“Vinde ver”
“Foram, pois, ver onde Ele morava e,
nesse dia, permaneceram com Ele.
Era por volta das quatro da tarde”
(Jo 1, 39)
Não pode ficar
contida, retida, aprisionada, a experiência pessoal do encontro com o Senhor,
que nos chamou pelo nome, a cada um de um modo, e a cada um em uma determinada
hora, como vemos na passagem do Evangelho de João (Jo 1,35-42), proclamada no dia 04 de Janeiro.
Voltemos ao que afirmou o Papa Bento XVI:
«No início do ser
cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o
rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10),
agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor
com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus Caritas Est, 1).
Num dos “Odes de
Salomão” assim lemos:
“O Senhor deu-Se me a conhecer na Sua
simplicidade, na Sua benevolência tornou pequena a Sua grandeza. Tornou-Se
semelhante a mim para que eu O acolha, fez-Se semelhante a mim para que eu O
revista. Não me espantei ao vê-Lo, porque Ele é a misericórdia! Ele tomou a
minha natureza para que O possa compreender, a minha figura para que não me
afaste d’Ele” (1).
Nisto consiste a vida
do discípulo missionário do Senhor: tendo encontrado o Senhor, torna-se
intermediário de um novo encontro para outra pessoa com Ele.
Ter encontrado com o
Senhor é ter feito a experiência do encontro com a misericórdia feito Carne;
Alguém que Se fez próximo de nós, muito mais que possamos compreender, e quer
conosco caminhar e fazer-nos discípulos missionários Seus.
Assim haverá de ser
sempre o discipulado: encontrar e permanecer com o Divino Mestre, Jesus,
deixar-se guiar, permanentemente, por Ele, para que que Ele nos conduza:
“Aos poucos, o rosto
de Jesus revela-Se em todo o Seu mistério luminoso, como Cordeiro imolado que
redime o pecado do mundo, como Mestre e como Cristo-Messias, que instaura o
Reino de Deus na história dos Homens. Mas também o rosto do discípulo se ilumina
progressivamente, e cada um conhece o seu mistério e sua verdade. Perante o
Senhor, que vê no fundo dos corações, cada um recebe de fato, na Sua Palavra, a
identidade mais verdadeira e o sentido da sua vida: ‘Tu és Simão, filho de
João. Chamar-te-ás Cefas que quer dizer ‘Pedro’” (2).
Os primeiros
discípulos deram sua resposta, agora é o nosso tempo, a oportunidade de também
nos tornamos autênticas testemunhas do Messias, d’Aquele que veio ao nosso
encontro.
Continuemos
elevando a Deus orações, de modo especial, pelos cristãos leigos e leigas, para
que, tendo feito este encontro com Jesus, sejam corajosos intermediários,
levando muitos ao encontro com o Senhor, sendo no mundo um instrumento e sinal
de esperança, fé e caridade, para que a luz de Deus se irradie mais forte e
ilumine os cantos sombrios de nossa história, marcado ainda, pelo pecado,
sofrimento, dor e tantos sinais de morte.
(1) Lecionário Comentado – Vol. Tempo Comum - Editora Paulus - Lisboa 2011 –
p.57
(2) Idem p.69
PS: Oportuno para reflexão do dia 27 de dezembro, quando celebramos a Memória de São João Apóstolo e Evangelista.
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