segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Lembra-te, catequista

                                                    


Lembra-te, catequista

“Irmãos, se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9)

Catequista, lembra-te sempre: creia no coração e professa com os lábios e com tua vida:

- Tens a missão de anunciar em comunhão com os ensinamentos da Igreja que “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado, ao terceiro dia, foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois aos doze” (1Cor 15,3-5);

- Professa a fé no Mistério da Páscoa, o coração da fé da Igreja, pois como nos falou o Apóstolo Paulo – “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã nossa fé” (1 Cor 15,14);

- Viva a comunhão com Jesus Cristo, morto e ressuscitado, vivo e sempre presente, finalidade última de toda a ação eclesial, e, portanto, da catequese, sendo assim, de todo/a catequista.

Catequista, lembra-te sempre: creia no coração e professa com os lábios e com tua vida:

- Que és mensageiro de esperança que brota da fé na Ressurreição do Senhor, pois “se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão”,  como também nos falou o Apóstolo Paulo, Doutor das Nações (1 Cor 15,19);

Que tendo feito o encontro dos encontros, com o Ressuscitado, és chamado a sair de si, indo ao encontro do outro, para comunicar a Sua Divina Presença que mudou a tua vida, dando a ela novo sentido, bem como alargou os seus horizontes, porque é próprio de quem ama, deleitar-se no encontro com o Amado, alegre e perseverante caminho de santificação;

Que és um servo inútil, de modo que Ele cresça e nós desapareçamos, pois Ele, Jesus Cristo, é o Alfa e Ômega, a chave de toda a história, e acompanha toda pessoa, para que revele o indizível e imensurável amor de Deus que nos criou à Sua imagem e semelhança, nos redimiu pelo Sangue Redentor de Seu Filho, e derramou o Seu amor em nossos corações por meio do Espírito Santo (Rm 5,5).

Catequista, lembra-te sempre: creia no coração e professa com os lábios e com tua vida:

Que “do lado do Senhor saiu Sangue e Água (Jo 19,34), e contempla sempre este significado místico e profundo: Água e Sangue, símbolos do Batismo e da Eucaristia;

-  Que “foi destes Sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo Batismo e pela Eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de Seu lado trespassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa” (1);

E medita sempre no que falou, com propriedade, um santo da Igreja -“Talvez vos perturbe a enormidade de meus sofrimentos por vós. Não tenhais medo. Estes cravos não me provocam dor, mas cravam mais profundamente em mim o amor por vós.  Estas Chagas não me fazem soltar gemidos, mas vos introduzem ainda mais intimamente em meu coração. O meu corpo, ao ser estirado na Cruz, não aumenta o meu sofrimento, mas dilata espaços do coração para vos acolher. Meu Sangue não é uma perda para mim, mas é o preço do vosso resgate” (2).

Catequista, lembra-te sempre: creia no coração e professa com os lábios e com tua vida:

- Que contas com o protagonista da Evangelização, o Paráclito, o Espírito Santo, e podes com Ele contar, pois “Branda e suave é a Sua aproximação; benigna e agradá­vel é a Sua presença; levíssimo é o Seu jugo! A Sua chegada é precedida por esplêndidos raios de luz e ciência. Ele vem com o amor entranhado de um irmão mais velho: vem para salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, ilu­minar a alma de quem o recebe, e, depois, por meio desse, a alma dos outros.” (3);

- Que és um arauto da Boa Nova de Jesus, e não és um pregador de si mesmo, tão pouco das ideias que passam, pois não duram mais que um amanhecer, e que murcham antes do entardecer, ou como as gotas do orvalho que secam pelos primeiros raios do sol, mas pregas a Palavra que não passa, Palavra de Vida Eterna, a nós comunicada pelo Sol Nascente que nos veio visitar, Jesus; 

- Deves pautar o trabalho catequético, tendo nas mãos e na mente as orientações dos Diretórios, Diretrizes e sábios ensinamentos da Igreja, com sua longa e rica tradição, e assim jamais te perdes no labirinto dos pensamentos e sentimentos, e tão somente assim não deixas se perder  alegria e paixão pela vida, encanto e ternura e ressignifica toda a existência própria e daqueles e daquelas a quem te foram confiados, catequizandos/as. 

Catequista, lembra-te sempre: creia no coração e professa com os lábios e com tua vida:

- Que vivendo a graça do batismo, e como Igreja participas de sua alegre missão, contando com Maria, a Mãe do Senhor, que resplandece dócil à ação do Espírito Santo, porque soube escutar e acolher em si a Palavra de Deus, tornando-se a “Realização mais pura da fé” (4); catequista por excelência, exemplar e pedagoga da evangelização, modelo para a transmissão da fé;

- És eterno aprendiz de Maria, a mais perfeita dos discípulos do Senhor, por sua humildade, ternura, contemplação, carinho e cuidado com os outros, ao educar Seu Amado Filho Jesus, o Verbo feito Carne, em atitudes de fidelidade à justiça e obediência à vontade de Deus Pai, muitas vezes no recolhimento e silêncio no mais profundo de seu coração, em permanente atitude de oração.

Assim como Maria Santíssima, a Mãe da Igreja Sinodal, povo de Deus que caminha juntos, presidiu com a sua oração o início da evangelização, sob a ação do Espírito Santo, sabes que podes com ela contar, pois ela continua intercedendo em todo o tempo para que todas as pessoas encontrem a Cristo, por meio da fé n’Ele, a fim de que sejam salvas, recebendo em plenitude a vida dos filhos de Deus. Amém.

 

 

(1)       São João Crisóstomo (séc. IV)

(2)      São Pedro Crisólogo (séc. V)

(3)      São Cirilo de Jerusalém (séc. IV)

(4)      Catecismo da Igreja Católica parágrafo n.149

PS: Inspirado nos parágrafos 427-428 – do Diretório para a Catequese–  Documento da Igreja – n.61

 

Você nunca estará só



Você nunca estará só

Eis que estou à porta e bato.
Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
Eu entrarei em sua casa
e tomarei refeição com ele,  e ele comigo.” Ap 3,20)

 

Não desista de lançar tuas sementes, o máximo possível,

Na esperança de que cairão em chão fecundo,

E ainda que não aconteça, semeia incansavelmente:

não estarás só; com Ele podes contar.

 

Se, por vezes, vires teus sonhos parecerem impossíveis,

Um suspiro, uma súplica, forças renovadas, siga em frente.

Ainda que alguém te diga – “não conseguirás, desista...”

Não o ouças, Ele acredita muito em ti.

 

Se por um momento te sentires à beira de um precipício,

Como que te convidando a um último suspiro e mergulho,

Recua um passo, e verás que estamos bem ali à tua frente:

Com Ele podes contar; resistirás e vencerás.

 

Se não conseguires ver a beleza da estação primavera,

Te mostrarei e falarei das flores de esperança,

Que nos fazem olhar para além de estreito horizonte

Com Ele à Mesa Sagrada haverás de se revigorar.

 

Se não conseguires ver a beleza da estação outono,

Conversaremos das podas e perdas necessárias,

Para novos floresceres, como também é nosso existir:

Com Ele, suportarás podas e perdas inevitáveis.

 

Se a cegueira te roubar a contemplação da estação inverno,

Na fogueira do Espírito, farei sentires o calor do amor divino.

Súplicas elevaremos, com cânticos, salmos e hinos.

Com Ele, a tua voz se somará também à dos anjos.

 

Por fim, se a estação verão for apenas o calor escaldante,

Que possa roubar tuas forças ou predisposição,

Contemplaremos páginas da suave brisa revitalizante,

Com Ele, renovarás tuas forças na Fonte Divina. Amém. 

Resquiescat in pace - Descanse em paz!

                                          


Resquiescat in pace  - Descanse em paz!

O sol escondido sob as nuvens, dia sombrio, como ficaram os dias sem você, desde quando partiu, e meus olhos nadam em lágrimas vertentes.

Hoje, uma lembrança com misto de tristeza suave e dilacerante me consome, e volto meus olhos para o passado, procurando preencher o vácuo que você deixou, que por vezes parece impreenchível.

Não fosse a fé na ressurreição da carne, ficaria apenas a sombra do túmulo, eterna sombra da morte; eterno descanso; ocaso sem esperança; derradeira pulsação da vida, sem desabrochar na outra margem.

Não fosse a fé na ressurreição da carne, aquele momento supremo da vida, seria um eterno sábado; o véu da morte ficaria para sempre posto, e não reconheceríamos os sinais do Ressuscitado, “os panos dobrados e colocados à parte” desde aquela memorável madrugada (cf. Jo 20, 7).

Mas creio na ressurreição da carne, e a morte é o descansar no regaço do Senhor; o dormir o sono da noite, sem horas após o último suspiro e o cerrar dos olhos à luz; o sentimento do frio pelas asas da morte a roçar a fronte; o fugir dos últimos lampejos da vida.

RIP – Resquiescat in pace – Descanse em paz amigo/a. Que o Senhor se compadeça de sua alma e o tenha para sempre em Sua glória, até que um dia também faça a necessária e derradeira passagem e viveremos o epílogo da eternidade e comunhão na glória dos céus, com os anjos e santos. Assim creio. Assim espero. 

Tenho que seguir em frente, lembrando com carinho de cada momento que vivemos; cada sorriso compartilhado; cada lágrima enxugada; cada dificuldade superada...

Descanse em paz! O brilho do Sol nascente vem nos iluminar, até que um dia possamos nos céus nos encontrar. Amém.

Oração de Santo Tomás de Aquino (após a Comunhão na Santa Missa)

                                                            


Oração de Santo Tomás de Aquino

“Eu vos dou graças,
ó Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo poderoso,
porque, sem mérito algum de minha parte,
mas somente pela condescendência de vossa misericórdia,
Vos dignastes saciar-me, a mim pecador,
vosso indigno servo,
com o Sagrado Corpo e o Precioso Sangue de Vosso Filho,
nosso Senhor Jesus Cristo.


Eu peço que esta Santa Comunhão
não me seja motivo de castigo,
mas salutar garantia de perdão.

Seja para mim armadura da fé, escudo de boa vontade
e libertação dos meus vícios.


Extinga em mim a concupiscência e os maus desejos,
aumente a caridade a paciência,
a humildade e a obediência,
e todas as virtudes.


Defenda-me eficazmente contra as ciladas dos inimigos,
tanto visíveis como invisíveis.

Pacifique inteiramente todas as minhas paixões,
unindo-me firmemente a vós, Deus uno e verdadeiro,
feliz consumação de meu destino.

 

E peço que vos digneis conduzir a mim pecador
aquele inefável convívio em que vós,
com vosso Filho e o Espírito Santo,
sois para os vossos Santos a luz verdadeira,
a plena saciedade e a eterna alegria,
a ventura completa e a felicidade perfeita.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.” (1)

 

(1)             Oração para a Ação de Graças depois da Missa escrita pelo Presbítero Santo Tomás de Aquino (séc. XII), Presbítero e Doutor da Igreja – Missal Romano – pág. 1248

“Aguardamos a vinda gloriosa do Senhor”

                                                                      

 “Aguardamos a vinda gloriosa do Senhor”

Com muita sabedoria, a Igreja, desde os tempos antigos, celebra a riqueza do Mistério Pascal ao longo do itinerário de um ano completo, nos propiciando contemplar a Pessoa de Jesus em todas as fases de Sua vida.

Há Tempos fortes como o Advento, que nos pede vigilância na espera do nascimento do Salvador e a Quaresma, que nos leva à conversão dos pecados, em atitude penitencial, enriquecidos pela prática dos exercícios quaresmais: a Oração, o jejum e a esmola.

Ápice destes dois Tempos são o Natal e a Páscoa, respectivamente. No primeiro, nos alegrando com o Nascimento do Salvador e no segundo, com a alegria da Páscoa do Senhor, tendo passado pela morte de Cruz.

Entre um e o outro temos o Tempo Comum que nos revigora e nos ampara da fadiga cotidiana, colocando-nos em contato com o ensino e com a vida do Mestre, nos aperfeiçoando como discípulos missionários, não somente como anunciadores, mas como testemunhas d’Ele em todo lugar, como sal da terra, fermento e luz.

Celebrando em cada Eucaristia a presença do Senhor em nosso meio, e aguardando a Sua vinda gloriosa, pomo-nos a caminho com jejuns, penitências, Orações e gestos concretos de amor, solidariedade e partilha.

Na Exortação “Evangelii Gaudium” o Papa faz alguns apelos, que merecem ser retomados nesta espera do Senhor que vem, para continuarmos, com alegria e ardor, a missão que o Senhor nos confiou, como Igreja:

Não deixarmos que nos roubem a alegria da evangelização (n. 83): - “desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como o mais ‘precioso elixir do demônio.’”

- “Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre.” (n. 85)

- “Não deixemos que nos roubem a esperança” (n. 86) – “Às vezes o cântaro transforma-se numa pesada cruz, mas foi precisamente na Cruz que o Senhor, trespassado, Se nos entregou como fonte de água viva.”.

Porque, assim como alguns quiseram um Cristo puramente espiritual, sem carne nem Cruz, também se pretendem relações interpessoais mediadas apenas por sofisticados aparatos, por ecrãs e sistemas que se podem acender e apagar à vontade.” (n. 88)

- “Não deixemos que nos roubem a comunidade” (n. 92) - sermos testemunhas – sal e luz – pertença evangelizadora.

- “Não deixemos que nos roubem o Evangelho” (n. 97) – “Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais. Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus”.

“Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!” – (n. 98-101) – comunhão, ecumenismo, oração pelos que nos chateiam, superação da inveja...

- “Não deixemos que nos roubem a força missionária!” “Os desafios existem para ser superados. Sejamos realistas, mas, sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança.” (n.109)

De fato, falta por vezes a alegria da novidade trazida pelo Evangelho, e se esta acusação de tristeza dirigida aos cristãos é verdadeira, então pecamos contra a alegria pelo Noivo, Jesus Cristo,  que celebra a festa conosco.

Enriquecedora a afirmação do Lecionário Comentado:

“Devemos renovar na nossa vida espiritual o sentido da festa, o gosto pelo lazer, a alegria do encontro, não em prejuízo do trabalho, mas para conceder espaço àquelas dimensões que muitas vezes são sufocadas por múltiplas ocupações...

Na doação de Si mesmo, expressa através do Seu Sangue, Jesus comunicou que o sentido de todas as coisas, tanto da festa como do trabalho, das fadigas e das alegrias encontram-se n’Ele, porque Ele é a paz e a reconciliação de todas as coisas, já que  as assumiu a todas e as valorizou com a força do Seu Amor” (1).

Urge rever nossa ação evangelizadora nos espaços já existentes e nos novos areópagos que nos desafiam.

Concluo com as palavras do Apóstolo Paulo:

“Tudo é de vocês e vocês são de cristo, e Cristo é de Deus” (1 Cor, 3,22-23);

“Portanto, que nos considerem como servidores de Cristo e administradores do Mistério de Deus. Neste caso, aliás, o que se exige dos administradores, é que cada um seja fiel” (1 Cor 4,1-2).

É preciso, antes de tudo, testemunhar para o mundo que amamos e servimos o Senhor, Divina Fonte de Amor e vida, como alegres servidores de Sua Vinha.

Também, é preciso que tomemos sempre consciência de que ser evangelizador não é algo imposto, mas uma graça que Deus nos concede, e espera de nós doação, liberdade, dedicação, fidelidade, ardor, alegria.

Encontrando e reencontrando o Senhor no momento ápice da Eucaristia, nos encontramos com Ele na pessoa de nosso irmão, naqueles que passam fome, frio, sede, que estão nus ou sem liberdade, porque presos às correntes ou às amarras que nos roubam a beleza da vida e a dignidade de cada criatura por Deus criada.



(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum - Volume II - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - pp. 273-274.

Mansidão e doçura

                                              


Mansidão e doçura (Cristãos Leigos e Leigas)

Ajudai-me, Senhor, a fim de que mantenha a mansidão e doçura, virtudes tipicamente cristãs, para com todos (cf. Mt 11,29), como assim fizestes para conosco, cansados e abatidos, como ovelhas sem pastor que estávamos.

Concedei-me a graça de ser inclinado à mansidão; acompanhado da contínua luta contra mim mesmo, domínio de mim, afastando toda e qualquer forma de egoísmo.

 Conceda-me progredir na paciência, constância e coragem, renúncia e sacrifício, desenvolvendo sentimentos de bondade inaugurando e fortalecendo relações fraternas de comunhão e solidariedade, sem jamais fomentar a discórdia, violência, e propagação do ódio e rancor, como assim fizeram os santos no bom combate da fé.

Conceda-me a doçura que educa para a compreensão, à clemência, à humildade, à plena e contínua comunhão com Deus; assim como a  mansidão que é a sua mais alta e delicada expressão, porque, esquecendo-se de si mesmo, alguém vive e trabalha para os outros. Amém.

 

Fonte: Missal Cotidiano - Editora Paulus, 1997 - pág. 1483 – passagem bíblica: Tt 3,1-7

Peregrinos da esperança inflamados pelo fogo devorador do amor de Deus

                                                          

Peregrinos da esperança inflamados pelo fogo devorador do amor de Deus
 
 
“O Profeta Elias surgiu como um fogo, e sua Palavra
queimava como uma tocha... Felizes os que te viram,
e os que adormeceram na tua amizade!”
(Eclo 48, 1.11)
 
Vemos na Sagrada Escritura como o fogo devorador do Amor de Deus que tomou conta da vida dos Profetas, e não diferente com o Profeta Elias.
 
Aa Palavra de Deus “é como o fogo” (Jr 23,29), um fogo imparável que desce do céu, inflama o coração dos Profetas que a anuncia ao povo, como que provocando um incêndio sobre a terra.
 
O fogo de Deus longe de destruir a humanidade pecadora, não é devastador, porque a purifica e a transforma para que corresponda melhor aos desígnios e ao Amor divinos:
 
“Elias é considerado pela tradição de Israel o primeiro dos Profetas; com a Palavra que Deus lhe tinha colocado nos lábios não aniquilou o povo, mas purificou-o da corrupção social, da idolatria, do culto a Baal.
 
Ardia de zelo pela causa do Senhor, por isso foi levado para o Céu naquele fogo que o tinha envolvido durante toda a vida. O seu desaparecimento misterioso deu origem à convicção de que ele não morrera e que um dia haveria de regressar para preparar a vinda do Messias” (1)
 
Assim como Elias e João Batista, que foram grandes Profetas antes do Senhor, outros tantos Santos, Profetas e mártires também o foram.
 
Inflamaram ao fogo de Sua mensagem de salvação, porque encontraram no Evangelho a força para enfrentar toda forma de sofrimento, até em sua expressão máxima: a morte.
 
Na Palavra do Senhor encontraram coragem para viver em plenitude a vida própria dos cristãos, e sentiram o coração arder como fogo, assim como sentiram os discípulos de Emaús quando ouviram a Palavra do Ressuscitado.
 
Estes levaram adiante o desejo de Jesus –“Vim trazer fogo à terra e quero que se inflame” (cf. Lc 12,49-53). 
 
Assim como Jesus, o Filho do Homem, Se inseriu na linha dos Profetas sofredores, os Seus discípulos missionários o mesmo o fazem.
 
Jesus por Sua Vida, Paixão e Morte, é uma testemunha convicta da glória que passa pelo sofrimento, pela Cruz, mas que transpõe a soleira da morte.
 
Deste modo, todo cristão é testemunha viva de Cristo, é aquele que O torna vivo e presente no mundo de hoje.
 
Hoje também o Papa Leão XIV, os bispos, os sacerdotes e tantos Agentes de Pastoral são como esta “tocha de fogo”, como assim o foi Elias.
 
Tantos pais e mães, educadores e educadoras, ainda que já na glória estejam, são como tochas acesas a aquecer, iluminar e fazer arder nosso coração.
 
Em cada Eucaristia que participamos, celebramos a Paixão e morte e Ressurreição do Senhor, e por isto nos tornamos um com Ele, no Seu Mistério profundo, intenso, imensurável de Amor e Salvação.
 
Em cada Eucaristia renovamos a certeza de que “O Senhor não cria nenhuma prisão onde possa fechar os Seus filhos rebeldes e não conhece outro fogo senão o do Seu amor ‘cujas chamas são chamas de fogo, uma faísca de Javé. As águas da torrente jamais poderão apagar o amor nem os rios afogá-lo” (Ct 8, 6-7). (2)
 
Concluindo, somente em plena comunhão com o Senhor é que a chama ardente da caridade jamais se apagará, e nossas palavras não serão tão apenas palavras, mas o ressoar da Palavra que antes encontrou espaço, vez e voz no mais profundo de nós: Jesus, a Palavra do Pai na comunhão com o Santo Espírito.

(1) Lecionário Comentado - Tempo Advento/Natal - Editora Paulus - Lisboa - 2011 - pp. 122-123
(2) idem

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