segunda-feira, 21 de abril de 2025

“Creio em Vós, Jesus, o Cristo”

                                                            


“Creio em Vós, Jesus, o Cristo”

Na Liturgia das Horas, da Segunda-feira da oitava da Páscoa, nos é apresentada, para Oração, a Homilia sobre a Páscoa, do Bispo de Sardes, Melitão (Séc. II).

“Prestai atenção, caríssimos: o Mistério Pascal é ao mesmo tempo novo e antigo, eterno e transitório, corruptível e incorruptível, mortal e imortal.

É Mistério antigo segundo a Lei, novo segundo a Palavra que se fez carne; transitório pela figura, eterno pela graça; corruptível pela imolação do Cordeiro, incorruptível pela vida do Senhor; mortal pela Sua sepultura na terra, imortal pela Sua Ressurreição dentre os mortos. 

A Lei, na verdade, é antiga, mas a Palavra é nova; a figura é transitória, mas a graça é eterna; o Cordeiro é corruptível, mas o Senhor é incorruptível, Ele que, imolado como Cordeiro, Ressuscitou como Deus. 

Na verdade, era como ovelha levada ao matadouro, e, contudo, não era ovelha; era como cordeiro silencioso (Is 53,7), e, no entanto, não era cordeiro. Porque a figura passou e apareceu a realidade perfeita: em lugar de um cordeiro, Deus; em vez de uma ovelha, o homem; no homem, porém, apareceu Cristo que tudo contém. 

Por conseguinte, a imolação da ovelha, a celebração da Páscoa e a escritura da Lei tiveram a sua perfeita realização em Jesus Cristo; pois tudo o que acontecia na antiga Lei se referia a Ele, e mais ainda na nova ordem, tudo converge para Ele. 

Com efeito, a Lei fez-se Palavra e, de antiga, tornou-se nova (ambas oriundas de Sião e de Jerusalém); o preceito deu lugar à graça, a figura transformou-se em realidade, o cordeiro em Filho, a ovelha em homem e o homem em Deus.

O Senhor, sendo Deus, fez-Se homem e sofreu por aquele que sofria; foi encarcerado em lugar do prisioneiro, condenado em vez do criminoso e sepultado em vez do que jazia no sepulcro; Ressuscitou dentre os mortos e clamou com voz poderosa:

“Quem é que me condena? Que de mim se aproxime (Is 50,8). Eu libertei o condenado, dei vida ao morto, ressuscitei o que estava sepultado.

Quem pode me contradizer? Eu sou Cristo, diz Ele, que destruí a morte, triunfei do inimigo, calquei aos pés o inferno, prendi o violento e arrebatei o homem para as alturas dos céus. Eu, diz Ele, sou Cristo.

Vinde, pois, todas as nações da terra oprimidas pelo pecado e recebei o perdão. Eu sou o vosso perdão, vossa Páscoa da salvação, o Cordeiro por vós imolado, a Água que vos purifica, a vossa vida, a vossa Ressurreição, a vossa Luz, a vossa Salvação, o vosso Rei.

Eu vos conduzirei para as alturas, vos ressuscitarei e vos mostrarei o Pai que está nos céus; eu vos levantarei com a minha mão direita”.

Contemplemos a ação de Cristo, a quem tributamos toda honra, glória, poder e louvor.

Nos dois últimos parágrafos, o próprio Senhor fala a cada um de nós. E, é exatamente assim que sentimos e cremos, é como vivenciamos nestes dias da Semana Santa, culminando com o Domingo da Páscoa:

Celebrando, sentimos a presença de Cristo, que viveu o ápice da agonia da alma no Getsêmani e a agonia do corpo ao longo da flagelação, culminando com a crudelíssima Morte na Cruz que nos redimiu.

Concluo com uma pequena profissão de fé:

 Creio em Vós, Jesus, o Cristo que destruiu a morte,
triunfou do inimigo,

Calcou aos pés o inferno, prendeu o violento e
nos elevou  para as alturas dos céus.

De Vós recebemos o perdão, 
porque sois a nossa Páscoa da Salvação,
o Cordeiro por nós imolado, Sangue derramado que nos redime,
e que Se tornou para nós Verdadeira Bebida e
Alimento de Eternidade, na Eucaristia.

Vós sois a Água que nos purifica.
Em Vós somos banhados e renovados.

Vós sois a nossa Vida, Ressurreição, Luz,
Salvação, Rei e Redentor.

Conduzi-nos, Senhor, sempre para as alturas.
Ressuscitai-nos! Mostrai-nos o Pai que está nos céus.

Levantai-nos com a Vossa mão direita.
Enviai-nos, do Pai, o Vosso Espírito.
Amém! 
Aleluia! Aleluia!

Páscoa, passagem...

                                                       


Páscoa, passagem...

“E o anjo disse às mulheres:
‘Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.
Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar que Ele estava’”. (1)

Páscoa, passagem:
A passagem de todas as passagens:
Vive para sempre Aquele que por amor passou pela morte.

Não poderia ficar morto e derrotado
Aquele que no Pai plenamente confiou:
Ressuscitou. Ele vive para sempre. Aleluia!

Cremos em Sua Gloriosa Ressurreição,
Que na plena comunhão de amor Trinitário,
Vive e Reina, sobre tudo e todos nós.

Páscoa, passagem das passagens:
Ressuscitou e conosco caminha,
Ajudando-nos em nossas passagens.

Passarão quarentenas e isolamentos:

Para tempos do encontro e da comunhão;
Da alegria de poder olhar nos olhos do outro.

Para se repetir, todos os dias,
O encontro da família para diálogo e oração.

Passarão quarentenas e isolamentos:

A passagem do medo para a confiança.
A passagem do pânico para serenidade de um dia.

A passagem da indiferença diante do outro.
A passagem para a solidariedade que a vida reencanta.

Passarão quarentenas e isolamentos:

A passagem para o consumo do essencial.
A passagem para uma nova consciência ecológica.

A passagem para a humildade necessária,
Curados do vírus que levava ao delírio da onipotência.

Páscoa, passagem da morte para a vida.
Celebramos em nossas Ceias Eucarísticas:
Venceu a morte, porque o amor de Deus falou mais alto.

O Pai o eterno amante, jamais o Amado abandonou,
O Seu Filho Ressuscitou e vivem na plena Comunhão de Amor,
Que é o Espírito que sobre Ele em todo o tempo pousou.

Páscoa: a pedra do túmulo foi removida.
A notícia que as mulheres levaram aos discípulos,
Nunca mais pudemos calar: Ressuscitou como disse – “Aleluia!”

Alegremo-nos e exultemos no Senhor!
Ele caminha conosco, faz arder nosso coração com Sua Palavra,
E abre nossos olhos para a alegria da partilha, amor e comunhão.

Páscoa, passagem.
Feliz Páscoa para toda a humanidade”
Renove-se em cada um de nós a fé, esperança e caridade.

Passos firmados e mãos fortalecidas,
Mãos e joelhos fortalecidos: Páscoa de um novo amanhecer;
Olhares iluminados, corações de amor plenificados.

Aleluia! Aleluia! 
  
(1)         Passagem do Evangelho de Mateus (Mt 28, 5-6)

Mistério de escuridão e luz

 


Mistério de escuridão e luz
 
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena
 foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada,
 quando ainda estava escuro, e viu que a
pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1)
 
Maria Madalena viu a pedra removida e, aos poucos, a Boa Nova da Ressurreição vai aquecer e iluminar seu coração, assim como o coração dos discípulos, que vão testemunhar o glorioso acontecimento que mudou o rumo da história e a condição da humanidade para sempre.
 
A escuridão da noite cedeu à luminosidade de um novo dia,
O primeiro dia da semana, “Por que estais procurando e tre os mortos Aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que Ele vos falou quando ainda estava na Galileia” (Lc 24,5-6).
 
Ressurreição do Senhor, duelaram o ódio e o amor, a impotência da condição humana e a onipotência do amor divino, no Mistério da agonia, Paixão e Morte crudelíssima do Senhor na Cruz - “Deus amou tanto o mundo que nos deu o Seu Filho para que quem n’Ele crê não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). 
 
A tenebrosa e tétrica escuridão da crueldade e morte do Justo, cedeu ao esplendor da luz da Ressurreição, d’Aquele que tendo nos amado, não poderia morto para sempre ficar, a fim de nos redimir pelo Sangue derramado, na fidelidade ao Pai, jamais abandonado, amado.
 
Não poderiam vencer os vorazes e atrozes inimigos do Redentor, da Luz que Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam. Mas, a todos que O receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em Seu nome” (Jo 1,11-12).
 
Nem todas as luzes das velas, candeias e estrelas serão o bastante para resplandecer a luz que ilumina nossos caminhos, como Ele mesmo dissera – “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida’ (Jo 8,12).
 
Por vezes, caminhamos quando ainda está escuro a procura de uma luz para situações obscuras, procurando manter aceso o fogo sob as cinzas das verdades que passam, com ânsias da verdade que jamais passa, a Verdade que é Ele próprio, que uma vez conhecida nos faz livres (Jo 8,32).
 
Não há nada que nos amedronte a ponto de nos fazer submergir, devorando a coragem para enfrentar os ventos das contrariedades presentes na história em todos os seus âmbitos: – “Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
 
Não há escuridão que seja para sempre, também os santos tiveram suas “Noites Escuras”, na inquieta procura sedenta e inquieta de Deus, a fim de que a luz dos olhos jamais se apague e as palavras nos lábios, de louvor, encantamento, apaixonamento pelo Senhor aos céus elevadas.
 
Trevas e luz...
Depois da escuridão da noite, a madrugada da Ressurreição.
“A Vida venceu a morte. Aleluia.
Ressuscitou como disse. Aleluia!”

Somente o Senhor nos amou assim...

Somente o Senhor nos amou assim...

Contemplando o Mistério do Amor de Deus por nós, testemunhado pelo Senhor Jesus na morte de Cruz, retomo uma estrofe do “Hino sobre a Ressurreição do Senhor”, escrita pelo Diácono e Doutor da Igreja, Santo Efrém:

“Quem como Tu, Senhor,
Para nós?
Grande que Se fez pequeno,
Vigilante que dormiu,
Puro que foi batizado,
Vivo que degustou a morte,
Rei que carregou com o desprezo,
Para dar a todos glória.
Bendita seja a glória!”

Ressoem em nosso coração as palavras do Apóstolo Paulo aos Filipenses (Fl 2, 5-11): Ele que humilhou-Se a Si mesmo, mas Deus O exaltou, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua proclame que Jesus é o Senhor, para a glória de Deus Pai.

Tão grande, tão onipotente é Deus: fez-Se frágil, experimentou nossa condição humana, exceto o pecado, para destruí-lo. Experimentou o cansaço, o abandono, a indiferença, a humilhação, a solidão, a incompreensão, e quanto mais possamos mencionar. Que mais Ele poderia sofrer por amor de nós?

“Adormeceu”, descendo à mansão dos mortos, passando pela morte, para destruí-la, e com Sua morte a morte da morte, a Ressurreição alcançar, e nesta a nossa Ressurreição, porque assim Ele o disse, E assim cremos: todo aquele que n’Ele vive e crê, possuirá a vida eterna (Jo 11, 26)

Tão puro, aceitou conviver com os tidos como impuros para purificá-los, reintegrá-los. Conviveu com os pecadores para destruir o pecado, e, na autêntica vivência da misericórdia, renovar, recriar, reintegrar, novo horizonte ao pecador perdoado para uma vida nova viver, sentido novo para a vida encontrar.

Reina gloriosamente tendo como trono a Cruz, na qual todos devemos nos gloriar. Cruz que tem aparência de derrota, mas, para quem crê, tem sabor de vitória, porque carregada com fé, ousadia e coragem, é imprescindível para a genuína e frutuosa felicidade que desabrocha plenamente na eternidade.

Em Sua morte, glorificados somos – eternizados. Com Sua morte, a Ressurreição para conosco caminhar, corações aquecer, no Pão da Eucaristia partilhado, Sua presença reconhecermos.

Não mais cabisbaixos, abatidos, desanimados, derrotados... Mas com vigor renovado, força que emana da fé na Ressurreição, Boa-Nova do Reino anunciar e testemunhar, sem jamais na fé vacilar, a esperança perder e a caridade esfriar.

Neste Tempo Pascal, sejamos envolvidos pelos Amores inseparáveis: do Pai, o Amante que ama o Filho; do Filho que nunca foi abandonado pelo Pai, porque permanentemente amado e assistido pela presença do Santo Espírito, o Amor.

Inseridos nesta Comunhão, como que num mergulho no mar infinito da misericórdia divina, viveremos a mais terna e eterna comunhão de amor, e mais fraternos nos tornaremos. Amém! Aleluia! Aleluia!

A maturidade da fé

A maturidade da fé

A felicidade pessoal e a participação na construção de um mundo melhor exige que assumamos, como próprio de cada um de nós, o Projeto que nos é proposto pelo próprio Deus.

Neste sentido, sejamos iluminados pela passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5, 17-19), que nos exorta ao verdadeiro cumprimento da Lei, que não significa apenas a obediência a ela, mas exige que todo o nosso pensar, falar e agir estejam envolvidos pela misericórdia.

Jesus, através de sua palavra e ação, nos revela a face de um Deus que não quer de nós a infantilidade da obediência cega, pois não viveríamos a liberdade para a qual Ele nos libertou e nos comunicou, sendo Ele mesmo a Verdade conhecida, e vivida que nos liberta.

Jesus quer de nós a maturidade da corresponsabilidade no Projeto do Reino, inaugurado com Sua Palavra, Vida e Ação, e, ao longo da história, esta missão confiada, com a certeza de que não está só, pois é incessantemente conduzida e assistida pelo Espírito Santo.

Supliquemos insistentemente ao Pai que, na fidelidade plena e incondicional ao Senhor, com o dom maior do Santo Espírito, façamos esta passagem constante em nossa vida: a passagem da infantilidade da obediência cega à corresponsabilidade do Projeto do Reino.

Pai Nosso que estais nos céus...

“Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!“


“Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!“

Estamos iniciando o Tempo Pascal, tempo de sentirmos e contemplarmos o transbordamento da alegria da Vitória do Ressuscitado, que passou pela morte para nos comunicar Vida Plena, para transformar nossas trevas em luz, nos possibilitando vencer todo medo e secando nossas lágrimas.

Esta alegria transbordante e contagiante é fruto de nosso itinerário quaresmal, um período de quarenta dias, marcado pelos exercícios espirituais do jejum, da oração e da esmola, iniciado na Quarta-feira de Cinzas.

Fruto também da intensa Semana Santa vivida, que ainda ressoa em nossa memória e em nosso coração a emoção pelo mergulho profundo na meditação da Paixão do Senhor, que abre uma perspectiva Pascal, em que somos convidados a consolidar a fé, renovar a esperança e crescer na caridade.

Neste Tempo Pascal, inflamados pelo fogo do Espírito, contemplamos a manifestação e ação do Ressuscitado, nos momentos iniciais e fundantes da Igreja continuadora de sua missão, caminhando e nos preparando para a grande festa de Pentecostes.

Vivendo com intensidade a Fé  para não recuarmos na caminhada, para que ela seja fecunda: a leitura das Sagradas Escrituras. Pois, somente lendo e meditando a Palavra de Deus cotidianamente é que lançaremos as redes exatamente onde Ele manda, para que a noite de nossos fracassos se torne uma pesca abundante (Jo 21, 6).

É necessário que ofereçamos a Deus o melhor de nós, os frutos de nosso trabalho, o pouco ou muito que tenhamos, em cada Banquete Eucarístico, para que o milagre do amor e da partilha leve à superação de toda forma de dor, sofrimento, miséria, tornando a vida mais bela e Pascal.

Que nunca sejamos econômicos em multiplicar orações, por todos os Presbíteros, para que sejam por excelência homens da Palavra e de palavra, por ela conduzam o Povo de Deus e também por ela seja conduzidos.

Concluindo, que pequenos e ao mesmo tempo grandiosos sinais da presença e ação do Ressuscitado em nosso meio sejam acolhidos e, com o Salmista, possamos cantar “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” (Sl 125,3).

É Tempo Pascal, sintamos a presença do Senhor caminhando e falando conosco; Sua Palavra, fazendo arder nossos corações, abrindo nossos olhos, para que O reconheçamos no partir do pão, na vivência da comunhão, do amor fraterno, da partilha.

A exata medida da pretensão...

A exata medida da pretensão...

“O homem sofre muito, porque tem pretensões imensas.” Como contestar esta afirmação?

Ouvi uma atriz dizer no meio de uma entrevista, enquanto fazia um “zapping”  na TV, pois quem consegue ficar muito tempo diante de um canal apenas?

Depois de ouvir esta afirmação, ao encerrar a entrevista, nada mais quis ver, pois não era preciso. Quis apenas mergulhar no mais profundo do meu pensamento, contra todos os “ruídos” que teimavam em me impedir. É preciso ter coragem para mergulhar, ao menos de vez em quando, no mais profundo de nós.

Coragem sim, pois lá dentro de nós podemos enxergar e ouvir nossos próprios temores, que nos assaltam consciente ou inconscientemente.

Coragem para deixar velado o que nos esforçamos por vezes tornar oculto, inacessível, intocável.

Coragem para ver as feridas mais doloridas, que não são as que estão na exterioridade da carne, mas aquelas que teimam não sarar porque lá nas entranhas de nossas redes, sentimentos e emoções.

Mas voltemos à afirmação que me inquieta e da qual não consigo me desvencilhar, ainda que o queira. Por que ela incomoda, sobretudo, a nós homens?

Mas há nela verdade incontestável, diante da qual nem o repórter conseguiu arguir com contestações ou relativizações.

Quantos sofrimentos nós homens poderíamos evitar se nossas pretensões não fossem tão imensas?

Como não lembrar aqui de uma belíssima afirmação de Edgar Morin (antropólogo francês): é preciso ver o homem e a mulher como seres inacabados, mais ainda, como em processo de inacabamento final.

Há que se concordar que quão mais imensas forem nossas pretensões, maiores serão nossos sofrimentos, pois nem sempre a correspondência se alcança e a cobrança intermitente cansa, exaure todas as forças, que se canalizadas para outros objetivos nos fariam mais felizes.

É sempre necessário que tracemos objetivos, deixemos gravadas em nossa memória, no recôndito mais secreto de nossa alma, nossas pretensões (homens ou mulheres), nossas metas a serem alcançadas.

Que elas não sejam tão imensas, para que não nos façam sofrer inutilmente, mas que também não sejam tão limitadas, pequenas, que não nos impulsionem, não nos motivem a lutar por nossos sonhos.

Que nossas pretensões sejam na exata medida de quem já é feliz pelo que é e tem, e pelo poder que possui (afastado de toda possibilidade de dominação sobre o outro).

Em diversas passagens do Evangelho, o Senhor nos garante que a felicidade não reside no muito acumulado, no poder e no domínio, no prestígio máximo que se possa alcançar.

Voltemo-nos para aqueles inesquecíveis dias que Ele passou no deserto, enfrentando as ciladas do antigo inimigo e vencendo as tentações fundantes de tantas quantas possam gerar: ter, poder e ser.

Renovemos sempre a santa pretensão, o salutar compromisso de ver o Reino acontecer materializado e visibilizado em relações de amor, verdade, justiça, ternura, bondade, liberdade e paz...

Há pretensões imensas que nos fazem pequenos, há pretensões autênticas, ainda que aparentemente utópicas e intangíveis, que nos alcançam a verdadeira alegria e menos sofrimento. E, se sofrimento houver que não seja por consequência de pretensões mesquinhas, individualistas, inúteis, impostas que não nos dão as melhores respostas.

Tenhamos a pretensão de sermos felizes sem fugir das Bem-Aventuranças que o Senhor nos propõe (Mt 5, 1-12).

Cada um de nós, homens e mulheres, felizes seremos quando nossas pretensões não se contrapuserem, não nos autodestruírem, e tão pouco o planeta comum em que habitamos.

As pretensões imensas não apenas destroem os homens, mas com eles mulheres, crianças, jovens, animais, natureza, planeta... Mas aqui já é o começo de outra reflexão... 

Quem sou eu

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