quarta-feira, 24 de abril de 2024

Os Sofrimentos de Cristo, os sofrimentos do cristão


Os Sofrimentos de Cristo, os sofrimentos do cristão...


"Procuro completar na minha carne 
o que falta das tribulações de Cristo" (Cl 1,24).

O Comentário do Bispo Santo Agostinho  (séc. V), nos ajuda na compreensão dos sofrimentos do cristão e os sofrimentos de Cristo.

“Jesus Cristo é um só Homem, com Sua cabeça e Seu corpo: Salvador do corpo e membros do corpo são dois numa só carne, numa só voz, numa só Paixão; e quando passar o tempo da iniquidade, num só descanso.

Por isso, os Sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo, ou melhor, os Sofrimentos de Cristo não são senão de Cristo. Se pensas em Cristo como cabeça e corpo, os Sofrimentos de Cristo são apenas de Cristo; se, porém, pensas em Cristo só como cabeça, os Sofrimentos de Cristo não são apenas de Cristo.

Com efeito, se os Sofrimentos de Cristo só atingem a Cristo, isto é, apenas a cabeça, como pode dizer um de Seus membros, o Apóstolo Paulo:

Procuro completar na minha carne o que falta das tribulações de Cristo? (Cl 1,24).

Se, pois, és membro de Cristo – quem quer que sejas tu que ouves estas palavras, ou mesmo que não as ouça (no entanto ouves se és membro de Cristo) – tudo quanto sofreres por parte daqueles que não são membros de Cristo, é o que faltava às tribulações de Cristo.

Por isso se diz que faltava. Tu vens encher a medida, mas não a fazes transbordar. Tu sofres apenas o que faltava da tua parte na Paixão total de Cristo, que sofreu como nossa cabeça e sofre ainda em Seus membros, quer dizer em nós mesmos.

Assim como numa sociedade civil, ou 'república', cada um paga conforme as suas posses o que lhe compete, também cada um de nós contribui para esta comunidade, na medida de suas possibilidades, com uma espécie de quota de sofrimentos.

A liquidação total dos sofrimentos de todos só se dará quando chegar o fim do mundo. Portanto, irmãos, não julgueis que todos os justos que sofreram perseguições dos iníquos, mesmo aqueles que foram enviados antes da vinda do Senhor para anunciar Sua chegada, não pertenciam aos membros de Cristo.

Longe de vós pensar que não pertença aos membros de Cristo quem faz parte da cidade que tem Cristo como Rei. Pois toda esta cidade fala, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias.

E a partir de então, desde o sangue de João Batista, é uma só cidade que fala através do sangue dos Apóstolos, do sangue dos mártires, do sangue dos fiéis em Cristo”. 

Deixemos ressoar estas afirmações::

 “Tu sofres apenas o que faltava da tua parte na Paixão total de Cristo, que sofreu como nossa cabeça e sofre ainda em Seus membros, quer dizer em nós mesmos” e ainda:

“A liquidação total dos sofrimentos de todos só se dará quando chegar o fim do mundo.”

Somos remetidos às palavras do Apóstolo Paulo:

“Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por Seu corpo que é a Igreja”  (Cl 1,24).

Sofrimentos...
Ainda que não gostemos, eles existem!
Sofrimentos, quem não os têm?
Sofrimentos, quem deles está imune?
Sofrimentos, como assumi-los?

Façamos uma súplica por todos os que sofrem:

Que o Espírito Santo,  o Paráclito, 
o Advogado, Defensor, o Consolador 
venha sempre ao nosso encontro e, 
de modo especial, de todos os que sofrem...
Vinde Espírito Santo enchei os corações
dos Vossos fiéis...

PS: Liturgia das Horas - Vol. II - páginas: 1574 e 1575. 

Em poucas palavras...

 


“Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos»” 

“Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos» (Rm 5, 10). O Senhor pede-nos que, como Ele, amemos até os nossos inimigos (Mt 5,44), que nos façamos o próximo do mais afastado (Lc 10,27-37), que amemos as crianças (Mc 9,37) e os pobres como a Ele próprio (1 Cor 13,1-4).

