Reflitamos:
- O que fazemos, no testemunho da fé, para transformar s sinais de escuridão em sinais de luz; os sinais de morte em sinais de vida?
Batismo: dom, graça e missão
“Recebe por este sinal o Espírito Santo, o dom de Deus”
Acolhamos a Instrução sobre os ritos depois do batismo, contida no Tratado sobre os Mistérios, escrita por Santo Ambrósio (séc. IV).
“Em seguida banhado nas águas do Batismo, subiste em direção ao sacerdote. Pensa no que se seguiu. Não foi aquilo que Davi cantou: Como o bálsamo na cabeça que desce pela barba, pela barba de Aarão? É o mesmo bálsamo de que fala Salomão: Bálsamo derramado é o Teu nome, por isto as jovens Te amaram e Te atraíram.
Quantas almas renovadas hoje te amam, Senhor Jesus, dizendo: Atrai-nos em Teu seguimento, correremos ao odor de Tuas vestes, para que respirem o odor da Ressurreição.
Entende de que modo se faz, pois os olhos do sábio estão em sua cabeça. A unção escorre pela barba, isto é, pela beleza da juventude; pela barba de Aarão para te tornares da raça eleita, sacerdotal, preciosa. Porque todos no Reino de Deus somos também ungidos pela graça espiritual para o sacerdócio. Recebeste depois a veste branca, indício de teres despido a crosta dos pecados e revestido a casta túnica da inocência, lembrada pelo Profeta quando diz:
Asperge-me com o hissopo e serei limpo, lavar-me-ás e serei mais branco do que a neve. Ora, quem é batizado vê-se purificado pela lei e pelo Evangelho: segundo a Lei, porque como um ramo de hissopo Moisés aspergia o sangue do cordeiro; segundo o Evangelho, porque eram brancas como a neve as vestes de Cristo quando revelou a glória de Sua Ressurreição.
Mais do que a neve se torna alvo aquele a quem se perdoa a culpa. O Senhor, por intermédio de Isaías, diz: Se vossos pecados forem como a púrpura, Eu os alvejarei como a neve.
Trazendo esta veste, recebida no banho do novo nascimento, a Esposa diz, nos Cânticos: Sou escura e formosa, filhas de Jerusalém. Escura, pela fragilidade da condição humana; formosa pela graça. Escura, por vir dentre os pecadores; formosa, pelo sacramento da fé. Vendo tais roupas, exclamam estupefatas as filhas de Jerusalém: Quem é esta que sobe tão alva? Ela era escura; donde lhe veio agora de repente este brilho?
Cristo, que assumira uma veste sórdida, como se pode ler em Zacarias, por causa de Sua Igreja, ao vê-la em vestes brancas, com a alma pura e lavada pelo banho do novo nascimento, diz: Como és formosa, minha irmã, como és formosa, teus olhos parecem-se com os da pomba, sob cuja forma desceu do céu o Espírito Santo.
Lembra-te então que recebeste a marca espiritual, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de força, o espírito de ciência e de piedade, o espírito do santo temor. Guarda o que recebeste. Deus Pai te assinalou, o Cristo Senhor te confirmou e deu o penhor do Espírito em teu coração, como aprendeste com a Leitura do Apóstolo”.
Esta Instrução é enriquecedora, para que reflitamos sobre a graça que no dia do Batismo recebemos, assim, como o dia em que fomos confirmados com o Dom do Espírito Santo, quando ungidos e assinalados pelo Óleo do Santo Crisma, e enriquecidos com os sete dons, como ele mesmo assim o descreveu.
Em todo o tempo, agradeçamos a graça que Deus nos concedeu pelo Batismo, de sermos Templo do Espírito Santo, e agraciados pelos sete dons quando confirmados na fé.
Agradecer e viver esta graça e missão: dom de Deus e resposta nossa ao amor Seu Amor e confiança em nós, ainda que não mereçamos, como vemos nesta afirmação do Bispo:
“Sou escura e formosa, filhas de Jerusalém. Escura, pela fragilidade da condição humana; formosa pela graça. Escura, por vir dentre os pecadores; formosa, pelo sacramento da fé.”
Oportuno retomar esta Instrução em nossas Pastorais, de modo especial, na Pastoral do Batismo e do Crisma.
Oremos:
“Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do Vosso povo na renovação da festa Pascal, aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o Batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu a vida e o Sangue que nos redimiu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo. Amém”.
Peregrinando
na esperança, supliquemos ao Bom Pastor
Sejamos
enriquecidos pelo comentário sobre o Cântico dos Cânticos escrito por São
Gregório de Nissa (séc. IV):
“Onde
pastoreias, ó Bom Pastor, Tu que carregas sobre Teus ombros a toda a grei? Toda
a humanidade, que carregaste sobre os Teus ombros, é, de fato, como uma só
ovelha.
Mostra-me
o lugar de repouso, guia-me até o pasto nutritivo, chama-me por meu nome para
que eu, Tua ovelha, escute a Tua voz, e Tua voz me conceda a vida eterna: Avisa-me, amor de minha alma, onde
pastoreias.
Chamo-Te
deste modo, porque Teu nome supera qualquer outro nome e qualquer entendimento,
de tal forma que nenhum ser racional é capaz de pronunciá-lo ou de
compreendê-lo. Este nome, expressão de Tua bondade, expressa o amor de minha
alma por Ti.
Como
posso deixar de Te amar, a Ti que me amaste tanto, apesar de minha escuridão,
que entregaste a Tua vida pelas ovelhas de Teu rebanho? Não se pode imaginar um
amor superior a este, o de dar a Tua vida por minha salvação.
Ensina-me, portanto - diz o texto sagrado -, onde pastoreias, para que possa
encontrar os pastos saudáveis e saciar-me do alimento celestial que é
necessário comer para entrar na vida eterna; para que possa ainda acorrer à
fonte que proporcionas aos sedentos com a água que brota de Teu lado, manancial
de água aberto pela lança, que se torna para todos os que dele bebem uma fonte de água que jorra para a vida
eterna.
Se
me pastoreias desta forma, me farás recostar ao meio-dia, sestearei em paz e descansarei sob a luz sem mistura
de sombra. Durante o meio-dia não existe sombra alguma, já que o sol está a
cimo; sob esta luz meridiana fazes recostar aos que pastoreaste, ao pores Teus
ajudantes contigo em Teu quarto.
Ninguém
é considerado digno deste repouso meridiano se não é filho da luz e filho do
dia. Mas aquele que se afasta das trevas, tanto das vespertinas como das
matutinas, que simbolizam o começo e o fim do mal, é colocado pelo sol de
justiça na luz do meio-dia, para que repouse debaixo dela.
Ensina-me,
pois, como devo recostar-me e pastar, e qual seja o caminho do repouso
meridiano, não aconteça que por ignorância me afaste de Tua direção e me junte
a um rebanho estranho ao Teu.
Isto
diz a esposa do Cântico, solícita pela beleza que lhe vem de Deus e com o
desejo de saber como alcançar a felicidade eterna.” (1)
Como
Igreja sinodal, caminhando sempre juntos, façamos nossa esta oração ao Bom
Pastor em todos os momentos, sobretudo nos mais adversos.
Grandes
são as dificuldades e desafios, maior é a força e onipotência divina que vêm em
socorro de nossas fraquezas.
Como
peregrinos da esperança, precisamos contar com a presença e a ajuda do Bom Pastor, Jesus, que caminha conosco, e nos
convida - “Vinde a mim vós que estais
cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso” (Mt 11,28).
(1)
Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp.
433-434