Bálsamo para as feridas de nossa alma
Como afirma o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si’, o Universo desenvolve-se em Deus, que o preenche completamente.
Deste modo, temos um mistério a contemplar seja numa folha, numa vereda, no orvalho, no rosto do pobre.
O Papa ressalta que o ideal não é só passar da exterioridade à interioridade para descobrir a ação de Deus na alma, mas também chegar a encontrá-Lo em todas as coisas, como ensinava São Boaventura: “A contemplação é tanto mais elevada quanto mais o homem sente em si mesmo o efeito da graça divina ou quanto mais sabe reconhecer Deus nas outras criaturas”.
Na nota deste parágrafo, cita um mestre espiritual, Ali Al-Khawwas, que, partindo da sua própria experiência, assinalava a necessidade de não separar demasiado as criaturas do mundo e a experiência de Deus na interioridade:
“Não é preciso criticar preconceituosamente aqueles que procuram o êxtase na música ou na poesia. Há um ‘segredo’ sutil em cada um dos movimentos e dos sons deste mundo. Os iniciados chegam a captar o que dizem o vento que sopra, as árvores que se curvam, a água que corre, as moscas que zunem, as portas que rangem, o canto dos pássaros, o dedilhar de cordas, o silvo da flauta, o suspiro dos enfermos, o gemido dos aflitos…” (2)
Sejamos revigorados e iluminados pela Sagrada Escritura, para rever nossas posturas diante da existência, rever nossos critérios, valores e princípios, que muitas vezes clamam por conversão, colocando a vida em primeiro plano, acima do lucro, da ambição, do egoísmo com consequências conhecidas e que maculam a história.
Bebamos da fonte da Tradição da Igreja, como nos falou São João da Cruz:
“As montanhas têm cumes, são altas, imponentes, belas, graciosas, floridas e perfumadas. Como estas montanhas, é o meu Amado para mim. Os vales solitários são tranquilos, amenos, frescos, sombreados, ricos de doces águas. Pela variedade das suas árvores e pelo canto suave das aves, oferecem grande divertimento e encanto aos sentidos e, na sua solidão e silêncio, dão refrigério e repouso: como estes vales, é o meu Amado para mim”. (3)
Nestes tempos difíceis por que passamos, com acontecimentos que vitimam tantas pessoas, até mesmo com a morte, destruição da vida em todos os sentidos (vidas humanas e da terra), o planeta em que habitamos, nossa casa comum, recorramos à música ou à poesia, como bálsamo para alívio de nossas dores. Através delas e de outros meios, redescubramos o reencantamento pela vida, revigoramento de nossas forças, para irrenunciáveis compromissos em sua defesa.
(1) - Encíclica Laudato Si’– Papa Francisco – 2015 – n.233
(2) - Nota citado pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si’ – n.233 –
Eva De Vitray-Meyerovitch (ed.), Anthologie du soufisme (Paris 1978), 200. –
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