sexta-feira, 31 de outubro de 2025

“O eloquente Sangue de Cristo”

                                                                 

“O eloquente Sangue de Cristo”

Sejamos enriquecidos pelos Comentários sobre o livro de Jó, de São Gregório Magno, Papa (Séc. VI), sobre “o eloquente Sangue de Cristo”.

“O bem-aventurado Jó, como figura da santa Igreja, ora fala em nome do corpo, ora em nome da cabeça. Mas, às vezes, ocorre que, quando fala dos membros, toma subitamente as palavras da cabeça. Eis por que diz: Sofri tudo isso, embora não haja violência em minhas mãos e minha oração seja pura (Jó 16,17).

Sem haver violência alguma em Suas mãos, teve também que sofrer Aquele que não cometeu pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; no entanto, pela nossa salvação, suportou o tormento da Cruz. Foi Ele o único que elevou a Deus uma Oração pura, pois mesmo em meio aos sofrimentos da Paixão, orou por Seus perseguidores, dizendo: Pai perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34).

Quem poderá dizer ou pensar uma Oração mais pura do que esta em que se pede misericórdia por aqueles mesmos que infligem à dor? Por isso, o Sangue de nosso Redentor, derramado pela crueldade dos perseguidores, Se transformou depois em Bebida de salvação para os que Nele acreditariam e o proclamariam Filho de Deus.

Acerca deste Sangue, continua, com razão, o texto sagrado: Ó terra, não cubras o meu Sangue, nem sufoques o meu clamor (Jó 16,18).E ao homem pecador foi dito: És pó e ao pó hás de voltar (Gn 3,19).

A terra, de fato, não ocultou o Sangue de nosso Redentor, pois qualquer pecador, ao beber o preço de sua redenção, o proclama e louva e, como pode, o manifesta aos outros.

A terra não cobriu também o Seu sangue porque a santa Igreja já anunciou em todas as partes do mundo o mistério de Sua redenção.

Notemos no que se diz a seguir: Nem sufoques meu clamor. O próprio sangue da redenção, por nós, bebido, é o clamor de nosso Redentor. Por isso diz também Paulo: Vós vos aproximastes da aspersão do Sangue mais eloquente que o de Abel (Hb 12,24). E do sangue de Abel fora dito: A voz do sangue de teu irmão está clamando da terra por mim (Gn 4,10).

O Sangue de Jesus é mais eloquente que o de Abel, porque o sangue de Abel pedia a morte do irmão fratricida, ao passo que o Sangue do Senhor obteve a vida para Seus perseguidores.

Assim, para que não nos seja inútil o Sacramento da Paixão do Senhor, devemos imitar aquilo que recebemos e anunciar aos outros o que veneramos.

O clamor de Cristo fica sufocado em nós, se a língua não proclama aquilo em que o coração acredita. Para que esse clamor não seja sufocado em nós, é preciso que, na medida de suas possibilidades, cada um manifeste aos outros o mistério de sua vida nova”.

Eloquente é o Sangue do Senhor, o Sangue do Justo, do Filho muito amado, porque ao derramá-lo, por amor de nós, foi a verdadeira expressão da misericórdia divina na redenção da humanidade, e por ele fomos reconciliados.

Oremos:

Ó Deus dai-nos 
a firmeza e a coragem,
a graça e a força 
para que de Vós
sejamos verdadeiras testemunhas.

Que Vosso Sangue nos lave,
e o fogo do Vosso Amor
 nos queime,
para nos afastarmos
 de todo contágio do mal,
e não sermos seduzidos
 pelas falsas alegrias,

Cremos que 
somente em Vós 
encontramos o Sumo Bem
e a Verdadeira Alegria. 
Amém!

A misericórdia do Senhor ultrapassa as nossas “curtas medidas”

                                                     

A misericórdia do Senhor ultrapassa as nossas “curtas medidas”

Na passagem do Evangelho a ser proclamada, na sexta-feira da 30ª Semana do Tempo Comum, Jesus dirige palavras duríssimas a um dos chefes dos fariseus, que O questionou por ter curado um homem que sofria de hidropisia em dia de sábado (Lc 14,1-6).

Vejamos o que nos diz o Lecionário Comentado:

“Uma religiosidade fria, encerrada na atenção às disposições legais, não está em sintonia com a atuação salvífica revelada em Cristo. Jesus ensina-nos a fazer nossas as necessidades dos indivíduos, sem casuísticas, nem impedimentos” (1)

E completa: “Como é pobre a espiritualidade que pensa que Deus deve ‘curar somente no interior dos próprios sábados, das suas casuísticas, dos seus percursos espirituais’, e como é explosivo, pelo contrário, a atuação de Jesus que, como no Evangelho de hoje, abre o banquete do Reino a um doente que não fez ou disse nada, mas está simplesmente ali, com sua necessidade e depois curado, a testemunhar um Deus cuja salvação (felizmente!) ultrapassa as nossas curtas medidas!” (2)

Oremos:

Cristo Jesus, acolhidos e envolvidos pela Vossa misericórdia, e aprendizes de Vossos ensinamentos, como discípulos missionários, ajudai-nos, para que tenhamos maior compaixão para com as autênticas necessidades de nosso próximo.

Cristo Jesus, somos por Vós amados, acolhidos, perdoados e libertos, cumulai nosso coração de amor e sensibilidade para com os dramas de nosso próximo, para que sejamos instrumentos de amor, acolhida, perdão e libertação.

Cristo Jesus, não permitais que tenhamos atitudes farisaicas, colocando limites de tempo para o bem, pois a lei está acima acima da vida, e livrai-nos da miopia que nos impeça de enxergar Vossa ação misericordiosa e libertadora em favor dos que mais precisam.

Cristo Jesus, tendo encontrado Vossa Pessoa e Palavra, ajudai-nos a cultivar uma espiritualidade em que são alargados os horizontes da compaixão, proximidade e solidariedade, e assim darmos à nossa própria existência, um novo impulso e um novo sentido. Amém.


(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 - Vol. II - Tempo Comum - p.680.
(2) idem

“A Palavra de Deus é viva e eficaz”

                                                             

“A Palavra de Deus é viva e eficaz”

Sejamos enriquecidos pela reflexão do Bispo Balduíno de Cantuária (Séc. XII) sobre este versículo que encontramos na Epístola aos Hebreus (Hb 4,12).

“'A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes (Hb 4,12).' Quão grande seja o poder e quanta sabedoria na Palavra de Deus, estas Palavras o demonstram aos que buscam a Cristo, que é o Verbo, poder e sabedoria de Deus.

Coeterno com o Pai no princípio, este Verbo no tempo determinado revelou-Se aos Apóstolos e, por eles anunciado, foi humildemente recebido na fé pelos povos que creem. Está, portanto, o Verbo no Pai, o Verbo nos lábios, o Verbo no coração. 

Esta Palavra de Deus é viva; o Pai deu-lhe ter a vida em Si mesmo, do mesmo modo como tem Ele a vida em Si mesmo. Por isto é não apenas viva, mas a vida, conforme Ele disse a Seu respeito:

'Eu sou o caminho, a verdade e a vida '(Jo 14,6). Sendo a vida, é vivo de forma a ser vivificante. Pois, como o Pai ressuscita os mortos e vivifica-os, também o Filho vivifica a quem quer (Jo 5,21). É vivificante ao chamar o morto do sepulcro: 'Lázaro, vem para fora '(Jo 11,42). 

Quando esta Palavra é pregada pela voz do pregador que se escuta no exterior, Ele dá a esta voz a Palavra de poder, percebida interiormente. Por ela, os mortos revivem e com seus louvores são suscitados filhos de Abraão. É, portanto, viva esta Palavra no coração do Pai, viva na boca do pregador, viva no coração daquele que crê e ama. Sendo assim viva, não há dúvida de ser também eficaz. 

É eficaz na criação das coisas, eficaz no governo do mundo, eficaz na redenção do universo. Que de mais eficaz, de mais poderoso? Quem dirá Seus portentos, fará ouvir todo o Seu louvor? (Sl 105,2). É eficaz ao agir, eficaz ao ser anunciada. Pois não volta vazia, mas tem êxito em tudo a quanto é enviada.

Eficaz e mais penetrante do que a espada de dois gumes (Hb 4,12), quando é crida e amada. O que será impossível a quem crê, ou difícil a quem ama?

Quando este Verbo fala, Suas Palavras transpassam o coração quais setas agudas do poderoso. Como pregos profundamente cravados, entram e penetram até o mais íntimo.

Porque é mais aguda do que a espada de dois gumes esta Palavra, já que é mais poderosa do que toda a força e poder para abrir, e mais sutil do que a maior argúcia do engenho humano.

Mais que toda sabedoria humana e a sutileza das palavras doutas, é ela penetrante”.

Viva e eficaz é a Palavra do Senhor, quando acolhida, crida e amada, e com todo empenho vivida, experimentamos sua força libertadora nas mais diversas situações.

A vitalidade e eficácia da Palavra do Senhor, como Ele mesmo o disse, não quando é fruto de apenas repetição pelos lábios, mas quando é a mais perfeita ressonância do que está dentro de nosso coração, e não apenas verbalizada, mas na vida encarnada, plena de conteúdo e testemunho (Mt 7, 21-29).

Seja a Palavra de Deus, esta espada penetrante em nós, e tenhamos fome desta Palavra que nos comunica a luz de Deus em situações sombrias; alegrias em momentos de tristezas; alargamento do horizonte da esperança, quando este parece se apequenar; revigoramento da fé, quando ela parece se esvair diante de tantos desafios; que inflama a chama da caridade a ser vivida em permanente esforço, para que correspondamos cada vez mais ao imensurável Amor de Deus por nós.

Presbítero: Homem da Palavra e de palavra

                                                       


Presbítero: Homem da Palavra e de palavra

A pós-modernidade apresenta para a humanidade inúmeros desafios, dentre eles, podemos destacar a crise da credibilidade da palavra. Se há algo que entrelaça as pessoas, e cria elos de confiança, solidariedade e comunhão, é a palavra.

Quando tudo parece efêmero, passageiro e fugaz, emerge a necessidade de algo que dê segurança na grande travessia e aventura da história humana: a força da palavra.

Missão fundamental, neste contexto, desempenham os presbíteros, que foram constituídos ministros do Verbo que Se fez Carne e habitou no meio de nós (Jo 1), a própria Palavra viva e eficaz, mais penetrante que qualquer espada (Hb 4,12).

Pregam não a si mesmos, tão pouco ideias próprias e filosofias que passam, mas a Palavra Eterna – “Toda a Escritura é inspirada por Deus, para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda obra” (2Tm 3,16-17).

Já no século VI, o papa São Gregório Magno dizia-nos “Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir...”, e ainda dizia com tristeza -“... embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de Sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática...”.

O sopro do Concílio Vaticano II nos desafiou a assumir as alegrias e tristezas, angústias e esperanças da humanidade, como Igreja de Cristo. Tudo o que há de humano, toca a vida da Igreja, consequentemente, o Ministério Presbiteral.

Deste modo, as comunidades esperam do presbítero uma palavra, não uma palavra qualquer, paliativa, provisória, mas uma palavra divina, inspiradora e fonte para a busca de novos horizontes, no embate cotidiano.

A cada instante, as mais diversas situações vividas pelo Povo de Deus pedem uma palavra: diante de um nascimento, a gratidão a Deus pelo dom da vida; no processo educativo das crianças, compartilhamos a missão dos pais; na ausência da saúde, a palavra de bênção e encorajamento; na hora da agonia, uma palavra de carinho e esperança; quando tudo parece escuridão, uma palavra que se faz uma centelha de luz; na insegurança que nos acompanha, uma palavra de confiança d’Aquele que jamais nos decepciona: “Provai e vede como o Senhor é bom, feliz quem n’Ele encontra o seu refúgio” (Sl 34,9); nas questões emergentes uma palavra ética, que assegure a sacralidade da vida; na hora derradeira, na hora da morte, a palavra que aponta à eternidade; à glória da Ressurreição.

