quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Deixar-se surpreender por Deus

                               Resultado de imagem para surpresa de Deus

Deixar-se surpreender por Deus

O comentário do Missal Cotidiano nos apresenta iluminadoras palavras de Paul Tilich, quando da proclamação da passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 4,12-22):

“Penso no teólogo que não espera por Deus, porque O possui em sua construção doutrinal.

Penso no estudante de teologia que não espera por Deus, porque O possui fechado em seu manual.

Penso no homem de Igreja, que não espera por Deus, porque O possui encerrado numa instituição.

Penso no crente que não espera por Deus, porque O possui na própria experiência.

Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.

A tentação humana é enquadrar Deus em esquemas mentais, numa espécie de monopólio, quase que O submetendo às nossas vontades, conceitos e dimensões.

No entanto, é preciso nos deixar sempre surpreender por Deus, abertos à manifestação de Sua Sabedoria, que vem ao nosso encontro.

Num contexto de utilitarismo e imediatismo de soluções, é preciso viver na confiante espera do Senhor que vem, e somente pode ser percebido pelo coração que ama e crê, numa permanente vigilância.

Deixar-se surpreender por Deus, o mais belo, profundo, intenso e imenso Mistério, que quer nos envolver com laços de ternura e misericórdia.

Deixar-se surpreender por Deus, que ultrapassa conhecimentos adquiridos sobre Ele, por meros ritos realizados, por vezes, já com a espera de resultados previsíveis alcançados.

Deus, um Mistério insondável, será sempre alegre e grata surpresa na vida daqueles que O temem, amam, e n'Ele confiam.

E como afirmou o teólogo: – “Não é fácil suportar estar sem Deus, dever esperá-Lo... Somos mais fortes se esperarmos do que se possuirmos”.



PS: Paul Johannes Oskar Tillich (Starzeddel, 20 de agosto de 1886 — Chicago 22 de outubro de 1965) - teólogo alemão-estadounidense e filósofo da religião.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

 


Dai-nos, ó Deus, Vossa Sabedoria em nosso peregrinar

Ó Deus, onde encontraremos a Vossa Divina Sabedoria?

Não permitais que nos acomodemos, julgando já tê-La encontrado, mas que a procuremos continuamente, desinstalando-nos na busca de novas fronteiras e desafios, na procura do inédito que sempre nos agracia.

Libertai-nos da tentação de permanecermos à margem da praia,  e dai-nos a Vossa Sabedoria para avançarmos para águas mais profundas e sulcar corajosamente os mares, resgatando quantos pudermos para a beleza do bem viver, com dignidade e plenitude.

Como peregrinos de esperança, rompei as correntes que nos aprisionam, para que jamais prefiramos o imobilismo, e, incansavelmente, Vos busquemos incessantemente no caminhar da história, pondo somente em Vós toda a nossa confiança.

Vossa Sabedoria nos comunicai, iluminando as entranhas de nossa alma, para que vençamos eventuais medos secretos que, por vezes, tentam roubar ou aniquilar nossas forças, fragilizando-nos nos sagrados compromissos da Boa Nova do Reino.

Dai-nos, ó Deus, Vossa Divina Sabedoria, para que nos passos de Vosso Amado Filho, o Sol nascente que nos veio visitar, nos abramos a ela  a cada nascer do sol  até que possamos merecer a glória da eternidade. Amém.

 

 

PS: Fonte de inspiração – Comentário do Missal Cotidiano sobre a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 2,1-13 (gr. 1-11). – pág.798

Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus

                                         


Ninguém pode reter a ação do Espírito de Deus
 
“Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome
 para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9, 39-40).
 
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9,38-40, sobre a ação divina que não pode ser controlada por ninguém: o Espírito de Deus sopra onde e quando quiser.  
 
Urge superar toda forma de arrogância, ciúmes em relação à ação de Deus e ainda, arrancar, de dentro de nós, tudo o que não constrói o Reino de Deus.
 
É preciso cortar todo egoísmo, autossuficiência que destroem a vida, porque o fim dos injustos é a “geena”, o inferno, a ausência do Amor de Deus, a condenação de viver sem o amor que foi rejeitado:
 
“O Espírito é capaz de soprar e de fazer palpitar os corações também noutros locais, como nas mesquitas, nas sinagogas, nos areópagos, no templo que nós chamamos e nos parece pagão. Deveríamos, por isso, pedir ao Senhor, a graça de aprender a alegrarmo-nos pelo bem, onde quer que ele se concretize, de nos alegrarmos por todo o bem, sem nos importarmos com quem o pratica: seja pequeno ou crescido; seja jovem ou ancião; seja leigo ou consagrado; seja infeliz ou afortunado; seja doente ou saudável; seja alguém que se abre para a vida ou alguém que está para prestar contas com Aquele que generosamente lha concedeu”. (1)
 
Vemos que não é próprio dos discípulos do Senhor atitudes que revelem arrogância, sectarismos, intransigência, intolerância, presunção, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolização do próprio Jesus e Sua Boa Nova:
“João e os outros discípulos não conseguiram ainda pensar segundo a lógica de Jesus, Seu Mestre, a qual é para Ele, na perspectiva da Cruz, lógica de serviço e de humilde diaconia. Preferem nesse momento a lógica espalhada e exclusiva do sectarismo e da separação, ou seja, pretendem ter o exclusivo e o monopólio da Salvação” (2).
Reflitamos:
- O que precisamos cortar para superar qualquer sombra de dominação e monopólio do Espírito e melhor nos colocarmos a serviço dos últimos?
- Quais são as verdadeiras motivações no trabalho que realizamos em nossa Pastoral, em nossa Comunidade? 
 
- Onde e quando percebemos a ação de Deus além dos limites de nossa comunidade?
- Quais pessoas que professam uma crença diferente da nossa e nas quais contemplamos também a ação de Deus?
 
- Percebemos a manifestação e ação do Espírito onde, quando e em quem Ele bem quer?
 
Renovemos nossa alegria de viver como instrumentos nas mãos de Deus, para maior fidelidade ao Projeto que Jesus inaugurou, a Boa-Nova do Reino, com a força e ação do Espírito, sem jamais termos a pretensão de exaurir Suas forças, detê-Lo, monopolizá-Lo.
 
Alegremo-nos com a inesgotável ação e presença do Espírito, que move a História, dentro e fora da própria Igreja.
 
Oremos:
 
Ó Deus, dai-nos a graça, como discípulos missionários do Senhor, contemplar e nos alegrar com a ação do Vosso Espírito, que age em quem, quando e onde quiser promovendo a vida, fazendo suscitar brotos de esperança onde nada mais parece possível; ainda que não professando a mesma fé que professamos, mas vivendo a caridade que não conhece fronteiras. Amém.
 
(1) Lecionário Comentado - Editora Paulus - Lisboa - pág. 443.
(2) Idem pág. 441.
 

Entre palavras (...)

                                                           

Entre palavras (...)

“A alegria de viver (...) a fragilidade da vida”.

O que seria este (...)?

Se (...) for “e”,
Temos que a alegria de viver e a fragilidade da vida coexistem inseparavelmente, e viver consistirá em redescobrir cotidianamente a alegria, assumindo os limites da condição humana, na real expressão da fragilidade da vida.

Se (...) for “depende”,
Aprendemos que a alegria de viver depende de como suportamos os revezes da vida, devido à sua indubitável fragilidade que nos acompanha da concepção ao seu declínio natural.

Se (...) for “pressupõe”,
Faz-nos tomar consciência de que a alegria de viver pressupõe a capacidade de lidar com a fragilidade da própria vida, com seus limites que se impõe cotidianamente.

Se (...) for “apesar”,
Implica que a alegria de viver é uma busca constante, apesar da fragilidade da vida que pode nos surpreender, por isto é preciso estar sempre vigilantes para eventuais acontecimentos que nos fragilizem ou queiram roubar nossa alegria, com a busca de caminhos de superação, acrisolamento, crescimento...

Se (...) for “com”,
A alegria de viver com a fragilidade da vida são inseparáveis, como a existência cristã só é pensável com a cruz quotidiana, com suas renúncias necessárias para seguimento do Divino Mestre.

Concluindo, o Senhor jamais nos desampara, sabe de nossas fraquezas, imperfeições, nos revela a misericórdia divina, e nos assegura que tão apenas com Ele podemos alcançar a plena alegria, se n’Ele permanecermos, alimentando-nos com a Seiva do Espírito, a Seiva do Amor.

Cada momento difícil por que tenhamos que passar, não nos fragilizará, mas será como que uma poda, para que, enxertados na Verdadeira Videira que é o Senhor, muitos e eternos frutos produzamos, como Ele mesmo nos assegurou (Jo 15).

Senhor, não nos deixeis cair em tentação

Senhor, Não nos deixeis cair em tentação

Ouvimos na Leitura da quarta-feira da quarta Semana do Tempo Comum (ano par) uma passagem do Segundo Livro de Samuel (2Sm 24,2.9-17), na qual o Rei Davi reconhece o seu pecado ao fazer o recenseamento do povo.

A tentação do poder levou Davi ao recenseamento, que era a expressão de sua dupla ambição: o cadastramento da população que contribuía com tributos (exploração econômica); o levantamento dos homens aptos para a guerra (dominação política).

Este episódio do recenseamento mostra certa "secularização" do governo de Davi, ou seja, a tendência a gerir os negócios do reino segundo os costumes dos outros poderosos, e por isto seu remorso e oração ao Senhor, por ter se comportado como se tudo não estivesse nas mãos de Deus, Senhor da vida e da morte; como se o registro do potencial humano e econômico lhe garantisse uma segurança demasiado humana, proporcionando-lhe uma sensação de êxito e poder.

Bem diferente é a ótica de Deus e do Profeta, ainda que pareça um pouco fora do comum para nós, apresenta-se como a nova visão que perpassa os acontecimentos humanos e faz da história profana uma história sagrada: o Deus da Aliança quer e deve ser o único.

No Missal Cotidiano, encontramos esta questionadora reflexão para nossas comunidades que professam a fé em Deus:

“A tentação de medir o progresso do Reino de Deus sempre ronda nossas comunidades: ainda com demasiada frequência, avaliamos as coisas sob o aspecto quantitativo e visível.

Quando fazemos estatísticas e levantamentos necessários, não podemos esquecer uma variável misteriosa, mas real, que pode mudar todos os valores dos nossos dados: a graça de Deus”. (1)

Em todos os níveis, corre-se o risco de escrever a história com dupla atitude extrema: escrevê-la como se nada dependesse de Deus, sem espaço para Sua graça, presença e ação, na absoluta negação ou indiferença em relação a Ele; de outro lado a passividade ou omissão, confiando tudo à ação divina, não fazendo o que nos é próprio, com as forças e recursos que nos são confiados e disponíveis.

Reflitamos:

- Em que sentido elas se relacionam e se completam, para que a vida seja mais humana, como expressão de vida plena para todos?

- De que modo se dá a interação entre a fé e a razão para não cairmos em estéril fideísmo ou num ativismo que prescinda de Deus e da própria fé?

- Como colocar todos os recursos disponíveis que nos são confiados para cuidar da nossa casa comum, de nosso planeta, como refletimos a partir da Encíclica do Papa Francisco – “Laudato Si”?

- De que modo a tentação e o pecado de Davi se repetem ao longo da história da humanidade, de nossas comunidades e de nossa própria história?

São questões pertinentes que nos desafiam a tomar a mesma atitude de Davi: reconhecer nosso pecado, e nos colocarmos como frágeis criaturas diante do Criador, a quem tudo pertence, e cuidar do jardim que Ele nos confiou, como responsáveis jardineiros da criação. E tão somente assim, cuidaremos de nossa casa comum, e todos teremos melhores condições de vida, assegurando também aos que virão.


(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus - pág. 719

“Prepara-te para a tentação”

                                                   

“Prepara-te para a tentação”

Retomemos um trecho do Sermão sobre os pastores, escrito pelo Bispo Santo Agostinho (séc. V), em que exorta a preparação para vencer as tentações ao viver o bom combate da fé.

“Já sabeis o que amam os maus pastores. Vede o que descuidam. ‘Ao enfermo não fortificastes; ao doente não curastes; o machucado’, isto é, fraturado, ‘Não pensastes; ao desgarrado, não reconduzistes; ao que se perdia não fostes procurar e ao forte oprimistes’ (Ez 34,4), matastes, destruístes. A ovelha se enfraquece, quer dizer, tem coração débil, imprudente e desprevenido a ponto de ceder às tentações que sobrevierem.

O pastor negligente, quando alguém se lhe confia, não lhe diz: ‘Filho, vindo para servir a Deus, mantém-te na justiça e prepara-te para a tentação’ (Eclo 2,1). Quem assim fala fortifica o fraco e de fraco faz firme, de modo que, se lhe forem confiados os bens deste mundo, não se fiará neles. Se, contudo, houver aprendido a fiar-se na prosperidade terrena, por esta mesma prosperidade será corrompido; sobrevindo adversidades, ferir-se-á e talvez pereça.