O apóstolo São Paulo deixou-nos um incomparável quadro da caridade: «A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse, não se imita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).” 

 

(1)Catecismo da Igreja Católica parágrafo n. 1825

Em poucas palavras...

 


Pela comunhão com Ele, o Espírito Santo...”

“«Pela comunhão com Ele, o Espírito Santo torna-nos espirituais, recoloca-nos no paraíso, reconduz-nos ao Reino dos céus e à adoção filial, dá-nos a confiança de chamar Pai a Deus e de participar na graça de Cristo, de ser chamados filhos da luz e de tomar parte na glória eterna».”(1)

 

(1) São Basílio Magno – parágrafo n. 736 do Catecismo da Igreja Católica

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

Sejamos iluminados pelas Bem-Aventuranças

Acompanhando o noticiário, vemos o mundo em mudança de época, e muitos são os desafios que se colocam na construção da civilização do amor.

A realidade que vivemos (corrupção, desvio de verbas, não investimento na saúde, educação, lazer...) está bem longe da realidade que Deus para nós espera 

Ainda lembremos os assassinatos, fome, desemprego, narcotráfico, rebeliões em presídios, e muitos outros fatos poderiam ser mencionados, associando-se ao desencanto com o exercício da política, que visa privilégios, e, por vezes, fomenta a corrupção e o mau uso do poder, que deveria ser o exercício em favor do bem comum.

É tempo de reflexão, discussão, discernimento, sobretudo de muita oração, em que não podemos prescindir da Palavra de Deus, invocando a luz do Espírito Santo.

É inconcebível e inadmissível não nos deixarmos conduzir e nos iluminar pela doutrina que professamos nos cultos, diante do altar.

Trairíamos toda a nossa prática evangelizadora, perderíamos nossa credibilidade profética, a chama de nossa fé nada iluminaria, e o sal da terra que somos chamados a ser, que sabor teria? Nenhum! E como afirma a Palavra, o sal que perde seu sabor para nada mais serve, a não ser para ser pisado e jogado fora.

Mas é exatamente neste momento de crise que somos chamados a dar razão de nossa esperança, vivendo os irrenunciáveis compromissos que brotam de nossa fé, que se solidifica e enraíza na cultura e na história.

Nossas orações jamais agradarão ao Senhor, se não forem acompanhadas de ações efetivas em favor da vida, de seu caráter sagrado e inviolável, da concepção ao declínio natural.

É hora de subirmos à “montanha” e escutarmos mais uma vez o Sermão do Senhor (Mt 5,1-12), as Bem-Aventuranças. Mas é também tempo de não fugirmos da dura realidade da “planície” em que vivemos. Como viver as Bem-Aventuranças no chão de nosso quotidiano, sendo sal da terra e luz do mundo?  

Concluo citando Santo Agostinho, que em uma de suas belas reflexões nos disse: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

É preciso, portanto, que não percamos o olhar da fé e da contemplação que a Palavra nos desperta. Não podemos perder o horizonte de que outro mundo é possível. Somos movidos sempre pela esperança de um novo céu e uma nova terra, que começa aqui e agora!

Decifrar o mundo é preciso, transformá-lo é necessário! Iluminados, fortalecidos, orientados e conduzidos pela Palavra Divina, fermentemos o mundo novo, como graça e missão, que Deus a nós confiou.

Cuidemos da chama do primeiro amor

Cuidemos da chama do primeiro amor


Uma breve reflexão sobre a passagem da Carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24), em que o autor nos exorta a viver maior proximidade e intimidade com o Senhor, fortalecendo a humildade, a gratuidade e o amor desinteressado, como Jesus Cristo por excelência viveu.

Trata-se de um convite à superação de uma fé cômoda e sem grandes resistências, redescobrindo a novidade e a exigência do cristianismo: comunhão, proximidade e intimidade maior com Deus. Um amor autêntico que se faz dom, doação, entrega, serviço.

É preciso que a comunidade volte à fidelidade de sua vocação, desinstalando-se, rompendo a preguiça e enfrentando com coragem a perseguição, com uma conduta consequente daquele que abraçou a fé: amor e serviço.

Com isto, supera-se a morna conduta cristã, sem jamais recuar, revelando ao mundo um rosto do Deus vivo e verdadeiro que nos consome e inflama nosso coração de amor.

O Senhor nos precedeu, agora é a hora da comunidade. É preciso revisitar a História do Povo de Deus e reencontrar o entusiasmo.

É preciso que trilhemos, como discípulos missionários do Senhor, o caminho da humildade, que é diferente do caminho da humilhação.

Ontem como hoje, quantas coisas nos acontecem e, se não mantivermos a fé, poderemos perder o entusiasmo, a chama acesa do primeiro amor! Importa que sejamos vigilantes para que esta esteja cada vez mais inflamada em nosso coração.

Humildade e Sabedoria Divina

Humildade e Sabedoria Divina

Uma breve reflexão à luz da passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 3,19-21.30-31).

O autor sagrado nos apresenta a atitude de humildade como exigência fundamental, para que sejamos agradáveis a Deus e, ao mesmo tempo, para termos êxito e sermos felizes.

Deste modo, nos colocaremos, por amor e alegremente, a serviço do outro, sobretudo daqueles que  mais precisam (os fragilizados, os marginalizados, os empobrecidos).

O aprofundamento sobre a sabedoria divina e a sua vivência, é certeza do viver bem e feliz, pois esta somente pode ser saboreada por quem viver a humildade, ou seja, quem assumir com simplicidade o próprio lugar, pondo a render os talentos, sem jamais humilhar o outro com uma eventual superioridade, mas colocando os próprios dons a serviço de todos, com simplicidade e amor.

Bem diferente é o soberbo, que permite crescer nas entranhas de seu coração a árvore da maldade, com suas raízes tão profundas.

A vida cristã será sempre o desafio de não sermos soberbos, mas humildes servidores, não pelo nosso mérito, mas pela graça de Deus, porque tudo é dom de Deus.

E a humildade necessária, requer de cada um de nós, discípulos missionários, vigilância, oração e conversão constante.

Se assim o fizermos, seremos cumulados de sabedoria divina e faremos os outros felizes, edificando a nossa própria felicidade.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Conduzidos pela voz do Bom Pastor

                                                      


Conduzidos pela voz do Bom Pastor

                                “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30)

Na terça-feira da 4ª Semana do Tempo Pascal, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 10,22-30).

No inverno, por ocasião da festa da Dedicação do Templo, ao passear por ele, no pórtico de Salomão, Jesus foi interrogado pelos judeus sobre quem Ele seria: “Até quando nos deixarás em dúvida? Se Tu és o Messias, dize-nos abertamente” (Jo 10,24).

Com a reposta de Jesus, vemos que o seu conhecimento não se dará por esclarecimentos racionais por mais lógicos que o sejam, ou discursos bem elaborados, mas a partir da fé n’Ele.

Esta fé é dom de Deus para reconhecê-Lo, e ao Seu rebanho pertencer.

Deste modo, aqueles que ao rebanho de Jesus pertencem, sabem que as obras que Ele faz são feitas em nome do Pai e d’Ele dão testemunho: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, Eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27).

A estas ovelhas pelo Pai a Jesus concedidas, Ele concede a vida eterna, de modo que jamais se perderão, porque, como o próprio Jesus diz: “Eu e o Pai somos um”.

Vivendo o Tempo Pascal, renovemos a nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado, que está em nosso meio, conduzindo-nos para verdes prados e águas cristalinas, pois Ele é nosso Bom Pastor.

A Ele busquemos de coração sincero, e com Ele, em diálogo permanente, na sua mais bela expressão, a oração, solidifiquemos nossa comunhão, para vivermos a graça do discipulado como ovelhas de Seu rebanho, atentos à Sua voz que nos fala os segredos do Reino e do amor do Pai, por meio do Seu Espírito.

Concluímos com as palavras de Anselmo, Bispo e Doutor da Igreja (séc. XII): 

“Ensinai-me a Vos procurar e mostrai-Vos quando Vos procuro; não posso procurar-Vos se não me ensinais, nem encontrar-Vos se não Vos mostrais. Que desejando eu Vos procure, procurando Vos deseje, amando Vos encontre,  encontrando Vos ame”.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG