quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Cristo vive e intercede por nós

 


Cristo vive e intercede por nós

Sejamos enriquecidos por uma das Cartas escrita pelo bispo São Fulgêncio de Ruspe (Séc.VI), que nos apresenta Jesus Cristo, sempre vivo, intercedendo por nós.

“Antes do mais, chama-nos a atenção que, na conclusão das orações, dizemos: “por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho” e nunca: “pelo Espírito Santo”.

Não é sem motivo que a Igreja católica o repete, por causa do mistério do mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que com Seu próprio sangue entrou uma vez por todas no santuário, não feito por mãos de homens, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós.

Contemplando esta função pontifical, diz o Apóstolo: Por Ele ofereçamos sempre o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios daqueles que confessam Seu nome.

Por conseguinte, por Ele oferecemos o sacrifício de louvor e da prece, pois, mediante a Sua morte, fomos reconciliados, nós os inimigos. Por Ele, que Se dignou tornar-se sacrifício em nosso favor, o nosso sacrifício pode ser bem aceito diante de Deus.

São Pedro adverte-nos, dizendo: E vós quais pedras vivas, entrais na edificação deste edifício espiritual, no sagrado sacerdócio, oferecendo vítimas espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. É esta a razão que nos faz dizer: “Por nosso Senhor Jesus Cristo”.

Quando se menciona o sacerdote, que vem à mente a não ser o mistério da encarnação do Senhor? Mistério do Filho de Deus que, embora de condição divina, aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a forma de escravo; em Sua humilhação, fez-Se obediente até à morte; a saber, feito um pouco menor do que os anjos, possuindo, embora, a igualdade com Deus Pai.

O Filho Se diminuiu, permanecendo igual ao Pai, porquanto Se dignou assemelhar-Se aos homens. Tornou-Se o menor, quando Se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma de servo.

A diminuição de Cristo é Seu aniquilamento, mas o aniquilamento consiste na aceitação da forma de servo.

Cristo, permanecendo na forma de Deus o unigênito de Deus, a quem juntamente com o Pai oferecemos sacrifícios, tomou a forma de servo, tornando-Se sacerdote.

Assim, por Ele, podemos oferecer um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nunca nos seria possível oferecer tal sacrifício se Cristo não Se houvesse tornado, Ele mesmo, sacrifício para nós. N’Ele, a própria natureza do gênero humano é o verdadeiro sacrifício de salvação.

Com efeito, quando nos apresentamos para oferecer, mediante nosso eterno Sacerdote e Senhor, nossas orações, afirmamos ter Ele a verdadeira carne de nossa raça.

O Apóstolo já dissera: Todo pontífice é escolhido dentre os homens e a favor dos homens é constituído para as coisas que dizem respeito a Deus, a oferecer dons e sacrifícios pelos pecados.

Quando, porém, dizemos: ‘Vosso Filho’ e acrescentamos: ‘que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo’, comemoramos aquela unidade naturalmente existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Daí se deduz ser o Cristo o que exerce a função sacerdotal para nós, o mesmo a quem pertence, por natureza, a unidade com o Pai e o Espírito Santo.” (1)

Oportuno retomarmos a passagem da Epístola aos Hebreus: “A esperança, com efeito, é para nós qual ancora da vida, segura e firme, penetrando para além da cortina do santuário, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito Sumo-Sacerdote e eterno na ordem de Melquisedec” (Hb 6,19-20).

Peregrinos da esperança que somos, na fidelidade ao Senhor, podemos contar com Sua permanente e eterna intercessão.

Sejam momentos favoráveis ou não; escuros ou luminosos; de coragem ou medo; saúde ou doença, podemos contar com a intercessão de Cristo, que vive e reina, e ao Pai, na plena comunhão com o Espírito Santo. Amém.

 

(1) Liturgia das Horas – segunda quinta-feira do Tempo Comum

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG