pai, em Seu projeto de enviar Seu Verbo para a salvação da humanidade, e com sua fé chega a ser o primeiro membro da comunidade dos crentes em Cristo, e também se faz colaboradora no renascimento espiritual dos discípulos.
 
Maria é a figura de mulher livre e forte, que emerge do Evangelho, conscientemente orientada para o verdadeiro seguimento de Cristo, porque viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo, procurando sintonia plena com o Projeto do Pai.
 
Maria é a Virgem de Nazaré com uma missão única na história da salvação, concebendo, educando e acompanhando seu Filho até Seu sacrifício definitivo, acompanhando passo a passo, com a espada transpassando sua alma.
 
Maria é aquela a quem do alto da Cruz, Jesus Cristo confiou a Seus discípulos, representados por João, o dom da maternidade de Maria, que brota diretamente da hora pascal de Cristo: “E desse momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,27).
 
Maria alcançou, ao permanecer corajosamente aos pés da Cruz de Seu Filho, em comunhão profunda, entrar plenamente no Mistério da Aliança, e com ela, unida à plenitude dos tempos, chega-se ao  cumprimento a esperança dos pobres e o desejo de salvação.
 
Maria, perseverando junto aos Apóstolos, à espera do Espírito,  cooperou com o nascimento da Igreja missionária, imprimindo-lhe um selo mariano, que a identifica profundamente.
 
Maria, como mãe de tantos, fortalece os vínculos fraternos entre todos, estimula a reconciliação e o perdão e ajuda os discípulos de Jesus Cristo a viverem como família, a família de Deus.
 
Maria nos favorece o encontro com o Cristo, com o Pai e com o Espírito Santo, e, da mesma forma, com os irmãos. E assim, como na família humana, a Igreja-família é gerada ao redor de uma mãe, que confere “alma” e ternura à convivência familiar.
 
Maria, Mãe da Igreja, além de modelo e paradigma da humanidade, é artífice de comunhão, e um dos eventos fundamentais da Igreja, é quando o “sim” brotou de Maria. Ela atrai multidões à comunhão com Jesus e Sua Igreja, como experimentamos nos santuários marianos.
 
Maria é Virgem e Mãe, assim como a Igreja também é mãe, de modo que esta visão mariana da Igreja é o melhor remédio para uma Igreja meramente funcional ou burocrática.
 
Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários, pois da mesma forma como deu à luz o Salvador do mundo, trouxe o Evangelho à nossa América.
 
Maria, no acontecimento em Guadalupe, presidiu, junto com o humilde João Diego, o Pentecostes que nos abriu aos dons do Espírito, e a partir desse momento, são incontáveis as comunidades que encontraram nela a inspiração mais próxima, para aprenderem como ser discípulos e missionários de Jesus.
 
Maria tem feito parte do caminhar de cada um de nossos povos, entrando profundamente no tecido de sua história e acolhendo as ações mais nobres e significativas de sua gente, o que nos cumula de alegria.
 
Maria, com seus diversos títulos e santuários espalhados por todo o Continente, é sinal de sua proximidade com pessoas e suas realidades, e, ao mesmo tempo, lugar da manifestação da fé e confiança que os devotos sentem por ela.
 
Maria brilha diante de nossos olhos como imagem acabada e fidelíssima do seguimento de Cristo, a seguidora mais radical de Cristo, de Seu magistério discipular e missionário.
 
Maria Santíssima, a Virgem pura e sem mancha, é para nós escola de fé, destinada a nos conduzir e a nos fortalecer no caminho que conduz ao encontro com o Criador do céu e da terra.
 
Maria, em sua escola permaneçamos, inspirados em seus ensinamentos, acolhendo e guardando dentro do coração as luzes que, por mandato divino, nos envia do alto.
 
Maria, que “conservava todas estas recordações e as meditava no coração”,nos ensina o primado da escuta da Palavra na vida do discípulo missionário.
 
Maria fala e pensa com a Palavra de Deus; a Palavra de Deus se faz a sua palavra e sua palavra nasce da Palavra de Deus e, além disso, assim se revela que seus pensamentos estão em sintonia com os pensamentos de Deus, que seu querer é um querer junto com Deus.
 
Maria está intimamente penetrada pela Palavra de Deus, e por isto se tornou Mãe da Palavra encarnada, e essa familiaridade com o Mistério de Jesus é facilitada pela reza do Rosário, onde: “o povo cristão aprende de Maria a contemplar a beleza do rosto de Cristo e a experimentar a profundidade de Seu amor.”
 
Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega, solidariedade, gratuidade e fraternidade, que devem marcar a vida dos discípulos de seu amado Filho.
 
Maria nos ensina qual pedagogia para que todos na comunidade cristã,“sintam-se como em casa”, com atenção e acolhida do outro, especialmente se o outro é pobre ou necessitado.
 
Maria, presente em nossas comunidades, enriquece sempre a dimensão materna da Igreja e sua atitude acolhedora, para que ela seja “casa e escola da comunhão”, um espaço espiritual que prepara para a missão.
 
Ave Maria cheia de graça...
 
 
Livre adaptação dos parágrafos 266-272 da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe - Aparecida.
 


Vejo-Vos...

                                                                


 Vejo-Vos...

“Tal como ouvimos, assim vimos...”
Tal como ouvi, assim vi.

Eu Vos adoro, Senhor, Rei da terra,
Com todas as nações Vos sirvo,
Contemplo Vossa glória por toda a terra.

Vejo Vossos pés e mãos não mais por pregos fixos.
Vejo-Vos nos pés cansados e mãos calejadas.
Vejo-Vos nas mãos enrugadas pelo tempo.
Vejo-Vos nas mãos dos que se abrem e se solidarizam.

Vejo-Vos nos corpos pendentes pelo peso da cruz;
Da cruz do desemprego, da enfermidade, da solidão.
Vejo-Vos nos corpos pendentes, em corpos anêmicos
Que suplicam um copo de água, um pedaço de pão.

Vejo-Vos nos que estão nus, despidos de sonhos,
De esperança, porque lhes foi arrancada e pisoteada.
Vejo-Vos nos que foram sugados, vilipendiados,
Com direitos naturais à vida, subtraídos, negados.

Mas, vejo-Vos reinando naqueles que não se dobram
Diante da tirania do lucro, do poder, do prestígio, da fama,
E não traem seus princípios de igualdade, comunhão,
Na mais bela relação de liberdade, paz e fraternidade.

Vejo-Vos agindo naqueles que se comprometem
Com a Boa Nova do Vosso Reino, pelo qual Vos consumistes,
A própria vida entregastes, numa incrível História de Amor,
Que se consumou Ressuscitando e no céu fostes coroado.

Vejo-Vos naqueles que vivem e creem em Vós
Com fé inquebrantável, esperança viva e fortificada,
Caridade ativa, semente de um novo e belo tempo,
Pelo Pão da Palavra e da Eucaristia alimentados.

Vejo-Vos por um instante no tempo com coroas de espinhos
Escarnecido, crudelissimamente maltratado, por ela coroado.
Vejo-Vos por um tempo infinito recebendo uma nova coroação,
Acompanhada pelos Anjos e Santos que Vos louvam e glorificam. 

“Tal como ouvimos, assim vimos...” Tal como ouvi, assim vi.
Assim Vos vejo, Senhor, e quero assim imitar-Vos,
Praticando a compaixão, alcançando a máxima felicidade.
Vejo-Vos Encarnado, Padecente, Morto, Glorioso e Ressuscitado.

Vejo-Vos em corpos que vão silenciosamente morrendo.
Vejo-Vos em sinais de Ressurreição que vão acontecendo.
Vejo-Vos morrer, Vos vejo Ressuscitar,
A fé me concede um novo olhar...

                                            Amém. Aleluia! 

Eliminemos a tristeza do coração

                                                   

Eliminemos a tristeza do coração

Todos ansiamos por encontrar a verdadeira alegria, a verdadeira condição de todos nós. No entanto, quem está livre das tristezas, e como nos libertar das mesmas, para que, com o coração purificado, sintamos esta verdadeira alegria?

Vejamos o que nos diz este texto escrito pelo Pastor de Hermas (séc. II):

“Reveste-te, portanto, de alegria, lugar das complacências divinas, faz dela tuas delícias. Porque todo homem alegre age bem, pensa com justiça e calca aos pés a tristeza.

O homem triste, ao contrário, sempre age mal: primeiro faz mal entristecendo o Espírito Santo que é dado como alegria aos homens, depois (...) comete uma impiedade não orando ao Senhor (...) porque a oração do homem triste não tem força para subir até o altar de Deus (...)

A tristeza misturada à oração impede-a de subir, como o vinagre misturado ao vinho tira o seu sabor (...).

Purifica teu coração da tristeza má e viverás para Deus. Também viverão para Deus todos os que se tiverem despido da tristeza para se revestir da alegria”. (1)

Ainda que não seja fácil, não podemos sucumbir ou nos deixar consumir pelas tristezas e inquietações, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo:

– “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos! Seja a vossa amabilidade conhecida de todos! O Senhor está próximo. Não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda ocasião, apresentai a Deus os vossos pedidos, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que supera todo entendimento guardará os vossos corações e os vossos pensamentos no Cristo Jesus” (Fl 4,4-7).

Oremos:

Purificai, Senhor, nosso coração de toda tristeza,
A fim de que, revestidos da autêntica alegria,
Que somente em Vós encontramos, e podeis nos oferecer,
Firmemos nossos passos na realização de Vossos desígnios a nós reservados.

Fazei com que calquemos com os pés a tristeza,
Para agir e pensar bem, conforme Vossa vontade,
E assim, nossa oração subirá aos céus,
E nossos louvores e súplicas serão ouvidos.

Revesti-nos, Senhor, com Vosso amor e alegria,
Para que, confiando tão somente em Vós,
Vivamos uma fé inquebrantável e frutuosa,
Acompanhada da esperança viva e generosa caridade.
Amém.



(1) Hermas – um texto do século II – citado em “Fontes – Os Místicos Cristãos dos Primeiros Séculos – Textos e Comentários – Editora Subíaco - p.151

Em busca da perfeição espiritual

                                            

Em busca da perfeição espiritual

Ó Deus, não posso amá-Lo amando a mim mesmo.
Por causa das incomparáveis riquezas do Vosso Amor,
Não prefiro a mim mesmo, pois somente assim
Posso amá-lo verdadeiramente.

Que eu jamais busque minha própria glória, mas a Vossa;
Amando-Vos de coração sincero por toda a minha vida.
Glória que a Vós pertence, Criador que sois de todas as coisas,
E, por meio do Vosso Filho, reconciliador de tudo e de todos.

Que minha alma seja sensível ao Vosso Amor,
Procurando sempre a Vossa glória em todo momento,
Deleite-me em realizar todos os Preceitos, com uma submissão
Que não diminui minha liberdade, mas a redimensiona.

Que minha submissão ao Vosso poder e Amor
Faça-me cada vez mais familiar a Vós, alegrando-me com a
Verdadeira alegria, que a exemplo do Precursor João Batista,
Eu repita sem nunca cessar: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (cf Jo 3,30).

Se preciso for, que eu chore por não Vos amar o bastante,
Que, pela intensa vontade de amá-Lo, esqueça meus títulos,
Ocultando-me na profunda caridade, pela humildade de espírito,
Como servo inútil de Vossa messe.

Que eu fuja de toda honra e glória e somente me consuma
Pelas inestimáveis riquezas de Vosso Amor,
Que Vos amando no íntimo de meu desprezível coração
Seja por Vós conhecido, permanecendo em Vós e Vós em mim.

Que se intensifique e cresça em minha alma
A caridade, da qual sois a Divina e Eterna Fonte,
Para que Vos ame como Vós amais, Amor sem medida,
E transformado pela Vossa caridade, revele Vossa presença.

Que eu alcance este alto grau de caridade e elevação espiritual
Vivendo como se não vivesse; como disse o Apóstolo Paulo:
“Eu vivo, mas não eu, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20);
Vivendo no corpo, mas, pela caridade, peregrino nos eternos caminhos para Deus.

Abrasa o meu coração pelo fogo da caridade,
Facho ardente de desejo, unindo-me a Vós,
Liberto de todo apego de mim mesmo,
Seja eu arrebatado fora de mim para Vos encontrar.

E, que Vos encontrando no mais profundo de mim mesmo,
Vós que conheceis a mim, mais do que eu a mim mesmo,
Possa, dia pós dia, incansavelmente,
Subir cada degrau da santidade em busca da perfeição espiritual.

Amém!


PS: Fonte inspiradora: “Dos Capítulos sobre a perfeição espiritual” - Diádoco de Foticeia, bispo (séc.V).

Em poucas palavras...

                                             


“Na morte, Deus chama o homem a Si...”

“Na morte, Deus chama o homem a Si. É por isso que o cristão pode experimentar, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: «Desejaria partir e estar com Cristo» (Fl 1, 23). E pode transformar a sua própria morte num ato de obediência e amor para com o Pai, a exemplo de Cristo (Lc 23,46):

«O meu desejo terreno foi crucificado: [...] há em mim uma água viva que dentro de mim murmura e diz: "Vem para o Pai"» (Santo Inácio de Antioquia).

«Ansiosa por ver-Te, desejo morrer» (Santa Teresa de Jesus).

«Eu não morro, entro na vida» (Santa Teresinha do Menino Jesus).


(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1011

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Compromissos com um mundo novo

                                                        


Compromissos com um mundo novo

“Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

Nela, encontramos alguns ditos de Jesus, lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso eliminar todo o egoísmo e autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

Deste modo, não há lugar na vida do discípulo para arrogância e egoísmo; é preciso arrancar de dentro de si, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros”.

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados” (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

-  De que modo vivamos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

-  Somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- Somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Tão somente quem se deixar conduzir pela Palavra do Senhor, terá gosto de Deus, encontrará sentido para a sua existência e se colocará como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz.

Concluindo: sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

                                                           


Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

      “Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum (ano par), a passagem da Epístola de Tiago (Tg 5,1-6) e do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

As Leituras exortam a superar toda forma de arrogância, egoísmo, e ainda arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

A Epístola é um forte grito profético contra a exploração, o acúmulo de bens, o enriquecimento à custa dos pobres, e exorta o discernimento necessário para sabermos usar os bens materiais que são transitórios.

Os bens por melhor que sejam (ouro, conta bancária, carro de luxo, casa dos sonhos etc.) não saciam a fome de vida eterna.

O autor sagrado tem uma mensagem muito clara e atual: o crime contra o pobre é crime contra o próprio Deus. A acusação profética de Tiago é dirigida aos ricos e a todos que não se esforçam para corrigir as injustiças que se multiplicam no mundo inteiro.

A vida plena depende, na exata medida, das opções que fazemos nesta vida, de modo que a prática da injustiça é a autoexclusão da família de Deus. É preciso, portanto, afastar todo orgulho, ambição, autossuficiência.

A passagem do Evangelho nos apresenta alguns ditos de Jesus que são lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destrói a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros” (Mc 9,50).

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

- De que modo vivemos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

- somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Concluindo, quem se deixa conduzir pela Palavra do Senhor, tem gosto de Deus, encontra sentido para a sua existência e se coloca como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz. Sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

PS: Oportuna para o 26º Domingo do Tempo Comum - ano B

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Deixar-se surpreender por Deus

                               Resultado de imagem para surpresa de Deus

Deixar-se surpreender por Deus

O comentário do Missal Cotidiano nos apresenta iluminadoras palavras de Paul Tilich, quando da proclamação da passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 4,12-22):

“Penso no teólogo que não espera por Deus, porque O possui em sua construção doutrinal.

Penso no estudante de teologia que não espera por Deus, porque O possui fechado em seu manual.

Penso no homem de Igreja, que não espera por Deus, porque O possui encerrado numa instituição.

Penso no crente que não espera por Deus, porque O possui na própria experiência.

Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.

A tentação humana é enquadrar Deus em esquemas mentais, numa espécie de monopólio, quase que O submetendo às nossas vontades, conceitos e dimensões.

No entanto, é preciso nos deixar sempre surpreender por Deus, abertos à manifestação de Sua Sabedoria, que vem ao nosso encontro.

Num contexto de utilitarismo e imediatismo de soluções, é preciso viver na confiante espera do Senhor que vem, e somente pode ser percebido pelo coração que ama e crê, numa permanente vigilância.

Deixar-se surpreender por Deus, o mais belo, profundo, intenso e imenso Mistério, que quer nos envolver com laços de ternura e misericórdia.

Deixar-se surpreender por Deus, que ultrapassa conhecimentos adquiridos sobre Ele, por meros ritos realizados, por vezes, já com a espera de resultados previsíveis alcançados.

Deus, um Mistério insondável, será sempre alegre e grata surpresa na vida daqueles que O temem, amam, e n'Ele confiam.

E como afirmou o teólogo: – “Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.



PS: Paul Johannes Oskar Tillich (Starzeddel, 20 de agosto de 1886 — Chicago 22 de outubro de 1965) - teólogo alemão-estadounidense e filósofo da religião.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

 


Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

Ó Deus, onde encontraremos a Vossa Divina Sabedoria?

Não permitais que nos acomodemos, julgando já tê-La encontrado, mas que a procuremos continuamente, desinstalando-nos na busca de novas fronteiras e desafios, na procura do inédito que sempre nos agracia.

Libertai-nos da tentação de permanecermos à margem da praia,  e dai-nos a Vossa Sabedoria para avançarmos para águas mais profundas e sulcar corajosamente os mares, resgatando quantos pudermos para a beleza do bem viver, com dignidade e plenitude.

Como peregrinos de esperança, rompei as correntes que nos aprisionam, para que jamais prefiramos o imobilismo, e, incansavelmente, Vos busquemos incessantemente no caminhar da história, pondo somente em Vós toda a nossa confiança.

Vossa Sabedoria nos comunicai, iluminando as entranhas de nossa alma, para que vençamos eventuais medos secretos que, por vezes, tentam roubar ou aniquilar nossas forças, fragilizando-nos nos sagrados compromissos da Boa Nova do Reino.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Divina Sabedoria, para que nos passos de Vosso Amado Filho, o Sol nascente que nos veio visitar, nos abramos a ela  a cada nascer do sol  até que possamos merecer a glória da eternidade. Amém.

 

 

PS: Fonte de inspiração – Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 2,1-13 (gr. 1-11). – pág.798

Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus

                                         


Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus
 
“Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome
 para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9, 39-40).
 
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-40, sobre a ação divina que não pode ser controlada por ninguém: o Espírito de Deus sopra onde e quando quiser.  
 
Urge superar toda forma de arrogância, ciúmes em relação à ação de Deus e ainda, arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.
 
É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado:
 
“O Espírito é capaz de soprar e de fazer palpitar os corações também noutros locais, como nas mesquitas, nas sinagogas, nos areópagos, no templo que nós chamamos e nos parece pagão. Deveríamos, por isso, pedir ao Senhor, a graça de aprender a alegrarmo-nos pelo bem, onde quer que ele se concretize, de nos alegrarmos por todo o bem, sem nos importarmos com quem o pratica: seja pequeno ou crescido; seja jovem ou ancião; seja leigo ou consagrado; seja infeliz ou afortunado; seja doente ou saudável; seja alguém que se abre para a vida ou alguém que está para prestar contas com Aquele que generosamente lha concedeu”. (1)
 
Vemos que não é próprio dos discípulos do Senhor atitudes que revelem arrogância, sectarismos, intransigência, intolerância, presunção, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolização do próprio Jesus e Sua Boa Nova:
“João e os outros discípulos não conseguiram ainda pensar segundo a lógica de Jesus, Seu Mestre, a qual é para Ele, na perspectiva da Cruz, lógica de serviço e de humilde diaconia. Preferem nesse momento a lógica espalhada e exclusiva do sectarismo e da separação, ou seja, pretendem ter o exclusivo e o monopólio da Salvação” (2).
Reflitamos:
- O que precisamos cortar para superar qualquer sombra de dominação e monopólio do Espírito e melhor nos colocarmos a serviço dos últimos?
- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? 
 
- Onde e quando percebemos a ação de Deus além dos limites de nossa comunidade?
- Quais pessoas que professam uma crença diferente da nossa e nas quais contemplamos também a ação de Deus?
 
- Percebemos a manifestação e ação do Espírito onde, quando e em quem Ele bem quer?
 
Renovemos nossa alegria de viver como instrumentos nas mãos de Deus, para maior fidelidade ao Projeto que Jesus inaugurou, a Boa-Nova do Reino, com a força e ação do Espírito, sem jamais termos a pretensão de exaurir Suas forças, detê-Lo, monopolizá-Lo.
 
Alegremo-nos com a inesgotável ação e presença do Espírito, que move a História, dentro e fora da própria Igreja.
 
Oremos:
 
Ó Deus, dai-nos a graça, como discípulos missionários do Senhor, contemplar e nos alegrar com a ação do Vosso Espírito, que age em quem, quando e onde quiser promovendo a vida, fazendo suscitar brotos de esperança onde nada mais parece possível; ainda que não professando a mesma fé que professamos, mas vivendo a caridade que não conhece fronteiras. Amém.
 
(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 443.
(2) Idem pág. 441.
 

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