Os presbíteros são por excelência ministros de um Deus vivo e Ressuscitado, que quer vida plena para todos, desde o tempo presente, culminando na luz da eternidade, manifestação da plenitude do Amor de Deus. O presbítero é testemunha de que o céu é possível, e começa agora, aqui, e completa-se na Jerusalém Celeste.

Lembremos sempre as palavras pronunciadas pelo bispo, no dia da Ordenação Diaconal, quando entrega ao candidato o Livro dos Santos Evangelhos e diz: “Recebe o Evangelho de Cristo do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”

Desde então, e para sempre, o presbítero se torna o homem da Palavra e há de ser sempre um homem de palavra!

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A autêntica esperança de cada dia, renovai, Senhor

                                                      


A autêntica esperança de cada dia, renovai, Senhor

 

“Em um mundo no qual o progresso e o retrocesso se entrelaçam, a Cruz de Cristo permanece a âncora da salvação: sinal da esperança que não desilude, porque está fundada no amor de Deus, misericordioso e fiel.” (1)

 

Não creio em esperança como risonha expectativa sem compromissos,

Tampouco em esperanças aéreas, sem raízes fincadas no chão do cotidiano.

 

Não creio em esperança como miragem do inatingível e inexequível,

Tampouco em castelos de douradas fantasias inexistentes.

 

Não creio em esperança que invada e encha a alma de ilusões

Tampouco em esperanças fundadas em torres sob o vento avassalador de mentiras.

 

Creio na esperança que não decepciona, como nos falou o Apóstolo,

porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito (Cf. Rm 5,5).

 

Creio no alvoroço de esperança que nos desinstala de medíocres acomodações,

E nos impulsiona em busca do melhor de Deus para toda a humanidade.

 

Creio na esperança que faz arder o coração, chamas inflamáveis de misericórdia:

caridade para com os amigos, perdão para os pecadores, compaixão com os pobres.

 

Creio na esperança que nos faz adejar nas asas da fantasia,

Comprometidos com uma nova realidade, mistério que se revela no dia a dia.

 

Creio na esperança que nos faz semeadores do horizonte do inédito de Deus para nós,

Com a Semente da Palavra do magnífico Jardim das Sagradas Escrituras.

 

Creio que a esperança nos impulsiona para melhores dias que hão de vir,

Um Céu menos sombrio, porque nos acompanha como chama permanentemente acesa.

 

Creio na esperança contemplada no Imaculado Coração de Maria,

Que no auge da escuridão, acreditou na vitória gloriosa do Seu Filho. Amém. 

 

(1)        Papa Francisco -  Audiência Geral – Praça de São Pedro – 21/09/22

Dar razão de nossa esperança

                                             

                      Dar razão de nossa esperança
"Estejam sempre preparados para responder a
qualquer que lhes pedir a razão da esperança
que há em vocês." (1Pd 3, 15)

Esperança é como uma frágil semente, que precisa ser cuidada e semeada no chão dos acontecimentos, para que floresça e dê frutos que levem à saciedade, e mais que isto, à certeza de que fomos bem alimentados.

A esperança é a construção da própria existência na base sólida da Palavra de Deus, nutrindo-se pelo Pão de Eternidade, que é o Cristo Senhor, que Se dá a nós no Banquete da Eucaristia, toda vez que dele participamos.
Sua solidez não permite confundir com esperanças aéreas, imaginosas, ou frutos especulativos de nossa fantasia, de nossos enganos, ilusões que não contribuem para que alcancemos o melhor que Deus tem para cada um de nós.
Como pássaros, que batem suas asas para voo certeiro ao encontro do alimento, do filhote ou do ninho, dos seus semelhantes para sobreviverem, a esperança é o adejar das asas de nossa alma para encontros com a vida, com os sonhos, com nossas conquistas...
Cultivar a esperança sempre, sem permitir a perda das utopias, convictos de que o céu sombrio tem sua provisoriedade, e que dias melhores sempre haverão de vir.
Não permitamos a morte da esperança, não nos aliemos aos que promovem o seu cortejo, não a sepultemos no vale dos que nada mais esperam, nada mais buscam, porque ela já não mais vive em seu interior, num vazio absurdamente entristecedor e enlouquecedor.
Não percamos jamais a esperança, para que nossos dias não sejam avaramente contados, sem voos anunciados nas asas da esperança, que nos levam ao encontro das coisas do alto onde habita Deus e que devemos sempre buscar, como tão bem falou o Apóstolo (Cl 3,1-4).
Que não se mate a esperança,
Que não matemos a esperança.

Demos sempre razão de nossa esperança.
Há motivos para crer, há motivos para esperar...

Temos fé, e ainda mais,
Somos discípulos e testemunhas
D’Aquele que, por Sua Morte e Ressurreição,
Vem ao encontro de nossa fragilidade,
Humana debilidade...

Ele vem para nos ensinar que
Fé aliada à esperança,
De braços com a caridade
Mundo Novo, Reino presente entre nós veremos,
Novo céu e Nova terra buscaremos e alcançaremos.

Com Ele para sempre viveremos,
A Ele toda honra, glória, poder e louvor
Para sempre cantaremos.
Amém. 

Os crisóis de nossa purificação

                                                          

Os crisóis de nossa purificação

É sempre tempo para refletirmos sobre História da Salvação do Povo de Deus.
Páginas difíceis, com traições, sacrifícios, devastações,
Desolações, amargura, maldade, infidelidade, cinzas, lágrimas,
O povo ao nada, impiedosamente e absolutamente, reduzido.

Sonhos e esperanças pisoteadas numa sensação de que não havia mais saída.
Vida a ser vivida em terras tão distantes e estranhas, sem história e raízes.
Os que permanecem, um pequeno resto, os pobres por Deus amados e escolhidos,
Mas Deus sempre fiel à Aliança, a História irrevogável de Amor e fidelidade continuará.

Página atroz do Exílio, imposto ao Povo de Deus há muitos séculos.
A ausência da justiça fez sucumbir quaisquer possibilidades de experimentar a paz.
Medito o célebre cântico de nostalgia dos exilados da Babilônia, fonte divina inspiradora.
Dor emudecida, canto de dor sufocado: como cantar em terra tão estranha ao coração?

Ó cruentos dias vividos no exílio, aparente tempo de eternidade;
Verdadeiramente uma espécie de crisol purificador,
Mas é nele que a fé se fortalecerá para o verdadeiro amor;
Braços à esperança dará, tempo novo somente com Deus virá...

Outras páginas hoje são escritas, outros tempos, outros desafios.
Dificuldades podem ser outras, mas a fé é sempre a mesma,
A esperança ganha novos contornos, mas a chama da caridade
É a mesma que os corações do crente fiel aquece e inflama.

Há por vezes crisóis purificadores a serem silenciosamente suportados,
Mas não será o bastante para consumir a fé no coração como dom plantada,
Nem suficiente para fazer sucumbir no lamaçal a vitalidade do sonho e da esperança
Que nos amadurecem para o essencial da existência: amor vivo e encarnado.

Amor ao Deus vivo e único em Três Pessoas glorificado, para sempre adorado:
Santíssima Trindade amada na qual nos fazemos imersos e plenamente fortalecidos
Para suportar o crisol purificador, adentrando pela porta estreita que leva à vida,
Carregando com renúncias, coragem, o crisol purificador da inevitável cruz,

Até que um dia a face do Deus Uno e Trino possamos e mereçamos contemplar.
Amadurecidos e purificados pelo crisol da dor, da fidelidade, dos sacrifícios, da profecia,
Veremos acontecer dias tão sonhados e no coração regados e cultivados,
Na espera da segunda vinda, numa grande, bela e professada Parusia. Amém.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG