domingo, 21 de janeiro de 2024

A misericórdia divina espera nossa conversão: choremos nossas culpas (IIIDTCA)

 



A misericórdia divina espera nossa conversão: choremos nossas culpas
 
“Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo” 
(Mt 4, 17)
 
Para aprofundamento da passagem do Evangelho (Mt 4,12-23), proclamada no 3º Domingo do Tempo Comum (ano A), voltemo-nos para o Sermão de São Cesário Arles (séc. VI).
 
“Enquanto nos era lido o Santo Evangelho, caríssimos irmãos, nós escutamos: ‘Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus’. O Reino dos céus é Cristo, de quem nos consta ser conhecedor de bons e maus, e juiz de todas as coisas.
 
Portanto, antecipemo-nos a Deus na confissão de nosso pecado e castiguemos, antes do juízo, todos os erros da alma. Corre um grave risco quem não procura corrigir por todos os meios o pecado. Sobretudo devemos fazer penitência, sabendo como sabemos que teremos de prestar conta das causas de nossa negligência.
 
Reconhecei, amadíssimos, a grande piedade de nosso Deus para conosco ao querer que reparemos através da satisfação e antes do juízo, a culpa do pecado cometido; pois se o justo juiz não cessa de prevenir-nos com os Seus avisos, é para não ter um dia de recorrer à severidade.
 
Não é sem motivos, amadíssimos, que Deus nos exige torrente de lágrimas, a fim de compensar com a penitência o que perdemos pela negligência. Pois Deus bem sabe que nem sempre o homem é constante em seus propósitos: peca rotineiramente no agir e vacila no falar. Por isso lhe ensinou o caminho da penitência, a fim de que possa reconstruir o destruído e reparar o arruinado.
 
Assim, o homem, seguro do perdão, sempre deve chorar a culpa. E mesmo quando a condição humana encontre-se exercitada por muitas dificuldades, que ninguém se desespere, porque Deus é paciente e dispensa com liberalidade a todos os enfermos os tesouros de sua misericórdia.
 
Porém, é possível que alguém do povo se diga: E por que hei de temer se não fiz nada de mal? Escuta o que sobre este detalhe diz o Apóstolo João: ‘Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos e não somos sinceros’.
 
Que ninguém vos engane, amadíssimos: o pior dos pecados é não compreender os pecados. Porque todo aquele que reconhece os seus delitos pode reconciliar-se com Deus mediante a penitência, e não existe pecador mais digno de lástima do que aquele que crê não ter nada do que lamentar-se.
 
Por isso, amadíssimos, vos exorto a que, conforme o que está escrito, ‘vos humilheis sob a poderosíssima mão de Deus’, e visto que ninguém está livre do pecado, ninguém se creia isento da obrigação de satisfazer. Pois já peca por presunção de inocência o que se acredita inocente.
 
Pode ser alguém menos culpável, porém inocente? Ninguém. Certamente existe diferença entre pecador e pecador, mas ninguém está imune de culpa.
 
Portanto, amadíssimos, os que forem réus de culpas mais graves, peçam perdão com maior confiança; e os que se mantêm isentos de faltas graves, receiem para não macularem-se, pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, que com o Pai e o Espírito Santo vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém”. (1)
 
Este Sermão é propício para que reconheçamos nossa condição pecadora: limitações, fragilidades, imperfeições e pecados cometidos por pensamentos, palavras, atos e omissões.
 
Ressoem, também, as palavras de Santo Agostinho: (séc. V) em um de seus Sermões:
 
“... Deus Se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o Pão dos Anjos, o Senhor dos Anjos Se fez homem...
 
O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça...
 
Só nasceu sem pecado Aquele que não foi gerado por homem nem pela concupiscência da carne, mas pela obediência do Espírito”.
 
Quanto mais formos capazes de reconhecer nossos pecados, mais os choraremos, e muito mais ainda recorreremos à misericórdia divina, confessando-os, de modo sublime no Sacramento da Penitência, que a Igreja nos oferece em todo o tempo.
 
Choremos nossas culpas e nossos pecados; confessemo-los diante da misericórdia divina, num contínuo processo de conversão, alegrando-nos com a presença de Jesus em nosso meio.
 
Deus nos ama para nos fazer melhores, pois é próprio do verdadeiro amor gerar o bem no coração do amado. Deus quer gerar sempre o melhor d’Ele em nós, quando nos deixamos fecundar pela Sua Santa Palavra.
 
Deus rico em misericórdia, é bondoso e compassivo e espera incansavelmente nossa conversão.
 
Iniciando o ano, é tempo de revermos caminhos, para que favoreçamos o resplandecer da luz divina por nossas palavras e ações.
 
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes 2013 - pp.120-121
 

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