Que o Fogo do Espírito nos inflame!
Celebramos, no dia 15 de julho, a Memória do Bispo São Boa Ventura (séc. XIII), que nos enriquece com seu “Opúsculo Literário da Mente para Deus”.
“Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, o propiciatório colocado sobre a arca de Deus (cf. Ex 26,34) e o Mistério desde sempre escondido (Ef 3,9).
Quem olha para este propiciatório, com o rosto totalmente voltado para Ele, contemplando-O suspenso na Cruz, com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com Ele a Páscoa, isto é, a passagem.
E assim, por meio do Lenho da Cruz, atravessa o mar Vermelho, saindo do Egito e entrando no deserto, onde saboreia o maná escondido.
Descansa também no túmulo com Cristo, parecendo exteriormente morto, mas experimentando, tanto quanto é possível à Sua condição de peregrino, aquilo que foi dito pelo próprio Cristo ao ladrão que O reconhecera: Ainda hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).
Nesta passagem, se for perfeita, é preciso deixar todas as operações intelectuais, e que o ápice de todo o afeto seja transferido e transformado em Deus.
Estamos diante de uma realidade mística e profundíssima: ninguém a conhece, a não ser quem a recebe; ninguém a recebe, se não a deseja; nem a deseja, se não for inflamado, até a medula, pelo Fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou ao mundo. Por isso, o Apóstolo diz que essa Sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo (cf. 1Cor 2,13).
Se, portanto, queres saber como isso acontece, interroga a graça, e não a ciência; o desejo, e não a inteligência; o gemido da oração, e não o estudo dos livros; o esposo, e não o professor; Deus, e não o homem; a escuridão, e não a claridade.
Não interrogues a luz, mas o Fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unções suavíssimas e afetos ardentíssimos.
Esse Fogo é Deus; a Sua fornalha está em Jerusalém. Cristo acendeu-a no calor da Sua ardentíssima Paixão.
Verdadeiramente, só pode suportá-la quem diz: Minha alma prefere ser sufocada, e os meus ossos a morte (cf. Jó 7,15). Quem ama esta morte pode ver a Deus porque, sem dúvida alguma, é verdade: O homem não pode ver-me e viver (Ex 33,20).
Morramos, pois, e entremos na escuridão; imponhamos silêncio às preocupações, paixões e fantasias.
Com Cristo crucificado, passemos deste mundo para o Pai (cf. Jo 13,1), a fim de podermos dizer com o Apóstolo Filipe, quando o Pai Se manifestar a nós: Isso nos basta (Jo 14,8); ouvirmos com São Paulo: Basta-te a minha graça (2Cor 12,9); e exultar com Davi, exclamando: Mesmo que o corpo e o coração vão se gastando, Deus é minha parte e minha herança para sempre! (Sl 72,26).
Bendito seja Deus para sempre! E que todo o povo diga: Amém! Amém! (cf. Sl 105,48)”.
Oremos:
Senhor, que o Fogo do Espírito nos inflame, para correspondermos melhor ao Projeto de Deus.
Com a Sabedoria a nós comunicada, seja nossa alma inflamada, e acompanhados pela Vossa presença e envolvidos pela Vossa infinita misericórdia, bondade e ternura.
Como peregrinos da esperança, com a Sabedoria do Espírito, contemplamos insondáveis Mistérios Divinos que dão um novo e salutar sentido à nossa vida. Amém.
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