Quem assim edifica não constrói sobre a pedra, mas sobre a areia. ‘A pedra era Cristo’ (1 Cor 10,4). Os cristãos têm de imitar os sofrimentos de Cristo e não, ir atrás de prazeres. O fraco se fortifica, quando lhe dizem: ‘Espera, sim, provações neste mundo, mas de todas elas te livrará o Senhor, se teu coração não voltar atrás. Pois para fortalecer teu coração veio padecer, veio morrer, veio ser coberto de escarros, veio ser coroado de espinhos, veio ouvir insultos, veio ser pregado na cruz. Tudo isso por tua causa, e tu, nada: não para Ele, mas em teu favor’.

Quais são estes que, por temerem ofender os ouvintes, não apenas não os preparam para as inevitáveis provações, mas prometem a felicidade neste mundo, que o Deus deste mundo não prometeu? Ele predisse a este mundo labutas e mais labutas até o fim; e tu queres que o cristão esteja isento a estas labutas? Justamente por ser cristão, sofrerá algo mais neste mundo.

Com efeito, disse o Apóstolo: ‘Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições’ (2 Tm 3,12). Agora, tu pastor insensato, que procuras os teus interesses e não o de Jesus Cristo, deixe que ele diga: ‘Todos aqueles que querem viver sinceramente em Cristo, sofrerão perseguições’. E por tua conta vai dizendo: ‘Se em Cristo viveres piedosamente, terás abundância de todos os bens. Se não tens filhos, tê-los-á e os criarás, e nenhum morrerá’. É esta tua construção? Olha o que fazes, onde a colocas.

Sobre a areia a constróis. Virá a chuva, o rio transbordará, soprará o vento, baterão contra esta casa; ela cairá e será grande sua ruína.

Tira-a da areia, põe-na sobre a pedra: esteja em Cristo aquele a quem desejas ver cristão. Observe os injustos sofrimentos de Cristo, observe-o sem pecado, pagando o que não devia, observe a Escritura a lhe dizer: ‘O Senhor castiga todo aquele que reconhece como filho’ (Hb 12,6). Ou se prepare para ser castigado, ou não procure ser aceito”.

Urge viver o “Bom combate da fé” (1 Tm 6,12), e para tanto, urge estar sempre pronto, em atitude de vigilância, preparados para as tentações, a fim de vencê-las, sem jamais vacilarmos na fé, esmorecermos na esperança e esfriarmos na caridade.

Supliquemos a Deus que nos conceda resistência na tentação, paciência na tribulação e sentimentos de gratidão na prosperidade, vivendo com Ele e para Ele, a quem damos toda a honra, glória, poder e louvor.

Pastores e rebanho, edifiquemos nossa vida sobre a Rocha, a Pedra Fundamental que é Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre, e nada poderá nos abalar.

Deste modo, sejamos iluminados pela Palavra de Deus, nutridos pelo Pão da Eucaristia, testemunhas vivas da evangélica caridade, vivendo, a cada dia, a missão que o Senhor nos confia, como alegres testemunhas como discípulos missionários Seus.

Dai-nos, ó Deus, Sabedoria e Inteligência

 


Dai-nos, ó Deus, Sabedoria e Inteligência 

No capítulo 28 do Livro de Jó, encontramos uma meditação sobre a Sabedoria:

“E Deus disse à humanidade: ‘No temor do Senhor está a Sabedoria; no apartar-se do mal, a Inteligência’” (Jó 28,28)

Oremos:

Senhor Deus, ajudai-nos a perceber, a cada momento de nossas vidas, que a sabedoria, de fato, só tem sentido quando no temor do Senhor.

Que nos abramos à Vossa Sabedoria para nos conduzir e orientar nossas decisões, firmando nossos passos no Caminho, que é o próprio Jesus Cristo, e assim, a Verdade resplandecerá em todo o nosso viver, e teremos a Vida plena, que é Ele mesmo (cf. Jo 14,6).

Senhor Deus, concedei-nos a inteligência, para que saibamos distinguir o bem do mal, e não apenas distinguir, mas não realizá-lo.

Que tenhamos força para do mal nos afastarmos, como Vosso Filho nos ensinou a rezar: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Amém.

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG