domingo, 21 de janeiro de 2024

O tempo é breve (IIIDTCB)


O tempo é breve

“O tempo está abreviado...
a figura deste mundo passa”(1 Cor 7, 29-31)

A Palavra de Deus do 3º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos fala sobre a brevidade do tempo, de modo que este é o fio condutor que liga e dá unidade temática às três leituras:

- Jn 3,1-5.10 - Dentro de quarenta dias... (1ª Leitura)
- 1 Cor 7, 29-31 - O tempo se fez curto... (2ª Leitura)
- Mc 1,14-20 - O tempo está realizado (Evangelho)

O Missal Dominical nos oferece uma reflexão enriquecedora para o aprofundamento da Liturgia deste dia:

“A vitória de Cristo sobre a morte é superação dos limites do tempo e do espaço. Cristo opera uma demitização do tempo contra as concepções que haviam divinizado, coisificado o incessante e incontrolável fluxo das estações.

A vitória sobre a morte cria um tempo e um espaço para o homem, tempo e espaço de construção de sua identidade e da identidade de toda a comunidade humana.

Um ‘tempo para o homem’ não é só dom; deve ser também conquista. Mas a busca de tempos de produção cada vez mais breves, a impossibilidade de deter-se, a máquina cada vez mais veloz como símbolo de potência, a incapacidade de controlar a corrida dos acontecimentos, a necessidade frenética de atualização para não se sentir superado de um dia para o outro, podem ser sintomas de uma nova sujeição do homem ao tempo. Uma marcha para trás”.

Quantas vezes também já dissemos “não temos tempo”, “como o tempo está passando tão rápido”, ou “o dia precisava ter mais que 24 horas”.

Estes sinais permitiram que se chamasse, por alguns, de “tempo líquido” (sociólogo Zigmunt Bauman), o tempo que se escoa pelas mãos, que nos escapa do controle, parecendo passar cada vez mais rápido.

Como discípulos de Jesus, que vivem sempre o tempo da espera do Senhor que vem, a Sua segunda vinda gloriosa, temos consciência de que o tempo é breve, a figura deste mundo passa, com olhares fixos na eternidade, nos valores eternos.

Com a sabedoria divina, vivemos a transitoriedade do tempo presente, com intensidade e esforço contínuo de santidade, para a qual Deus nos predestinou.

Sabemos também que o imperativo da conversão se faz presente em nossa vida, como esteve presente na vida nos ninivitas e de todos os povos e em todos os tempos.

Para aquele que crê, a história é como um navio atravessando o mar da vida, para ancorar no porto seguro da eternidade, certos de que o Senhor Jesus está conosco nesta travessia, com Sua presença e Palavra, dando-nos serenidade e confiança, fazendo acalmar os ventos contrários e jamais permitindo que naufraguemos e deixemos morrer sonhos, esperanças, compromissos concretos.

Urge administrar bem cada segundo da existência, empenhados e comprometidos com a cultura da vida, da solidariedade, do acolhimento e valorização do outro, sem jamais curvar à cultura do descarte do outro, porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus, portanto portadores de dignidade e sacralidade divinas.

Nesta modernidade líquida, em que a vida, o tempo, a própria essência da fé cristã, o amor se liquefaz, é preciso conversão, mudança de mentalidade e de atitudes, para que reencontremos a beleza da solidez dos valores que devem nortear nossa vida, expresso em relações mais fraternas, sinceras, duradouras na acolhida do outro, não tendo como critério sua produtividade, mas a sua própria essência, ou seja, a sua existência como pessoa, que não é mercadoria de valor que com o tempo se deprecia.

Viver é dar matizes divinos a cada gesto nosso: matizes divinos dão, com certeza, o sentido e a beleza do existir, porque quanto mais humanos o formos, mais a transcendência divina resplandecerá em todo o mundo.

A adoração divina é sempre apelo de conversão para que mais humanos sejamos, e relações mais fraternas construamos, no respeito a quaisquer diferenças, sem jamais violar a liberdade do outro, na mais perfeita harmonia da liberdade com responsabilidade: liberdade de expressão sempre, mas com respeito à cultura do outro e seus valores, são mais do que nunca inseparáveis.

É sempre tempo de reaprendermos o valor e a beleza da vida, e da graça do tempo que o Senhor nos concedeu.


PS: Citações extraídas do Missal Dominical p.1995

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