domingo, 9 de fevereiro de 2025

Sobre a enfermidade e a cura... (VDTCB)

                                                             

Sobre a enfermidade e a cura...

Nunca se falou tanto em cura e libertação!

- Como entendê-las?
- Existem de fato?

- Não seria um sensacionalismo midiático (fora ou dentro da Igreja Católica)?

A autêntica sabedoria consiste na conciliação madura, séria, consequente entre ambas. Elas não se contrapõem, ao contrário, se harmonizadas, farão homens e mulheres mais perfeitos, felizes, plenos de vida.

A pessoa de fé jamais poderá dizer: “não preciso da ciência”. Tampouco aqueles que anseiam e mergulham no conhecimento, na decifração dos insondáveis mistérios da humanidade poderão banalizar e deixar de reconhecer a força daqueles que creem, que possuem uma verdadeira fé.

Iluminadora é a passagem do Evangelho, em que refletimos sobre a ação de Jesus curando a sogra de Pedro que estava febril,  e também fazendo curas e expulsando demônios, à porta da casa do mesmo (Mc 1, 29-39).

Como compreender o que somente a fé pode alcançar, e a ciência não consegue explicar?

Aliás, nem seria o papel da ciência, e tão pouco pensar numa oposição entre a fé e a ciência e vice-versa, porque, de fato, completam-se mutuamente.

É preciso que sejamos, em tempos de pós-modernidade, pessoas de verdadeira fé, purificada e solidificada com sede profunda do conhecimento, procurando a perfeita sintonia da fé e da razão, para que construamos um mundo mais belo e feliz, mais humano, justo, pacífico e fraterno.

Sobre a enfermidade e a cura... (continuação) (VDTCB)

Sobre a enfermidade e a cura...

Acolhamos estas palavras da Igreja que trazem luz para não pararmos no meio do caminho. 

“A enfermidade e o sofrimento que acompanham nossa vida geram um estado de temerosa insegurança. Encarnam a fraqueza e a fragilidade humana, sujeitas à eventualidade do inesperado e do imprevisível.

Esta condição humana contrasta com o desejo de absoluto, de estabilidade e de segurança que pervade todo homem, e torna a existência do homem pouco desejável...”

Sofrer não é pagar uma pena
“... A enfermidade não está necessariamente ligada a um pecado pessoal; pode ser também uma provação providencial enviada por Deus para consolidar a fidelidade de seus amigos.

“A reflexão messiânica fará eco a esta concepção; o Messias, que inaugurará os últimos tempos, terá o aspecto do Servo sofredor que toma sobre si nossas enfermidades e as cura por suas feridas. Quando chegarem os últimos tempos, e o Espírito de vida houver renovado a terra, a doença desaparecerá definitivamente...”

A cura é um sinal
“Por isso, a libertação dos endemoninhados e a cura dos doentes, operadas por Cristo, são sinal de que chegaram os últimos tempos e de que o Reino de Deus está no meio de nós.

A cura não é o ato de um taumaturgo, mas o ato do salvador dos homens; é, de certo modo, a antecipação da vitória decisiva, da qual já participa aquele que crê; a vitória do homem novo que, sob a ação do Espírito Santo, faz com que todas as coisas voltem à Sua verdade, conforme o desígnio do Pai."

Um novo modo de pedir a Deus
“A experiência de uma enfermidade ou de uma situação de perigo pertence à bagagem de todo homem. Numa sociedade secularizada não existe o dilema entre dirigir-se ao médico ou recorrer à Oração e acender uma vela. Isto não quer dizer que tenha desaparecido a religiosidade ou que seja sintoma de ateísmo. Talvez se tenha simplesmente mudado o modo de encontrar-se com Deus.

O mundo foi confiado ao homem para que o transforme, construindo uma realidade sempre mais humana através da ciência e da organização social, que constituem o instrumento e as modalidades de transformação.

Esta tarefa se insere no quadro da relação Deus-homem e a ciência se torna seu lugar de encontro. E o é porque o homem, enquanto artífice no meio das realidades terrestres, se torna colaborador de Deus, e a ciência é a nova síntese baseando-se nos elementos do 'criado-por-Deus'."

A ciência nos aproxima mais de Deus: 
"A ciência, pois, longe de afastar de Deus, aproxima mais profundamente d'Ele, pelo respeito ao homem.

No quadro da fé, Cristo é libertador-vencedor da morte por Sua Ressurreição. Sua vitória é radical, mas em estado potencial. Cabe ao homem 'novo' tornar consistente esta vitória de Cristo. Vencer a doença pela pesquisa científica significa 'viver a Ressurreição de Cristo'.

A libertação da moléstia, que a ciência realiza, assume uma significação particular no contexto do símbolo da libertação radical. Debelar uma enfermidade, eliminar uma praga social, é símbolo-sacramento da libertação para a qual o Pai conduz a humanidade.”

PS: Citações extraídas do Missal Dominical – Editora Paulus – pp.892-893

O Senhor nos tomou pela mão e nos curou (VDTCB)

                                                                

O Senhor nos tomou pela mão e nos curou

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Acolhamos para a reflexão sobre o Evangelho do 5º Domingo do Tempo Comum (ano B), o Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se... Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, ao mesmo tempo, o médico e a medicina. Ele tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico e pela Medicina, curados pelo próprio Senhor, tomado pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11).

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve cada dia mais tomar conta de nosso coração: sermos febris de amor pelo Senhor.

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Tao somente febris de amor pelo Senhor é que somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.



Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - 2013 - pp.382-384

Sagrados compromissos com o Reino (VDTCB)

                                                           

Sagrados compromissos com o Reino

Para aprofundamento da Liturgia do  5º Domingo do Tempo Comum (ano B), acolhamos um trecho da Homilia de Raniero Cantalamessa:

“Se a salvação do homem dependesse de um simples voltar atrás, para a condição paradisíaca, bastaria eliminar do mundo o suor e a dor, com tudo o que estas palavras implicam; em outros termos, bastaria a promoção humana...

Mas para o crente a salvação está ‘à frente’, não atrás. Não consiste em voltar no paraíso perdido, mas em entrar no Reino de Deus anunciado por Cristo; não é um retorno ao antigo e ao natural, mas ‘uma renovação para melhor’.

De pronto, a promoção humana assume para nós um significado totalmente diferente; é em função do Reino; é preparação evangélica, isto é, é um elevar o homem para que se torne apto para entrar no Reino de Deus (cf. Lc 9,62). Ela não pode ficar, por isso, sem a evangelização...

O esforço para a promoção humana deve ‘preparar a matéria para o Reino dos céus (Gaudium et spes n.38). A Redenção coroa assim – não anula – a criação...”

‘A obra redentora de Cristo, que por natureza visa salvar os homens, compreende também a restauração de toda a ordem temporal. Daí que a missão da Igreja consiste não só em levar aos homens a mensagem e a graça de Cristo, mas também em penetrar e atuar com o espírito do Evangelho as realidades temporais’ (Apostalicam Actuositatem n.5)”.  (1)

Algumas considerações:

- Não vivemos um saudosismo do paraíso, como algo perdido e que ficou nos primórdios da existência. Antes, este é desafio e compromisso a ser construído, com práticas mais humanas e fraternas, sobretudo quando vivermos a expressão maior do que o cristianismo nos apresenta: o amor a Deus e ao próximo (o primeiro na ordem dos preceitos, e o segundo na ordem da execução, como tão bem nos falou o Bispo e Doutor Santo Agostinho);

- A evangelização não é apenas uma promoção humana, no entanto, ela não a dispensa, pois o anúncio da Boa-Nova do Reino, pressupõe a promoção humana, o empenho para superar toda forma de dor, sofrimento, miséria, desigualdade, violência, injustiça etc.

- A evangelização engloba a existência humana, portanto, tudo que diz respeito aos homens e mulheres, diz respeito à própria Igreja, assim como suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, como tão bem ressaltou a “Gaudium Et Spes” (Documento do Vaticano II);

- Destaca-se, de modo especial, o protagonismo de cristãos leigos e leigas na construção de uma sociedade justa e fraterna, por seu anúncio e testemunho; animados e fortalecidos pelos que se consagram de modo pleno à vida sacerdotal (clero) e religiosas, que são motivadores, animadores destes neste árduo e desafiador testemunho no vasto e complicado mundo da economia, da política, da cultura, da economia, dos meios de comunicação e em outros âmbitos, como nos falou o Bem-aventurado Paulo VI na “Evangelli Nuntiandi” (n.70):

Os leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização... O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’ e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento.

Recolhidos e revigorados pela oração, continuemos, com alegria e coragem, a missão que o Senhor nos confiou, com a força do Espírito, que nos anima e nos assiste, para que o Reino de Deus se faça presente em nosso meio.


(1) O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013  - pp.351-352

A Oração revigora e ilumina a nossa ação (VDTCB)

                                                            

A Oração revigora e ilumina a nossa ação

A passagem do Evangelho (Mc 1,29-39) proclamada no 5º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos apresenta alguns pontos a serem destacados:

- Jesus, após ter saído da sinagoga, foi com Tiago e João à casa de Simão e André.
- A sogra de Pedro que estava febril foi curada pelo Senhor,  e se pôs a servir a todos.

- Ao cair da tarde, diante da casa de Pedro, a cidade inteira encontrava-se reunida, e Jesus curou muitas pessoas, assim como expulsou muitos demônios.

- Quando ainda era escuro, Jesus levantou-Se e foi rezar num lugar deserto. Procurado pelos discípulos, comunica a Sua missão de pregar em outras aldeias, o que Seus discípulos também deverão fazer.

Na missão evangelizadora, na construção de um mundo com suas alegrias e dores, sorrisos e lágrimas, em constante busca de uma felicidade sem sombras e um amor sem ilusão, Jesus nos revela a força da Oração.

Tanto para Jesus como para os discípulos, a Oração é o cume e a fonte da ação; é força para nos libertar de toda forma de tentação (no deserto, Jesus venceu o diabo pela força da Palavra e da Oração).

Ela é como que um momento de paragem nas atividades para que se  renovem as forças; é o momento em que se toma consciência do que Deus quer de nós, sem o que podemos fazer muitas coisas, mas não necessariamente o que Deus quer e como Ele quer que sejam feitas.

A Oração dá tom e vigor novos ao nosso agir, porque somente na comunhão e no diálogo íntimo com Deus percebemos quais são os Seus Projetos e renovamos as forças para nos empenharmos na transformação do mundo.

A Oração é, na exata medida, uma relação de intimidade com Deus e plena abertura para o que Ele quer nos dizer, caminhos apontar, compromissos maiores nos apresentar.

Como discípulos missionários do Senhor, é necessário que encontremos espaço, tempo para a Oração, para o diálogo com Deus.

Sem a Oração nos fragilizamos e como cegos e surdos e indiferentes ao mundo ficamos, e assim perdemos a força profética, porque nada teremos a comunicar, e tão pouco faremos o que Deus espera de nós.

Curados pelo Senhor de toda febre que nos imobiliza, mantenhamos a alegria e o ardor do serviço, nutridos, de modo especialíssimo, no Banquete da Eucaristia.

Revigorados, saberemos enfrentar os sofrimentos, as adversidades próprias da ação evangelizadora.

Em contínua vigilância e Oração, não naufragaremos no oceano inesgotável de sofrimento e dificuldades que a vida possa nos apresentar:

“É preciso retirar-se regularmente para a solidão para orar, pois só em Deus está a consolação que não defrauda, a recompensa acima de todo o mérito aos que cumprem sua missão” (1)



(1) Missal Quotidiano e dominical e ferial -  Paulus – Lisboa - p.1215

Como é bom ser Discípulo do Amado! (VDTCB)

                                                           

Como é bom ser Discípulo do Amado!

A Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum (ano B) propicia a reflexão sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida plena e felicidade infinita para todos.

Com a passagem da primeira Leitura (Jó 7, 1-4.6-7) refletimos sobre o sofrimento do justo, do inocente. Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança. O grito de revolta de Jó é ao mesmo tempo a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entendê-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente” (1).

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?

- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?

Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 9,16-19.22-23), mais uma vez contemplamos a ação evangelizadora de Paulo, feita na liberdade, fidelidade, gratuidade e obediência incondicional.

Quando alguém, como Paulo, encontra Cristo e se torna Seu discípulo não pode ficar parado, mas tem que dar testemunho, incansavelmente. Por amor a Deus e aos irmãos está sempre pronto a tudo sacrificar e até mesmo se sacrificar. 

Paulo por excelência é aquele que a Cristo encontrou, por Ele se apaixonou e daí o imperativo da evangelização que sai de sua boca, porque antes se encontra impresso na alma, nas entranhas de seu coração – “ai de mim se eu não evangelizar” (1 Cor 9,16).

Quando o Amor de Deus é absoluto em nossa vida, o tempo é uma figura que passa, as coisas têm o seu exato sentido e tamanho.

Em nossas comunidades eclesiais, na vida da Igreja, muitos problemas deixariam de existir ou tornar-se-iam menores, se nossa paixão por Jesus fosse maior. O amor é bem maior pelo qual se renuncia aos bens menores.

Aprendamos com o Apóstolo a fazer da vida um dom a Cristo, ao Reino, aos irmãos. 

Que nossos projetos pessoais sejam sempre subordinados aos Projetos divinos, e que a nossa vontade seja a de Deus, e jamais imponhamos a Deus a nossa vontade, e tão somente assim poderemos rezar com autenticidade a Oração do Pai Nosso que o Senhor nos ensinou.

Na passagem do Evangelho (Mc 1,29-39), encontramos a verdadeira preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. 

Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a, tomando-a pela mão, e esta, curada, põe-se a servir. 

Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, toca-nos, cura-nos, põe-nos de pé, para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado

Reflitamos:

- Não nos falta uma verdadeira paixão por Jesus?
- Não nos falta uma paixão mais sincera, mais inflamada, mais comprometida com a Igreja e o Reino?

Oremos:

Ó Deus, concedei-nos que enraizados em Vosso Amor de Pai, 
sejamos  alegres e corajosas testemunhas do Reino. Por N.S.J.C. Amém.



Fonte de pesquisa: (1) www.Dehonianos.org/portal 

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano (VDTCA)

Sejamos Sal e luz na planície do cotidiano

... quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

A Liturgia do 5º Domingo do tempo Comum (Ano A) nos convida a refletir sobre o compromisso que abraçamos no dia de nosso Batismo, quando nos tornamos cristãos, discípulos missionários do Senhor.

Fazer brilhar a luz de Deus na noite do mundo, e como sal dar gosto e sentido de Deus a todo o existir, é a nossa grande missão.

Na passagem da primeira Leitura, o Profeta Isaías (Is 58,7-10), em tempos difíceis do pós-exílio, mantém viva a chama da esperança de um tempo novo, expressando a reclamação de Deus contra aqueles que praticam um culto vazio e estéril: de nada adianta a prática de leis externas, que não saem do coração, sem a necessária correspondência na vida.

O Profeta faz, portanto, um convite ao Povo para que respeite a santidade da Lei, colocando-a em prática. De modo especial, retrata na passagem o jejum, que no contexto do capítulo aparece sete vezes.

A prática do jejum deve ser feita com humildade diante de Deus, como expressão da dependência, do abandono e amor para com Ele, a renúncia a si próprio, a eliminação do egoísmo e da autossuficiência.

Jejum é voltar-se para o Senhor, manifestando a entrega confiante em Suas mãos, em total disponibilidade de acolher a ação e o dom de Deus, em gestos concretos de amor e solidariedade.

Deste modo, o jejum jamais pode ser compreendido como uma tentativa de colocar Deus do nosso lado, captando Sua benevolência a fim de que realize prontamente nossos interesses e desejos egoístas.

Somente a prática do jejum autêntico é que levará a comunidade a ser e contemplar a luz de Deus no mundo.

Reflitamos:

- Qual é a relação entre os gestos cultuais e gestos reais de nossa vida. Expressam ambos em sintonia a misericórdia e o Amor de Deus?

De que modo o que celebramos tem determinado a nossa vida?
Que matiz o Amor Divino tem dado as nossas ações?

- Somos uma luz acesa na noite do mundo, em solidariedade expressiva?
   - Somos como Isaías, Profetas do amor e servidores da reconciliação para um mundo novo justo e fraterno?

O Apóstolo Paulo, na passagem segunda Leitura (1Cor 2,1-5), nos exorta a identificação com Cristo, interiorizando a “loucura da Cruz”, que é dom e vida. Deus age através de nossa fragilidade e debilidade, como agiu através dele, um homem frágil e pouco brilhante.

Diante da comunidade de Corinto, o Apóstolo se apresentou consciente de sua fraqueza, assustado e cheio de temor.

O que levou os coríntios a abraçar a fé não foi a sedução de sua personalidade, nem suas brilhantes qualidades de pregador (que não possuía), e tão pouco a coerência de sua exposição, que ao contrário foi acolhida com ironia e indiferença.

O que levou os coríntios a aderirem à proposta de Jesus foi a força de Deus que se impõe, muito além dos limites de quem apresenta ou ouve a Sua proposta.

O Espírito de Deus está sempre presente e age no coração daquele que crê, de forma que a sabedoria humana é suplantada e, assim, somos tocados e elevados pela sabedoria divina.

É preciso que nos coloquemos sempre como humildes instrumentos nas mãos de Deus, para que se realize Seu Projeto de Salvação para o mundo todo.

Com isto não quer dizer que Deus dispense nossa entrega, doação, técnicas, meios de comunicação, ao contrário, é o Espírito de Deus que potencia e torna eficaz a Palavra que anunciamos.

A mensagem da passagem do Evangelho (Mt 5,13-16) é o desdobramento do Sermão da Montanha que, se verdadeiramente vivido na planície, nos faz sal da terra e luz do mundo.

Seguidores do Senhor não podem se instalar na mediocridade, jamais se acomodar, mas pôr-se sempre a caminho, sem nenhuma possibilidade para comodismo e facilidades.

Ser sal e luz implica em total fidelidade dos discípulos ao programa anunciado por Jesus nas Bem-Aventuranças: ser pobre em espírito, sedento de justiça e paz, misericordioso, puro e capaz de sofrer toda forma de incompreensão, calúnia e perseguição.

Ser cristão é um compromisso sério, profético, exigente no testemunhar do Reino em ambientes adversos. Não se pode viver um cristianismo “morno” instalado, cômodo, reduzindo a algumas práticas de Oração e de culto (até mesmo de uma Missa apenas aos domingos, como simples expressão de preceito cumprido).

Somente quando o nosso agir revela a ação e o compromisso com o Projeto Divino é que somos sal da terra e luz do mundo, e apresentamos Jesus como a Luz de todos os Povos, de todas as nações.

Somente quando atraímos o olhar de todos para Deus, e não para nós mesmos, é que somos sal da terra e luz do mundo.

Discípulos missionários do Senhor devem se preocupar permanentemente em não atrair sobre si o olhar de todos, mas deve, antes e sempre, se preocupar em conduzir o olhar e o coração de todos para Deus e à Proposta de Seu Reino de Amor, Vida e Paz.

Sendo sal, que jamais percamos o gosto, do contrário para nada serviremos. Sendo luz, que jamais permitamos que ela se apague, não obstante as dificuldades próprias da existência.

Que tenhamos a coragem de comunicar a luz de Deus na escuridão do cotidiano, sem jamais perder o gosto do sal de Deus: gosto da partilha, do acolhimento, da misericórdia, da caridade.  Tão somente assim a luz de Deus, que em nós habita pelo Seu Espírito, comunicará luz aos que se encontram ao nosso redor.

Sal e luz, sejamos sempre! Sermão da Montanha ouvido e acolhido, na planície da vida anunciado, testemunhado e corajosamente vivido. Amém!  

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG