sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Eliminemos a tristeza do coração

                                                   

Eliminemos a tristeza do coração

Todos ansiamos por encontrar a verdadeira alegria, a verdadeira condição de todos nós. No entanto, quem está livre das tristezas, e como nos libertar das mesmas, para que, com o coração purificado, sintamos esta verdadeira alegria?

Vejamos o que nos diz este texto escrito pelo Pastor de Hermas (séc. II):

“Reveste-te, portanto, de alegria, lugar das complacências divinas, faz dela tuas delícias. Porque todo homem alegre age bem, pensa com justiça e calca aos pés a tristeza.

O homem triste, ao contrário, sempre age mal: primeiro faz mal entristecendo o Espírito Santo que é dado como alegria aos homens, depois (...) comete uma impiedade não orando ao Senhor (...) porque a oração do homem triste não tem força para subir até o altar de Deus (...)

A tristeza misturada à oração impede-a de subir, como o vinagre misturado ao vinho tira o seu sabor (...).

Purifica teu coração da tristeza má e viverás para Deus. Também viverão para Deus todos os que se tiverem despido da tristeza para se revestir da alegria”. (1)

Ainda que não seja fácil, não podemos sucumbir ou nos deixar consumir pelas tristezas e inquietações, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo:

– “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos! Seja a vossa amabilidade conhecida de todos! O Senhor está próximo. Não vos preocupeis com coisa alguma, mas, em toda ocasião, apresentai a Deus os vossos pedidos, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças. E a paz de Deus, que supera todo entendimento guardará os vossos corações e os vossos pensamentos no Cristo Jesus” (Fl 4,4-7).

Oremos:

Purificai, Senhor, nosso coração de toda tristeza,
A fim de que, revestidos da autêntica alegria,
Que somente em Vós encontramos, e podeis nos oferecer,
Firmemos nossos passos na realização de Vossos desígnios a nós reservados.

Fazei com que calquemos com os pés a tristeza,
Para agir e pensar bem, conforme Vossa vontade,
E assim, nossa oração subirá aos céus,
E nossos louvores e súplicas serão ouvidos.

Revesti-nos, Senhor, com Vosso amor e alegria,
Para que, confiando tão somente em Vós,
Vivamos uma fé inquebrantável e frutuosa,
Acompanhada da esperança viva e generosa caridade.
Amém.



(1) Hermas – um texto do século II – citado em “Fontes – Os Místicos Cristãos dos Primeiros Séculos – Textos e Comentários – Editora Subíaco - p.151

Em busca da perfeição espiritual

                                            

Em busca da perfeição espiritual

Ó Deus, não posso amá-Lo amando a mim mesmo.
Por causa das incomparáveis riquezas do Vosso Amor,
Não prefiro a mim mesmo, pois somente assim
Posso amá-lo verdadeiramente.

Que eu jamais busque minha própria glória, mas a Vossa;
Amando-Vos de coração sincero por toda a minha vida.
Glória que a Vós pertence, Criador que sois de todas as coisas,
E, por meio do Vosso Filho, reconciliador de tudo e de todos.

Que minha alma seja sensível ao Vosso Amor,
Procurando sempre a Vossa glória em todo momento,
Deleite-me em realizar todos os Preceitos, com uma submissão
Que não diminui minha liberdade, mas a redimensiona.

Que minha submissão ao Vosso poder e Amor
Faça-me cada vez mais familiar a Vós, alegrando-me com a
Verdadeira alegria, que a exemplo do Precursor João Batista,
Eu repita sem nunca cessar: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua” (cf Jo 3,30).

Se preciso for, que eu chore por não Vos amar o bastante,
Que, pela intensa vontade de amá-Lo, esqueça meus títulos,
Ocultando-me na profunda caridade, pela humildade de espírito,
Como servo inútil de Vossa messe.

Que eu fuja de toda honra e glória e somente me consuma
Pelas inestimáveis riquezas de Vosso Amor,
Que Vos amando no íntimo de meu desprezível coração
Seja por Vós conhecido, permanecendo em Vós e Vós em mim.

Que se intensifique e cresça em minha alma
A caridade, da qual sois a Divina e Eterna Fonte,
Para que Vos ame como Vós amais, Amor sem medida,
E transformado pela Vossa caridade, revele Vossa presença.

Que eu alcance este alto grau de caridade e elevação espiritual
Vivendo como se não vivesse; como disse o Apóstolo Paulo:
“Eu vivo, mas não eu, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20);
Vivendo no corpo, mas, pela caridade, peregrino nos eternos caminhos para Deus.

Abrasa o meu coração pelo fogo da caridade,
Facho ardente de desejo, unindo-me a Vós,
Liberto de todo apego de mim mesmo,
Seja eu arrebatado fora de mim para Vos encontrar.

E, que Vos encontrando no mais profundo de mim mesmo,
Vós que conheceis a mim, mais do que eu a mim mesmo,
Possa, dia pós dia, incansavelmente,
Subir cada degrau da santidade em busca da perfeição espiritual.

Amém!


PS: Fonte inspiradora: “Dos Capítulos sobre a perfeição espiritual” - Diádoco de Foticeia, bispo (séc.V).

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Compromissos com um mundo novo

                                                        


Compromissos com um mundo novo

“Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

Nela, encontramos alguns ditos de Jesus, lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso eliminar todo o egoísmo e autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

Deste modo, não há lugar na vida do discípulo para arrogância e egoísmo; é preciso arrancar de dentro de si, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros”.

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados” (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

-  De que modo vivamos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

-  Somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- Somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Tão somente quem se deixar conduzir pela Palavra do Senhor, terá gosto de Deus, encontrará sentido para a sua existência e se colocará como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz.

Concluindo: sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

                                                           


Grito profético que sobe aos céus: não escandalizar os pequeninos

      “Tende sal em vós mesmos” (Mc 9,50)

Ouvimos, na quinta-feira da sétima semana do Tempo Comum (ano par), a passagem da Epístola de Tiago (Tg 5,1-6) e do Evangelho de Marcos (Mc 9,41-50).

As Leituras exortam a superar toda forma de arrogância, egoísmo, e ainda arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.

A Epístola é um forte grito profético contra a exploração, o acúmulo de bens, o enriquecimento à custa dos pobres, e exorta o discernimento necessário para sabermos usar os bens materiais que são transitórios.

Os bens por melhor que sejam (ouro, conta bancária, carro de luxo, casa dos sonhos etc.) não saciam a fome de vida eterna.

O autor sagrado tem uma mensagem muito clara e atual: o crime contra o pobre é crime contra o próprio Deus. A acusação profética de Tiago é dirigida aos ricos e a todos que não se esforçam para corrigir as injustiças que se multiplicam no mundo inteiro.

A vida plena depende, na exata medida, das opções que fazemos nesta vida, de modo que a prática da injustiça é a autoexclusão da família de Deus. É preciso, portanto, afastar todo orgulho, ambição, autossuficiência.

A passagem do Evangelho nos apresenta alguns ditos de Jesus que são lições a serem aprendidas pelos discípulos, para que se viva um autêntico discipulado, promovendo o bem comum e apoiando todos os que lutam pela libertação da humanidade, sem jamais escandalizar os “pequeninos”.

É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destrói a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado.

O Missal Cotidiano afirma: “O escândalo mais grave que se dá hoje aos pequeninos e humildes é o contratestemunho de muitos cristãos, seu escasso senso social, sua ‘ética individualista’ e outras incoerências que constituem um serviço não desprezível ao surgimento do ateísmo em muitos homens, de modo que ‘se deve dizer que mais encobrem do que revelam a autêntica face de Deus e da religião” (Gaudium et spes 19).

Também precisamos ser vigilantes, como o Senhor nos adverte: “tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros” (Mc 9,50).

O Missal Cotidiano também afirma: “O ‘sal’ que preserva o mundo da corrupção são os cristãos que sabem ‘difundir o espírito de que são animados os pobres, os mansos e os construtores da paz, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (Lumen Gentium 38).

Reflitamos:

- O que podemos fazer para nos colocarmos a serviço dos últimos, dos pequeninos?

- O que devemos evitar para não escandalizar os pequeninos, os preferidos de Deus?

- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? É o amor autêntico, livre, desinteressado em favor dos que mais precisam?

- De que modo vivemos a vigilância ativa, para que tenhamos sal em nós mesmos?

- somos instrumentos da construção da civilização do amor e da paz?
- somos sinais de discórdia ou de comunhão nos espaços que ocupamos?

Concluindo, quem se deixa conduzir pela Palavra do Senhor, tem gosto de Deus, encontra sentido para a sua existência e se coloca como um instrumento para a construção da civilização do amor e da paz. Sem “sal”, sem o amor de Deus, derramado em nós pelo Seu Espírito, ficamos empobrecidos, ainda que bens e riquezas materiais possuamos.

PS: Oportuna para o 26º Domingo do Tempo Comum - ano B

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Deixar-se surpreender por Deus

                               Resultado de imagem para surpresa de Deus

Deixar-se surpreender por Deus

O comentário do Missal Cotidiano nos apresenta iluminadoras palavras de Paul Tilich, quando da proclamação da passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 4,12-22):

“Penso no teólogo que não espera por Deus, porque O possui em sua construção doutrinal.

Penso no estudante de teologia que não espera por Deus, porque O possui fechado em seu manual.

Penso no homem de Igreja, que não espera por Deus, porque O possui encerrado numa instituição.

Penso no crente que não espera por Deus, porque O possui na própria experiência.

Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.

A tentação humana é enquadrar Deus em esquemas mentais, numa espécie de monopólio, quase que O submetendo às nossas vontades, conceitos e dimensões.

No entanto, é preciso nos deixar sempre surpreender por Deus, abertos à manifestação de Sua Sabedoria, que vem ao nosso encontro.

Num contexto de utilitarismo e imediatismo de soluções, é preciso viver na confiante espera do Senhor que vem, e somente pode ser percebido pelo coração que ama e crê, numa permanente vigilância.

Deixar-se surpreender por Deus, o mais belo, profundo, intenso e imenso Mistério, que quer nos envolver com laços de ternura e misericórdia.

Deixar-se surpreender por Deus, que ultrapassa conhecimentos adquiridos sobre Ele, por meros ritos realizados, por vezes, já com a espera de resultados previsíveis alcançados.

Deus, um Mistério insondável, será sempre alegre e grata surpresa na vida daqueles que O temem, amam, e n'Ele confiam.

E como afirmou o teólogo: – “Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.



PS: Paul Johannes Oskar Tillich (Starzeddel, 20 de agosto de 1886 — Chicago 22 de outubro de 1965) - teólogo alemão-estadounidense e filósofo da religião.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

 


Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

Ó Deus, onde encontraremos a Vossa Divina Sabedoria?

Não permitais que nos acomodemos, julgando já tê-La encontrado, mas que a procuremos continuamente, desinstalando-nos na busca de novas fronteiras e desafios, na procura do inédito que sempre nos agracia.

Libertai-nos da tentação de permanecermos à margem da praia,  e dai-nos a Vossa Sabedoria para avançarmos para águas mais profundas e sulcar corajosamente os mares, resgatando quantos pudermos para a beleza do bem viver, com dignidade e plenitude.

Como peregrinos de esperança, rompei as correntes que nos aprisionam, para que jamais prefiramos o imobilismo, e, incansavelmente, Vos busquemos incessantemente no caminhar da história, pondo somente em Vós toda a nossa confiança.

Vossa Sabedoria nos comunicai, iluminando as entranhas de nossa alma, para que vençamos eventuais medos secretos que, por vezes, tentam roubar ou aniquilar nossas forças, fragilizando-nos nos sagrados compromissos da Boa Nova do Reino.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Divina Sabedoria, para que nos passos de Vosso Amado Filho, o Sol nascente que nos veio visitar, nos abramos a ela  a cada nascer do sol  até que possamos merecer a glória da eternidade. Amém.

 

 

PS: Fonte de inspiração – Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 2,1-13 (gr. 1-11). – pág.798

Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus

                                         


Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus
 
“Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome
 para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9, 39-40).
 
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-40, sobre a ação divina que não pode ser controlada por ninguém: o Espírito de Deus sopra onde e quando quiser.  
 
Urge superar toda forma de arrogância, ciúmes em relação à ação de Deus e ainda, arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.
 
É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado:
 
“O Espírito é capaz de soprar e de fazer palpitar os corações também noutros locais, como nas mesquitas, nas sinagogas, nos areópagos, no templo que nós chamamos e nos parece pagão. Deveríamos, por isso, pedir ao Senhor, a graça de aprender a alegrarmo-nos pelo bem, onde quer que ele se concretize, de nos alegrarmos por todo o bem, sem nos importarmos com quem o pratica: seja pequeno ou crescido; seja jovem ou ancião; seja leigo ou consagrado; seja infeliz ou afortunado; seja doente ou saudável; seja alguém que se abre para a vida ou alguém que está para prestar contas com Aquele que generosamente lha concedeu”. (1)
 
Vemos que não é próprio dos discípulos do Senhor atitudes que revelem arrogância, sectarismos, intransigência, intolerância, presunção, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolização do próprio Jesus e Sua Boa Nova:
“João e os outros discípulos não conseguiram ainda pensar segundo a lógica de Jesus, Seu Mestre, a qual é para Ele, na perspectiva da Cruz, lógica de serviço e de humilde diaconia. Preferem nesse momento a lógica espalhada e exclusiva do sectarismo e da separação, ou seja, pretendem ter o exclusivo e o monopólio da Salvação” (2).
Reflitamos:
- O que precisamos cortar para superar qualquer sombra de dominação e monopólio do Espírito e melhor nos colocarmos a serviço dos últimos?
- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? 
 
- Onde e quando percebemos a ação de Deus além dos limites de nossa comunidade?
- Quais pessoas que professam uma crença diferente da nossa e nas quais contemplamos também a ação de Deus?
 
- Percebemos a manifestação e ação do Espírito onde, quando e em quem Ele bem quer?
 
Renovemos nossa alegria de viver como instrumentos nas mãos de Deus, para maior fidelidade ao Projeto que Jesus inaugurou, a Boa-Nova do Reino, com a força e ação do Espírito, sem jamais termos a pretensão de exaurir Suas forças, detê-Lo, monopolizá-Lo.
 
Alegremo-nos com a inesgotável ação e presença do Espírito, que move a História, dentro e fora da própria Igreja.
 
Oremos:
 
Ó Deus, dai-nos a graça, como discípulos missionários do Senhor, contemplar e nos alegrar com a ação do Vosso Espírito, que age em quem, quando e onde quiser promovendo a vida, fazendo suscitar brotos de esperança onde nada mais parece possível; ainda que não professando a mesma fé que professamos, mas vivendo a caridade que não conhece fronteiras. Amém.
 
(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 443.
(2) Idem pág. 441.
 

Entre palavras (...)

                                                           

Entre palavras (...)

“A alegria de viver (...) a fragilidade da vida”.

O que seria este (...)?

Se (...) for “e”,
Temos que a alegria de viver e a fragilidade da vida coexistem inseparavelmente, e viver consistirá em redescobrir cotidianamente a alegria, assumindo os limites da condição humana, na real expressão da fragilidade da vida.

Se (...) for “depende”,
Aprendemos que a alegria de viver depende de como suportamos os revezes da vida, devido à sua indubitável fragilidade que nos acompanha da concepção ao seu declínio natural.

Se (...) for “pressupõe”,
Faz-nos tomar consciência de que a alegria de viver pressupõe a capacidade de lidar com a fragilidade da própria vida, com seus limites que se impõe cotidianamente.

Se (...) for “apesar”,
Implica que a alegria de viver é uma busca constante, apesar da fragilidade da vida que pode nos surpreender, por isto é preciso estar sempre vigilantes para eventuais acontecimentos que nos fragilizem ou queiram roubar nossa alegria, com a busca de caminhos de superação, acrisolamento, crescimento...

Se (...) for “com”,
A alegria de viver com a fragilidade da vida são inseparáveis, como a existência cristã só é pensável com a cruz quotidiana, com suas renúncias necessárias para seguimento do Divino Mestre.

Concluindo, o Senhor jamais nos desampara, sabe de nossas fraquezas, imperfeições, nos revela a misericórdia divina, e nos assegura que tão apenas com Ele podemos alcançar a plena alegria, se n’Ele permanecermos, alimentando-nos com a Seiva do Espírito, a Seiva do Amor.

Cada momento difícil por que tenhamos que passar, não nos fragilizará, mas será como que uma poda, para que, enxertados na Verdadeira Videira que é o Senhor, muitos e eternos frutos produzamos, como Ele mesmo nos assegurou (Jo 15).

Senhor, não nos deixeis cair em tentação

Senhor, Não nos deixeis cair em tentação

Ouvimos na Leitura da quarta-feira da quarta Semana do Tempo Comum (ano par) uma passagem do Segundo Livro de Samuel (2Sm 24,2.9-17), na qual o Rei Davi reconhece o seu pecado ao fazer o recenseamento do povo.

A tentação do poder levou Davi ao recenseamento, que era a expressão de sua dupla ambição: o cadastramento da população que contribuía com tributos (exploração econômica); o levantamento dos homens aptos para a guerra (dominação política).

Este episódio do recenseamento mostra certa "secularização" do governo de Davi, ou seja, a tendência a gerir os negócios do reino segundo os costumes dos outros poderosos, e por isto seu remorso e oração ao Senhor, por ter se comportado como se tudo não estivesse nas mãos de Deus, Senhor da vida e da morte; como se o registro do potencial humano e econômico lhe garantisse uma segurança demasiado humana, proporcionando-lhe uma sensação de êxito e poder.

Bem diferente é a ótica de Deus e do Profeta, ainda que pareça um pouco fora do comum para nós, apresenta-se como a nova visão que perpassa os acontecimentos humanos e faz da história profana uma história sagrada: o Deus da Aliança quer e deve ser o único.

No Missal Cotidiano, encontramos esta questionadora reflexão para nossas comunidades que professam a fé em Deus:

“A tentação de medir o progresso do Reino de Deus sempre ronda nossas comunidades: ainda com demasiada frequência, avaliamos as coisas sob o aspecto quantitativo e visível.

Quando fazemos estatísticas e levantamentos necessários, não podemos esquecer uma variável misteriosa, mas real, que pode mudar todos os valores dos nossos dados: a graça de Deus”. (1)

Em todos os níveis, corre-se o risco de escrever a história com dupla atitude extrema: escrevê-la como se nada dependesse de Deus, sem espaço para Sua graça, presença e ação, na absoluta negação ou indiferença em relação a Ele; de outro lado a passividade ou omissão, confiando tudo à ação divina, não fazendo o que nos é próprio, com as forças e recursos que nos são confiados e disponíveis.

Reflitamos:

- Em que sentido elas se relacionam e se completam, para que a vida seja mais humana, como expressão de vida plena para todos?

- De que modo se dá a interação entre a fé e a razão para não cairmos em estéril fideísmo ou num ativismo que prescinda de Deus e da própria fé?

- Como colocar todos os recursos disponíveis que nos são confiados para cuidar da nossa casa comum, de nosso planeta, como refletimos a partir da Encíclica do Papa Francisco – “Laudato Si”?

- De que modo a tentação e o pecado de Davi se repetem ao longo da história da humanidade, de nossas comunidades e de nossa própria história?

São questões pertinentes que nos desafiam a tomar a mesma atitude de Davi: reconhecer nosso pecado, e nos colocarmos como frágeis criaturas diante do Criador, a quem tudo pertence, e cuidar do jardim que Ele nos confiou, como responsáveis jardineiros da criação. E tão somente assim, cuidaremos de nossa casa comum, e todos teremos melhores condições de vida, assegurando também aos que virão.


(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus - pág. 719

“Prepara-te para a tentação”

                                                   

“Prepara-te para a tentação”

Retomemos um trecho do Sermão sobre os pastores, escrito pelo Bispo Santo Agostinho (séc. V), em que exorta a preparação para vencer as tentações ao viver o bom combate da fé.

“Já sabeis o que amam os maus pastores. Vede o que descuidam. ‘Ao enfermo não fortificastes; ao doente não curastes; o machucado’, isto é, fraturado, ‘Não pensastes; ao desgarrado, não reconduzistes; ao que se perdia não fostes procurar e ao forte oprimistes’ (Ez 34,4), matastes, destruístes. A ovelha se enfraquece, quer dizer, tem coração débil, imprudente e desprevenido a ponto de ceder às tentações que sobrevierem.

O pastor negligente, quando alguém se lhe confia, não lhe diz: ‘Filho, vindo para servir a Deus, mantém-te na justiça e prepara-te para a tentação’ (Eclo 2,1). Quem assim fala fortifica o fraco e de fraco faz firme, de modo que, se lhe forem confiados os bens deste mundo, não se fiará neles. Se, contudo, houver aprendido a fiar-se na prosperidade terrena, por esta mesma prosperidade será corrompido; sobrevindo adversidades, ferir-se-á e talvez pereça.

Quem assim edifica não constrói sobre a pedra, mas sobre a areia. ‘A pedra era Cristo’ (1 Cor 10,4). Os cristãos têm de imitar os sofrimentos de Cristo e não, ir atrás de prazeres. O fraco se fortifica, quando lhe dizem: ‘Espera, sim, provações neste mundo, mas de todas elas te livrará o Senhor, se teu coração não voltar atrás. Pois para fortalecer teu coração veio padecer, veio morrer, veio ser coberto de escarros, veio ser coroado de espinhos, veio ouvir insultos, veio ser pregado na cruz. Tudo isso por tua causa, e tu, nada: não para Ele, mas em teu favor’.

Quais são estes que, por temerem ofender os ouvintes, não apenas não os preparam para as inevitáveis provações, mas prometem a felicidade neste mundo, que o Deus deste mundo não prometeu? Ele predisse a este mundo labutas e mais labutas até o fim; e tu queres que o cristão esteja isento a estas labutas? Justamente por ser cristão, sofrerá algo mais neste mundo.

Com efeito, disse o Apóstolo: ‘Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições’ (2 Tm 3,12). Agora, tu pastor insensato, que procuras os teus interesses e não o de Jesus Cristo, deixe que ele diga: ‘Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições’. E por tua conta vai dizendo: ‘Se em Cristo viveres piedosamente, terás abundância de todos os bens. Se não tens filhos, tê-los-á e os criarás, e nenhum morrerá’. É esta tua construção? Olha o que fazes, onde a colocas.

Sobre a areia a constróis. Virá a chuva, o rio transbordará, soprará o vento, baterão contra esta casa; ela cairá e será grande sua ruína.

Tira-a da areia, põe-na sobre a pedra: esteja em Cristo aquele a quem desejas ver cristão. Observe os injustos sofrimentos de Cristo, observe-o sem pecado, pagando o que não devia, observe a Escritura a lhe dizer: ‘O Senhor castiga todo aquele que reconhece como filho’ (Hb 12,6). Ou se prepare para ser castigado, ou não procure ser aceito”.

Urge viver o “Bom combate da fé” (1 Tm 6,12), e para tanto, urge estar sempre pronto, em atitude de vigilância, preparados para as tentações, a fim de vencê-las, sem jamais vacilarmos na fé, esmorecermos na esperança e esfriarmos na caridade.

Supliquemos a Deus que nos conceda resistência na tentação, paciência na tribulação e sentimentos de gratidão na prosperidade, vivendo com Ele e para Ele, a quem damos toda a honra, glória, poder e louvor.

Pastores e rebanho, edifiquemos nossa vida sobre a Rocha, a Pedra Fundamental que é Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre, e nada poderá nos abalar.

Deste modo, sejamos iluminados pela Palavra de Deus, nutridos pelo Pão da Eucaristia, testemunhas vivas da evangélica caridade, vivendo, a cada dia, a missão que o Senhor nos confia, como alegres testemunhas como discípulos missionários Seus.

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