“Cala-te, sai deste homem!”
Sejamos enriquecidos pelo Comentário de São Jerônimo, Bispo da Igreja (séc. V), sobre a passagem do Evangelho de São Marcos (Mc 5,1-20) proclamada na quarta segunda-feira do Tempo Comum (ano B)
“E Jesus ameaçou: Cala-te e sai deste homem. A verdade não necessita de testemunho da mentira. Não vim para ser reconhecido pelo teu testemunho, mas para precipitar-te de minha criatura.
Não é belo o louvor na boca do pecador. Não necessito do testemunho daquele ao qual quero atormentar. Cala-te. Teu silêncio seja o meu louvor. Não quero que a tua voz me louve, mas os teus tormentos: tua pena é meu louvor.
Não me é agradável que me louves, mas que se retire. Cala-te e sai deste homem. Como se dissesse: sai de minha casa, o que fazes em minha morada? Eu desejo entrar: Cala-te e sai deste homem.
Deste homem, ou seja, deste animal racional. Sai deste homem: abandona esta morada preparada para mim. O Senhor deseja a sua casa: sai deste homem, deste animal racional.
Sai deste homem, disse também em outro lugar a uma legião de demônios para que saíssem de um homem e entrassem nos porcos.
Vede quão preciosa é a alma humana. Isto contradiz àqueles que creem que nós e os animais temos uma mesma alma e trazemos um mesmo espírito.
De um só homem é lançada a legião e envida a dois mil porcos, o que nos permite ver que é precioso o que se salva e de pouco valor o que se perde.
Sai deste homem e vai-te para os porcos, vai-te para os animais, vai-te para onde queiras, vai-te aos abismos. Abandona ao homem, ou seja, abandona uma propriedade particularmente minha.
Sai deste homem: não quero que tu possuas ao homem; para mim é uma injúria que habites no homem, sendo eu o que habita nele.
Eu assumi o corpo humano, eu habito no homem. Essa carne que possuis é parte de minha carne, portanto, sai deste homem.
E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Com estes sinais mostrou sua dor, agitando-o violentamente.
Aquele demônio, ao sair, como não podia causar dano à alma, o fez ao corpo, e, como não podia fazer-se compreender por outro meio, manifesta com sinais corporais que saiu.
E o espírito imundo, agitando-o violentamente... Porque ali estava o espírito impuro que foge do espírito puro. E dando um grito, saiu dele. Com o clamor da voz e a agitação do corpo manifestou que saía.” (1)
Contemplemos a ação libertadora de Jesus, ontem, hoje e sempre em Sua Igreja.
Quão preciosos somos aos olhos de Deus, e nada pode roubar nossa liberdade, tão pouco violar a sacralidade de nossa existência.
Acolhamos com fé a Palavra do Senhor, que nos liberta de toda possessão, e faz luminosos nossos caminhos.
Experimentemos, cotidianamente, a força da Palavra de Deus, e dela nos saciemos incessantemente, renovando nossas forças no bom combate da fé.
(1)Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – pág. 379-380
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